• Nenhum resultado encontrado

LISTAS DE ALIMENTOS E QUESTIONÁRIO DE FREQUÊNCIA

Nas tabelas a seguir, são apresentadas as listas de alimentos para elaboração do QFA. Ressalta-se que os itens “mingaus e papas”, “sucos de frutas”, “café” e “leite” foram analisados como preparações já adoçadas (açúcar ou adoçante dietético).

A Tabela 5 mostra os alimentos que contribuem para o fornecimento de energia na dieta dos idosos. Observa-se que apenas 21 alimentos fornecem até 95% da ingestão calórica. O item alimentar Mingaus e papas é o principal contribuinte.

Tabela 5 - Contribuição para o consumo total de energia (relativa e acumulada) dos alimentos consumidos pelos idosos que residem em ILPI, Natal-RN, 2013.

Classificação Alimento N % % acumulada

1 Mingaus e papas 767 18,77 18,77

2 Frutas e sucos de frutas 2144 10,53 29,30

3 Pães 655 8,38 37,67 4 Biscoitos 628 6,61 44,28 5 Leite 1263 5,87 50,15 6 Frango 300 5,18 55,33 7 Feijão 610 4,94 60,27 8 Carne bovina 286 4,43 64,70 9 Suplementos 350 3,68 68,38 10 Arroz 613 3,61 72,00 11 Peixes 130 3,58 75,58 12 Sopas 377 3,37 78,95 13 Café 966 3,23 82,18 14 Legumes e verduras 465 2,82 85,01 15 Iogurte 177 1,79 86,80 16 Doces 165 1,78 88,58 17 Tapioca 58 1,41 89,99 18 Bolos 71 1,34 91,33 19 Cuscuz 126 1,18 92,51 20 Raízes 74 1,09 93,60 21 Ovos 86 1,02 94,61

N = número de indivíduos que relataram o consumo do alimento; %= % de contribuição do alimento ao total do nutriente.

A Tabela 6 assinala os alimentos que contribuem para o fornecimento de proteína na dieta dos idosos. Observa-se que apenas 15 alimentos fornecem até 95% da ingestão de proteínas. O item alimentar Mingaus e papas, seguido de leite e frango (em menor proporção) são os principais contribuintes.

Tabela 6 - Contribuição para o consumo total de proteína (relativa e acumulada) dos alimentos consumidos pelos idosos que residem em ILPI, Natal-RN, 2013.

Classificação Alimento N % % acumulada

1 Mingaus e papas 767 34,88 34,88 2 Leite 1263 8,60 43,48 3 Frango 300 8,29 51,77 4 Carne bovina 286 5,80 57,57 5 Feijão 610 5,69 63,26 6 Peixes 130 5,35 68,61

7 Frutas e sucos de frutas 2144 5,03 73,64

8 Suplementos 350 3,41 77,04 9 Macarrão 104 3,39 80,43 10 Pães 655 2,84 83,27 11 Legumes e verduras 465 2,79 86,07 12 Sopas 377 2,74 88,81 13 Arroz 613 2,71 91,52 14 Iogurte 177 1,79 93,31 15 Biscoitos 628 1,59 94,90

N = número de indivíduos que relataram o consumo do alimento; %= % de contribuição do alimento ao total do nutriente.

Na Tabela 7 verificam-se os alimentos que contribuem para o fornecimento de gorduras totais na dieta dos idosos. Observa-se que apenas 19 alimentos fornecem até 95% do consumo de gorduras totais. O item alimentar Mingaus e papas, seguido de

Tabela 7 - Contribuição para o consumo total de gorduras totais (relativa e acumulada) dos alimentos consumidos pelos idosos que residem em ILPI, Natal-RN, 2013.

Classificação Alimento N % % acumulada

1 Mingaus e papas 767 12,84 12,84

2 Leite 1263 12,80 25,64

3 Frutas e sucos de frutas 2144 9,89 35,53

4 Carne bovina 286 7,56 43,08 5 Frango 300 7,09 50,17 6 Biscoitos 628 6,93 57,10 7 Peixes 130 5,19 62,29 8 Suplementos 350 3,95 66,24 9 Pães 655 3,41 69,65 10 Feijão 610 3,10 72,74 11 Margarina de mesa 154 3,05 75,79 12 Iogurte 177 2,92 78,71 13 Legumes e verduras 465 2,88 81,58 14 Ovos 86 2,70 84,28 15 Sopas 377 2,43 86,71 16 Arroz 613 2,24 88,95 17 Bolos 71 1,76 90,71 18 Doces 165 1,54 92,25 19 Café 966 1,50 93,75

N = número de indivíduos que relataram o consumo do alimento; %= % de contribuição do alimento ao total do nutriente.

A Tabela 8 indica os alimentos que contribuem para o fornecimento de carboidratos na dieta dos idosos. Observa-se que apenas 17 alimentos fornecem até 95% da ingestão de carboidratos. Os itens alimentares Mingaus e papas, frutas e sucos, pães

Tabela 8 - Contribuição para o consumo total de carboidratos (relativa e acumulada) dos alimentos consumidos pelos idosos que residem em ILPI, Natal-RN, 2013.

