• Nenhum resultado encontrado

3. Desenvolvimento das questões de investigação

3.1 Dimensão

4.2.1.1 Limitações da Análise de Conteúdo

Apesar do seu uso generalizado, o método da análise de conteúdo apresenta no entanto algumas limitações (Milne e Adler, 1999) (Unerman, 1999) (Gray et al., 1995b).

A primeira limitação relaciona-se com o facto da análise de conteúdo assumir o pressuposto de que uma maior quantidade de divulgação significa uma maior importância e qualidade da mesma (MacArthur, 1988), o que pode não ser necessariamente verdade. A segunda limitação apontada é o facto da análise de conteúdo estar associada a alguma subjetividade no momento de determinar o que

constitui certo tipo de divulgação (Zeghal e Ahmed, 1990), dado depender das caraterísticas de quem está a aplicar o método (Yongvanich e Guthrie, 2005).

Uma das desvantagens da utilização da unidade de análise da presença/ausência de determinado item é o facto de apesar de ser possível aferir se determinado tópico foi ou não divulgado, não é, no entanto, possível concluir quanto à extensão e qualidade da divulgação (Frost et al., 2005), Esta limitação, no entanto, é considerada aceitável uma vez que não é objetivo deste trabalho aferir sobre esses aspetos.

Perante as limitações apontadas, há autores que propõem mecanismos para as reduzir. Milne e Adler (1999) realçam que para se retirarem inferências válidas através da análise de conteúdo é necessário ter em consideração duas questões. Em primeiro lugar, deve-se demostrar que as decisões de codificação são consistentes, o que normalmente é conseguido através da utilização de múltiplos codificadores, elaboração de codificações em diferentes momentos do tempo e resolução de inconsistências encontradas (Krippendorff, 2004). Em segundo lugar, deve-se garantir que os critérios de inclusão das divulgações em cada uma das categorias seguem regras claramente definidas. Esta última pode reduzir a necessidade de utilização de vários codificadores.

De forma a garantir a fiabilidade desta investigação, a cada um dos indicadores da GRI que servem como categorias para agrupar as divulgações encontradas, conforme foi anteriormente referido, foram ainda fornecidas explicações adicionais (ver anexo 8.1), que permitem esclarecer possíveis incertezas que surjam no momento da tomada de decisão. Dada a impossibilidade de recorrer a múltiplos codificadores, procedeu-se ainda à codificação dos vários relatórios em, pelo menos, 3 momentos distintos, o que permitiu refinar algumas incongruências.

Determinadas divulgações são relativamente fáceis de identificar e categorizar, e nestes casos o nível de subjetividade é menor. Há, no entanto, outras divulgações cuja identificação não é tão intuitiva e nas quais a possibilidade de haver um juízo subjetivo é maior. Independentemente da situação, de forma a garantir a coerência da pesquisa, procurou-se adotar o mesmo método de escolha em cada um dos indicadores, isto é, para cada indicador específico percorreram-se todos os relatórios à procura de divulgações que pudessem ser categorizadas como tal. Nos indicadores cuja subjetividade é maior, foram lidos mais do que 3 vezes os relatórios de forma a garantir

que foram identificadas todas as divulgações e que os critérios de seleção foram os mesmos.

5. ANÁLISE DE RESULTADOS

Este capítulo tem como objetivo descrever os dados que foram recolhidos dos relatórios e contas analisados neste estudo e discutir os resultados, analisando-os à luz das teorias apresentadas anteriormente.

Após a recolha das divulgações, de acordo com a metodologia enunciada no capítulo anterior, apresentam-se de seguida, os resultados encontrados.

O quadro em baixo apresenta as percentagens de divulgação de cada uma das empresas, no relatório e contas de cada ano, tendo como base o número total de indicadores.

Quadro 5 - Percentagens de divulgação totais por empresa

Em termos individuais, as empresas que mais divulgam ao longo de todo o período são a Portucel e a Cimpor classificadas como Indústrias de BasicMaterials e Industrials respetivamente. No entanto, enquanto a Portucel manteve o seu nível de divulgação com uma tendência crescente desde N-2, a Cimpor aumentou a divulgação até N-1, tendendo depois para percentagens de divulgação mais baixas.

