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A libertação de toda uma cidade

Pelo Apóstolo Fernando Orihuela La Paz, Bolívia

Potosí, Bolívia resgatada para a glória de Deus

É surpreendente que a história de Potosí, na Bolívia, seja tão pouco conhecida em todo o mundo. E como se o próprio inferno estivesse tentado apagar sua história malfadada de modo que as consequências de suas perversidades continuem a ser transmitidas de maneira despercebida de geração em geração.

Por volta de 1535, a Espanha estava repleta de conflitos internos. O Peru e o norte da Argentina ainda eram territórios desconhecidos. Anos antes, um dos últimos descendentes do rei Inca, Huaina Capac, ouviu falar sobre a descoberta de uma montanha fantástica que guardava um tesouro extraordinário de prata de rara qualidade. Em torno de 1545, o capitão Juan de Villarroel e outros espanhóis a descobriram e começaram suas explorações.

A partir de abril do mesmo ano, Potosí se tornou uma importante cidade mineira. Graças à prata, ela cresceu em uma velocidade de tirar o fôlego, tornando-se a maior cidade das Américas em 1650, com mais habitantes do que Londres e Paris. Sua influência era conhecida em toda a Europa.

As riquezas extraídas da montanha se tomaram um pólo de atração para muita gente. Por exemplo, o escritor argentino Raul Molina, em seu livro A História do Rio da Prata, a chamou de a “Meca do comércio espanhol da época”.

O preço da exploração

Como foi possível tal exploração? Qual era o preço de se enviar tamanha riqueza para a Península Ibérica? Os mineiros pagavam um preço muito elevado pela produção da prata. Alguns historiadores estimam que doze milhões de homens morreram nessa parte da América, devido ao processo de extração de prata em pouco mais de 350 anos. Os métodos de mineração eram mortais. A população foi dizimada tão fortemente que precisaram importar escravos africanos, no entanto, devido à geografia e ao frio extremo, os escravos não conseguiam sobreviver por mais de um ano.

A “folha sagrada”

A cidade de Potosí fica a 4.017 metros acima do nível do mar. A fim de trabalhar nas minas, nessa altura, os mineiros mastigavam folhas de coca como forma de vício, o que já era praticado pelo povo Inca. Quando os espanhóis chegaram à América e descobriram suas propriedades, foram apresentados a ela como uma parte vital do processo de exploração. O consumo de cocaína substituía a fome, eliminando qualquer vontade de lutar e transformando os homens em pouco mais do que máquinas. Cada um podia trabalhar perto de 36 horas contínuas sem a necessidade de comer ou dormir. No entanto, após alguns meses, os resultados eram trágicos. Os homens ficavam extremamente magros, desnutridos, com os pulmões consumidos pelos ácidos que inspiravam nas minas. Além disso, viam o álcool como uma forma de escapar de seu sofrimento. Até o início do século 21, Potosí foi caracterizada como a única cidade da Bolívia com crescimento negativo e uma expectativa de vida inferior a 47 anos.

Quando a “febre da prata” terminou, a cidade se tornou um lugar desolado. Sua antiga glória desaparecera. A origem de riquezas para toda a Europa, onde um continente inteiro ganhou vida, simplesmente evaporou.

A presença das sombras

Uma das práticas que apareceram nas minas da Bolívia foi a chamada “O culto do Tio”. O Tio é uma representação do diabo, a quem sacrifícios e oferendas eram realizados com frequência. A razão é simples: acreditava-se que o diabo era o dono das riquezas das minas e a única autoridade. Essa crença também contaminou as cidades próximas e o cristianismo não cresceu nessas regiões mesmo após mais de cem anos de pregação. Nessa cidade, as características típicas de quem havia sido consagrado à idolatria eram manifestas, como a descrença, a indiferença, o ocultismo e a pobreza. Havia ali fortalezas espirituais que governavam a cidade e os maçons também deixaram sua marca. Essa é apenas uma amostra do enorme problema que aquele lugar sofria.

