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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.6 LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Analisando-se a forma como a pesquisa foi realizada, observou-se que alguns pontos que podem ter influência negativa precisam ser destacados. O primeiro deles está relacionado ao instrumento de coleta de dados. Em uma de suas obras, Gil (2008, p. 110) destaca algumas ressalvas da entrevista, dentre as quais, pode-se evidenciar as seguintes: “a falta de motivação do entrevistado para responder as perguntas que lhe são feitas; o fornecimento de respostas falsas, determinadas por razões conscientes ou inconscientes; a influência exercida pelo aspecto pessoal do entrevistador sobre o entrevistado”.

Foi possível observar, em alguns atores entrevistados, a escassez de ânimo para participar da entrevista, a partir da dificuldade para disponibilizar horário para o agendamento da entrevista, da rapidez e da objetividade para responder às perguntas, da atenção dispensada no momento de realização da coleta de dados, visto que um dos atores entrevistados permaneceu, no início da entrevista, utilizando, em paralelo, o computador, alegando precisar responder mensagens eletrônicas (talvez para, por meio dessa encenação, aparentar ser uma pessoa muito ocupada). Além disso, não foi possível gravar uma das entrevistas, por não ter sido autorizada pelo pró-reitor, fato que empobreceu a análise dos dados relacionados a esse ator.

Gaskell (2010) chama atenção para o fato de que “o entrevistado pode se sentir um tanto constrangido e talvez um pouco hesitante e defensivo [...] e adotar posições com respeito aos problemas que estejam de acordo com alguma autoimagem específica” (GASKELL, 2010, p. 74).

É importante levar em consideração que a presença física do entrevistador pode interferir no resultado da entrevista e na forma como o entrevistado responde e se comporta: “[...] é necessário considerar que na entrevista o pesquisador está presente e, da mesma forma como pode auxiliar o entrevistado, pode igualmente inibi-lo a ponto de prejudicar seus objetivos” (GIL, 2002, p. 118).

Nesse mesmo sentido, Duarte (2014, p. 216) ressalta que “precisamos estar muito atentos à interferência de nossa subjetividade, ter consciência dela e assumi-la como parte do processo de investigação”. Diante do exposto, é importante levar em consideração que a pesquisadora atua na instituição analisada, na Superintendência de Gestão de Pessoas (Sugep), e, portanto, tem conhecimento prévio de algumas atuações dos entrevistados, de certas imagens projetadas por eles no dia a dia, das impressões criadas a partir de contatos ou relatos de uma cena. Isso pode ter, de um lado, facilitado o contato para realização da entrevista, mas, por outro lado, pode ter influenciado na representação dos atores, tanto nas respostas dos entrevistados como na análise dos dados.

Diante dessa possibilidade, é importante considerar que a relação estabelecida pode se tornar uma dramatização e que as ações dos atores podem ser pensadas e direcionadas à plateia – o entrevistador. Sendo assim, os atores podem ter a intenção de transmitir a impressão de que correspondem aos protótipos exigidos para eles e para suas produções (GOFFMAN, 2013, p. 269).

Duarte (2004, p. 223) ressalta que “o entrevistado ‘encena um personagem’ que, intuitivamente, percebe que o pesquisador deseja que ele seja ou diz o que acredita que o pesquisador gostaria de ouvir”. Dessa forma, nem sempre a fala representa o que o ator acredita.

Assim sendo, o estudo foi baseado em impressões captadas durante o período de realização das entrevistas, sendo importante ressaltar que os dados coletados podem ter sido manipulados pelos atores, já que as informações são fornecidas de acordo com o seu interesse.

Para descobrir inteiramente a natureza real da situação, seria necessário que o indivíduo conhecesse todos os dados sociais importantes relativos aos outros. Seria também necessário que o indivíduo conhecesse o resultado real ou produto final da atividade dos outros durante a interação, assim como os mais íntimos sentimentos deles a seu respeito. Raramente se consegue completa informação dessa ordem. Na falta dela, o indivíduo tende a empregar substitutos – deixas, provas, insinuações, gestos expressivos, símbolos de status etc. – como recursos para a previsão. Em resumo, como a realidade em que o indivíduo está interessado não é percebida no momento, em seu lugar terá de confiar nas aparências. Paradoxalmente, quanto mais o indivíduo se interessa pela realidade inacessível à percepção, tanto mais tem de concentrar a atenção nas aparências (GOFFMAN, 2013, p. 268).

Além disso, é interessante ressaltar que o período de coleta de dados teve uma particularidade. O primeiro mandato da gestão atual estava na fase final e, consequentemente, representava uma fase de transição. A maioria dos pró-reitores entrevistados já tinha iniciado o processo de substituição.

Esse período de transição também pode ter sido um fator que interferiu não só na forma como a entrevista foi agendada e realizada, como, também, pode ter representado um entrave para a aplicação de outros instrumentos de coleta de dados, como a observação participativa e a etnografia. Na tentativa de apresentar uma proposta de observação mais prolongada, era ressaltado por eles que a transição já estava acontecendo, não abrindo espaço para a execução da proposta.

Por outro lado, tal fato pode ter proporcionado uma apresentação mais minuciosa da atuação no cenário da gestão, diante do conhecimento e da experiência adquiridos ao longo do

tempo em que o pró-reitor permaneceu no cargo. Além disso, a proximidade da substituição pode ter possibilitado uma representação mais solta durante a entrevista.

Diante de todo o exposto, é importante ressaltar que as dificuldades mencionadas acima não representaram risco à validação dos dados, uma vez que foi possível apreender as informações necessárias para a realização das análises, possibilitando o alcance dos objetivos propostos nesta pesquisa.