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Liderar pelo Ambiente LiderA

No documento Antonio Miguel Saial Calixto (páginas 56-60)

4. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO

4.9. Liderar pelo Ambiente LiderA

O sistema Liderar pelo Ambiente (LiderA) foi desenvolvido em Portugal, no Instituto Superior Técnico de Lisboa (IST) entre 2000 e 2005. Enquanto método de avaliação, o LiderA enfatiza especialmente o edificado e a sua relação com o envolvente. Rita Dinis afirma que o LiderA pretende “…reposicionar o ambiente na construção na perspetiva da sustentabilidade, caracteriza-se por ser um sistema para liderar pelo ambiente, organiza-se em vertentes que incluem áreas de intervenção, que são operacionalizadas através de critérios que permitem efetuar a orientação e a avaliação do nível de procura da sustentabilidade ” (Dinis, 2010).

António Miguel Saial Calixto 43 Depois de apresentada a versão original, em 2005, o LiderA foi desenvolvido para uma segunda versão, que, como indica Hugo Espírito Santo, aumentou “…o seu campo de aplicação, na qual se avaliam as categorias de integração local, recursos, cargas ambientais, conforto ambiental, vivência socioeconómica, gestão ambiental e inovação ” (Espirito Santo, 2010).

Como se constata, o LiderA procura não só debruçar-se sobre questões diretamente construtivas e ambientais, mas igualmente enquadrar as opções tomadas nestas áreas em diferentes contextos relativos à utilização prevista para o edifício, e até para contingências económicas e sociais com as quais a construção possa, de alguma forma, relacionar-se.

Com vista a viabilizar estes princípios, o LiderA esmiúça, então as seis vertentes, nos seguintes parâmetros específicos: Integração Local no que concerne o solo, os ecossistemas, a paisagem e o património; Recursos incluindo energia, água, materiais e recursos alimentares; Cargas Ambientais incluindo os efluentes, as emissões atmosféricas, os resíduos, o ruído exterior e a poluição iluminotérmica; Conforto Ambiental especificamente da qualidade do ar, do conforto térmico e da iluminação e acústica; Condição Socioeconómica que integra o acesso para todos, os custos no ciclo de vida, a diversidade económica, as amenidades e a interação social e participação e controlo; Condições de Uso Sustentável que integra a gestão ambiental e inovação (Dinis, 2010).

Figura 4.11 – Categorias de avaliação – Sistema LiderA

Sobre a forma como cada um dos critérios de avaliação é pesado de maneira a proporcionar a obtenção de um resultado final, Rita Dinis especifica que “…em geral, os critérios tem igual importância dentro de cada área e o valor total é obtido através da ponderação das 22 áreas. Esta ponderação é obtida através de inquirição e consenso, sendo a área de maior

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importância a da energia, seguida da água e do solo. A contabilização em vertentes revela que os recursos têm mais relevância, seguido da vivência socioeconómica, conforto ambiental, integração local, cargas ambientais e por fim gestão ambiental” (Dinis, 2010).

Quadro 4.9 – Áreas, parâmetros e ponderações dos sistemas de avaliação (LiderA)

Áreas de A valiação Parâmetros de A valiação Ponderações (% )

Solo Valorização Territorial; Otimização ambiental da implantação 7 Ecossistemas Naturais Valorização ecológica; Interligação de habitats 5 Paisagem e Património Integração Paisagística Local; Proteção e

Valorização do Património 2

Energia Intensidade em Carbono (e eficiência energética) Certificação Energética; Desenho Passivo; 17 Água Consumo de água potável; Gestão de águas locais 8 Materiais Durabilidade; Materiais locais; Materiais de baixo

impacte 5

Alimentares Produção local de alimentos 2

Efluentes Tratamento das águas residuais; Caudal de

reutilização de águas usadas 3 Emissões

Atmosféricas

Caudal de Emissões Atmosféricas -Partículas e/ou Substâncias com potencial acidificante (Emissão

de outros poluentes: SO2 e NOx)

2 Resíduos Produção de Resíduos; Gestão de resíduos perigosos; Reciclagem de resíduos 3

Ruído Exterior Fontes de ruído para o exterior 3

Poluição Ilumino-

térmica Efeitos térmicos (ilha de calor) e luminosos 1

Qualidade do ar Níveis de Qualidade do ar 5

Conforto Térmico Conforto Térmico 5

Iluminação e Acústica Níveis de iluminação; Isolamento acústico/Níveis sonoros 5 Acesso para Todos Acesso aos transportes Públicos; Mobilidade de

baixo impacte; Soluções inclusivas 5 Custos no Ciclo de

Vida Baixos custos no ciclo de vida 2

Diversidade Económica e Local

Flexibilidade - Adaptabilidade aos usos; Dinâmica

Económica; Trabalho Local 4

Amenidades e

Interação Social Amenidades locais; Interação com a comunidade 4 Participação e

Controlo

Capacidade de Controlo; Governância e Participação; Controlo dos riscos naturais - Safety; Controlo das ameaças humanas - Security

4 Gestão Ambiental Condições de utilização ambiental; Sistemas de gestão ambiental 6

Inovação Inovações 2

António Miguel Saial Calixto 45 O resultado da avaliação pelo sistema LiderA é estimado em confronto com um valor-chave. Esse resultado irá, então, ser inserido numa escala, que varia entre sete níveis diferentes, referenciados com as primeiras sete letras do alfabeto (entre A e G). Hugo Espírito Santo salienta que “…para o sistema LiderA, o grau de sustentabilidade é passível de ser certificado em classes de bom desempenho (C, B, A, A +, A++) ” (Espirito Santo, 2010).

Figura 4.12 – Classes da certificação – Sistema LiderA (Adaptado de Pinheiro, 2008)

Uma das vantagens deste método é permitir realmente estabelecer uma asserção da qualidade ambiental e energética do edifício em geral, sem perder de vista as avaliações individuais. Por outro lado, será essencial destacar que a aplicação do LiderA não se cinge às construções novas, verificando-se a sua aplicação em edifícios existentes ou em processo de reabilitação.

É bastante importante constatar o desenvolvimento deste método de avaliação em Portugal. Tal como noutros países – em casos já referidos aqui – se sentiu a necessidade de um processo de avaliação que pudesse ajustar-se e adaptar-se a contingências específicas (sejam ambientais, geográficas, políticas ou legais), em Portugal esse passo também já foi dado. Nesse sentido, podemos esperar que o LiderA continue a desenvolver-se, sendo esse desenvolvimento propício a que, no futuro, o método continue a adaptar-se a alterações concretas no âmbito da cultura construtiva (e não só) em Portugal.

Este tipo de adaptações afiguram-se cruciais, uma vez que, como indica Rita Dinis, “o sector da construção é assim um dos sectores que mais consome recursos mas também consome uma elevada quantidade de produtos e materiais de construção, os quais possuem uma significativa energia incorporada e provocam uma substancial emissão de gases, contribuindo para o efeito de estufa e produzindo uma percentagem bastante significativa de resíduos” (Dinis, 2010). Ora, numa indústria em que se regista um consumo tão significativo, é essencial uma gestão adequada e consciente desses mesmos recursos. O LiderA adquire portanto a justa importância de melhorar não só os edifícios em termos construtivos, mas também a de fornecer uma visão rigorosa e informada sobre o próprio consumo de recursos, com vantagens para a economia e a própria cultura ambiental em Portugal.

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No documento Antonio Miguel Saial Calixto (páginas 56-60)