Dos resultados apresentados, é interessante também realçar o facto da Martifer, inserida nos Industrials, ser a empresa que mais divulga no ano N-2 e N-1, com uma percentagem de 19,18% e 17,81% respetivamente, e no entanto, deixar de divulgar qualquer indicador a partir do ano N. Outro dado curioso é o facto da empresa que

N-2 N-1 N N+1 N+2

Não considerando N

Considerando N

Galp Energia SGPS, S.A. 0001 Oil & Gas 13,70% 8,22% 15,07% 10,96% 13,70% Aumenta Portucel - Empresa Produtora de Pasta e Papel, S.A. 1000 BasicMaterials 12,33% 13,70% 17,81% 21,92% 23,29% Aumenta

Brisa - Auto-Estradas de Portugal, S.A. 2000 Industrials 0,00% 10,96% 20,55% 8,22% 2,74% Igual Aumenta Cimpor - Cimentos de Portugal SGPS, S.A. 2000 Industrials 10,96% 16,44% 15,07% 15,07% 8,22% Diminui Aumenta Martifer, SGPS, S.A. 2000 Industrials 19,18% 17,81% 0,00% 0,00% 0,00% Diminui

Mota-Engil, SGPS, S.A. 2000 Industrials 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 1,37% Aumenta Sonae Indústria, SGPS, SA 2000 Industrials 6,85% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% Diminui Teixeira Duarte - Engenharia e Construções, S.A. 2000 Industrials 6,85% 6,85% 1,37% 1,37% 1,37% Diminui Corticeira Amorim, SGPS, S.A. 3000 ConsumerGoods 5,48% 4,11% 4,11% 5,48% 5,48% Aumenta SUMOL+COMPAL, S.A. 3000 ConsumerGoods 1,37% 4,11% 6,85% 10,96% 8,22% Aumenta Ibersol, SGPS, S.A. 5000 Consumer Services 10,96% 12,33% 12,33% 5,48% 6,85% Diminui SAG Gest - Soluções Automóvel Globais, SGPS, S.A. 5000 Consumer Services 5,48% 6,85% 5,48% 2,74% 1,37% Diminui Sonae, SGPS, S.A. 5000 Consumer Services 8,22% 15,07% 2,74% 19,18% 12,33% Aumenta Portugal Telecom, SGPS, S.A. 6000 Telecommunications 12,33% 17,81% 10,96% 1,37% 2,74% Diminui Sonaecom, SGPS, S.A. 6000 Telecommunications 8,22% 10,96% 13,70% 9,59% 10,96% Aumenta EDP - Energias de Portugal S.A. 7000 Utilities 15,07% 10,96% 13,70% 1,37% 1,37% Diminui Banco Comercial Português, S.A. 8000 Financials 9,59% 10,96% 6,85% 5,48% 5,48% Diminui Banco Espírito Santo, S.A. 8000 Financials 8,22% 4,11% 15,07% 15,07% 10,96% Aumenta Banif, SGPS, S.A. 8000 Financials 9,59% 9,59% 8,22% 8,22% 6,85% Diminui

Empresa Indústria

menos divulga ao longo do período de análise ser a Mota-Engil, também inserida nos

Industrials. Estas empresas inserem-se num sector considerado sensível, devido ao

impacto que causa no ambiente. À luz da teoria da legitimidade, estas deveriam ser empresas com níveis de divulgação mais elevados, quando comparadas, por exemplo, com empresas de outras indústrias, como por exemplo das telecomunicações, ou de serviços ao consumidor, no entanto não é isso que se verifica.

Tendo em conta o período específico analisado para cada empresa, nomeadamente as que incluem o ano de 2007, considerado o ano de início da crise financeira global (Mia e Mamun, 2011), as empresas Ibersol, Sag Gest, Sumol e Banif, publicaram o seu primeiro relatório de sustentabilidade nesse ano. A Ibersol, Sag Gest e Banif diminuem a divulgação enquanto que apenas a Sumol aumenta. Estes resultados diferem dos estudos de Mia e Mamun (2011) que concluíram existir um ligeiro aumento na divulgação, mas não muito significativo e os estudos de Gahzali e Weetman (2006) que concluíram não haver diferenças na divulgação, quando comparada com o período antes da crise. No caso das empresas da amostra, que incluem o período da crise, a tendência parece ser a diminuição.

Olhando para o cenário no seu global, verifica-se que em média, as empresas aumentam a sua divulgação do ano N-2 para N-1, ou seja, até ao ano de publicação do primeiro relatório de sustentabilidade e diminuem-na gradualmente a partir do ano N e até N+2, conforme se pode verificar no gráfico seguinte.

Gráfico 2 - Percentagens médias de divulgação de aspetos de sustentabilidade

As diferenças entre os valores médios de divulgação não são, contudo, muito acentuadas, no entanto pela análise do gráfico, é possível identificar esta ligeira tendência.

