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CAPÍTULO III – O PROCESSO DE LEGALIZAÇÃO DE

3.4 LICENÇA AMBIENTAL

A licença ambiental é obrigatória para a implantação de empreendimentos que tenham atividades potencialmente poluidoras ou degradadoras do meio ambiente34. A responsabilidade da emissão da licença ambiental é compartilhada entre o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente-IBAMA, ligado ao Ministério do Meio Ambiente, e os órgãos ambientais dos Estados, que juntos compõem o Sistema Nacional de Meio Ambiente-SISNAMA.

Conforme Resolução CONAMA 237/1997, em seu Artigo 10º, o procedimento de licenciamento ambiental obedecerá oito etapas, que envolvem: a definição dos documentos, projetos e estudos ambientais necessários, realizado conjuntamente entre o órgão ambiental e

33 Empreendimentos localizados em Áreas de Proteção Ambiental-APA necessariamente terão que ter licença

para funcionamento emitido pelo IBAMA.

34 Apesar da Resolução CONAMA 237/97 relacionar essas atividades, os Estados e Municípios, também podem

o empreendedor; a solicitação da licença ambiental; a análise do pedido; a solicitação de esclarecimentos adicionais; a audiência pública, quando couber; os novos esclarecimentos adicionais e o deferimento ou não da licença.

Serão emitidas as seguintes licenças, conforme estágio do empreendimento:

a) Licença Prévia (LP) – concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção;

b) Licença de Instalação (LI) – autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes; e

c) Licença de Operação (LO) – autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.

Esses documentos serão exigidos quando a competência do licenciamento ambiental for do IBAMA, que ocorre quando o empreendimento está localizado, dentre outros, em terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da União, em dois ou mais Estados, cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados.

O licenciamento será feito pelo Estado ou Distrito Federal quando localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de vegetação natural de preservação permanente, em mais de um Município ou em unidades de conservação de domínio estadual ou do Distrito Federal; quando os impactos ambientais diretos ultrapassarem os limites territoriais de um ou mais Municípios; e quando for delegado pela União aos Estados ou ao Distrito Federal, por

instrumento legal ou convênio. Os Municípios farão o licenciamento quando a atividade tiver impacto ambiental local e quando lhe forem delegadas pelo Estado por instrumento legal ou convênio.

Em qualquer que seja a instância, o empreendimento receberá esse conjunto de licenças – LI, LP e LO – mudando somente a relação de documentos que deverão ser encaminhados, por conta das características de cada órgão Estadual e também pelo potencial impacto que o empreendimento represente.

Em 2006, houve alteração na legislação por meio da Resolução 385 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que simplificou o procedimento de licenciamento para “agroindústrias de pequeno porte e baixo potencial de impacto ambiental”, tornando o processo mais transparente para agricultores e técnicos envolvidos no tema.

Para efeito dessa Resolução, é considerada agroindústria de pequeno porte e baixo potencial de impacto ambiental todo o estabelecimento que: i) tenha área construída de até 250m²; ii) beneficie e/ou transforme produtos provenientes de explorações agrícolas, pecuárias, pesqueiras, aquícolas, extrativistas e florestais não-madeireiros, abrangendo desde processos simples, como secagem, classificação, limpeza e embalagem, até processos que incluam operações físicas, químicas ou biológicas, de baixo impacto sobre o meio ambiente. Os abatedouros não deverão ultrapassar a seguinte capacidade máxima diária de abate: a) animais de grande porte: até 03 animais/dia; b) animais de médio porte: até 10 animais/dia; c) animais de pequeno porte: até 500 animais/dia. Para estabelecimentos que processem pescados, a capacidade máxima de processamento não poderá ultrapassar a 1.500 kg de pescados por dia.

Assim, os documentos que deverão ser apresentados ao órgão ambiental são:

2) projeto contendo descrição do empreendimento, contemplando sua localização, bem como o detalhamento do sistema de controle de poluição e efluentes, acompanhado de Anotação de Responsabilidade Técnica – ART;

3) certidão de uso do solo expedida pelo Município.

4) No caso da agroindústria utilizar matéria prima de origem extrativista é necessário apresentar documento de comprovação de origem legal. Para os abatedouros, além da documentação citada no parágrafo anterior, é necessário apresentar documento descrevendo: a) a capacidade máxima diária de abate; b) o sistema de coleta e destino do sangue, proveniente da sangria; e c) o funcionamento da seção de evisceração.

