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2 O RIGEM DOS T ERMOS L IDERANÇA E E STILO DE G ESTÃO

4.5 Liderança Baseada em Princípios

Partindo de mudanças pessoais, Covey (1994) também reforça o desenvolvimento das pessoas, porém com uma peculiaridade: o ser humano preparado para o futuro será aquele com a grande missão de vencer o sentimento de alienação, quebrando suas formas tradicionais de ver o mundo, superando os paradigmas vigentes. Seu objetivo primeiro não é com sua comunidade, nem mesmo com sua organização, mas antes consigo mesmo (Covey, 1994; Leider, 1996). Terá profundo conhecimento de si mesmo; de maneira gradativa e diligente desenvolverá os valores necessários, mediante os quais poderá vitoriosamente identificar-se, sem ser absorvido pela organização. Embora as pessoas possam se aperfeiçoar tecnicamente, adquirir novas habilidades e lidar com destreza com novas tecnologias, esses avanços requerem novas maneiras de pensar e ver o mundo. Ética será sua palavra de ordem e, mediante sua nova força interior, dominará as pressões de sua organização.

Para revolucionar o treinamento gerencial, esse autor (1994) sugere um novo mapa mental, uma liderança baseada em princípios. Com esse paradigma, os líderes podem transformar sua organização e as pessoas que a compõem, “comunicando visão dos fatos, esclarecendo propósitos, tornando o comportamento compatível com as crenças e alinhando procedimentos com princípios, funções e objetivos. As pessoas poderão, então, alcançar um elevado sentido de compromisso com os objetivos da organização” (p. 47). O estilo de liderança adotado por um líder reflete suas idéias e sentimentos sobre a natureza humana. A autoliderança é primordial para orientar os indivíduos nas organizações a partir de um conjunto de princípios, que são as leis naturais e valores sociais. Os princípios afloram como valores, idéias, normas e ensinamentos que “enobrecem, elevam, realizam, legitimam e inspiram as pessoas” (Covey, 1994, p. 48).

A visão do líder é dirigida para o objetivo inicial, enquanto os administradores focalizam o resultado final. A visão orienta e inspira as pessoas a definir e traçar seus objetivos e esclarecer seus valores. O autor propõe que as pessoas sejam estimuladas a crescer, a ousar, caminhar rumo ao desconhecido, guiados mais pela imaginação do que pela memória, superando, por fim, falhas e medos do passado. É apostar nas pessoas sabendo que elas darão o melhor de si na contribuição dos objetivos iniciais.

Romper com os hábitos do passado é o primeiro passo para imprimir um ritmo de mudanças na vida de cada indivíduo que venha a transformar-se em um hábito natural no

cotidiano. É o que Senge (1990) chama de quebrar os modelos mentais. Estabelecer uma autodisciplina leva à auto-superação, fazendo com que os problemas, dificuldades e desafios surgidos sejam resolvidos de modo mais tranqüilo, sem o receio de confrontar o status quo. A transformação da liderança ocorre quando se exercitam as oito características dos líderes baseados em princípios, segundo os ensinamentos de Covey (1994).

A primeira característica é que os líderes estão continuamente aprendendo. Suas próprias experiências fornecem uma linha de conduta, a curiosidade faz com que desenvolvam novas habilidades e interesses, estão sempre abertos a adquirir novos conhecimentos, visto que são humildes o suficiente para admitir opiniões diferentes e divergentes das suas.

Os líderes baseados em princípios estão continuamente voltados para o serviço. Para eles a vida é como uma missão e não como uma carreira. É como se pensasse num todo entrelaçado, o sucesso desses líderes está entrelaçado com o sucesso das pessoas circundantes, havendo uma atuação harmônica entre as pessoas. Estão mais voltados para um sentimento de altruísmo do que para o egoísmo. Com Pollard (1996, p. 245), corrobora-se essa premissa: “Como líderes servidores, podemos proporcionar um ambiente no qual as pessoas possam aprender e crescer à proporção que trabalham e participam”. É promover as pessoas ao redor, fazendo com que cresçam e aprendam, além das habilidades técnicas necessárias para a realização de suas atividades.