Comparando apenas os dois anos anteriores à publicação do primeiro relatório de sustentabilidade com os dois anos posteriores, ou seja, não considerando o ano N, houve 11 empresas relativamente às quais foi possível identificar uma diminuição da divulgação e 8 empresas para as quais foi possível verificar uma manutenção ou aumento da divulgação de aspetos se sustentabilidade no relatório e contas. Se incluirmos o ano de publicação do relatório de sustentabilidade, isto é comparando os anos N-2 e N-1 com os anos N, N+1 e N+2, verifica-se uma alteração da conclusão obtida apenas para duas empresas: a Brisa e a Cimpor.

Nas análises que se seguem vão ser utilizadas comparações entre os dois anos anteriores e os dois anos seguintes ao ano de publicação do primeiro relatório de sustentabilidade. De modo a verificar se a diferença entre os níveis de divulgação destes dois períodos seria estatisticamente significativa, foi usado o teste não paramétrico de Mann-Whitney U. Conforme pode ser verificado na tabela seguinte, embora exista tal diferença para quase todas as empresas, ela não é estatisticamente significativa, com exceção do caso da Teixeira Duarte.

Quadro 6 - Teste de Mann-Whitney à diferença entre períodos N Mean Sum of Antes 2 3,5 7 Depois 2 1,5 3 Total 4 Antes 2 1,5 3 Depois 2 3,5 7 Total 4 Antes 2 3,5 7 Depois 2 1,5 3 Total 4 Antes 2 2,5 5 Depois 2 2,5 5 Total 4 Antes 2 3 6 Depois 2 2 4 Total 4 Antes 2 2 4 Depois 2 3 6 Total 4 Antes 2 3,5 7 Depois 2 1,5 3 Total 4 Antes 2 2,25 4,5 Depois 2 2,75 5,5 Total 4 Antes 2 3,5 7 Depois 2 1,5 3 Total 4 Antes 2 3,5 7 Depois 2 1,5 3 Total 4 Antes 2 2 4 Depois 2 3 6 Total 4 Antes 2 1,5 3 Depois 2 3,5 7 Total 4 Antes 2 3,5 7 Depois 2 1,5 3 Total 4 Antes 2 3,5 7 Depois 2 1,5 3 Total 4 Antes 2 3 6 Depois 2 2 4 Total 4 Antes 2 2 4 Depois 2 3 6 Total 4 Antes 2 2,25 4,5 Depois 2 2,75 5,5 Total 4 Antes 2 1,5 3 Depois 2 3,5 7 Total 4 Antes 2 3,5 7 Depois 2 1,5 3 Total 4

Brisa - Auto-Estradas de Portugal, S.A.

Ranks

Banco Comercial Português, S.A. Banco Espírito Santo, S.A. Banif, SGPS, S.A.

Sonae, SGPS, S.A.

Cimpor - Cimentos de Portugal SGPS, S.A. Corticeira Amorim, SGPS, S.A.

EDP - Energias de Portugal S.A. Galp Energia SGPS, S.A. Ibersol, SGPS, S.A. Martifer, SGPS, S.A. Mota-Engil, SGPS, S.A.

Portucel - Empresa Produtora de Pasta e Papel, S.A. Portugal Telecom, SGPS, S.A.

SAG Gest - Soluções Automóvel Globais, SGPS, S.A. Sonae Indústria, SGPS, SA

Sonaecom, SGPS, S.A. SUMOL+COMPAL, S.A.

Quadro 7 - Teste de Mann-Whitney à diferença entre períodos

BCP BES Banif Brisa Cimpor Corticeira

Amorim EDP Galp Ibersol M artifer M ota-

Engil Portucel PT SAG Gest Sonae

Indústria Sonae Sonae.com SUM OL+ COM PAL Teixeira Duarte M ann-Whitney U 0 0 0 2 1 1 0 1,5 0 0 1 0 0 0 1 1 1,5 0 0 Z -1,633 -1,549 -1,633 0 -0,775 -1 -1,633 -0,408 -1,549 -1,633 -1 -1,549 -1,549 -1,549 -1 -0,775 -0,408 -1,549 -1,732 Asymp. Sig. (2-tailed) 0,102 0,121 0,102 1 0,439 0,317 0,102 0,683 0,121 0,102 0,317 0,121 0,121 0,121 0,317 0,439 0,683 0,121 0,083

Relativamente ao tipo de indicadores divulgados pelas empresas, antes e após a emissão do primeiro relatório de sustentabilidade, não se verificam diferenças muito acentuadas, sendo os indicadores sociais os mais divulgados e mostrando um ligeiro aumento após o ano N, seguindo-se os indicadores ambientais, com uma ligeira tendência de diminuição após o ano N. Os indicadores económicos mantiveram o seu nível de divulgação após o ano N, sendo das 3 dimensões, a menos divulgada durante o período de análise. Dentro dos indicadores sociais verifica-se uma forte predominância da divulgação de aspetos sobre as práticas laborais também no período antes e após o ano N. Pode ainda ser verificada uma tendência de aumento das divulgações sobre aspetos do produto. Os indicadores relacionados com os direitos humanos e a sociedade foram os menos divulgados, apresentando percentagens relativamente baixas.