Meu primeiro contato com a cidade

Quando fui a essa cidade pela primeira vez, em 1995, pude verificar alguns aspectos seus importantes. Na cidade de Potosí, era muito difícil se esperar ter qualquer impacto espiritual ou estabelecer qualquer forma de guerra espiritual ou libertação em grupo. Minha própria experiência me fez perceber qual seria o custo de ministrar libertação a qualquer um nessa cidade. Era possível sentir a opressão e o controle demoníaco em

toda parte. As igrejas eram pequenas e realizavam pouquíssimas conversões a cada ano. A autoridade e a influência da Igreja Católica (na verdade, uma mistura de catolicismo com culturas nativas) era visível e a pouca atividade econômica da cidade ainda dependia da montanha colossal de prata, agora longe de seus dias de glória.

A liderança da Igreja Cristã estava dividida e foi extremamente difícil falar sobre trabalharmos em conjunto por um bom tempo. Durante um momento de intercessão, nossa equipe recebeu a revelação de que Potosí era um altar de sangue, provavelmente um dos mais altos do planeta. Foi, sem dúvida, o altar com o maior número de vidas sacrificadas sobre ele.

Nosso primeiro trabalho foi tentar reunir os líderes da cidade. Com a ajuda de Deus e dois pastores amigos, conseguimos ter nossa primeira reunião, na qual propusemos evangelizar a cidade. Das 95 igrejas na cidade, 90 estavam presentes. Foi um grande sucesso. Após estabelecer essa comunhão, começamos a planejar o que seria a maior mobilização da Igreja em nossa história. A data prevista para o evento foi em maio de 2001.

Contatos divinos

Todo esse trabalho levou cerca de cinco anos (e muitas avarias). Os últimos meses antes do evento foram muito intensos. Em janeiro daquele ano, Deus me permitiu conhecer Ana Mendez Ferrell. Estávamos ambos convidados para um evento em Denver, Colorado. Deus me permitiu compartilhar com ela a visão. Após uma longa conversa, ela sentiu em seu espírito que devia aceitar nosso convite e participar da tomada de Potosí. Tive também a oportunidade de manter contato com o irmão Hector Torres, amigo querido e renomado escritor e palestrante.

A estratégia era simples. O evangelismo levaria uma semana, aberto a todas as igrejas e com publicidade maciça. Queríamos impactar cerca de 25.500 casas, visitá-las uma a uma. Por outro lado, precisávamos fazer um ataque espiritual, “amarrando o valente”, o que seria realizado uma semana antes em um evento fechado com a participação de mais de 70 intercessores.

O véu se rasgou

Percorremos a região por volta de um mês e meio e literalmente cobrimos toda a cidade durante 60 meses, realizando mapeamento espiritual, visitando todos os museus e locais de idolatria, entrando nas minas e buscando todos os possíveis traços de quem fosse espiritualmente “culpado” por todo aquele desastre. Apesar de toda a

investigação, se me perguntassem quem era o valente em Potosí, eu não saberia o que responder.

Ana Mendez Ferrell mal tinha chegado a Potosí quando convocou um número reduzido de pessoas para uma reunião. Após alguns breves comentários, entramos em um momento muito especial de intercessão. Devo reconhecer que eu não estava preparado para o que aconteceria. Por mais de três horas, o Senhor nos permitiu ter uma experiência como eu nunca tivera antes. Anjos apareceram entre nós e nos levaram a lugares espirituais onde a cidade era mantida cativa. Uma coisa é “conhecer” a Bíblia e tirar dúvidas sobre algum lugar ou região com a ajuda de um dicionário. Eu sabia como fazer isso bem, graças a minha formação teológica, mas outra coisa era “estar” nos lugares espirituais e, na realidade, “vê-los” face a face.

Encontrando a rainha dos céus

A Rainha do Céu, sob a forma de um grande dragão, era o carcereiro da cidade; passado e presente se misturando em imagens vivas e estáticas. Tanta dor, tanto mal havia sido cometido contra a terra e contra a cidade. A criação “gemia” para estar livre. Nas formas mais terríveis, o sangue estava ligado à tamanha dor e iniquidade. Anjos vieram nos ajudar. Cadeias foram quebradas e pactos destruídos. Como o apóstolo disse, “no corpo ou fora do corpo, não sei”, só sei que “vi” e o que “vi” era real.

Nesse tempo de intercessão, pudemos compreender que o espírito da Rainha do Céu tinha tomado o sangue de milhões de seres humanos nas minas a fim de estabelecer um trono sobre um dos mais altos lugares da Terra. Esse trono tinha duas características espirituais poderosas: estava sobre um lugar muito alto (cerca de 5.300 metros acima do nível do mar) e possuía o sangue dessas vítimas derramado de forma quase ritualística.

