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NO MATOPIBA

Acácio Zuniga Leite

CDS/UnB, Brasil

Palavras-chave: fronteira, agronegócio, desigualdade, trabalho rural

CONTEXTUALIZAÇÃO RESUMIDA

Trata-se de plano de tese de doutorado, ainda em construção, a passar por fase de qualificação em 2020 no âmbito do PPG-CDS/ UnB sob orientação do Professor Sérgio Sauer. Nos últimos anos, em especial com o boom do preço de commodities e da corrida mundial por terras (SAUER e LEITE, 2012), novas fronteiras agrícolas foram formadas no Brasil. Na busca de terras baratas e na ampliação da reprodução do capital (HARVEY, 2011; SASSEN, 2016), para além de mera modernização da produção agropecuária, ocorrem impactos em modos de vida, expulsões e violações de direitos humanos. A expansão das fronteiras agrícolas acarreta desdobramentos socioeconômicos e socioambientais. O MATOPIBA, acrônimo formado com as iniciais dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, é uma região formada pela totalidade do estado do Tocantins e diferentes frações dos outros estados, se constitui em uma dessas áreas de grandes transformações socioeconômicas e socioambientais derivadas do recente processo de implementação do modelo de produção do agronegócio. O processo de investimento do capital na região tem gerado um conjunto de reflexões (XAVIER, 2019), com destaque para o recente número 47 da Revista NERA, que traz dezessete textos sobre essa “nova” fronteira agrícola (REVISTA NERA, 2019).

Apesar do discurso político hegemônico apresentar um viés determinista em que o agronegócio sustenta o desenvolvimento nacional, existem contradições na literatura sobre essa condição, em especial nas fronteiras agrícolas. Estudos sobre o tema remontam,

em especial, aos debates das questões agrária e ambiental (a partir dos anos 1960 e 1970, respectivamente) e do desenvolvimento socioeconômico nas áreas de fronteira. Entretanto, a expansão da agropecuária na atual fase do agronegócio brasileiro apresenta novas características que se compreendidas pela busca da sustentabilidade e do cumprimento da função social da terra, integrando os debates anteriores, pode trazer saltos de qualidade para o debate teórico (Figura 01).

A tentativa de caracterização dessa nova fase tem gerado a apresentação de novos conceitos e chaves teóricas no campo interdisciplinar, como acumulação por espoliação (HARVEY, 2011), neoextrativismo (GUDYNAS, 2010), neodesenvolvimentismo (BOITO JUNIOR e BERRINGER, 2014) e, mais recentemente, agroextrativismo (FERNANDES, 2019) e extrativismo agrário (VELTMEYER e ZAYAGO LAU, 2019), com as quais se deseja dialogar a partir da realidade específica da região estudada.

48 Figura 1. Abordagens de pesquisa sobre o avanço agropecuário sobre o Cerrado

1. OBJETIVO GERAL

Compreender as razões do avanço da fronteira agrícola no MATOPIBA no início do século XXI e sua relação com o desenvolvimento municipal e a função socioambiental da terra.

2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Analisar os determinantes da corrida por terras na região; • Analisar a relação entre avanço da fronteira agrícola e

desenvolvimento municipal;

• Analisar a relação entre avanço da fronteira agrícola e função socioambiental da terra;

• Estudar a causalidade econômica entre desenvolvimento municipal, investimentos públicos e renda agropecuária;

• Identificar propulsores do desenvolvimento nos munícipios.

3. HIPÓTESES

• O modelo de desenvolvimento hegemônico no Matopiba alimenta o aumento da desigualdade, possui baixo efeito de transbordamento, baixa capacidade de criação de empregos e alta taxa de desmatamento;

• Os fatores de propulsão do desenvolvimento nos municípios estão relacionados mais com os fundos públicos e do que com a atividade econômica do agronegócio.

4. MÉTODOS

• Levantamento de dados sobre a estrutura fundiária e sistemas agrários na região por meio dos dados dos Censos Agropecuários 1995/1996, 2006 e 2017/2018;

49 • Levantamento da relação entre variáveis socioeconômicas

(em especial relacionadas as dimensões trabalho, saúde e educação), concentração da terra, expansão agropecuária e inputs de recursos públicos (previdência/benefícios, fundo de participação dos municípios, convênios, financiamento rural etc);

• Levantamento das diferentes dinâmicas de produção agropecuária e seus desdobramentos em renda, trabalho e meio ambiente;

• Teste de causalidade econômica entre desenvolvimento, investimento de recursos públicos e atividade do agronegócio utilizando modelos com dados em painel, medindo os efeitos multiplicadores de atividades agropecuárias e dos investimentos públicos no Matopiba;

• Teste unilateral de diferença para os dois parâmetros estimados (produção agropecuária e fundos públicos) para comparar o impacto dos dois fatores.

5. RESULTADOS ESPERADOS

• Apresentar elementos empíricos que contribuam na sustentação teórica sobre desenvolvimento e desigualdade; • Contribuir com a proposição de premissas para o

desenvolvimento municipal na região a partir do desenvolvimento rural.

REFERÊNCIAS

BOITO, Armando; BERRINGER, Tatiana. Social classes, neodevelopmentalism, and Brazilian foreign policy under Presidents Lula and Dilma. Latin American Perspectives, v. 41, n. 5, p. 94-109, 2014.

DELGADO, G.C. Do capital financeiro na agricultura a economia do

agronegócio. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2012.

FAVARETO, A.; NAKAGAWA, L.; PÓ, M.; SEIFER, P.; KLEEB, S. Entre

chapadas e baixões do Matopiba: dinâmicas territoriais e impactos

socioeconômicos na fronteira da expansão agropecuária no Cerrado. São Paulo: Editora Ilustre e Greenpeace, 2019.

FERNANDES, B.M. Land grabbing for agro-extractivism in the second neoliberal phase in Brazil. Revista Nera, v. 22, n. 50, p. 208-238, 2019. GUDYNAS, E. Si eres tan progresista ¿Por qué destruyes la naturaleza? Neoextractivismo, izquierda y alternativas. Ecuador

Debate, n. 79, p. 61-81, 2010.

HARVEY, D. O novo imperialismo. São Paulo: Loyola, 2011.

NEDER, H.D.; SILVA, JRS; MESQUITA, B.A. A expansão das

commodities e as transformações do espaço rural: América Latina e

Brasil. Brasília: Seminário BICAS, 2018.

REVISTA NERA. Presidente Prudente: UNESP, n. 47, 2019.

SASSEN, S. Expulsões: brutalidade e complexidade na economia global. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2016.

SAUER, S.; LEITE, S.P. Expansão Agrícola, Preços e Apropriação de Terra Por Estrangeiros no Brasil. Resr, v. 50, n. 3, p. 503-524, 2012. VELTMEYER, H.; ZAYAGO LAU, E. America Latina en el vórtice del capital extractivo y de la resistência. In: SAUER, Sérgio. (ed.).

Desenvolvimento e transformações agrárias: BRICS, competição e

cooperação no Sul Global. São Paulo: Outras Expressões, 2019. XAVIER, G.L. Matopiba: a ocupação da nova fronteira agrícola nos quadros do padrão exportador de especialização produtiva. Confins, v. 39, 2019.

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O CONTRIBUTO DOS MATERIAIS DE