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SACRIFÍCIOS

No documento Portal Luz Espírita (páginas 178-180)

CAPÍTULO II DA LEI DE ADORAÇÃO

SACRIFÍCIOS

669. O hábito dos sacrifícios humanos vem da mais distante Antiguidade. Como se explica que o homem tenha sido levado a crer que tais coisas pudessem agradar a Deus?

“Primeiramente, porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade. Nos povos primitivos a matéria domina o espírito; eles se entregam aos instintos do animal selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral ainda não se acha desenvolvido. Em segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem ter uma criatura animada muito mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo material. Foi isto que os levou primeiro a imolarem animais e, mais tarde, homens. De conformidade com a falsa crença que possuíam, pensavam que o valor do sacrifício era proporcional à importância da vítima. Na vida material, como geralmente vocês a praticam, se houverem de oferecer a alguém um presente, escolherão sempre os de tanto maior valor quanto mais afeto e consideração quiserem testemunhar a esse alguém. Assim tinha que ser, com relação a Deus, entre homens ignorantes.”

a) — De modo que os sacrifícios de animais vieram antes dos sacrifícios humanos? “Sobre isso não pode haver a menor dúvida.”

b) — Então, de acordo com a explicação dada, não foi de um sentimento de crueldade que surgiram os sacrifícios humanos?

“Não; originaram-se de uma ideia errônea quanto à maneira de agradar a Deus. Considerem o que se deu com Abraão81. Com o correr dos tempos, os homens

entraram a abusar dessas práticas, sacrificando seus inimigos comuns, até mesmo seus inimigos particulares. Deus, entretanto, nunca exigiu sacrifícios — nem de homens, nem, sequer, de animais. Não há como imaginar-se que possamos Lhe prestar culto, mediante a destruição inútil de suas criaturas.”

670. Os sacrifícios humanos feitos com intenção piedosa algumas vezes puderam ser agradáveis a Deus?

“Não, nunca. Mas Deus julga pela intenção. Como eram ignorantes, era natural que acreditassem praticar ato louvável sacrificando seus semelhantes. Nesses casos, Deus atentava unicamente na ideia que presidia ao ato e não neste. À proporção que se foram melhorando, os homens tiveram que reconhecer o erro em que laboravam e que reprovar tais sacrifícios, com

81 Abraão: patriarca da Bíblia que se propôs a sacrificar Isaac, seu filho, a Deus, como prova de obediência, mas, pela

que não podiam conformar-se as ideias de Espíritos esclarecidos. Digo esclarecidos, porque os Espíritos tinham então a envolvê-los o véu material; mas, por meio do livre-arbítrio, lhes era possível vislumbrar suas origens e fim, e muitos, por intuição, já compreendiam o mal que praticavam, se bem que nem por isso deixassem de praticá-lo, para satisfazer às suas paixões.” 671. Que devemos pensar das chamadas guerras santas? O sentimento que leva pessoas fanáticas a exterminarem o máximo que puderem dos que não compartilham de suas crenças para serem agradáveis a Deus parece ter a mesma origem que os estimulava antigamente a sacrificar os seus semelhantes?

“Eles estão envolvidos pela ação de Espíritos inferiores que, ao guerrearem com seus semelhantes, contrariam a vontade de Deus, que diz que se deve amar seu irmão como a si mesmo. Todas as religiões, ou melhor, todos os povos, adoraram um mesmo Deus, tenha um nome ou outro. Por que fazer uma guerra de extermínio apenas pelo fato de terem religiões diferentes ou não terem ainda alcançado o progresso dos povos esclarecidos? Os povos podem ser desculpados por não acreditarem na palavra daquele que era animado pelo Espírito de Deus e enviado por ele, principalmente quando não o viram e não foram testemunhas de seus atos; porém, como querem que acreditem nessa palavra de paz, quando pretendem impor essa palavra com a espada na mão? Devemos levar-lhes o esclarecimento e procurar fazer-lhes conhecer a doutrina do Salvador pela persuasão e pela doçura, não pela força e pelo sangue. Na maioria das vezes, não acreditam nas comunicações que temos com alguns mortais; como haverão de querer que estranhos acreditassem na sua palavra, quando seus atos desmentem a doutrina que pregam?”

672. A oferenda de frutos da terra feita a Deus tinha aos olhos dele mais mérito do que o sacrifício dos animais?

“Já lhes respondi, declarando que Deus julga segundo a intenção e que, para Ele, pouca importância tinha o fato. Evidentemente era mais agradável a Deus que lhe oferecessem frutos da terra, em vez do sangue das vítimas. Como temos dito e sempre repetiremos, a prece proferida do fundo da alma é cem vezes mais agradável a Deus do que todas as oferendas que lhe possam fazer. Repito que a intenção é tudo, que o fato nada vale.”

673. Não haveria um meio de tornar essas oferendas mais agradáveis a Deus se aliviassem as necessidades daqueles a quem falta o necessário; e, nesse caso, o sacrifício de animais, quando feito com um objetivo útil, não se tornaria meritório, embora fosse abusivo quando não servia para nada ou só tinha proveito apenas para as pessoas que não tinham necessidade de nada? Não haveria alguma coisa de verdadeiramente piedoso em consagrar aos pobres os primeiros frutos dos bens que Deus nos concedeu na Terra?

“Deus abençoa sempre os que fazem o bem. O melhor meio de honrá-lo consiste em aliviar os sofrimentos dos pobres e dos aflitos. Não quero dizer com isto que ele desaprove as cerimônias que praticam para lhe dirigirem as suas preces. Porém, muito dinheiro se gasta aí que poderia ser empregado mais utilmente do que é. Deus ama a simplicidade em tudo. O homem que se atém às exterioridades e não ao coração é um Espírito de vistas acanhadas. Digam, em consciência, se Deus deve atender mais à forma do que ao fundo.”

CAPÍTULO III

No documento Portal Luz Espírita (páginas 178-180)