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O Liberalismo extemporâneo no Brasil

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2.8. O ideal Liberal no Brasil Imperial

2.8.1. O Liberalismo extemporâneo no Brasil

Na Europa, durante as últimas décadas do século XVIII, ocorreram mudanças no contexto social, que provocaram transformações do campo das ideias que levaram a crise do Antigo Regime. Estas novas ideias vinham sendo concebidas desde o início do século, e ficaram conhecidas pela expressão “pensamento ilustrado”. Petitat (1999, p. 17) informa que, estes pensadores (ilustrados), homens como Montesquieu (1689-

49 1755), Voltaire (1694-1778), Diderot (1713-1784), Rousseau (1712-1778), apesar de divergirem entre si em várias questões, tinham todos um ponto comum entre eles, o princípio da razão. Segundo eles, pela razão se realizam os conhecimentos necessários ao homem e por meio dela podemos chegar às leis que regem a sociedade. A missão dos governantes consiste em promover a realização do bem- estar dos povos, pelo respeito às leis da natureza e aos direitos naturais os quais todos os homens são detentores.

As concepções ilustradas originaram um contexto sociopolítico onde se desenvolveu o pensamento liberal e suas diversas vertentes. Uma base comum a diversas correntes do liberalismo é a noção de que a história humana tende ao progresso, ao aperfeiçoamento do indivíduo e da sociedade, a partir de critérios propostos pela razão. A felicidade, um conceito novo no século XVIII, constitui o objetivo supremo de cada indivíduo e a maior felicidade do maior número de pessoas é o verdadeiro desígnio da sociedade. Este ideal, segundo Freire (1894, p. 18), deve ser alcançado através da liberdade individual, criando-se condições para o amplo desenvolvimento das aptidões do indivíduo, e para sua participação na vida política. Uma mudança diametral em relação ao Absolutismo vigente na Europa deste período. No campo da economia o liberalismo defende que o Estado não deve interferir na iniciativa individual, limitando-se a garantir a segurança e a educação dos cidadãos. A concorrência e as aptidões pessoais se encarregariam de harmonizar naturalmente a vida em sociedade.

No campo político o liberalismo defende o direito de representação dos indivíduos, sustentando que neles e não no poder dos reis, se encontra a soberania frente ao absolutismo. Esta é entendida como o direito de organizar a ação a partir de uma lei básica, a Constituição. O alcance do conceito de política como representação, traçou uma nova linha divisória entre o liberalismo, democracia e as monarquias no decorrer do século XIX.

No campo ideológico, o liberalismo deu sustentação aos movimentos de queda do Antigo Regime, caracterizado pelo patrimonialismo e o absolutismo, dos quais decorriam privilégios.

Importante destacar que a obra propulsora maior do liberalismo econômico, Uma investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações ou simplesmente, A riqueza das nações escrita por Adam Smith (1723-1790) em 1776, criticava o sistema absolutista e colonial, acusado de distorcer os fatores de produção

50 e o desenvolvimento do comércio como promotor de riqueza. A escravidão parecia a Adam Smith (1723-1790) uma instituição anacrônica, incapaz de competir com a mão de obra assalariada.

2.9. Considerações sobre o Império

A conquista da autonomia política e econômica do Brasil, se dá com a Independência em 1822, em um contexto em que Portugal manteve aqui o domínio político, e a exploração econômica por mais de trezentos anos, nutrindo uma relação parasitária em relação a produção brasileira, que onerava com impostos os produtos aqui manufaturados, onerando também a aquisição de mercadorias estrangeiras, indispensáveis para a complementação das necessidades do consumo interno no Brasil.

Com a Independência, instala-se a Assembleia Nacional Constituinte, com o intuito de elaborar uma legislação particular para a educação, objetivando a organização da instrução. A Constituição Imperial de 1824 determinou gratuidade para a instrução primária, e no artigo 179, inciso XXXII: “A instrução primária é gratuita para todos os cidadãos” (BRASIL, 1824, p. 13), contudo, sem mencionar ainda a obrigatoriedade e nem universalização do ensino. Durante todo o período imperial, sobretudo na década de 1870, a universalização do ensino primário foi muito discutida, contudo não chegou a ser adotada efetivamente durante o Império.

A questão da laicidade do ensino sequer foi aventada durante este período. Foi aprovada no dia 15 de outubro de 1827, pela Assembleia Legislativa a primeira lei sobre instrução pública nacional, determinando que “em todas as cidades, vilas e lugares populosos haverá escolas de primeiras letras que forem necessárias”. Contudo, a propagação do ensino fica apenas no discurso político, pois apesar da determinação legal para o estabelecimento e a difusão do ensino fundamental no Brasil, a opção pela descentralização tornava precário e ineficiente o ensino, a gestão e a fiscalização destas escolas em todos os municípios.

Com exceção da criação, em 1837, do Colégio Pedro II, a presença do Estado na educação foi quase insignificante, não havia um projeto de educação com o propósito de escolarização da população, pois em uma sociedade escravagista e

51 autoritária, a educação era utilizada para atender uma minoria da população, encarregada do controle das novas gerações.

A educação sob o prisma de uma análise econômica, foi considerada inicialmente um fator secundário, no período que seguiu o modelo agroexportador, e foi gradualmente valorizada na mudança do modelo de substituição das importações, ao modelo da internacionalização do mercado interno, que necessitava para o seu funcionamento de um núcleo econômico altamente produtivo, baseado na tecnologia própria das modernas sociedades. Neste contexto da década de 1870, o Brasil viveu alguns reflexos dessas transformações do capitalismo mundial, como o maior exportador de café.

Durante o Império a função da educação muda em relação ao período Colonial, pelo fato de não ser tão necessária para a inculcação e dominação do povo, não era mais preciso promover a aculturação, a mudança na forma de ser e agir e a imposição da cultura europeia. A preocupação neste contexto era a formação de pessoas para ocuparem quadros administrativos no Império, estes, terminavam seus estudos na Universidade de Coimbra.

Seguindo este caminho no final do período Imperial, com o surgimento do partido Republicano (1870), floresceu no Brasil a ideia de que a instrução popular seria estratégia importante para o progresso, um modo de transformar os súditos em cidadãos e dar sentido ao ideário de nação. Assim a nacionalidade foi acompanhada por um projeto pedagógico que pretendeu dar um “caráter nacional” ao povo brasileiro.

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