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Carolina L. Cavlac1 | ina.cavlac@gmail.com PPGCDS/UnB, Brasília, Brasil

Renata O. Souza2

PGECL/UnB, Brasília, Brasil

Bruna de Alencar Nunes3 PGECL/UnB, Brasília, Brasil

André Cunha4 IB/UnB, Brasília, Brasil

José Luiz de Andrade Franco5 CDS/UnB, Brasília, Brasil

José Augusto Drummond6 CDS/UnB, Brasília, Brasil

Palavras chave: espécies exóticas, cães, mamíferos, Cerrado,

PNCV, conservação

1 Doutoranda em Política e Gestão da Sustentabilidade pelo Programa de Pós-

Graduação do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília PPGCDS/UnB. Brasília, Brasil.

2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação do Centro de Desenvolvimento

Sustentável da Universidade de Brasília PPGCDS/UnB.

3 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade de Brasília

PGECL/UnB.

4 Professor Adjunto do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília IB/

UnB.

5 Professor Associado do Departamento de História HIS/UnB e do Centro de

Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília CDS/UnB.

6 Professor Titular do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de

Brasília CDS/UnB.

RESUMO

A invasão de áreas protegidas por espécies exóticas é uma importante causa da perda da biodiversidade, ocasionando extinções de espécies nativas em todo o mundo, fato especialmente relevante nos casos das espécies endêmicas. O cão doméstico (Canis familiaris) atua como espécie exótica invasora em áreas de preservação, oferecendo riscos à manutenção da sua fauna nativa, por competição, predação e/ou transmissão de patógenos (Doherty et al., 2017; Hughes e Macdonald, 2013). A presença de cães domésticos em unidades de conservação no Brasil tem sido um problema recorrente (Lessa et al., 2016) e os seus impactos devem ser investigados. Muitas espécies de mamíferos nativos classificados como “Vulnerável” na lista de espécies ameaçadas da fauna brasileira (ICMBio/MMA, 2018) estão presentes no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (PNCV), como os canídeos lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), o cachorro- vinagre (Speothos venaticus) e a raposinha-do-campo (Lycalopex

vetulus), esta última, endêmica do bioma Cerrado. Essas espécies

podem ser diretamente afetadas por agentes patogênicos comuns em cães domésticos (Jorge et al., 2010). A entrada e circulação de cães domésticos em áreas do PNCV é proibida, porém a presença deles tem sido registrada regularmente (Figura 1). Os objetivos deste texto, como projeto de tese de doutorado são (i) investigar a presença dos cães domésticos na região em um contexto histórico; (ii) oferecer dados sobre a dinâmica temporal e espacial deles no parque; e (iii) identificar as percepções de diferentes atores sociais sobre a presença dos cães na área de preservação. Para isso, serão investigados a história ambiental da região, baseada em pesquisa de fontes secundárias, textos históricos, livros e artigos de periódicos; analisaremos dados de registros fotográficos e filmagens de câmeras

traps Bushnell Trophy Cam HD, distribuídas no PNCV para detectar

a presença de cães domésticos; e faremos um levantamento de dados por meio de questionários estruturados com questões objetivas

58 (fechadas) e entrevistas com os atores sociais definidos: tutores

de cães, gestores e voluntários do PNCV e turistas, para identificar as percepções sociais sobre a presença dos cães na área de preservação. Com os resultados preliminares obtivemos 182 registros de cachorros domésticos na área do parque, ao final de 9717 câmeras/ noite, entre setembro de 2017 e junho de 2019. Esse resultado mostra que essa espécie exótica invasora está regularmente presente e que pode ameaçar a fauna nativa. Esta pesquisa pode gerar informações capazes de direcionar medidas de conservação de fauna e demais políticas públicas de governança na conservação de espécies ameaçadas, considerando os riscos crescentes a que elas e seus habitats estão sendo submetidos.

1. OBJETIVOS

Investigar como os cães domésticos impactam a fauna nativa de médios e grandes mamíferos no PNCV por meio de: (i) um levantamento do contexto histórico sobre a presença dos cães na região do parque; (ii) análise de dados da dinâmica temporal e espacial da espécie no parque entre 2017 e 2020 e (iii) identificação das percepções de diferentes atores sociais sobre a presença dos cães na área de preservação em 2021.

