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CAPÍTULO III – O PROCESSO DE LEGALIZAÇÃO DE

3.1 LEGISLAÇÃO SANITÁRIA

3.1.1 Produtos de origem animal

Para que o produtor possa comercializar seu produto agroindustrializado com matéria- prima de origem animal, ele deve providenciar o registro junto ao Serviço de Inspeção Municipal (SIM), Estadual (SIE) ou Federal (SIF), conforme sua estratégia de comercialização. O SIM lhe permite comercializar somente no município onde está instalada a agroindústria; o SIE permite a comercialização em todos os municípios dentro do seu

15 A Lei nº 9.782, de 26/01/1999, que cria a ANVISA, cteriza a autarqui especial pela independência

Estado de origem e o SIF permite a comercialização em todo o país. Caso o produtor queira exportar, é necessário obter outra licença junto ao Serviço de Inspeção Federal.

A implantação do Sistema Unificado de Atenção Agropecuária-SUASA16, criado pela Lei 8.171/1991, atualizada pela Lei 9.712/1998 e regulamentada através do Decreto 5.741/2006, instituiu o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Agropecuária (SISBI) permitindo aos estabelecimentos registrados nos Serviços de Inspeção Estaduais ou Municipais o comércio em todo o território brasileiro, desde que os Estados ou Municípios obtenham, de forma voluntária, a adesão a este Sistema (elevando sua equivalência junto ao MAPA, nos seus processos e procedimentos de inspeção e fiscalização), e os estabelecimentos também solicitem essa prerrogativa junto ao órgão Estadual ou Municipal. Passado cinco anos de regulamentação do SUASA, somente quatro Estados e seis Municípios (cinco através de consórcio) estão com o processo de adesão concluídos.

O sistema de inspeção animal é fundamentado em legislação que remonta há mais de 60 anos, implantado através da Lei nº 1.283, de 18/12/1950, onde se definiu que os produtos de origem animal seriam fiscalizados pelo Ministério da Agricultura, através do Serviço de Inspeção Federal (SIF) (nos estabelecimentos que comercializam no âmbito interestadual ou internacional) e pelas Secretarias ou Departamentos de Agricultura dos Estados, Territórios e Distrito Federal, através do Serviço de Inspeção Estadual (SIE) (para os estabelecimentos que comercializam no município ou intermunicípios, dentro do mesmo Estado).

Quase 40 anos depois, a Lei nº 7.889, de 23/11/1989, altera aquela primeira passando dos Estados para os Municípios a competência quanto à fiscalização dos empreendimentos que comercializam produtos de origem animal apenas em âmbito do município, por meio do Serviço de Inspeção Municipal (SIM).

Vale ressaltar que, ao transferir o serviço de fiscalização dos Governos Estaduais para os Municípios (que já possuíam o SIE em funcionamento), a União deixou de fazer a respectiva transferência de recursos, fato que até hoje não foi regularizado e que de certa forma dificulta a implantação desse serviço.

Neste sentido, levantamento realizado durante a V Reunião da Rede Temática de Ater/Agroindústria17 mostrou que, atualmente, dos 3.437 municípios localizados em 16 unidades da federação, apenas 592 possuem ou estão com o Serviço de Inspeção Municipal funcionando ou em fase de implantação, conforme tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Situação da implantação do SIM, por Estado

UF QTDE. MUNICIPIOS, por UF MUNICIPIOS COM SIM IMPLANTADOS MUNICIPIOS EM FASE DE IMPLANTAÇÃO DO SIM MUNICIPIOS COM VIGILÂNCIA SANITÁRIA AM 62 5 - 62 BA 417 4 (**) (**) CE 184 - 3 184 DF 1 1 - 1 ES 78 23 - 78 GO 246 4 11 246 MA 217 1 - 217 MG 853 120 - 431 MT 141 58 44 141 MS 78 37 11 78 PB 223 5 (*) - 156 PE 183 15 (*) - 128 PI 224 56(*) - 224 PR 399 232 - 254 RD 56 15 - 13

17 Esses dados foram solicitados previamente pelo MDA aos articuladores estaduais da Rede Temática de Ater/Agroindústria,

que é composta por técnicos das EMATER’s dos Estados (ou entidade equivalente) e foram apresentados e discutidos durante o evento. Segundo relato desses técnicos as informações foram colhidas junto aos órgãos competentes nos Estados. Dos 27 Estados, se fizeram presentes representantes de 17 deles, sendo que os dados do Estado do Pará não foram tabulados neste trabalho.

UF QTDE. MUNICIPIOS, por UF MUNICIPIOS COM SIM IMPLANTADOS MUNICIPIOS EM FASE DE IMPLANTAÇÃO DO SIM MUNICIPIOS COM VIGILÂNCIA SANITÁRIA SE 75 1 2 22 TOTAL 3.437 521 71 2.235

Fonte: Dados colhidos pelo autor na V Reunião da Rede Temática de Ater/Agroindústria. Brasília 2010. (*) Dado sujeito à confirmação.

(**) Dado não informado.

