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LETARGIA, CATALEPSIA, MORTES APARENTES

No documento Portal Luz Espírita (páginas 127-131)

DA EMANCIPAÇÃO DA ALMA

LETARGIA, CATALEPSIA, MORTES APARENTES

422. Os letárgicos59 e os catalépticos60 veem e ouvem o que geralmente se passa ao redor, sem

59 Letargia: é um estado de sono profundo e demorado causado por distúrbios cerebrais ou perda momentânea do

que possam exprimir que estão vendo e ouvindo. É pelos olhos e pelos ouvidos que têm essas percepções?

“Não; pelo Espírito. O Espírito tem ciência de si, mas não pode comunicar-se.” a) — Por quê?

“Porque o estado do corpo se opõe a isso. E esse estado especial dos órgãos lhes prova que há no homem alguma coisa mais do que o corpo, porque então o corpo já não funciona e, no entanto, o Espírito se mostra ativo.”

423. Na letargia, o Espírito pode separar-se inteiramente do corpo, de modo a lhe imprimir todas as aparências da morte e voltar depois a habitá-lo?

“Na letargia, o corpo não está morto, porque há funções que continuam a se executar. Sua vitalidade se encontra em estado latente, como na crisálida, porém não aniquilada. Ora, enquanto o corpo vive, o Espírito se acha ligado a ele. Ao se romperem os laços que prendem um ao outro, por efeito da morte real e pela desagregação dos órgãos, a separação se torna integral e o Espírito não volta mais ao seu envoltório. Se um homem aparentemente morto volta à vida, é porque a sua morte não era completa.”

424. Por meio de cuidados dispensados a tempo, os laços prestes a se desfazerem podem se reatar e se restituir à vida um ser que definitivamente morreria se não fosse socorrido?

“Sem dúvida e vocês têm a prova disso todos os dias. Em tais casos, o magnetismo muitas vezes é um poderoso meio de ação, porque restitui ao corpo o fluido vital que lhe falta para manter o funcionamento dos órgãos.”

A letargia e a catalepsia derivam do mesmo princípio, que é a perda temporária da sensibilidade e do movimento, por uma causa fisiológica ainda inexplicada. Diferem uma da outra em que, na letargia, a suspensão das forças vitais é geral e dá ao corpo todas as aparências da morte; na catalepsia, fica localizada, podendo atingir uma parte mais ou menos extensa do corpo, de sorte a permitir que a inteligência se manifeste livremente, o que a torna inconfundível com a morte. A letargia é sempre natural; a catalepsia é por vezes magnética.

SONAMBULISMO

425. O sonambulismo natural tem relação com os sonhos? Como explicá-lo?

“É um estado de independência do Espírito mais completo do que no sonho, estado em que suas capacidades adquirem maior amplitude. A alma tem então percepções de que não dispõe no sonho, que é um estado de sonambulismo imperfeito.

“No sonambulismo, o Espírito está na posse plena de si mesmo. Os órgãos materiais, achando-se de certa forma em estado de catalepsia, deixam de receber as impressões exteriores. Esse estado se apresenta principalmente durante o sono, ocasião em que o Espírito pode abandonar provisoriamente o corpo, por este se encontrar gozando do repouso indispensável à matéria. Quando se produzem os fatos do sonambulismo, é que o Espírito, preocupado com uma coisa ou outra, se aplica a uma ação qualquer, para cuja prática necessita utilizar do corpo. Serve-se então deste, como se serve de uma mesa ou de outro objeto material no fenômeno das manifestações físicas, ou mesmo como se utiliza da mão do médium nas comunicações escritas. Nos sonhos de que se tem consciência, os órgãos — inclusive os da memória — começam a despertar. Recebem imperfeitamente as impressões produzidas por objetos ou causas externas e as comunicam ao Espírito, que, então, também em repouso, do que lhe é transmitido, só experimenta sensações confusas e muitas vezes desordenadas, sem nenhuma aparente razão de ser, misturadas que se apresentam de vagas recordações da existência atual ou de anteriores. Portanto, facilmente se compreende por que os sonâmbulos

60 Catalepsia: é um estado caracterizado pelo endurecimento dos músculos e imobilidade; pode ser provocado por

não guardem nenhuma lembrança do que se passou enquanto estiveram no estado sonambúlico e por que os sonhos, de que se conserva memória, as mais das vezes não têm sentido. Digo, as mais das vezes, porque também sucede serem a consequência de lembrança exata de acontecimentos de uma vida anterior e até, não raro, uma espécie de intuição do futuro.”

