• Nenhum resultado encontrado

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.2 Análise de termos simples e compostos, e de expressões fixas ou semifixas

4.2.1 Levantamento dos termos e expressões em O povo brasileiro e

Gregory Rabassa em The Brazilian People

Geramos a listas de palavras mais frequentes, assim como as de palavras-chave, a partir da obra final de AC de Darcy Ribeiro e, após consultarmos os dicionários das subáreas das Ciências Sociais correlatas, previamente mencionados, foram selecionadas as cem primeiras como base inicial dos glossários desta pesquisa. Observamos, na obra O processo civilizatório, que diferentes contextos de situação (MALINOWSKI, 1923) podem alterar-se na interação entre diferentes culturas, o que fica bastante evidente nas obras do antropólogo brasileiro. No entanto, as mudanças de ponto de vista dão-se também no plano das teorias darcynianas, considerando que, com o passar dos anos, o pesquisador passou a abordar, no interior da AC, fatores relevantes à formação da identidade nacional brasileira. Consideramos, por conseguinte, que em um primeiro momento, Darcy Ribeiro debruçou-se sobre os aspectos relacionados às diferenciações do processo civilizatório latino-americano como um todo, passando, nas obras seguintes a voltar-se diretamente para a análise das particularidades da concretização do território e dos vínculos culturais do povo do Brasil e fechando sua proposta inovadora em 1995, com a publicação de O povo brasileiro.

Apresentamos, abaixo, as Tabelas 5 e 6, com as dez palavras mais frequentes do TO e do TT desta obra finalizadora:

Tabela 5: Dez palavras mais frequentes do subcorpus principal da obra O povo brasileiro

N Palavra Freq. 1 ÍNDIOS 448 2 POPULAÇÃO 246 3 TRABALHO 207 4 SOCIAL 174 5 SOCIEDADE 167 6 NEGROS 164 7 BRASILEIROS 156 8 GENTE 152 9 PRODUÇÃO 145 10 POVO 144

Tabela 6: Dez palavras mais frequentes do subcorpus principal da obra The Brazilian People

N Word Freq. 1 INDIANS 469 2 PEOPLE 464 3 BRAZILIAN 310 4 LAND 265 5 POPULATION 265 6 SOCIAL 208 7 ORDER 199 8 SOCIETY 187 9 WORK 178 10 SLAVES 177

Nos apêndices F e G, encontramos as listas com as cem palavras mais frequentes da obra final de Darcy Ribeiro e da respectiva tradução. Ao cruzarmos tais levantamentos, observamos que, das palavras do Apêndice F, 64 encontram possíveis correspondentes no Apêndice G. No tocante ao grau de frequência, notamos que os vocábulos mais ocorrentes no TO, como por exemplo, “índios” (448), “sociedade” (167), “negros” (164), “brasileiros” (156), e “gente” (152), também apresentam alto nível de repetição no TT, a saber: Indians (469), society (187), black (172), Brazilian (310) e people (464).

Como vimos, a alternância do grau de frequência permite-nos conhecer os principais temas abordados por Darcy Ribeiro em sua teoria, assim como a relação que se estabelece com o processo tradutório e com os distintos públicos que procura atingir. O número de ocorrências de um dado termo também pode revelar uma possível tendência do autor em enfatizar determinados conteúdos analíticos socioantropológicos, de modo que é importante que o tradutor, ao iniciar a atividade de composição do TT, tenha em mente as propostas teóricas do autor e os conceitos que salienta e constrói. Tal trabalho torna-se viável por meio da utilização de corpora.

Notamos, ainda, que, ao fazer uso de um conjunto lexical específico com maior ou menor variação, tanto autor quanto tradutor tendem a direcionar os focos de leitura e compreensão da obra. Assim, ao verificarmos que Darcy Ribeiro utilizou o termo “índios” 448 vezes e que Rabassa aumentou o uso do correspondente Indians, em LM, para 469, apresentando o conceito em 21

passagens a mais que o autor, podemos considerar que pode ter havido, no TT, a necessidade de exprimir um papel mais claro à participação desse agente fundador da sociedade nacional. Neste âmbito, também observamos que, na tradução de O povo brasileiro, Rabassa optou por qualificar comportamentos, objetos e fatos tipicamente brasileiros, marcando a origem e o caráter nacionalista dos fenômenos sociais investigados por Darcy Ribeiro.

