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Liquidação de Passivos Contingentes

3 HISTÓRICO E FORMAÇÃO ATUAL DA DÍVIDA MOBILIÁRIA FEDERAL

3.1 PRINCIPAIS ASPECTOS DA FORMAÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA

3.1.1 Liquidação de Passivos Contingentes

Segundo o Banco Central, os Passivos Contingentes são dívidas do setor público, geradas no passado, que já produziram impacto macroeconômico e que, ao serem reconhecidas pelo governo federal, passam a ser contabilizadas no quadro da Dívida Líquida do Setor Público como Ajuste Patrimonial.

TABELA 2 - DÍVIDA LÍQUIDA E BRUTA DO GOVERNO FEDERAL - 2003 E 2004

2003 2004

DISCRIMINAÇÃO

R$ milhões % do PIB R$ milhões % do PIB Dívida Líquida do setor público consolidado 913.145 57,2 956.994 51,8

Dívida líquida do governo geral 901.263 56,4 961.133 52

Dívida bruta do governo geral 1.228.569 76,9 1.331.758 72,1

Dívida interna 987.116 61,8 1.111.246 60,1

Dívida externa 241.453 15,1 220.512 11,9

Governo federal 222.418 13,9 201.881 10,9

Governos estaduais 16.429 1 15.980 0,9

Governos municipais 2.605 0,2 2.651 0,1

Créditos do governo geral -327.306 -20,5 -370.625 -20,1

Créditos internos -323.655 -20,3 -366.941 -19,9

Disponibilidades do governo geral -136.461 -8,5 -175.855 -9,5

Aplic. da Previdência Social -860 -0,1 -289 0

Arrecadação a recolher -1.587 -0,1 -745 0

Depósitos à vista (inclui ag. descentral) -4.371 -0,3 -3.965 -0,2 Disponibilidades do governo federal no Bacen -120.190 -7,5 -158.232 -8,6 Aplicações na rede bancária (estadual) -9.454 -0,6 -12.624 -0,7 Aplicações de fundos e programas financeiros -58.132 -3,6 -53.298 -2,9

Créditos junto às estatais -29.215 -1,8 -24.970 -1,4

Demais créditos do governo federal -25.624 -1,6 -25.800 -1,4

Recursos do FAT na rede bancária -74.223 -4,6 -87.018 -4,7

Créditos externos -3.651 -0,2 -3.683 -0,2

Governo federal -3.651 -0,2 -3.683 -0,2

Governos estaduais - - -

-Governos municipais - - -

-Dívida líquida do Banco Central -5.796 -0,4 -8.600 -0,5

Dívida líquida das empresas estatais 17.678 1,1 4.460 0,2

PIB (R$ milhões)(1) 1.596.846 - 1.847.872

-FONTE: Boletim do Banco Central - Relatório de 2004

NOTA: Inclui as dívidas do governo federal e dos governos estaduais e municipais com os demais agentes econômicos, inclusive o Bacen.

(1) PIB dos últimos 12 meses, a preços do mês assinalado. Deflator IGP-DI centrado (média geométrica das variações do IGP-DI no mês seguinte).

Segundo Pêgo Filho e Pinheiro (2004, p.10), "a classificação mais criteriosa e mais recente dos passivos contingentes encontra-se na Lei de Diretrizes Orça-mentárias – LDO 2004, que classifica os passivos contingentes em seis categorias".

1. passivos que resultam de controvérsias sobre indexação e controles de preços praticados durante planos de estabilização e que derivam, também, das soluções propostas para sua compensação;

2. passivos decorrentes de lides de ordem tributária e previdenciária;

3. questões judiciais pertinentes à administração do Estado, como as privatizações, a extinção dos órgãos, a liquidação de empresas e atos que afetam a administração de pessoal;

4. os chamados esqueletos ou dívidas passadas em processo de reconhecimento;

5. ativos decorrentes de operações de liquidação extrajudicial de instituições financeiras, além de créditos contra o Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS) e contra os estados, registrados no balanço do Banco Central do Brasil;

6. operações prestadas (aval e garantias) pela União aos demais entes da Federação e às empresas estatais.

São exemplos da primeira classe de passivos contingentes a correção dos cruzados bloqueados pelo Plano Color (março de 1990), as ações trabalhistas referentes à aplicação da Unidade Real de Valor - URV (primeiro semestre de 1994) e o percentual de reajuste dos saldos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Na segunda classe enquadram-se as ações das empresas que foram excluídas do cadastro do Programa de Recuperação Fiscal (Refis), em razão do não cumprimento do acordo com a Secretaria da Receita Federal (SRF). Encontram-se também nesta categoria os empréstimos compulsórios sobre consumo de combustíveis e compra de veículos (governo Sarney).

Na terceira classe incorporam-se, principalmente, as obrigações trabalhistas da Rede Ferroviária Federal S.A (RFFSA), da Ferrovia Paulista S/A – Fepasa, da Empresa Brasileira de Planejamento de Transporte (Geipot) e do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER).

Quanto à quarta classe, esta se compõe dos esqueletos ou das dívidas que estão em processo de reconhecimento na Secretaria do Tesouro Nacional (STN), destacando-se as dívidas relativas ao Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS), estimadas em 77,8 bilhões.

Na quinta classe estão, em sua maioria, os ativos decorrentes de liquidação extrajudicial de alguns bancos públicos, como o Banco do Estado do Rio de Janeiro e o Banco do Estado do Paraná.