Uma aparência alegre, agradável e feliz são marcas comuns às pessoas que se baseiam em princípios. “Sua atitude é otimista, positiva, para cima, e seu espírito é entusiasta, esperançoso e cheio de fé” (Covey, 1994, p. 9). Elas irradiam energia positiva e contagiam a todos a sua volta. Neutralizam campos de energia negativa quando se vêem em situações complicadas. O importante é perceber que o ambiente é amplamente influenciado pela postura que as pessoas assumem perante os fatos e situações da vida.

Jim Autry (Kelly, 1993) diz que se você não acredita nas pessoas, elas passam a ser indignas de sua confiança. Covey (1994) também defende essa idéia, atestando que as pessoas baseadas em princípios acreditam nas outras pessoas, mesmo que o potencial delas ainda esteja latente. Essa atitude cria um ambiente favorável ao crescimento e à oportunidade, é o despontar de potencialidades que não haviam se configurado ainda. Existe a tendência de se estabelecerem estereótipos e rótulos que podem condicionar as pessoas a reagirem conforme a expectativa expressa. Se tal expectativa é negativa, atitudes negativas tendem a se concretizar.

Os líderes baseados em princípios conciliam aspectos físicos e mentais, desenvolvendo ambas as habilidades físicas e cognitivas, por isso suas vidas são equilibradas. É o melhor da “mente sã, corpo são”. O equilíbrio na vida das pessoas baseadas em princípios refere-se também ao reconhecimento de seu próprio valor, sem a necessidade de mostrar-se aos outros, mas, sobretudo, apelando para a simplicidade das coisas, sem serem extremistas ou tendenciosos. Sabem reconhecer princípios absolutos e “corajosamente condenam o mal e defendem o bem” (Covey, 1994, p. 11). Não levam nada às últimas conseqüências se isso compromete sua qualidade de vida e daqueles que o rodeiam. “Vivem sensatamente no presente, planejam cuidadosamente o futuro, e adaptam-se com flexibilidade às circunstâncias mutáveis” (p.11). Conseguem receber com naturalidade um elogio ou uma crítica, sem desvarios ou reações desmedidas. O sucesso é também visto nas falhas e nos erros. Fracasso só existe quando não se aprende nada de uma situação.

Saborear a vida é possível às pessoas baseadas em princípios. Elas possuem segurança internas ao invés de dependerem de fatores externos, por isso encaram a vida como uma aventura. Esse posicionamento dispensa a necessidade de categorizar pessoas e situações para dar sensação de previsibilidade e certeza. São capazes de redescobrir as pessoas com um olhar novo a cada encontro. Suas vidas são realmente ricas por terem sempre vontade de aprender, serem flexíveis e aproveitar cada dia como se fosse o último.

“Sinergia é o estado em que o todo é mais do que a soma das partes. As pessoas baseadas em princípios são sinérgicas. São catalisadoras de mudanças, melhoram qualquer situação em que se envolvem. Trabalham de forma tão árdua quanto inteligente. São espantosamente produtivas, porém de formas novas e criativas” (Covey, 1994, p. 12). Sabem trabalhar em equipe minimizando suas fraquezas com os pontos fortes dos outros. Delegar poderes é algo natural, pois se confia inteiramente nas pessoas, sendo desnecessária a supervisão rigorosa. Relacionam-se de forma sincera, e, ao perceberem isso, as pessoas que as rodeiam tornam-se parte de um processo criativo para a solução de problemas que resulta em soluções muitas vezes superiores às propostas originais.

