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Leitura fenomenológica da fé subjetivo-social (sitz im leben): comunidades, sem

1. A IGREJA DO RIO GRANDE: UMA IGREJA DIOCESANA ENTRE A FRONTEIRA

1.2 A IGREJA DO RIO GRANDE, SOB O OLHAR TRIDIMENSIONAL DA FÉ

1.2.3 COMUNIDADES ECLESIAIS, NUMA PERSPECTIVA SOCIAL DA FÉ

1.2.3.2 Leitura fenomenológica da fé subjetivo-social (sitz im leben): comunidades, sem

Na Igreja diocesana do Rio Grande, as pequenas comunidades eclesiais, dado as conjunturas culturais e às extensões territoriais, receberam “um colorido conjuntural das épocas e dos lugares”69. São pequenas comunidades eclesiais que, mesmo distintas entre si, trazem

elementos análogos: a) surgidas do meio do povo, evidenciam uma eclesialidade naturalmente comunitária; b) num tamanho menor, a vida intra-eclesial costuma ser afetiva e, por vezes, horizontal; c) normalmente, nelas, os leigos costumam ser o sujeito-eclesial; e d) devido às circunstâncias históricas e territoriais, próprias de cada lugar, costumam ser comunidades circunstanciais. Ou seja: as circunstâncias, nesses casos, acabam determinando a eclesialidade destas pequenas comunidades. Nas áreas rurais, por exemplo, as pequenas comunidades, eclipsadas pela religiosidade popular, evidenciam um lato sensu predominantemente devocional: muita devoção, pouca pertença eclesial. Noutros lugares, sobretudo nas periferias, algumas pequenas comunidades, chegam estar restringidas à superfície ritualística de algum sacramento, frequentemente reduzidos a ritos vazios e mágicos, ou às convenções sociais: muito sacramento, pouca pertença eclesial. Neste mesmo horizonte, as pequenas comunidades, dadas às mesmas circunstâncias históricas e culturais, fator determinante na sua eclesialidade, fazem delas vítimas de outros trágicos e confusos mecanismos humanos e sociais: as pequenas comunidades, embora eclesiais, são confundidas, equivocadamente, às associações humanas (Clube, CTGs, ONGs), associando-as mais às estruturas sociais – seculares – do que àquelas religiosas, genuinamente eclesiais, baseada na fé compartilhada e testemunhada na pessoa de Jesus Cristo, verbo encarnado para salvação do homem.

A Igreja, portanto, não é um clube, não é um partido, nem um estado religioso dentro do Estado terrestre, mas um corpo, o corpo de Cristo. E por isto a Igreja não é feita por nós; é construída pelo próprio Cristo, ao purificar-nos pela Palavra e pelo sacramento, fazendo de nós os seus membros.70

Na diocese, as pequenas comunidades, condicionadas pelas circunstâncias socioculturais, estão localizadas, em grande parte, nas áreas rurais de São José do Norte, da Ilha dos Marinheiros, do Povo Novo, de Tavares e de Mostardas. Outras, ainda que em menor número, são identificadas dentro de bairros e periferias das áreas urbanas, tanto na cidade-sede (Rio Grande) quanto nas cidades rurais (São José do Norte e Santa Vitória do Palmar). No Rio

69 LIBANIO, João Batista. A religião no início do milênio, p. 101. 70 RATZINGER, Joseph. Compreender a Igreja hoje, p. 91.

Grande, algumas pequenas comunidades, podem ser identificadas nalgumas paróquias, naturalmente localizadas nos bairros ou nas periferias do Rio Grande. Na paróquia São José Operário – Cohab II, as comunidades deste perfil são Perpétuo Socorro, a São Cristóvão e, salvo suas peculiaridades, a N. Sra. das Graças. Na Paróquia Sagrada Família (cidade), deste perfil, encontramos na Comunidade N. Sra. de Lourdes – localizada à beira da Lagoa, na vila Enrique Pancada. Na Paróquia São Judas, igualmente, a Comunidade N. Sra. Aparecida; e, salvo as diferenças, na própria Igreja Matriz. Depois, naturalmente, identificamos pequenas comunidades eclesiais na Rede de Comunidades Santíssima Trindade e na Rede de Comunidades São Lucas, ambas localizadas na periferia do Rio Grande, situada na área oeste da cidade.

Nas cidades do interior, pequenas comunidades eclesiais facilmente são encontradas nas áreas rurais e, frequentemente, ao redor da Matriz, na área urbana. Na paróquia Santa Vitória, por exemplo, pequenas comunidades são encontradas ao redor da matriz, facilmente identificadas nos bairros da cidade: Comunidade Sta. Rita, na vila Brasiliano; Comunidade N. Sra. de Lourdes, na vila Vitoriense; Comunidade Sagrada Família, na vila Donatos; Comunidade N. Sra. de Fátima, na vila Jacinto; e Comunidade São Pedro, na vila Coxilha. Na área rural, desta mesma paróquia, alguma outra pequena comunidade, ainda não desativada, pode ser identificada, mesmo depois da falência das granjas de arroz, principal causa determinante do êxodo rural e da desativação e/ou enfraquecimento de muitas de suas pequenas comunidades rurais. Numa outra paróquia rural, Paróquia São Luiz Rei, distinta da Paróquia Santa Vitória, as pequenas comunidades eclesiais estão todas localizadas na área rural de suas cidades, tanto no interior de Mostardas quanto de Tavares. Na Paróquia São José – São José do Norte, todavia, as comunidades eclesiais, organizadas em pequenas células de vida cristã, já estão distribuídas por toda parte, tanto na área rural quanto ao redor da Matriz, salvo as diferenças eclesiais entre si.

Nestas pequenas comunidades, dado às circunstâncias socioculturais, a vida comunitária- eclesial, equivocadamente abreviada aos mecanismos humanos e culturais (religiosidade, sem pertença eclesial), e a instituição natural de cristãos leigos à liderança da comunidade, tragicamente estigmatizada pelos interesses insanos pelo poder (adeptos, sem discipulado), habitualmente são sacrificadas em detrimento da primazia de uma mentalidade mundana da própria Igreja. Neste caso, qualquer semelhança, entre uma Igreja e uma associação, não é mera coincidência. Seu status eclesial é sócio-religioso e, não seria nada estranho, nestas comunidades, seus membros, reféns de seus trágicos interesses humanos, portar um perfil

religioso predominantemente mundano. Além disso, não seria nada exagerado questionar a legitimidade do discipulado de alguma liderança comunitária (adeptos, sem discipulado) e, até mesmo, da eclesialidade da própria comunidade (comunidade, sem eclesialidade).

O que queremos deixar bem claro é que a fé não pode ser comparada a uma mercadoria que possa ser transformada segundo os gostos dos homens. A fé deve, sim, educar os gostos dos homens e ajudar para que percebam e procurem sempre mais o que é realmente humano e que neles se desenvolva continuamente a sapientia, isto é, o gosto pelas coisas divinas, pois, sem essas, todos os gostos humanos tornar-se-iam áridos e insipientes.71