• Nenhum resultado encontrado

II. CRÍTICAS AO DESENVOLVIMENTO

2.5. Limites ao Crescimento

As críticas ao Desenvolvimento não se esgotavam nas políticas impostas e interesses externos, sendo que em 1972 toda a atenção das políticas de Desenvolvimento voltaram-se para o meio ambiente. O “Limits to Growth”, lançado no mesmo ano, encomendado pelo Clube de Roma vem alertar a comunidade internacional sobre as consequências que poderiam ocorrer no planeta se todo o mundo aumentasse o seu crescimento e padrões de consumo.

Os autores do estudo serviram-se do modelo World3 para testar doze diferentes cenários na tentativa de prever quais os efeitos ambientais com as variantes consumo e população. Os resultados foram alarmantes, indicando a impossibilidade de existir um constante aumento do crescimento. Isto porque o crescimento da população e de capital representavam um enorme fardo ambiental, sendo impossível ao próprio planeta sustentá-los.

Falar em limites ao crescimento e em alterar os padrões de consumo poderá parecer um pouco cruel e egoísta, ao pensarmos que existem milhões de pessoas que vivem em

26

condições horrivelmente precárias e que necessitam urgentemente da satisfação das suas necessidades básicas, de forma a poderem viver condignamente. Apesar de tudo, é importante refletir sobre “Crescimento do quê? Para quem? A que custo? Pago por quem? Qual é a real necessidade aqui, e qual é a forma mais direta e eficiente para quem tem a necessidade para satisfazer? Quanto é suficiente? Quais são as obrigações em partilhar?” (Meadows, Randers e Meadows, 2004: 49, tradução livre).

Para que o mundo fosse verdadeiramente sustentável, era fundamental que houvesse uma ação conjunta, cujas políticas económicas respeitassem não só a dignidade humana, mas também o meio ambiente e os recursos naturais. Mais interessante era o foco dado à importância de todas as sociedades se respeitarem e zelarem umas pelas outras, porque as mudanças de mentalidade e comportamentos só teriam real expressão se tomadas em conjunto e entendendo que é necessário um esforço coletivo para que o planeta seja respeitado. O Desenvolvimento não poderia continuar a assentar na sobreexploração de recursos nos países do Sul para benefício das comunidades do Norte, para que estes tivessem bens e serviços a preços acessíveis. A industrialização e formas poluentes de produção dos países desenvolvidos teriam que cessar, dados os custos ambientais que se faziam sentir nos países mais pobres.

A Humanidade não pode triunfar na aventura de reduzir a pegada humana para um nível sustentável se a aventura não é efetuada no espírito de parceria global. O colapso não pode ser evitado se as pessoas não aprenderem a ver-se e a outros como partes de uma sociedade global integrada (Meadows, Randers e Meadows, 2004: 282, tradução livre).

Foi dado o alerta aos limites impostos pela própria natureza dada a finitude dos recursos naturais, sendo catastrófico o fim de qualquer um deles. Cresceu uma certa urgência em limitar o seu uso, juntando-lhe a procura de novas fontes energéticas menos poluentes e mais sustentáveis.

Este livro teve o mérito de ser dos primeiros a alertar para os perigos das políticas ocidentais que desejavam disseminar o seu modus operandi a todo o globo. Basta pensar em como um país desenvolvido era aquele que apostava fortemente na industrialização, com um enorme dispêndio de recursos energéticos e com altos níveis de consumo. Nunca antes se tinham colocado estas questões, o limite do próprio planeta.

O relatório “Our Common Future” (CMMAD, 1987), foi outro documento que veio cimentar a consciencialização ambiental, assunto que estava em ampla expansão.

Muitos dos caminhos do Desenvolvimento das nações industrializadas são claramente insustentáveis. E as decisões desses países, devido ao seu grande poder económico e político, terão um profundo efeito na

27

habilidade de todas as pessoas susterem o progresso humano para as gerações vindouras (CMMAD, 1987: 7, tradução livre).

Existia uma grande preocupação para como o Desenvolvimento de então poderia ter um impacto negativo no Desenvolvimento das gerações futuras. Daí que o “Our Common Future” seja considerado como o documento que estabeleceu o conceito de Desenvolvimento Sustentável, “(...) Desenvolvimento Sustentável é o desenvolvimento que vai ao encontro das necessidades do presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades” (CMMAD, 1987: 41, tradução livre).

O Desenvolvimento aliado à sustentabilidade tornou-se imperativo dada a ação humana na afetação dos recursos e dos próprios sistemas naturais do Planeta. A tecnologia e a necessidade dos cidadãos ganharam tal importância que o Planeta ficou a saque, em nome do bem-estar e Desenvolvimento. O relatório apelou para que existisse o bom senso no consumo dos bens e recursos renováveis garantindo a sua renovação. Já os recursos não renováveis deviam ser utilizados, mas tendo em consideração os seus níveis de disponibilidade, evitando a todo o custo que se esgotassem enquanto não existisse uma alternativa viável.

O “Limits to Growth” e o “Our Common Future” apelaram para que os governos nacionais refletissem sobre o como procurar e alcançar o Desenvolvimento, tendo sempre presente as repercussões ambientais que tais ações teriam não só no seu território mas igualmente em outros países. Para além do mais, realçaram que o Planeta não estava dotado de recursos infinitos e que a extinção de qualquer um poderia ter severas repercussões nos nossos estilos de vida, como tal, ganha terreno um entendimento de que o crescimento dos países deveria ser consciente e ponderado, ao mesmo tempo que era integrado num plano internacional de sustentabilidade e consciencialização ambiental.