426. O chamado sonambulismo magnético61 tem alguma relação com o sonambulismo natural?

“É a mesma coisa, com a diferença apenas de ser provocado.” 427. Qual a natureza do agente que se chama fluido magnético?

“Fluido vital, eletricidade animalizada, que são modificações do fluido universal.”

428. Qual a causa da clarividência62 sonambúlica?

“Já o dissemos: É a alma que vê.”

429. Como o sonâmbulo pode ver através dos corpos opacos?

“Não há corpos opacos senão para os seus órgãos grosseiros. Já dissemos que a matéria não oferece nenhum obstáculo ao Espírito, que livremente a atravessa. Frequentemente vocês ouvem o sonâmbulo dizer que vê pela fronte, pelo punho, etc., porque, achando-se inteiramente presos à matéria, não compreendem que lhe seja possível ver sem o auxílio dos órgãos. Ele próprio, pelo desejo que manifestam, julga precisar dos órgãos. Porém, se o deixassem livre, compreenderiam que ele vê por todas as partes do seu corpo, ou, melhor falando, que vê de fora do seu corpo.”

430. Já que a sua clarividência é a de sua alma ou de seu Espírito, por que é que o sonâmbulo não vê tudo e muitas vezes se engana?

“Primeiramente, não é permitido aos Espíritos imperfeitos verem e saberem de tudo; saibam que ainda partilham dos seus erros e prejuízos. Depois, quando unidos à matéria, não gozam de todas as suas faculdades de Espírito. Deus cedeu ao homem a capacidade sonambúlica para fim útil e sério, não para que se informe do que não deva saber. Eis por que os sonâmbulos nem tudo podem dizer.”

431. Qual a origem das ideias inatas do sonâmbulo e como pode falar com exatidão de coisas que ignora quando desperto, de coisas que estão mesmo acima de sua capacidade intelectual?

“Acontece que o sonâmbulo possui mais conhecimentos do que se supõe e apenas se acham adormecidos, porque seu corpo é um empecilho para que possa se lembrar das coisas. Mas, afinal, o que ele é? É como nós, um Espírito encarnado na matéria, para cumprir sua missão, e o estado em que ele entra o liberta dessa letargia. Nós já dissemos repetidamente que vivemos muitas vezes; é essa mudança que faz o sonâmbulo e qualquer outro Espírito perder materialmente o que pôde aprender em uma existência anterior. Ao entrar no estado que chamam de transe, ele se recorda, mas nem sempre de uma maneira completa; sabe, mas não poderia dizer de onde lhe vem o que sabe e nem como possui esses conhecimentos. Passado o transe, toda lembrança se apaga e ele volta à obscuridade.”

A experiência mostra que os sonâmbulos também recebem comunicações de outros Espíritos, que lhes transmitem o que devam dizer e suprem à incapacidade que denotam. Isto se verifica principalmente nas prescrições médicas. O Espírito do sonâmbulo vê o mal, outro lhe indica o remédio. Essa dupla ação é às vezes evidente e, além disso, se revela por estas expressões muito frequentes: dizem-me que diga, ou proíbem-me que diga tal coisa. Neste último caso, há sempre perigo em insistir-se por uma revelação negada, porque se dá oportunidade para a intervenção de Espíritos levianos, que falam de tudo sem escrúpulo e sem se importarem com a verdade.

61 Sonambulismo magnético: espécie de sono profundo induzido, como no transe hipnótico — N. E.

62 Clarividência: visão excepcional que se pode ter por manifestação anímica (pela expansão da alma), sem o recurso dos

432. Como se explica a visão a distância em certos sonâmbulos?

“Durante o sono, a alma não se transporta? O mesmo se dá no sonambulismo.” 433. O desenvolvimento maior ou menor da clarividência sonambúlica depende da organização física, ou só da natureza do Espírito encarnado?

“De uma e outra. Há disposições físicas que permitem ao Espírito se desprender mais ou menos facilmente da matéria.”

434. As competências que o sonâmbulo tem são as que o Espírito goza após a morte?

“Somente até certo ponto, pois se deve contar a influência da matéria a que ainda se acha ligado.”

