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5. EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS DE JOGOS DE PAPÉIS NA ÁREA

5.3. D ISCUSSÃO – L IMITES E POTENCIALIDADES DOS QUATRO JOGOS DE PAPÉIS

5.3.2. Limites

Em relação aos aspectos limitantes deste tipo de jogo, destacamos alguns que consideramos importantes de serem avaliados numa proposta de trabalho em Educação Ambiental, os quais enumeramos a seguir:

• A importância da avaliação do jogo e o tempo disponível

A fase de síntese ou avaliação final – debriefing – é essencial para dar sentido ao jogo, fazendo as relações das situações de jogo com as da realidade, a partir desta avaliação é que o jogo ganha sentido no contexto pedagógico, tornando-se uma atividade-meio e não um fim em si mesmo. No entanto, notamos em algumas das sessões assistidas, que o tempo destinado à avaliação muitas vezes não é suficiente para uma análise mais aprofundada, para que se possa fazer as relações pertinentes ao contexto da problemática abordada. O tempo é sem dúvida um fator limitante, uma sessão de jogo completa, incluindo uma avaliação aprofundada, requer no mínimo oito horas de trabalho, o que nem sempre é possível neste tipo de atividade.

• O jogo como parte de um processo educativo mais amplo

Todos os jogos estudados estavam inseridos num processo educativo mais amplo, um curso ou treinamento, os autores concordam que o jogo em si não consegue agregar todos os fatores importantes ao processo educativo, quando inserido num processo mais contínuo outros objetivos conseguem ser alcançados. Neste sentido, o jogo de papéis é um instrumento didático que pode potencializar uma discussão ou mobilizar os educandos para uma participação mais ativa nas questões sócio-ambientais se for introduzido num contexto e não apenas como uma atividade isolada.

Em relação ao processo educativo, os jogos foram inseridos em momentos distintos do processo, os que foram utilizados no início mostraram contribuir para a motivação dos participantes e facilitaram a comunicação entre o grupo, nesta fase o jogo de papéis pode também ser útil para o diagnóstico da situação a partir das visões trazidas pelo grupo. No final do processo, o jogo de papéis foi utilizado para sintetizar ou discutir aspectos importantes do conteúdo abordado durante o curso. É fundamental considerar os objetivos que se pretende atingir com este tipo de jogos para que seja inserido no momento mais adequado do processo.

• A disposição para a vivência

Todos os entrevistados ressaltaram o poder de mobilização que o jogo de papéis desempenha, promovendo a discussão e a participação de conteúdos específicos, técnicos e muitas vezes de difícil entendimento. Por haver a necessidade de incorporar o papel, o jogo mobiliza as pessoas por completo, como no teatro em que o racional e o emocional estão presentes, é interessantepois evita de certa forma as dicotomias do objetivo/subjetivo, razão/emoção, ambiente/sociedade que ainda estão bastante presentes na educação mais tradicional. Esta possibilidade torna os jogos de papéis ferramentas muito promissoras na Educação Ambiental Crítica.

Entretanto, por ser uma dinâmica de vivência, o jogo pressupõe a participação de todos, se os participantes não se envolverem, o jogo pode ficar monótono e sem sentido. Por esse mesmo motivo, o jogo traz à tona sentimentos, emoções dos participantes, que muitas vezes incorporam plenamente o papel designado, é preciso que o facilitador do jogo esteja bem preparado para lidar com possíveis atritos entre os participantes, tendo a clareza do que é jogo e do que é realidade

• A complexidade da dinâmica do jogo

Em algumas sessões notamos que o entendimento das regras do jogo é um dos fatores essenciais para a participação. Alguns jogadores que não entenderam o funcionamento do jogo, simplesmente abandonaram o seu papel ou então jogaram de forma automática sem um maior envolvimento. Por tratar de situações complexas, o jogo de papéis (RPG)

envolve uma série de possibilidades de ações integradas e consequentemente, uma série de regras e procedimentos a seguir. Deve-se sempre considerar o nível de complexidade possível em relação ao público-alvo para que não afaste as pessoas da dinâmica devido à falta de entendimento e compreensão do jogo em si, limitando assim a discussão do assunto em questão.