Quadro 8 - Tipo de indicadores de sustentabilidade divulgados

5.1 Análise por sectores

Embora a amostra não seja grande o suficiente para se poder retirar grandes conclusões, sobre a relação entre o sector de atividade e a alteração no nível de divulgação, motivo pelo qual não foram efetuados testes estatísticos sobre esta relação, procurou-se ainda verificar se seria possível detetar diferenças em termos de alterações nos níveis de divulgação entre sectores de atividade. Como pode ser verificado na tabela abaixo, não parece ser possível retirar conclusões a este respeito.

N-2 N-1 N N+1 N+2 Económicos 18,3% 16,7% 14,5% 18,3% 16,7% Ambientais 25,0% 33,3% 30,6% 31,7% 21,1% Sociais 56,7% 50,0% 54,8% 50,0% 62,2% 100% 100% 100% 100% 100% Sociais: Práticas Laborais 79,4% 74,2% 77,9% 69,2% 71,4% Direitos Humanos 0,0% 6,1% 2,9% 3,8% 3,6% Sociedade 5,9% 7,6% 2,9% 7,7% 3,6% Produto 14,7% 12,1% 16,2% 19,2% 21,4% 100% 100% 100% 100% 100% Indicadores Ano

Quadro 9 - Número de empresas que diminuíram, mantiveram ou aumentaram a divulgação

Procurou-se ainda analisar as divulgações totais médias por Indústria, tendo em consideração número de empresas existente em cada uma delas e independentemente do tipo de indicador divulgado. Os valores seguintes foram obtidos através cálculo de médias de divulgação por sector, tendo em conta o número de empresas que o compõem, pelo que têm associadas as limitações inerentes ao uso de médias.

Os resultados apresentam-se no quadro abaixo.

Quadro 10 - Percentagem média de divulgação de indicadores de sustentabilidade entre Indústrias

Analisando o quadro acima, é possível verificar algumas tendências. Analisando apenas as diferenças entre o ano N-2, N-1 e N+1, N+2, em termos médios, as indústrias

Consumer Goods, Consumer Services e Fianancials parecem aumentar a divulgação de

aspetos de sustentabilidade após emissão do primeiro relatório de sustentabilidade. Pode ser observado, que em termos médios, após o ano N, os Industrials diminuem a divulgação, apresentando percentagens de divulgação relativamente mais baixas do que a maioria das outras indústrias. Estes resultados podem ser justificados com o facto das operações de algumas empresas industriais, embora causem um impacto ambiental relevante, se encontrarem distantes da perceção do consumidor final e da opinião pública geral, levando-as a não divulgar (Clarke e Gbson-Sweet, 1999).

Diminuição/M anutenção Aumento Oil&Gas, Basic M aterials, Telecommunications and Utilities 2 3 5

Industrials 5 1 6

Consumer goods and services 2 3 5

Financials 2 1 3 11 8 19 Total Alteração Total Sector Indústria/Ano N-2 N-1 N N+1 N+2

Oil & Gas, Basic Matrerials, Telecommunications e Utilities 35% 33% 39% 29% 38%

ConsumerGoods e Consumer Services 18% 23% 17% 28% 25%

Industrials 21% 23% 17% 13% 8%

Financials 26% 22% 27% 30% 28%

Total 100% 100% 100% 100% 100%

Relativamente à indústria Financials, que compreende 3 empresas portuguesas do sector da banca, esta apresenta uma tendência de aumento, embora ligeira. A emissão do 1º relatório de sustentabilidade não parece ter influenciado a redução da divulgação destes aspetos no relatório e contas. Este comportamento pode ser explicado tendo por base a teoria da legitimidade (Branco e Rodrigues, 2006). A indústria da banca é um sector sujeito a muita visibilidade, tanto por parte do público em geral, como dos Governos, o que leva as empresas a divulgar aspetos de sustentabilidade de forma a convencer o público que esta é responsável e que age de acordo com os valores da sociedade.

Documentos relacionados