Ao compor seu habitus tradutório, Rabassa explora as questões relacionadas à fundamentação da AC, aproximando o TT da proposta inovadora de Darcy Ribeiro. Podemos mesmo dizer que o tradutor reconhece as rupturas analíticas do autor e que, com isso, elabora uma linguagem de especialidade adequada aos padrões de mudança social sugeridos em O povo brasileiro. Rabassa compreende a teoria darcyniana e utiliza suas premissas para enquadrá-la ao contexto de situação em que se encontra inserido. Considerando que Darcy Ribeiro é também um literato e que aplica a Cultura Brasileira, assim como a ideologia de um país mestiço, à linguagem que constitui sua obra de fechamento, o tradutor lida com o processo de criação do TT de uma maneira distinta daquela assumida por antropólogos e cientistas sociais, os quais poderiam, de certo modo, levar em consideração a terminologia e a teoria e colocar de lado fatores socioculturais envolvidos no léxico da obra.

Como o próprio texto darcyniano exige, Rabassa torna-se um agente social produtor de sentidos, os quais reorganizam e redesenham a sociedade brasileira sob o ponto de vista do leitor de língua inglesa. Um bom exemplo dessas ressignificações é encontrado no uso do termo “brasileiro”, que ocorre 90 vezes no TO, ao passo que o correspondente em inglês, Brazilian, aparece 310 vezes no TT. Considerando as questões gramaticais que podem derivar desse uso, apresentamos, abaixo, a Tabela 7, com a frequência de uso do termo “brasileiro” e de seus derivados em LF:

Tabela 7: Frequência de uso do vocábulo brasileiro e de seus derivados no subcorpus principal do TO

Vocábulos em LF Frequência de uso dos vocábulos no

subcorpus principal do TO

Brasileiro 90

Brasileiros 156

Brasileira 156

Brasileiras 34

Com base nas informações fornecidas, observamos regularidade no uso das palavras dentro da obra de Darcy Ribeiro. No entanto, ainda não é possível distinguir entre a base substantival e adjetival dos usos fora de contexto. Por tal razão, apresentamos a Tabela 8, com as subdivisões da função gramatical do conjunto lexical dos vocábulos:

Tabela 8: Frequência de uso dos vocábulos como substantivos e como adjetivos no subcorpus principal do TO

Vocábulos em LF

Frequência de uso como substantivo Frequência de uso como adjetivo

Brasileiro 17 73

Brasileiros 104 52

Brasileira 0 156

Brasileiras 0 34

Os dados mostram que o autor optou por utilizar com maior frequência o substantivo masculino plural: “brasileiros”. Dessa forma, podemos inferir que a definição de “nacionalidade”, na AC, constitui-se na ideologia de “coletividade” e “agrupamento social”. O autor, enquanto agente, desenvolve formações ideológicas que promovem as noções de unidade e de coparticipação entre os núcleos socioculturais para a consolidação da “identidade” de um “povo” que é brasileiro.

A preferência pelo plural aponta, também, para a ideia de generalização e para a inclusão do antropólogo no sentido de identificação com o objeto de estudo. Há, portanto, um conceito de “nós, os brasileiros” incluído na composição da obra em LF.

Vejamos, agora, como esse processo se estabelece no TT. Abaixo, apresentamos as Tabelas 9 e 10, com a frequência do vocábulo em inglês e com seu uso nas funções gramáticas de substantivo e adjetivo.

Tabela 9: Frequência de uso do vocábulo Brazilian no subcorpus principal do TT

Vocábulos em LM Frequência de uso dos vocábulos no subcorpus

principal do TT

Brazilian 310

Brazilians 122

Tabela 10: Frequência de uso dos vocábulos como substantivos e como adjetivos no subcorpus principal do TT

Vocábulos

em LM Frequência de uso como substantivo Frequência de uso como adjetivo

Brazilian 15 299

Brazilians 101 21

O tradutor interpreta as teorias do autor e passa a tomar o TO como base para produção de seu próprio texto. Em língua inglesa não há distinção entre masculino e feminino para o termo Brazilian o que pode incorrer na generalização da concepção de “nacionalidade”, aproximando o público da Cultura Meta ainda mais da proposta de univocidade e coletividade do povo brasileiro.

