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3 AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS: PANORAMA HISTÓRICO

3.2 Breve panorama das histórias em quadrinhos no Brasil

3.2.3 Linha do tempo dos quadrinhos: de 1950 aos anos 2000

Dessa época, podemos citar duas obras relevantes: A turma do Pererê, de 1959, criada por Ziraldo, que posteriormente conceberia O menino maluquinho, e Mônica e a sua turma, em

1959, criada por Maurício de Sousa, que posteriormente vai se tornar Turma da Mônica, sendo este um dos quadrinhos brasileiros mais famosos.

Figura 35 – Primeiro exemplar de Mônica e a sua turma, de Maurício de Sousa

Fonte: Guia dos Quadrinhos (2007).

As décadas de 1950 e 1960 são o período dos quadrinhos de aventuras e dos quadrinhos de super-heróis. Ambos se inspiravam na temática norte-americana, no entanto, na maioria das vezes, essa inspiração se tornava apenas uma cópia. Isso ocorria porque a venda dos títulos norte-americanos, à época pela EBAL, era um sucesso, então, os quadrinistas brasileiros acabavam tendo esse anseio de também vender suas criações, o que terminava culminando nas cópias. Além disso, era muito comum que as histórias fossem as mesmas, só que adaptadas para o ambiente brasileiro para que houvesse uma familiarização do leitor com os personagens. Mas também surgiram super-heróis autorais, como o Capitão 7, criado em 1954.

A década de 1960 foi a mais produtiva para os quadrinhos de super-heróis. É interessante observar que, assim como esses tiveram sua época áurea no período da Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos, aqui o auge aconteceu durante a ditadura:

Vivia-se a ditadura militar e pode-se até imaginar que os super-heróis, nesse contexto, preenchiam tanto um anseio de autoafirmação do leitor como respondiam aos interesses dos governantes de enfatizar um país que caminhava claramente para o desenvolvimento tecnológico. As histórias dos super-heróis brasileiros frequentemente mostravam uma realidade científica que não encontrava similar na realidade nacional, mas que funcionava como um elemento catártico para o leitor que então sofria os desmandos da ditadura (VERGUEIRO, 2017, p.96).

Outro movimento relevante no período da década de 1960 foi a criação da primeira fanzine de quadrinhos no Brasil. As fanzines são publicações não oficiais e mais domésticas, por assim dizer, geralmente produzidas por entusiastas de algum assunto. Assim, a Ficção, criada em 1965, por Edson Rontani, foi o pontapé inicial para que se criassem outras fanzines,

sendo relevante para a divulgação do círculo independente dos quadrinhos, pois era uma forma barata de divulgar informações sobre os quadrinhos e também sobre como publicá-los. Esse círculo independente se assemelha ao período underground norte-americano. Um dos maiores nomes que começaram com as fanzines foi Henfil (Henrique de Souza Filho), o qual tornou-se ainda bastante conhecido por sua “luta contra o governo militar e sua intrasigente defesa dos quadrinhos nacionais” (VERGUEIRO, 2017, p.118).

Em 1969, aconteceu outro fato importante para a história dos quadrinhos: o surgimento do Pasquim. Voltado para o público adulto,

O jornal se transformou no porta-voz da indignação da sociedade brasileira, então submetida a forte repressão. Ele enfrentou a prisão de seus editores, a censura dos meios de comunicação de massa, campanhas de descrédito e difamação, contestando com ironia e criatividade todos os ataques que sofria (VERGUEIRO, 2017, p.124/125).

Figura 36 – O pasquim

Fonte: Catraca livre (2020).

Apesar do foco maior do Pasquim ser as caricaturas, ele serviu de modelo para quem queria atingir o público adulto também, como Laerte, Glauco, Angeli, Luiz Gê, entre outros quadrinistas importantes.

Já na década de 1970, os quadrinhos de super-herói começaram a perder a força: apesar de surgirem novos super-heróis, como Judoka, o público perdeu o interesse. Nessa época, vingaram os frutos do Pasquim, como a revista Circo, que durou de 1986 a 1988, e a tirinha

Outro autor importante da década de 1990 é Lourenço Mutarelli, que começou publicando suas histórias de quadrinhos nas fanzines, e, hoje em dia, é um autor consagrado não somente de quadrinhos, como Diomedes (2012), Over-12 (1988) e Solúvel (1989), mas também de obras literárias, como O cheiro do ralo (2002).