435. O sonâmbulo pode ver os outros Espíritos?

“A maioria deles os vê muito bem, dependendo do grau e da natureza da lucidez de cada um. Porém, a princípio, é muito comum não perceberem que estão vendo Espíritos e os tomarem por seres corpóreos. Isso acontece principalmente aos que, nada conhecendo do Espiritismo, ainda não compreendem a essência dos Espíritos. O fato os espanta e os faz supor que diante da vista têm seres terrenos.”

O mesmo se dá com os que, tendo morrido, ainda se julgam vivos. Sem notar nenhuma alteração ao seu derredor e parecendo-lhes que os Espíritos têm corpos iguais aos nossos, tomam por corpos reais os corpos aparentes com que os mesmos Espíritos se lhes apresentam.

436. O sonâmbulo que vê à distância vê do ponto em que se acha o seu corpo, ou do em que está sua alma?

“Por que esta pergunta, já que sabem que a alma é quem vê e não o corpo?”

437. Posto que o que acontece nos fenômenos sonambúlicos é que a alma se transporta, como o sonâmbulo pode experimentar no corpo as sensações do frio e do calor existentes no lugar onde se acha sua alma, muitas vezes bem distante do seu invólucro?

“Em tais casos, a alma não tem deixado inteiramente o corpo; conserva-se presa a ele pelo laço que os liga e que então desempenha o papel de canal das sensações. Quando duas pessoas se comunicam de uma cidade para outra, por meio da eletricidade63, esta é o laço que

lhes liga os pensamentos. Daí vem que conversem como se estivessem ao lado uma da outra.” 438. O uso que um sonâmbulo faz da sua faculdade influi no estado do seu Espírito depois da morte?

“Muito, como o bom ou mau uso que o homem faz de todas as faculdades com que Deus o dotou.”

ÊXTASE

439. Que diferença há entre o êxtase e o sonambulismo?

“O êxtase é um sonambulismo mais apurado. A alma do extático ainda é mais independente.”

440. O Espírito do extático penetra realmente nos mundos superiores?

“Vê esses mundos e compreende a felicidade dos que os habitam, donde lhe nasce o desejo de lá permanecer. Porém, há mundos fechados aos Espíritos que ainda não estão

63 O termo eletricidade dessa resposta se refere ao telégrafo, que era o sistema mais avançado de telecomunicação naquele

bastante purificados.”

441. Quando o extático manifesta o desejo de deixar a Terra, fala sinceramente; o instinto de conservação não o retém?

“Isso depende do grau de purificação do Espírito. Se verificar que a sua situação futura será melhor do que a sua vida presente, se esforça por desatar os laços que o prendem à Terra.” 442. Se deixássemos o extático entregue a si mesmo, sua alma poderia abandonar definitivamente o corpo?

“Perfeitamente, ele poderia morrer. Por isso que é preciso chamá-lo a voltar, apelando para tudo o que o prende a este mundo, fazendo-lhe compreender sobretudo que a maneira mais certa de não ficar lá, onde vê que seria feliz, consistiria em partir a cadeia que o tem preso ao planeta terreno.”

443. Existem coisas que o extático pretende ver e que são evidentemente fruto de uma imaginação impressionada pelas crenças e preconceitos terrenos. Então, tudo o que vê não é real?

“O que o extático vê é real para ele, mas, como seu Espírito se conserva sempre debaixo da influência das ideias terrenas, pode acontecer que veja a seu modo, ou melhor, que exprima o que vê numa linguagem adaptada pelos conceitos e ideias de que se acha preso, ou, então, pelos preconceitos e ideias de vocês, a fim de ser mais bem compreendido. É neste sentido, principalmente, que lhe ocorre errar.”

444. Que confiança podemos depositar nas revelações dos extáticos?

“O extático está sujeito a se enganar muito frequentemente, sobretudo quando pretende penetrar no que deva continuar a ser mistério para o homem, porque então, se deixa levar pela corrente das suas próprias ideias, ou se torna joguete de Espíritos mistificadores, que se aproveitam da sua exaltação para fasciná-lo.”

445. Que deduções podemos tirar dos fenômenos do sonambulismo e do êxtase? Não serão uma espécie de iniciação na vida futura?

“A bem dizer, mediante esses fenômenos, o homem entrevê a vida passada e a vida futura. Estudem essas manifestações e acharão o aclaramento de mais de um mistério, que a sua razão inutilmente procura devassar.”

446. Tais fenômenos poderiam se adequar às ideias materialistas?

“Aquele que os estudar de boa-fé e sem prevenções não poderá ser materialista, nem ateu.”

No documento Portal Luz Espírita (páginas 127-131)