No âmbito das formas de singular e plural, ao somarmos as ocorrências no TO e no TT, observamos que o número de substantivos em inglês apresenta-se menor após o processo tradutório. Este poderia ser um indício de possível omissão do sentido de “brasileiro” e de sua “brasilidade”. No entanto, percebemos que essa supressão de sentido não acontece realmente, pois, no que concerne ao uso dos vocábulos como adjetivos, verificamos que a soma da frequência em LF no singular é de 107 ocorrências. No TT, esse número sobe para 299, isto é, Rabassa pode ter sentido a necessidade de adjetivar mais trechos para deixar clara a procedência de determinadas atividades e hábitos comuns ao Brasil. Arriscamos dizer que, no TO, ao ter como leitores o público do Brasil, algumas relações de sentido que revelam nosso “brasileirismo” ficam subentendidas, pois fazem parte do cotidiano da população. As memórias a que os brasileiros recorrem são consideravelmente distintas dos conhecimentos do público falante do inglês. Elementos folclóricos e culturais, como, por exemplo, as “escravarias”, os

“mulatos”, os “servos domésticos”, as “mucamas” e outros atores sociais conhecidos no Brasil, podem ser traduzidos de uma forma que sua origem e sua atuação dentro da Cultura Brasileira sejam explicitadas.

O percurso teórico de Darcy Ribeiro coloca o autor sob um novo foco, de modo que culmina em sua inserção no plano do objeto analisado. Notamos que existe um padrão no uso do termo “brasileiro” como uma forma de concretização de um comprometimento nacional. Também observamos que, no plano do TT, o termo recai sobre um enfoque de adjetivação de características societárias, o que revela, por conseguinte, que Rabassa atribui ao conceito de Brazilian um sentido qualificatório, o qual, na tradução da obra darcyniana, apresenta um direcionamento de leitura positivo.

Ao tomarmos como exemplo a conceituação dos fatores que determinam a nacionalidade brasileira, entramos em contato com o principal propósito da obra em estudo: a consolidação de um “povo novo” e com valores identitários próprios. O processo tradutório de Rabassa revela que a ideologia que envolve o termo Brazilian vai além da simples relação de territorialidade e abarca sentidos que, no contexto de Darcy Ribeiro, tendem a enaltecer o habitante e membro da “nova” nação. Tendo por base tais aspectos, podemos propor que na última obra de AC, o autor configura um quinto tipo de habitus que podemos definir como sendo um habitus de brasilianismo, ou seja, um comportamento correlato ao sentimento de “pertencimento”, “etnicidade” e “brasilidade”. É interessante notar, contudo, que esse habitus se revela de maneira apenas parcial na obra, ficando ainda mais evidente no TT de Rabassa, em virtude dos trabalhos de tradução deste estudioso das culturas, os quais lhe permitiram reconhecer a ideologia nacional do “brasileiro” e o seu intenso caráter assimilatório, principalmente no que diz respeito à “mestiçagem”.

Com o objetivo de observar a chavicidade de dados termos na conjuntura analítica da AC, realizamos a compilação das cem palavras-chave da obra O povo brasileiro e de sua tradução The Brazilian People. Abaixo, apresentamos as Tabelas 11 e 12 com as respectivas dez palavras de maior índice no TO e no TT:

Tabela 11: Dez palavras-chave do subcorpus principal da obra O povo brasileiro

N Palavra – Chave Chavicidade

1 ÍNDIOS 2.197,86 2 TERRAS 614,09 3 POPULAÇÃO 527,82 4 ESCRAVOS 522,79 5 COLONIAL 456,49 6 NEGROS 399,69 7 GADO 382,64 8 POVOS 382,36 9 CIVILIZAÇÃO 380,17 10 INDÍGENAS 360,77

Tabela 12: Dez palavras-chave do subcorpus principal da obra

The Brazilian People

N Keywords Keyness 1 INDIANS 4.205,43 2 BRAZILIAN 2.919,11 3 BRAZIL 2.223,58 4 SLAVES 1.414,04 5 PLANTATION 1.175,09 6 BLACKS 1.138,16 7 LABOR 939,95 8 POPULATION 915,91 9 BACKLANDS 848,34 10 CIVILIZATION 817,99

Entre as cem palavras-chave dos corpora acima mencionados, as quais compõem os Apêndices H e I, 68 coincidem como possíveis correspondentes. Podemos citar, por exemplo: “aldeias” Æ villages; “civilização” Æ civilization; “colonos” Æ colonists; “engenho” Æ plantation; “escravos” Æ slaves; “fazendas” Æ plantation/ ranches; “índios” Æ Indians; “pastoreio” Æ grazing/herding; “povo” Æ people; e “senhores” Æ masters/ owners.