2. MÉTODOS

O estudo está sendo conduzido no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, localizado no segmento nordeste do estado de Goiás, Brasil, na microrregião da Chapada dos Veadeiros, com limites nos municípios de Alto Paraíso, Cavalcante, Colinas do Sul, Teresina de Goiás, Nova Roma e São João da Aliança. O parque preserva cerca de 240 mil hectares do bioma Cerrado. Ele abarca diferentes fitofisionomias compostas por formações florestais, savânicas e campestres que são abrigo de uma rica diversidade faunística, além de muitas espécies endêmicas (ICMBio, 2009).

• Contexto histórico da presença dos cães na região onde o parque está inserido; história ambiental baseada em pesquisa de fontes secundárias, textos históricos, livros e artigos de periódicos;

• Dados da dinâmica temporal e espacial dos cães domésticos no PNCV entre 2017 e 2019, por meio de análises estatísticas de dados coletados através de registros fotográficos e filmagens de 30 armadilhas fotográficas, distribuídas em trilhas e estradas no PNCV com diferentes intensidades de fluxo de pessoas;

• Identificação das percepções de diferentes atores sociais sobre a presença dos cães na área de preservação em 2021; o levantamento de dados será realizado por meio de procedimentos quali e quantitativos - questionários estruturados com questões objetivas (fechadas) distribuídas em blocos distintos e entrevistas com membros da comunidade do entorno (áreas rurais e urbanas de Alto Paraíso e Cavalcante) e gestores e voluntários do parque. Os atores sociais definidos foram selecionados de acordo com as suas proximidades em relação ao tema investigado sendo eles (1) tutores de cães, (2) gestores e voluntários do PNCV e (3) turistas.

3. RESULTADOS PRELIMINARES E ESPERADOS

A história ambiental da região pode esclarecer como o uso do espaço tem influenciado a preservação da área do PNCV. Os 182 registros da presença de cães domésticos na área do parque, entre setembro de 2017 e junho de 2019, com 9712 câmeras/noite nos indica que a espécie está tendo acesso à área de preservação e pode estar ameaçando a fauna nativa. Neste contexto, trazer informações sobre como os diferentes atores da comunidade humana percebem essa ameaça são ações de altíssima relevância científica, pois podem direcionar medidas de conservação de fauna e demais políticas públicas de conservação de espécies ameaçadas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ocupação humana diversa, a rica biodiversidade da área de estudo, e o papel dessa espécie exótica extremamente social, o cão, são fatores muito relevantes na gestão para conservação de áreas de proteção ambiental que sustenta a importância e contribuição desse trabalho. A presença dos cães domésticos na área do parque indica

59 que a fauna nativa pode estar sofrendo pressões e que ações de

políticas públicas para a conservação de espécies ameaçadas são necessárias. Com os resultados dessa pesquisa, teremos informações que podem estabelecer parâmetros e bases teóricas para futuras pesquisas, viabilizar aplicações desses conhecimentos na gestão de parques e de outras áreas de proteção ambiental, assim como sugerir ações sociais para o cuidado e bem-estar dos cães e de educação ambiental; e contribuir como referencial metodológico para futuros estudos sobre as relações entre animais domésticos, a sociedade humana e a conservação da natureza.

Figura 1. Cadela doméstica sendo retirada da área de preservação por funcionário

do parque. Foto de câmera trap Bushnell Trophy Cam HD em 29/06/2019. Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Goiás, Brasil.

BIBLIOGRAFIA

Doherty, T. S.; Dickman, C. R.; Glen, A. S. et al. 2017. Biological

Conservation (210) 56-59.

Hughes, J.; Macdonald, D. W. 2013. Biological Conservation (157)

341-351.

ICMBio/MMA. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada

de Extinção: Volume II – Mamíferos. 1. ed. Brasília, DF.

ICMBio 2009. Plano de Manejo Parque Nacional Chapada dos

Veadeiros. Disponível em https://www.icmbio.gov.br/portal/images/ stories/imgs-unidades-coservacao/pm_chapada_dos_veadeiros_1. pdf em 21/09/2019.

Jorge, R. S. P.; Pereira, M. S. Morato, R. G. et al. 2010. Detection of Rabies Virus Antibodies in Brazilian Free-Ranging Wild Carnivores.

Journal of Wildlife Diseases 46(4) 1310-1315.

Lessa, I.; Guimarães, T.C.S., Bergallo, H.G.; Cunha, A.; Vieira, E.M. 2016. Domestic dogs in protected areas: a threat to Brazilian mammals? Natureza & Conservação (14) 46-56.

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