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LINHA DE FIBRA FIADA: A OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

A observação é a técnica do olhar. Com ela, busca-se apreender informações que caracterizem e determinem aspectos da realidade. Embora desenvolvida por meio do sentido da visão, ela “não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar” (LAKATOS, 2006, p. 275). No caso desta pesquisa, observar significa mover o corpo para perceber o contexto, as experiências que constituem o caminhar do sujeito para si mesmo e para o mundo.

Porto (2005), seguindo essa perspectiva, apresenta a compreensão de Chauí (1999) sobre o ver que se entrelaça com o olhar.

[...] ver é olhar para poder tomar e adquirir conhecimento das coisas exteriores que se encontram visíveis e possíveis de serem conhecidas, no teatro do mundo, do qual nascem as janelas da alma, que são também espelhos do mundo, ou seja, o interior do ser humano que olha e vê, pelos olhos ou não. (PORTO, 2005, p. 25).

Esse é o sentido que a observação tem nesta pesquisa: uma observação que vê o mundo não apenas com os olhos, mas também pelos sons, pelo olfato, pelo paladar, e que o percebe com o corpo inteiro. Um olhar que quantifica sem medir, que qualifica por meio de um retrato fiel do contexto e permite entender os fatos em sua integralidade.

Nas pesquisas, a observação se constitui em elemento básico, funcionando como técnica de coleta de dados, com a qual o pesquisador aproxima-se do contexto da descoberta e dos sujeitos – ou nele se insere –, na tentativa de obter provas para as proposições que por ele foram construídas. Assim, conforme afirma Lakatos (2006, p. 276), a observação “estuda uma ampla variedade de fenômenos, permite identificar o conjunto de atitudes e de comportamentos e pode perceber sinceridade nas respostas”.

Inserida, como as demais professoras, no contexto da Educação Infantil como educadora, optei por viver essa observação de maneira participante. Afinal, tecendo a formação humana com as linhas da pesquisa-ação, eu não poderia simplesmente estar no contexto para compreendê-lo; precisava adentrá-lo com o espírito de aprendente e com a atitude de quem partilharia o saber.

A observação participante é uma técnica que implica a interação entre o investigador e o grupo, que, colocados lado a lado, vivenciam as peculiaridades cotidianas. “O objetivo é ganhar a confiança do grupo, fazer os indivíduos compreenderem a importância da investigação, sem ocultar o seu objetivo” (LAKATOS, 2006, p. 277).

O trabalho de pesquisa envolve aprofundamento da relação estabelecida entre pesquisador e pesquisado dentro do universo intersubjetivo e favorece os encontros de subjetividades que, na fricção identitária de cada sujeito, permitem e possibilitam a construção das trocas das relações simbólicas (GHEDIN E FRANCO, 2008, p. 196).

Dentre as habilidades necessárias ao observador, estão: ter capacidade de estabelecer uma relação de confiança com os sujeitos, ter sensibilidade, ter facilidade para se comunicar e para ouvir; formular boas perguntas; manter-se fiel às questões da pesquisa; ser flexível e respeitar o tempo da identificação e da análise dos processos (ALVES-MAZZOTTI, 1999, p. 167).

Na observação participante, o investigador é o responsável pelo sucesso da investigação, que, mesmo sem instrumentos como o questionário e a entrevista, responde a

parte das questões problematizadas. Por essa limitação, procurei aliá-la a outras técnicas de pesquisa.

A observação participante é a técnica de captação de dados menos estruturada que é utilizada nas ciências sociais, pois não supõe qualquer instrumento específico que direcione a observação. Dessa forma uma das limitações existentes pode ser o fato de que a responsabilidade e o sucesso pela utilização dessa técnica recaem quase que inteiramente sobre o observador (LIMA et. al. 1999, p. 132).

Cabe ressaltar que em meu caso, a observação participante era natural, pois eu já pertencia ao grupo pesquisado (LAKATOS, 2006, p. 277) e, com essa técnica, poderia colocar-me como participante que observava, estando, portanto, totalmente implicada na dinâmica que regia esse território.

Foi a observação participante que, neste trabalho, permitiu o aprofundamento no cotidiano da creche. Com o olhar, comecei a entender as fragilidades e as capacidades expressas nesse ambiente social, o que me levou, posteriormente, com as intervenções, a responder aos problemas encontrados. Para isso, me coloquei de forma discreta mas atuante, procurando entender, ser acolhida, para depois intervir diretamente na realidade da creche.

Entre as atitudes que orientam o observador participante, está o abandono, na convivência, da posição de cientista, para poder inserir-se no contexto como um participante comum, que, junto ao grupo, estará aprendendo. Essa atitude foi percebida pelas educadoras que participaram da pesquisa, como revela o depoimento de Seda (2008):

E outra coisa, que logo que você chegou, eu ficava observando que você só ficava observando e num dizia nada, só ali bem caladinha. E eu dizia: Essa menina aí é muito observadora. O que será que ela está observando? A gente tem que ter cuidado com o que fala na frente dela, porque ela está chegando agora e ela é muito observadora.

Aspecto importante a ser destacado é que, na vivência da observação participante, o observador pode modificar o contexto e ser modificado por ele, o que foi experienciado por mim nesse processo, pois, vivendo junto às crianças e aos educadores infantis, passei a olhar com maior frequência e sensibilidade minha prática, procurei adaptar-me as circunstâncias e construir uma imagem mais próxima dos sujeitos que lá viviam.

Nesse contexto, respeitando a individualidade dos sujeitos e o papel desempenhado por cada uma das professoras, me foi possível construir um clima de aceitação, no qual a empatia gerada possibilitou o desvelar dos acontecimentos posteriores.

As capacidades de empatia e de observação por parte do investigador e a aceitação dele por parte do grupo são fatores decisivos nesse procedimento metodológico, e não são alcançados através de simples receitas (MINAYO, 1994, p. 61).

Por fim, afirmo que perceber as subjetividades e permanecer junto aos participantes em condição de igualdade viabilizou o fluxo das relações e das vivencialidades corpográficas.