Os diferentes graus de chavicidade nas obras original e traduzida representam a maneira como os elementos da abordagem darcyniana circulam entre a comunidade nacional e a amplitude que alcançam dentro dos meios de divulgação para o público alvo de LM. A análise da variação entre o uso das palavras-chave pelo autor e pelo tradutor pode conduzir-nos à ideia de que Rabassa procurou colocar em evidência traços da Cultura Brasileira com uma

ênfase maior para a LM do que para a LF. Vemos, por exemplo, que o termo “índios” e seu correspondente Indians apresentam os maiores índices no TO e no TT. Entretanto, na obra traduzida a chavicidade em relação a questões sociais comuns ao Brasil é elevada praticamente ao dobro.

Observamos também que a constituição da identidade nacional é colocada em relevo por Rabassa por meio do uso da qualificação do “ser brasileiro” (being Brazilian). Da mesma forma, podemos notar que em outros itens do léxico de especialidade, principalmente no que concerne aos empréstimos da LF e aos chamados brasileirismos terminológicos, o tradutor tende a absorver o contexto de situação da Cultura Fonte, a integrar a “brasilidade” ao padrão lexical da LM e a inserir fatores novos ao campo antropológico geral.

O diálogo bastante próximo estabelecido entre TO e TT auxilia os objetivos esboçados por Darcy Ribeiro desde o primeiro momento de sua produção teórica, ou seja, o de permitir a reavaliação do impacto da influência europeia na formação dos povos neolatinos, desconsiderando certos padrões do campo ou sistema e passando a reavaliá-los sob a ótica do colonizado e não mais do colonizador. De acordo com Darcy Ribeiro, o processo tradutório na direção português Æ inglês corresponderia a uma primeira resposta da relevância que a Antropologia Brasileira assume para os estudiosos da “cultura” no mundo. O trabalho com os índices de chavicidade no TT realizado por Rabassa permite-nos corroborar essa perspectiva, visto que, mesmo sem ter tido o auxílio de Darcy, o tradutor manteve a mesma vivacidade e o mesmo caráter contestador do contexto no qual o autor escrevia. Podemos inferir, dessa forma, que seu comportamento tradutório adequada-se ao habitus do brasilianismo.

No entanto, embora essa possível identificação teórico-tradutor tenha sido clara em The Brazilian People, não podemos desconsiderar as variações de conceituação presentes nos itens lexicais e a alteração no grau de significação de um termo que essas mudanças de “cenário” podem causar. Analisando alguns dos termos correspondentes das listas de palavras-chave, verificamos que, ainda no que concerne à constituição da imagem do “índio” (Indian), o Dictionary of Anthropology (1961) remete-nos, primeiramente à questão do vínculo ao território americano (desconsiderando a existência de grupos semelhantes em outras regiões

do mundo) e, logo em seguida, à conceituação de um tronco racial mongólico caracterizado pela formação de um grupo de indivíduos de pele escura, face arredondada, cabelos lisos, corpo sem pêlos e alguns prognatismos. A definição no dicionário de língua inglesa enfatiza, ainda, a relação entre os tipos sanguíneos destes povos, salientando a presença maior de pessoas de sangue tipo A.

Caracteriza-se também o período de chegada ao novo mundo por volta de 20.000 anos atrás e, finalmente, ressalta-se a formulação do nome Indians após o equívoco terminológico de Colombo ao confundir os continentes quando de sua viagem às Índias.

A mesma obra de referência apresenta a definição de “índio” como sendo um descendente dos grupos pré-conquistadores da América Latina, os quais preservam a linguagem e os costumes anteriores à chegada dos europeus, por exemplo, os Tarascan do México central.

O Dicionário de Antropologia: do homem primitivo às sociedades actuais (1983), por sua vez, detalha a constituição de cada grupo indígena já estudado, salientando as principais características de cada um. O verbete inicia-se com os “índios da América Latina” (Latin American Indians) e aponta que o continente americano oferece grande variedade humana, que vai desde as tribos indígenas, que em certas regiões da Amazônia ainda hoje se mantêm fora do alcance do homem branco, até os índios que estão integrados à nova sociedade.

Distingue: 1) as regiões que foram os berços das grandes civilizações pré- colombianas desaparecidas, mas das quais subsistem a recordação, as línguas e as mitologias; 2) os Impérios Inca, Maia e Asteca; 3) as regiões tropicais e subtropicais da Guiana e da Amazônia onde sobrevivem numerosas tribos; e 4) as regiões da América do Norte, onde vivem alguns povos como os Apaches, os Navajos, os Yavapai e os Walapai.

Desse modo, a relação que se estabelece na memória do povo brasileiro ao se evocar o conceito de “índios”, vai além da proposta de um grupo racial específico. Na concepção de Darcy Ribeiro, trata-se de um dos núcleos constituintes do coletivo nacional, integrado ao Brasil pela absorção de elementos da mística, da culinária, dos costumes, do vestuário e, em especial, da linguagem.