3.2.4 Linha do tempo dos quadrinhos brasileiros: dos anos 2000 até os dias de hoje

No início do séc. XXI, os quadrinhos infanto-juvenis começaram a perder bastante público. Vergueiro (2017) aponta que isso ocorreu porque houve uma saída de grandes editoras desse mercado, além do aumento da procura por mangás – os quadrinhos japoneses. Segundo o autor, a estratégia de marketing era forte, como, por exemplo, o lançamento de mangás junto ao dos animes – desenhos animados japoneses – e brinquedos, álbuns de figurinhas etc. Além disso, outro fator é o grande número de imigrantes japoneses que vivem no Brasil, o que também contribuiria para a popularização dos mangás.

Assim, começam a surgir editoras menores, como a Animangá, JBC e Conrad, que procuram trazer os títulos japoneses; porém, o cenário muda completamente com a entrada da Panini Comics, que trouxe – e traz – muitos títulos, dominando o mercado de quadrinhos, principalmente após passar a representar a Marvel e a DC Comics. O sucesso dos mangás foi tão grande que Maurício de Sousa, em 2007, transfere a Turma da mônica para a Panini e decide se adequar a esse mercado de mangás, lançando, em 2008, A turma da mônica jovem, uma história em quadrinhos mais próxima do formato japonês. A estimativa é que a venda chegou a um milhão de exemplares no lançamento.

Outro ponto importante dos anos 2000 é o boom de adaptações literárias que surgem, nos lembrando que, apesar do mercado aspirar ao público mais adulto, ainda existia um público infanto-juvenil que era alvo das editoras. Isso ocorre principalmente por causa de alguns fatores. São eles: i) a legislação de incentivo à cultura, de 1986, promulgada por Sarney. Assim, a Lei 7505/86

[...] dispunha sobre benefícios fiscais na área do imposto de renda concedidos a operações de caráter cultural e artístico, estipulando que o contribuinte do imposto de renda poderia abater da renda bruta, ou deduzir com despesa operacional, o valor das doações, patrocínios e investimentos [...] (BRASIL, 1986 apud CHINEN; VERGUEIRO; RAMOS, 2014, p.25).

Apesar de durar pouco tempo, essa Lei foi um marco para o incentivo à cultura e, consequentemente, há um aumento de patrocínios para a produção de quadrinhos; ii) a incorporação dos quadrinhos nos PCNs, em 2000; e iii) a inclusão, em 2006, dos quadrinhos

nas compras do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola). Esse interesse manifestado pelo governo nos quadrinhos gerou uma febre de produção de adaptações literárias:

Houve de tudo. De adaptações fiéis às pressas à compra de trabalhos já publicados no exterior. De criação de coleções próprias a trabalhos mais autorais. De trabalhos mais fiéis a releituras inovadoras das obras originais. De concreto, criou um novo segmento de mercado para autores brasileiros, que até então não costumavam ser procurados pelas editoras para realizar trabalhos em quadrinhos (RAMOS, 2012a, p.243 apud CHINEN; VERGUEIRO; RAMOS, 2014, p.30).

No entanto, Chinen, Vergueiro e Ramos (2014) enxergam como uma das consequências negativas dessa massificação da produção de adaptações literárias entender os quadrinhos como um meio para a leitura (no caso, dos clássicos literários), e não como uma leitura por si só. Apesar disso, é inegável a contribuição dessa incorporação nos PCNs, que permitiu dar destaque aos quadrinistas brasileiros e que, de acordo com Vergueiro (2017), apesar de ter se encerrado em 2014, abriu as portas para novos leitores de quadrinhos.

Por fim, outro acontecimento relevante nos anos 2000 foi a intensificação das graphic

novels. Ramos e Figueira (2014) apontam que a novela gráfica começou a ganhar força aqui no

Brasil no final da década de 1980 apenas, momento em que a editora Abril importa o nome

graphic novel (sem fazer uma tradução para o português). Os autores ainda apontam que a

imprensa e a própria incorporação dos quadrinhos nos PCNs foram dois fatores que ajudaram a legitimar o uso do termo aqui no Brasil. Além disso, no caso das adaptações literárias, o nome “novela” aproximaria os quadrinhos da literatura, o que justificaria também a preferência por esse termo por parte das editoras, embora iremos ver, na subseção seguinte, que o conceito é problemático por si só, pois a graphic novel pouco tem de uma novela tradicional. Fato é que as editoras costumam estampar nas capas de seus quadrinhos graphic novel, pois é um selo costumeiramente tomado como sinônimo de edição de luxo e de qualidade, o que nem sempre ocorre.

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