Atendidas a essas caraterísticas o agente produtivo terá reduzido drasticamente o nível de exigências para estar quite com a legislação ambiental e poder enfim partir para concluir o seu processo de formalização da sua agroindústria alimentar.

Esses são os caminhos, ou melhor, a via crucis, que o agente produtivo deve trilhar para que possa ter a formalização do seu empreendimento.

No quadro a seguir, resumimos as ações de cada etapa e fazemos a ligação com as organizações do setor público e privado, incluindo profissionais liberais, junto aos quais o agente deverá comparecer e interagir para que possa concluir esse processo.

Quadro 3.2 – Etapas, ações e contatos necessários para atendimento da legislação sanitária

ETAPA AÇÃO ÓRGÃO/INSTITUIÇÃO/ EMPRESA

Legislação Sanitária

Preenchimento de formulários Consultoria Elaboração de cadastro e relação de

máquinas e equipamentos, com fluxograma de funcionamento

Consultoria de engenharia de alimentos ou similar

Elaboração de croqui e plantas Consultoria de engenharia civil ou similar

Cópias de documentos constitutivos Loja comercial Liberação da companhia de água ou

análise da água

Companhia de água municipal ou laboratório particular

Contrato de responsabilidade técnica Técnico em engenharia de alimentos ou similar

Atestado de saúde ocupacional Clínica de saúde

Livro de registro sanitário Divisão de inspeção (vegetal ou animal) municipal/ estadual/federal Entrega de formulários , projetos,

contrato e livros

Divisão de inspeção (vegetal ou animal) municipal/ estadual/federal

Constituição e Formalização da Empresa

Tirar cópia dos documentos pessoais Loja comercial Autenticar as cópias dos documentos

pessoais Cartório

Elaborar o contrato social ou estatuto e

preencher formulários e livros fiscais Contador

Emitir e pagar taxas Banco

Cadastrar para emissão do CNPJ Secretaria da Receita Federal Tirar cópia dos documentos

constitutivos da empresa Loja comercial

Proceder à Inscrição Estadual Secretaria Estadual da Fazenda Elaborar talões de notas fiscais Gráfica

Verificar os livros fiscais Secretaria Estadual da Fazenda

Alvará de Funcionamento

Preencher formulários Contador

Entregar formulários preenchidos Prefeitura

Solicitar vistoria à Vigilância Sanitária Vigilância Sanitária do Município Solicitar vistoria ao Corpo de

Bombeiros Corpo de Bombeiros

Licença Ambiental

Preencher formulários de requerimento Consultoria

Elaborar projeto Consultoria

Solicitar certidão de uso do solo Prefeitura Entregar formulários, projeto e certidão

de uso do solo

IBAMA ou órgão Estadual/Municipal de Meio Ambiente

O conjunto de ações expostas acima discrimina parte do ambiente organizacional, ou como diria North (1996) formam a matriz institucional do sistema agroalimentar, com cerca de dezoito organizações de apoio, distribuídas entre entes federais, estaduais e municipais, além da iniciativa privada, a maioria situadas em locais (inclusive cidades) diferentes, com as quais o produtor terá que manter contato e para onde terá que retornar duas ou mais vezes a fim de concluir o processo de formalização de sua agroindústria alimentar.

Logo, além dos valores despendidos com implantação da unidade física de agroindustrialização (instalações e equipamentos), há também o custo com o pagamento de taxas, consultorias e registros para efetivação do processo de legalização do empreendimento, bem como o custo envolvido no deslocamento do produtor para resolver esse processo burocrático, que envolve, além do transporte, os custos com alimentação e o dia de serviço do próprio produtor que deixou seus afazeres na propriedade rural, os quais Coase (1937) chamou de custo de coleta de informações.

Como aqui estamos falando do pequeno produtor rural, que mora em sua propriedade, ou em um núcleo urbano próximo, que tem dificuldades de se locomover da sua residência ou local de trabalho para o centro mais próximo (que tenha todas essas organizações do Estado presentes) começamos a identificar como é desgastante (fisicamente, mentalmente e financeiramente) todo esse processo.

No Capítulo V veremos o quanto custa financeiramente seguir essa via crucis, para que nosso agente produtivo possa ampliar o seu mercado consumidor, uma vez que estamos falando de mais de trezentas mil unidades de beneficiamento que foram mapeadas pelo Censo Agropecuário de 2006, e que conforme nos mostra Laboni (1985), esses agentes já tem a sua cadeia produtiva sendo trabalhada.

CAPÍTULO IV – ORGANIZAÇÕES DO SETOR PÚBLICO FEDERAL E