Na sexta classe enquadram-se as ações impetradas por empregados ativos e aposentados de empresas estatais que reivindicam a reposição de expurgo inflacionário decorrente dos diversos planos de estabilização, bem como avais concedidos a estados e municípios.

A tabela 3, a seguir, apresenta os valores dos diversos ativos e passivos contingentes reconhecidos no período de 1996 a 2003.

TABELA 3 - AJUSTE PATRIMONIAL (PASSIVOS MENOS ATIVOS CONTINGENTES RECONHECIDOS) - FLUXOS ACUMULADOS DE 1996 A JUNHO DE 2003 AJUSTE PATRIMONIAL (em R$ milhões de junho de 2003)(1) TOTAL TIPO DE OCORRÊNCIA

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003(2) R$ % PIB(3)

Proes(4) 0 0 15.120 10.899 1.481 119 1.367 0 28.985 1,91

Securitização de dívidas diversas(5) 10.927 1.062 3.716 4.662 4.030 296 0 0 24.694 1,63

FCVS (securização + emissão de dívidas) 0 0 5.850 156 315 14.285 1.116 75 21.797 1,44

Capitalização do Banco do Brasil 13.172 0 0 0 0 0 0 0 13.172 0,87

Capitalização da Caixa Econômica Federal 0 0 0 0 0 9.407 0 0 9.407 0,62

Transferência para fundo de pensão (Petros) 0 0 0 0 0 0 7.450 0 7.450 0,49

Liquidação dos bancos Comind e Auxiliar 6.112 0 0 0 0 0 0 0 6.112 0,40

Reclassificação da dívida bancária 0 0 0 2.708 4.731 -1.783 -800 456 5.311 0,35

Emissão de Dívidas Vencidas e Renegociadas (DVR) 0 0 4.959 0 0 22 0 0 4.981 0,33

Assunção de dívidas do antigo Iapas 0 0 0 0 0 4.873 0 0 4.873 0,32

Provisionamentos de créditos a receber 0 0 0 0 3.061 -870 2.489 0 4.679 0,31

Emissão de NTNP(6) 0 6.095 0 0 0 0 2.012 0 4.083 0,27

Capitalização do Banco do Nordeste do Brasil 0 0 0 0 0 2.686 0 0 2.686 0,18

Reclassificação de ativos e obrigações da Telebras 0 0 2.352 0 0 0 0 0 2.352 0,16

Renegociação da dívida PGFN/CAF - Previhab 0 0 0 0 0 1.427 0 0 1.427 0,09

Inclusão de debêntures 0 -655 0 2.064 0 0 0 0 1.409 0,09

Capitalização Banco da Amazônia S.A. 0 0 0 0 0 1,136 0 0 1.136 0,07

Liquidação da Siderbras 0 682 0 0 0 0 0 0 682 0,05

Emissão de NTNC 0 0 0 0 0 0 614 65 678 0,04

Clearing entre o TN, o BNDES e o Fundo de Marinha Mercante 675 0 0 0 0 0 0 0 675 0,04

Clearing entre o BB, a CEF e o INSS 527 0 0 0 0 0 0 0 527 0,03

Exclusão do funcheque 0 0 0 0 0 0 0 453 453 0,03

Estorno das aplicações do Fundo de Marinha Mercante 0 392 0 0 0 0 0 0 392 0,03

Renegociação da dívida dos estados (Lei n.º 9.496) 0 0 0 137 0 0 0 0 137 0,01

Ajuste ref. aos Conselhos de Fiscalização de Profissões Liberais 0 11 0 0 0 0 0 0 11 0,00

TOTAL 31.414 7.587 31.997 20.626 13.617 31.598 10.223 1.049 148.110 9,77

FONTE: Banco Central do Brasil (dados primários) NOTA: Elaboração: Ipea/Dicod/CFP.

(1) Valores atualizados pelo IGP-DI.

(2) Valores apurados até junho de 2003.

(3) Usou-se o valor de R$ 1.515.419,0 milhões, correspondente ao PIB valorizado, acumulado nos últimos doze meses terminados em junho de 2003, atualizado pelo IGP-DI do mês (Fonte: Banco Central do Brasil).

(4) Inclui emissão de LFT-B e créditos contra o Estado de Alagoas e contra o Banco do Estado de Santa Catarina (Besc).

(5) Inclui dívidas securitizadas ao amparo da Lei n.º 9.496/97 (renegociação das dívidas dos Estados com a União) e dívidas da RFFSA.

(6) Títulos usados no processo de privatização de empresas controladas por estatais (como Petroquisa e, por exemplo, BR Distribuidora, etc.).

A partir do reconhecimento de um passivo contingente qualquer, e dependendo da forma de liquidação estabelecida em juízo, negociação com credores ou mesmo por tomada de decisão política, o governo poderá liquidar a dívida através de moeda originária de suas receitas fiscais ou pela emissão de moeda. Na impossibilidade de usar moeda para liquidação da dívida o governo poderá adotar o caminho da securitização da dívida, que é a sua liquidação por meio da emissão de títulos do tesouro nacional que irão compor, então, a Dívida Mobiliária Federal. Exemplo disso é a securitização das dívidas do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS), do Programa de Saneamento Financeiro dos Bancos Estaduais (Proes), do programa de ajuste fiscal dos estados, da capitalização da Caixa Econômica e Banco do Brasil, entre outros.