• Nenhum resultado encontrado

Os aprendentes da Terceira Idade trazem consigo uma leitura do próprio corpo e a do outro, dos outros elementos da natureza e da sua cultura. Leitura essa adequada à realidade da época em que a pessoa estava ligada à produção.

Porém, o percurso feito desde a sua saída do mundo produtivo até o momento em que pensa reinserir-se, exige uma releitura porque o que ela encontra no seu dia-a-dia nem sempre é percebido na sua devida importância. Por exemplo, se a pessoa só usava remédios caseiros, agora, no caso de uma apendicite deverá sujeitar-se à uma cirurgia extrativa.

Diante do conhecimento que encontram no seu cotidiano as pessoas da Terceira Idade devem interrogá-lo, interpretá-lo, dialogar com ele, ampliá-lo e reinventar a vida. É o caso da pessoa que se aposentou e mudou-se de uma casa com amplas salas onde se sentia feliz em receber pessoas para festas, para um pequeno e humilde apartamento.

É necessário que a pessoa da Terceira Idade chegue lúcida ao conhecimento que foi acumulado por outros e às descobertas da Ciência, da Arte e da Filosofia que são outras formas de explicar a realidade “a pessoa da terceira idade só teve conhecimento religioso, acreditava – em dogma”.

Segundo Paulo Freire (1988) o ato de ler não se esgota na decodificação pura da palavra ou da linguagem escrita, mas se alonga na inteligência do mundo. As pessoas da Terceira Idade têm uma leitura muito mais ampla e rica dada a sua idade, as pessoas de 60 anos, nascidas em Joinville, por exemplo, lembram-se de passagem no seu desenvolvimento que se tornaram históricas.

A experiência de viver esse movimento dialógico da leitura do mundo pode ser impulsionado por cinco dimensões (FIALHO 2001):

- Curiosidade - Investigação - Descoberta - Paixão - Partilha

A curiosidade é o convite para a investigação e esta rompe com a imposição da grade curricular que estrutura as disciplinas sem nenhuma relação entre si. Para rompê-la devemos trabalhar a partir de projetos, tomando a pesquisa feita em pedagogia, possibilitar a organização do saber do aprendente, pondo-o em diálogo com as diferentes formas de conhecimento (parece que está deslocado).

O aprendente escolhe o caminho para satisfazer a sua curiosidade. Quanto mais novas descobertas fizer, quando mais investigar, mais progredirá. Investigar é aventurar-se nos diversos caminhos do saber, planejando e organizando ações em busca de respostas para as inquietações utilizando as mais variadas fontes: na diversidade de textos que são veiculados na sociedade, na experimentação, nas práticas de laboratório, nos áudio visuais, nas visitas de estudos, nas conversas com a comunidade, nas artes plásticas e dramáticas, na música, nos programas veiculados na mídia, na tecnologia da informação, encontrará a satisfação da sua curiosidade.

Investigar levando os aprendentes a conversas com as pessoas da comunidade promovendo o desenvolvimento de potencialidades até então desconhecidas. Despertar para uma nova auto-organização do corpo, evitando ficar sentado o dia inteiro em frente à televisão; sair da passividade física e intelectual de só rezar, ou se lamentar, adotando o principio “ajuda-te, que o céu te ajudará”.

A investigação leva a descobertas. Descobrir o que existe é o mo(vi)mento criativo em que se avalia outras formas de perceber/sentir/compreender/vislumbrar a vida. Sugestões para leituras, para filmes, como por exemplo Matrix, que mostra outras realidades, deverão ser levadas aos aprendentes. E também novas modalidades de jogos como o RPG, são algumas maneiras de conduzir à investigação.

Descobertas podem ser valorizadas como a auto-organização de um conhecimento que pode permitir uma maior compreensão de si mesmo, com o outro–social, com a natureza. O aprendente da Terceira Idade tem presta para prolongar a sua vida física e intelectual.

No contexto de descoberta, a pessoa da Terceira Idade precisa levar em conta que descobrir é um processo que nunca acaba e que isso desperta a urgência na sua curiosidade para aprender, se quer desfrutar do progresso, precisa aprestar-se.

O professor apaixonado e o aprendente encantado compartilham o que sabem e sentem. Os aprendentes da Terceira Idade, ao compartilhar suas descobertas, expõem os próprios pensamentos e sentimentos despertados pela paixão das descobertas realizadas na investigação: comentar a leitura de um livro como Iracema, de José de Alencar, estimulando o outro, não pela imposição mas pela provocação para um novo modo de pensar, curioso para ver “se vai dar certo então...”.

A disponibilidade mental pode ser um fator importante para o desenvolvimento da curiosidade em uma pessoa que está passando de uma vida ativa de responsabilidades (familiares e profissionais) para o estágio da inatividade. A concentração não é tão dividida entre os vários deveres (familiares ou para aqueles de dois ou três empregos).

Os futuros aprendentes desafiados pela possibilidade de um conhecimento de novo tipo são atraídos pelo “gostoso” (o sabor do saber, Maturana e Varela (apud FIALHO, 2001, p. 65)) proposto pelo projeto o qual pretende proporcionar: conforto, exercícios físicos agradáveis, sentir-se bem ou não: eles são atraídos pelo desafio de continuar jovem, e na ativa.

A presença do facilitador neste diálogo em que o aprendente pede para que se mostre a ele a possibilidade dele ”vir a poder” também.

Uma ecologia cognitiva que oportuniza o ciclo destes mo(vi)mentos pode vir a contribuir no desenvolvimento de experiências de aprendizagem para o aprendente de Terceira Idade e facilitadores, ao auto-organizarem conhecimentos percebendo- se como corpos aprendentes.

Queremos ressaltar que é a paixão do professor facilitador pelo objeto a ser estudado que leva os aprendentes de Terceira Idade a se sentirem motivados em

participar deste diálogo (ser aceito com essa condição: você pode vir participar completamente desde que... regras do jogo) (regras do conhecimento).