No que tange aos produtos de origem animal inspecionados pelo MAPA por meio do Serviço de Inspeção Federal (SIF), estes seguem a legislação do Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal – RIISPOA, que foi criado por meio do Decreto nº 30.691, de 29/03/1952, tendo como base as grandes agroindústrias.

O pedido de formalização de agroindústria para obtenção do SIF é realizado junto ao próprio MAPA, que atua com uma superintendência em cada Estado, geralmente localizada na capital. A Via Crucis a qual fizemos referência anteriormente se materializa, inicialmente, a partir da exigência dos seguintes documentos:

1) requerimento solicitando aprovação do terreno18, com cópia da escritura de compra e venda, ou contrato de locação ou arrendamento do imóvel;

2) requerimento solicitando exame e registro do estabelecimento;

3) projeto arquitetônico, seguindo parâmetros definidos pelo MAPA e contendo:

18 Para liberação do terreno o técnico responsável do MAPA deverá ouvir as autoridades de saúde pública,

Prefeitura Municipal e Órgão Controlador do Meio Ambiente (Art. 47 e 48 do RIISPOA). Além disso, o terreno deve ter afastamento de dez metros dos limites das vias públicas ou outras divisas. As áreas com pátio e vias de acesso devem ser pavimentadas e urbanizadas, evitando a formação de poeira e facilitando o escoamento de águas. A disposição da unidade deverá ser afastada de fontes poluidoras de qualquer natureza, ter facilidade de abastecimento de água potável, fornecimento de energia elétrica e tratamento e escoamento das águas residuais.

i. memorial descritivo das obras a realizar, material a empregar, equipamento a instalar e informe de interesse econômico-sanitário;

ii. planta baixa de cada pavimento, com disposição dos equipamentos sob legenda; de situação, contendo detalhes sobre rede de esgoto e abastecimento de água; de fachada e corte longitudinal e transversal; fluxograma de produção e de movimentação de colaboradores, bem como detalhes de equipamentos, quando exigidos;

iii. as plantas deverão conter também: posição da construção em relação às vias públicas e alinhamento dos terrenos; orientação; localização das partes dos prédios vizinhos construídos sobre as divisas dos terrenos; perfis longitudinal e transversal do terreno em posição média sempre que este não for de nível.

4) documento expedido pela Prefeitura, autorizando a construção do estabelecimento indicado no projeto;

5) exames de água do estabelecimento que devem se enquadrar nos padrões microbiológicos e físico-químicos;

6) licença ambiental;

7) registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas-CNPJ;

8) registro da Junta Comercial (fotocópias da constituição e demais atos de alterações);

10) termo de compromisso concordando em acatar todas as exigências contidas no Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produto de Origem Animal – RIISPOA;

11) cadastro do estabelecimento detalhando atividades, formulações, origem da matéria-prima, processamento, conservação, validade e meio ambiente;

12) contrato de responsabilidade técnica, com o devido registro no CREA da Região, do técnico responsável pela unidade agroindustrial;

13) atestado de saúde ocupacional de todos os envolvidos diretamente no processamento de alimentos;

14) livro oficial de registro com termo de abertura lavrado pelo órgão competente (Divisão de Produtos de Origem Vegetal ou Divisão de Produtos de Origem Animal).

Apesar de listados em uma única sequência, os documentos acima são apresentados em etapas, sendo a primeira indicada no item 1, para a qual será elaborado um laudo de vistoria pelo MAPA para aprovação do terreno, existindo ou não edificação construída. Na segunda etapa, deverão ser apresentados os documentos dos itens 2 a 13 e, após a conclusão das obras através da vistoria final, adquire-se o livro de registro, discriminado no item 14. Ao final do processo, além do empreendimento registrado, cada produto resultante do processo de agroindustrialização também estará registrado e levará um número de registro específico.

Vale ressaltar que os documentos solicitados no item 3 acima, podem não ser aprovados pelo órgão no primeiro momento, devido a nuances que a legislação não consegue alcançar, sendo necessário ajuste ao projeto. Mesmo quando essa aprovação é realizada, existem casos

em que o técnico que vai fazer a vistoria não concorda com o que foi aprovado pelo outro técnico e novas modificações têm que ser realizadas para que a liberação final ocorra.

As exigências contidas nos itens 5, 12 e 13 são cobradas anualmente para que a empresa possa continuar desenvolvendo suas atividades legalmente.

Além dos itens descritos acima com suas ressalvas, o produtor deve providenciar a confecção dos rótulos de cada produto, os quais deverão ser aprovados e levar o número de registro no Serviço de Inspeção a que estiver vinculado. O rótulo deve conter, obrigatoriamente, as seguintes informações (EMBRAPA, 2006): a) denominação de venda do alimento, que deve ser a determinada pelo seu relatório técnico ou padrão de identidade e qualidade; b) lista de ingredientes; c) conteúdos líquidos; d) identificação da origem; e) identificação do lote; f) prazo de validade; g) instruções sobre o preparo e uso do alimento, quando necessário.