Os guardiões desse espírito eram, em geral, Mamon (deus das riquezas) e a Morte. Esses dois governos espirituais eram manifestados abertamente na cidade. Isso ficou evidente.

Em meio a essa intercessão no Espírito, os anjos de Deus *e manifestaram e, juntamente com nossa ajuda, lidaram com o dragão e seus guardiões. Então, o Espírito nos levou a restaurar a cidade e a terra. Oramos para que o sangue de Cristo a cobrisse e que a dor de gerações fosse curada.

Ao mesmo tempo, o Senhor nos levou a retirar Potosí de seu cativeiro, de masmorras espirituais assustadoras que mantinham a cidade prisioneira há gerações. Conseguimos libertar então as riquezas da nação. (Apenas alguns meses depois, descobriram imensas jazidas de

gás natural em nosso país). Depois de “libertar” as riquezas dessa cidade pobre e do resto do país, a instrução precisa era a de que as riquezas seriam derramadas sobre os “justos”.

Apenas cinco pessoas participaram dessa experiência que ocorreu em três sessões diferentes. Em cada uma delas, alguma coisa foi rompida e não houve sinais no céu.

O Espírito de Deus nos mostrou que espíritos de ocultismo operavam na cidade. Sob a forma de um grande macaco, esse espírito lançava feitiços sobre os moradores e os tornavam cativos dos poderes das trevas. Como no caso anterior, os anjos de Deus nos ajudaram a quebrar a influência desses espíritos e abrimos as prisões em que as pessoas estavam cativas. Era bonito vê-las em liberdade depois de tantos anos de opressão.

As portas das prisões são abertas

Depois dessa última intercessão, algo incrível aconteceu. As pessoas começaram a vir a Cristo por conta própria, uma a uma. Houve momentos em que grupos se aproximaram de nossa equipe pedindo oração, desejando conhecer o Senhor. Uma comunidade inteira de agricultores pediu que alguém os visitasse, pois todos ali haviam recebido Jesus em seu coração. A mobilização evangelística tinha começado e mais de 400 evangelistas foram enviados às ruas para realizar visitas domiciliares. Equipes de evangelismo trabalhavam com música, teatro, exibição de filmes em praças públicas, reuniões em salas de cinema e atendimento médico gratuito. Deus estava visitando Potosí.

Em pouco mais de 10 dias de evangelismo, houve 40.790 decisões por Cristo. Algo sem precedentes. Somente no segundo dia de evangelismo, 17.000 cartões de decisão que a equipe da cidade de pastores havia preparado foram distribuídos. As pessoas continuaram a receber ao Senhor até mesmo após a meia-noite, apesar do rigoroso inverno, a menos 11°C. Detentos, autoridades municipais, alunos e milhares de crianças receberam o Senhor.

Espiritualmente, Potosí estava em cativeiro. Graças à direção do Espírito Santo, ela foi retirada dessas regiões e automaticamente as pessoas vieram a Jesus. Simples assim.

Conseqüências posteriores

Três meses depois, o presidente da nação renunciou e morreu após alguns meses acometido de uma doença terminal. Os partidos políticos mais influentes dos últimos 50 anos desapareceram junto com ele. A explicação do Senhor foi muito simples: “Quando o governo invisível

(potestades) cai, o governo visível (políticos que servem a essas potestades) também cai”.

No intervalo de apenas três anos, Potosí obteve o segundo lugar em termos econômicos e em projeções de investimento. O desenvolvimento urbano é visível. Até mesmo o time de futebol local, pela primeira vez em sua história, ganhou um lugar no famoso campeonato Libertadores da América. Os pastores da cidade continuaram a orar juntos, com frequência, mantendo caminhadas de oração. A contratação de crianças para o trabalho nas minas foi proibida por lei. Glória a Deus! O Senhor está fazendo alguma coisa lá. Certamente Potosí ainda precisa de muita oração e ajuda, mas uma coisa é inegável: uma transformação visível da comunidade já começou.

“Pode uma nação (ou cidade) renascer em um dia?”, perguntou o profeta. “Sim, é possível!”. Declaro isso porque vi com meus próprios olhos.

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