Complementando uma vida equilibrada, as pessoas orientadas por princípios exercitam-se pela auto-renovação. É a congruência das quatro dimensões da personalidade humana: física, mental, emocional e espiritual. É quando as pessoas exercitam cada uma dessas dimensões buscando a auto-superação e a melhoria contínua no seu modo de ser. O exercício físico prepara o corpo para criar resistência e disposição, aperfeiçoando a capacidade do corpo e do cérebro a utilizarem o oxigênio. A dimensão mental é exercitada

pela leitura, pela solução criativa de problemas, escrevendo, visualizando. A dimensão emocional pode ser praticada pelo cultivo da paciência, por ouvir os outros com real empatia, por demonstrar amor incondicional e por aceitar a responsabilidade da sua vida, das suas decisões e reações. Quanto à dimensão espiritual, “dedicam-se à oração, estudo de escrituras, meditação e jejum” (p. 13). É nutrir cada aspecto da personalidade humana com os melhores alimentos, um momento para “afinar o instrumento”, de “parar para reabastecer”. A auto- renovação vai gradualmente fortalecendo o caráter a partir de uma força disciplinada em que esses esforços orientam-se para o serviço.

Analisando as características da liderança baseada em princípios, observa-se o enfoque dado à autodisciplina, à transcendência pessoal de cada um, em que os controles externos são dispensáveis, pois há uma reorientação interna de valores dos indivíduos no seio organizacional exigindo adaptações da estrutura da organização. Alguns princípios, como os dois últimos, assemelham-se às propostas já apresentadas de outros autores.

Em outra obra, Covey (1996) identifica três funções básicas para a liderança no novo paradigma: explorar, alinhar e dar autonomia. A atividade de explorar vincula-se ao atendimento das necessidades dos clientes e de outros grupos de interesse a partir de seus valores e visões, por meio de um plano estratégico. Como são as pessoas que desenvolvem programas e sistemas, elas precisam estar sintonizadas com a visão, missão e estratégia da organização. Aí elas estão alinhadas, pois procuram realizar a visão criando e aperfeiçoando continuamente as estruturas e os sistemas que atendem a essas necessidades.

Pressupõe-se que as atividades dos líderes sejam baseadas nos princípios anteriormente descritos, e a terceira e última função básica consiste em criar condições de sinergia, em que aflora a iniciativa natural dos indivíduos (empowerment). Isso significa confiar nas pessoas e no potencial que elas possuem, latente ou manifesto. Essas pessoas, alinhadas com a missão, visão e estratégia da organização, começam a mesclar esses propósitos a seus objetivos e missão pessoais. Ocorrendo a sobreposição desses propósitos, uma grande sinergia é gerada, e a capacidade de cada pessoa é liberada, deixando fluir a criatividade, o talento e a habilidade, “a fim de realizar seus valores, visão e missão de atender clientes e demais grupos de interesse” (Covey, 1996, p. 163). Quando isso ocorre, a concessão de autonomia foi atingida com êxito.

Proporcionar a capacitação do funcionário, sabendo explorar suas aptidões, é faculdade inerente ao papel do líder facilitador, que deve dar suporte à sua área para enfrentar as agruras no ambiente de trabalho, servindo como facilitador e integrador, não como agente

fiscalizador e intervencionista (Bridges, 1995). Para Harman e Hormann (1990) o líder atual tem muito mais ligação com a transmissão de uma visão orientadora, pois o gerenciamento está relacionado com a noção de crescimento do poder pessoal e da expansão da autoridade interna. Desse modo, o gerenciamento passa a ser “uma questão de encorajar o outro para que desenvolva e use muito mais sua própria capacidade de criação” (Harman e Hormann, 1990, p. 38).

Para Wheatley (1992, p. 150), “As habilidades de liderança também adquiriram uma inclinação relacional. Os líderes estão sendo encorajados a incluir grupos de interesse, a evocar a subordinação inteligente à liderança, a delegar poderes”.

Bennis (1996) desvela as percepções sobre o que o líder representa, como ele é, o que o torna um líder. Esse autor oferece preciosas informações para compor o perfil do líder facilitador.