A perpectiva eurocêntrica, no entanto, concebe o Indian, assim como o Negro, Niger, Black, mulatto e mestizo, mais por suas feições e marcas genéticas de diferença do que por seus valores e crenças, os quais são assimilados pelos povos de poder civilizador. A questão que se estabelece nesta dicotomia entre os significados do conceito de “índio” em LF e LM é a de que a constituição do campo antropológico, essencial para a compreensão das sociedades modernas, ilustra o histórico capitalista e colonialista imperante na língua e na terminologia cultural.

Outro exemplo presente entre as palavras-chave e que desvenda esse entrave entre compreensões distintas é o de “aldeia” (village). Na acepção comum, essa locação territorial é a menor unidade demográfica encontrada entre os grupos humanos. Neste ponto, ela se contrapõe aos conceitos de “vila” e de “cidade”. Para Geertz (1962), o termo village refere-se normalmente a uma comunidade agrícola consolidada. Este tipo de organização foi, durante mais de três milênios, o tipo predominante de comunidade humana, continuando a sê-lo em muitos lugares menos desenvolvidos.

Em Antropologia Cultural, a estrutura da village depende do conjunto de crenças religiosas, sociais, políticas, etc. de seus moradores. Nesse sentido, os primeiros exploradores ficaram assombrados com a regularidade e uniformidade de alguns desses núcleos. Por conseguinte, a village é mais que um simples conglomerado de povoação mais ou menos disperso, pois revela certa composição estrutural. Em Winick (1961), uma village constitui-se como um grupo de pequenas casas em um distrito rural, provavelmente o tipo mais antigo de agrupamento humano. Uma village é um conjunto de pequenas propriedades tratado como unidade e localizado de tal forma que seus habitantes possam conhecer-se mutuamente. Nesse dicionário, assim como no de Akoun (1983), a composição de “aldeamentos” remonta os tempos neolíticos e data de 8.000 a.C., no Egito.

No Brasil, contudo, o termo “aldeia” é aplicado mais frequentemente às povoações indígenas. Está ligado ao contexto de “sedentarização dos povos coletores” e aos propósitos de “produção de subsistência”. A organização interna se estabelece, de maneira semelhante ao da village, com base no poder político-

religioso de um líder espiritual determinado de acordo com uma hierarquia fundamentada na linhagem de parentesco.

Também é interessante observar que, na composição de O povo brasileiro, existe um aprofundamento do estudo das peculiaridades da “nacionalidade” e da “mestiçagem” do Brasil. Compõem-se novos núcleos de criação terminológica: (1) termos relacionados a relações de parentalidade, como “compadrio”, “cunhadismo” e “agregação”; (2) regionalidades e regionalismos, no caso das “vacarias”, das “usinas”, das “sesmarias”, dos “engenhos” e do “agreste”; (3) novos tipos sociais, tais como os “sesmeiros”, os “sertanistas”, os “seringalistas”, os “caipiras”, os “caboclos”, os “senhores de engenho”, etc.; (4) novos conceitos de mestiços, como os “bandas forras”, “terceirões” e “brancarrões”; (5) ideologias para a formação do povo mestiçado, como “branquização” e “negritude”; (6) processos de integração nacional, tal como “abrasileiramento” e “caipirização”; (7) fatores resultantes da entrada dos europeus no país, por meio dos “aldeamentos-reduções”, “missões” e intervenção dos “bandeirantes”; (8) interações com as formas de produção (agrícola e pecuária) possíveis ao território brasileiro, ou seja, “aquerenciamento”, “arraial”, “arranchamento”, “arrendamento”; (9) revoluções sociais e revolucionários, como “balaiada”, “balaios”, “cabanagem” e “cabanos”; e (10) trabalhadores sociais, como “biscateiros”, “balateiros”, “boiadeiros”, “braceiros”, etc.

Ao gerarmos as listas de palavras-chave na LM, por sua vez, verificamos a reiteração e a aceitação das proposições darcynianas no TT. Rabassa soma ao habitus do brasilianismo a sua compreensão de habitus tradutório e coloca esses dois princípios acima da necessidade da padronização terminológica, acentuando os valores sociais tão apreciados por Darcy Ribeiro em sua Antropologia e ampliando as possibilidades de escolhas lexicais que vão, ao longo da obra em língua inglesa, compondo os ambientes e agentes sociais para que a identificação