• A singularidade de cada sessão de jogo

As sessões de jogo são independentes e portanto podem trazer aspectos bastante diversos de uma situação, uma sessão nunca será igual a outra. Uma possibilidade interessante é jogar com dois ou mais grupos simultaneamente e, no final fazer a análise coletiva, buscando as diferentes estratégias de ação, comparando e discutindo as possibilidades, pode ser importante para iniciar uma análise mais completa da situação.

Uma outra dificuldade na EA é jogar com pessoas que não estão cientes da situação- problema, ou que não estão familiarizadas com o conteúdo mais técnico abordado no jogo. Mesmo o jogo do Estatuto da Cidade (EC), que considerou diversos cenários em diferentes tipos de municípios brasileiros, apresenta uma grande quantidade de informações técnicas que geralmente são muito distantes da população em geral. Neste caso, o papel de um facilitador ou “mestre do jogo” é essencial para explicar as dúvidas e conduzir, mediar o jogo, a discussão. Se o facilitador não estiver muito bem preparado, torna-se difícil o desenrolar do jogo, neste sentido, a formação de multiplicadores é um aspecto a ser considerado.

Percebemos diversas possibilidades destes jogos em projetos de Educação ambiental e Educação não-formal de um modo geral. A vivência de uma situação-problema é algo que mais desperta o interesse nos participantes jogadores, assim como os aspectos lúdicos que dão um diferencial à dinâmica e trazem as singularidades do jogo em relação a outras dinâmicas de grupo.

No entanto, o jogo quando utilizado como uma forma de transmissão de conteúdos de difícil compreensão pode tornar-se cansativo devido ao excesso de informações que é preciso saber para jogar, chegando até mesmo a perder o seu caráter lúdico.

Uma das grandes limitações deste tipo de jogo na EA reside na relação entre a complexidade, possibilidades didáticas, público-alvo e o tempo de duração de uma sessão de jogo. Um jogo muito simples pode limitar a abordagem complexa do assunto, limitando-se aos aspectos lúdicos do jogo, por outro lado, um jogo muito complexo, torna-se difícil de entender e limita o seu alcance.

Finalmente, é importante ressaltar o fato de que por termos assistido a poucas sessões de jogo e, devido ao fato da singularidade de cada sessão de jogo, podemos ter tido algumas observações equivocadas que poderiam ter sido modificadas em outras sessões com grupos diferentes.

No entanto, as entrevistas com os autores e a análise do material de jogo possibilitou-nos uma combinação de materiais que de certa forma ampliam a pesquisa, não restringindo apenas à observação das sessões.

Pretendemos com este levantamento apresentar um panorama dos jogos de papéis desenvolvidos em experiências brasileiras que abordam os desafios da participação dos movimentos populares da sociedade, agregando também critérios de comparação e análise que podem ser úteis em estudos próximos referentes ao tema. Temos consciência que não esgotamos a análise e que um acompanhamento mais próximo das sessões de cada um dos jogos pode resgatar novos elementos de discussão.

Esta etapa da pesquisa leva-nos a próxima etapa na qual foi possível um acompanhamento aprofundado de um jogo de papéis, com simulação. A breve análise dos jogos tradicionais foi também essencial na comparação e no entendimento de um jogo com simulação de cenários, protótipo de jogo com modelagem de acompanhamento, desenvolvido pelo Projeto Negowat. A partir desta primeira etapa, as possibilidades e os limites de um jogo de papéis com este enfoque também aparecem mais com maior clareza.

6. ANÁLISE DO JOGO DOS MANANCIAIS A PARTIR DAS PERCEPÇÕES DE