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3 MÉTODO DA PESQUISA DE CAMPO

3.1 Etapas do mapeamento causal

3.1.1 Levantamento de constructos (nós)

As principais técnicas citadas para levantamento dos constructos são: brainstorm formal ou

informal (ANDERSEN; RICHARDSON,1997), técnicas de pesquisa via web

(SCAVARDA, 2004), entrevistas individuais (EDEN, 1988; BOUZDINE-CHAMEEVA; DURRIEU; MANDJÁK, 2001; BOUZDINE-CHAMEEVA, 2005), ou ainda análise de

documentos e análise da teoria existente (BOUZDINE-CHAMEEVA; DURRIEU; MANDJÁK, 2001).

Brainstroms têm como grande dificuldade o fato de exigir que todos os entrevistados estejam presentes em um mesmo local. Uma vez que são entrevistados especialistas sobre um dado assunto, e de diversas áreas, essa dificuldade pode se converter em um impeditivo (SCAVARDA, 2004; BOUZDINE-CHAMEEVA, 2005). Além disso, brainstorms possibilitam apenas o levantamento dos constructos considerados por todo o grupo de pesquisados, e não individualmente, o que dificulta o desenvolvimento de mapas individuais.

Uma segunda possibilidade é a utilização de ferramentas web, conforme proposto por Scavarda et al (2005). Os autores propõem um método denominado Collective Causal Mapping Methodology (CCMM). Como o próprio nome indica, essa metodologia constrói um mapa causal coletivo de diversos entrevistados, e não o mapa individual dos entrevistados, não sendo, portanto, adequada para este estudo.

As entrevistas pessoais, por outro lado, não exigem que os entrevistados interajam entre si, o que dá mais flexibilidade para o processo e permitem a criação de mapas individuais. Nas entrevistas, os especialistas pesquisados são entrevistados individualmente, por meio de roteiro não estruturado, ou semiestruturado, em que o entrevistado irá narrar as relações que acredita relevantes para um dado assunto (EDEN, 1988; SCAVARDA, 2004; BOUZDINE-CHAMEEVA, 2005).

Nas entrevistas, os constructos (nós) são identificados por meio da análise da fala do entrevistado. Assim, é preciso que: a) se consiga identificar quais os constructos presentes no discurso do entrevistado e separa-los; b) codificar os constructos de alguma forma, para que se possam comparar mapas de indivíduos diferentes.

Essas duas atividades, de categorização e codificação, ocorreram depois de o contato com o entrevistado já ter sido concluído. Isso, além de demandar um grande esforço e tempo, pode ser uma fonte de viés do pesquisador. Pode ocorrer, por exemplo, de entrevistados diferentes se referirem a constructos diferentes, porém utilizando os mesmos termos. Nesse caso, dois constructos diferentes seriam tratados como iguais. Por outro lado, é

possível também que constructos semelhantes sejam apresentados em formatos diversos por diferentes entrevistados. Nesses casos, constructos semelhantes seriam tratados como diferentes.

De acordo com Markóczy (1994), essa possível diferença de entendimento sobre os constructos dificulta a comparação entre mapas de diferente indivíduos. Para minimizar os impactos de risco de viés do pesquisador, dificuldade de comparação de constructos e tempo necessário para análises, Markóczy (1994) sugere a utilização e uma lista de constructos predefinida. Essa lista seria apresentada aos entrevistados, que selecionariam, dentre eles, quais constructos julgam mais relevantes.

Na lista predefinida, cada constructo pode estar relacionado com um texto explicativo sobre ele. Assim, os entrevistados poderiam ler o texto explicativo e escolher os constructos que julgam relevantes não apenas pelo título, mas também por sua descrição. Isso torna as chances de que todos os entrevistados entendam os constructos da mesma maneira maiores do que por meio de entrevistas. Assegurar-se de que todos os entrevistados tenham o mesmo entendimento dos constructos escolhidos é muito importante para que se possam comparar ou agregar os mapas criados. Além disso, pela lista predefinida de constructos, uma vez completa a lista, a interferência do pesquisador se reduz drasticamente, o que diminui os riscos de viés. Portanto, para amostras maiores, ou quando a comparação ou agregação de mapas são objetivos buscados, a utilização de uma lista predefinida de constructos pode ser mais indicada (MARKÓCZY, 1994).

Outros pesquisadores, como Eden (1988) e Gwee (2005), criticam a utilização de listas predefinidas de constructos, porque, segundo eles, as listas diminuem a riqueza e a diversidade dos mapas gerados. Por outro lado, Markóczy (1994) argumenta que, se a lista predefinida de constructos tiver sido desenvolvida pelos próprios entrevistados, ou por experts, esse risco diminui grandemente.

Entende-se que a geração de mapas individuais, e não apenas mapas coletivos, é de extrema importância para este estudo. Dessa forma, brainstorm e CCMM não são técnicas apropriadas. Ao mesmo tempo, é preciso que se consigam comparar adequadamente os mapas gerados. Assim, as entrevistas também não são uma técnica indicada.

Dessa forma, foi realizada para esta pesquisa a técnica de desenvolvimento de uma lista de constructos predefinida. É importante destacar que não há limite pré-estabelecido de quantidade de itens. Bouzdine-Chameeva, Durrieu e Mandják (2001) trabalham com listas de 50 a 150 constructos, já Markóczy (1994) trabalha com uma lista de 49 constructos, e Crescitelli e Figueiredo (2010) trabalharam com 50 constructos. O importante é que a lista de constructos considerados seja o mais exaustiva possível, no sentido de conter o mais próximo da totalidade de fatores relevantes, mas também não seja exageradamente grande, de modo a se tornar um impeditivo operacional.

Neste estudo, a lista foi desenvolvida em dois estágios. Em primeiro lugar, foi desenvolvida uma lista inicial de acordo com a análise da teoria existente, conforme apontado no tópico “2.4 consolidação dos constructos levantados” do referencial teórico e replicada no apêndice 1 deste documento. Em seguida, essa lista foi apresentada para dois especialistas da área para que pudessem verificar se sentiam falta de algum constructo que deveria ser acrescentado, se compreendem corretamente o significado de todos os constructos listados e se acreditavam que algum constructo apresentado deveria ser unido com outro. Assim, validou-se a lista proposta com 11 constructos que foi, portanto, utilizada nesta pesquisa (a lista é apresentada no tópico “2.4 consolidação dos constructos levantados” do referencial teórico e replicada no apêndice 1 deste documento).