Classificação Alimento N % % acumulada

1 Mingaus e papas 767 21,21 21,21

2 Frutas e sucos de frutas 2144 17,61 38,82

3 Pães 655 10,41 49,23 4 Biscoitos 628 6,85 56,08 5 Leite 1263 6,55 62,64 6 Feijão 610 5,01 67,65 7 Café 966 4,28 71,93 8 Arroz 613 4,06 75,99 9 Legumes e verduras 465 3,66 79,65 10 Suplementos 350 3,08 82,72 11 Sopas 377 2,79 85,51 12 Doces 165 2,34 87,86 13 Tapioca 58 2,05 89,91 14 Raízes 74 1,62 91,53 15 Cuscuz 126 1,30 92,83 16 Bolos 71 1,20 94,03 17 Farinha de mandioca 85 0,97 94,99

N = número de indivíduos que relataram o consumo do alimento; %= % de contribuição do alimento ao total do nutriente.

A Tabela 9 aponta os alimentos que contribuem para o fornecimento de cálcio na dieta dos idosos. Observa-se que somente 13 alimentos fornecem até 95% da ingestão de desse nutriente e apenas Mingaus e papas, leite e iogurte são responsáveis pelo consumo de aproximadamente 70% do cálcio da dieta.

Tabela 9 - Contribuição para o consumo total de cálcio (relativa e acumulada) dos alimentos consumidos pelos idosos que residem em ILPI, Natal-RN, 2013.

Classificação Alimento N % % acumulada

1 Mingaus e papas 767 36,66 36,66

2 Leite 1263 25,16 61,81

3 Iogurte 177 8,06 69,87

4 Frutas e sucos de frutas 2144 5,69 75,56

5 Suplementos 350 4,37 79,93 6 Pães 655 2,95 82,88 7 Feijão 610 2,49 85,37 8 Queijos 154 2,10 87,47 9 Peixes 130 1,99 89,45 10 Arroz 613 1,51 90,97 11 Legumes e verduras 465 1,22 92,19 12 Sopas 377 1,12 93,31 13 Tubérculos 140 1,02 94,34

N = número de indivíduos que relataram o consumo do alimento; %= % de contribuição do alimento ao total do nutriente.

Na Tabela 10 estão apresentados os 9 alimentos que contribuem para o fornecimento de Vitamina D na dieta dos idosos. Observa-se que ovos e mingaus e

papas são responsáveis pelo consumo de aproximadamente 50% da Vitamina D na dieta

dos idosos.

Tabela 10 - Contribuição para o consumo total de vitamina D (relativa e acumulada) dos alimentos consumidos pelos idosos que residem em ILPI, Natal-RN, 2013.

Classificação Alimento N % % acumulada

1 Ovos 86 37,67 37,67 2 Mingaus e papas 767 13,05 50,72 3 Bolos 71 10,50 61,22 4 Frango 300 8,73 69,95 5 Feijão 610 6,55 76,50 6 Suplementos 350 6,13 82,63 7 Margarina de mesa 154 5,06 87,69 8 Legumes e verduras 465 4,04 91,72 9 Peixes 130 2,42 94,14

N = número de indivíduos que relataram o consumo do alimento; %= % de contribuição do alimento ao total do nutriente.

A Tabela 11 apresenta a lista (n = 26) e as porções médias de alimentos do QFA desenvolvido para aplicação em idosos que residem em ILPI. Já a estrutura final do QFA encontra-se no Apêndice I.

Tabela 11 - Porções médias (em gramas e medidas caseiras) dos itens alimentares do Questionário de Frequência Alimentar para idosos que residem em ILPI.

Item Alimentar PR Medida Caseira Alimento Referência

Arroz 102,29 1 colher de servir cheia Arroz refogado (99,7g)

Biscoitos 23,17 4 unidades Biscoito cream cracker (22,9g) Bolos 53,08 1 fatia média Bolo ameixa (53,2g)

Café 114,24 ½ caneca Café puro (130ml)

Carne bovina 63,66 1 concha pequena Carne moída (70g) Cuscuz 80,87 1 colher de servir cheia Cuscuz (82,2g) Doces 74,63 1 colher de servir Gelatina (83g)

Farinha de mandioca 27,69 1 colher de sopa Farinha de mandioca (18,7g) Feijão 117,13 1 concha média Feijão carioca (124,7g) Frango 66,97 1 ½ colher de servir Frango desfiado (57,8g) Frutas/sucos de frutas 141,60 1 fatia grande / ½ caneca Mamão (134g) / Suco (146ml)

Legumes e verduras 42,42 2 colheres de servir Salada crua (41,6g)

Leite 99,61 ½ xícara de chá Leite (98ml)

Macarrão 73,69 1 ½ colher de servir Macarrão (84,5g) Margarina de mesa 13,93 1 colher de chá Margarina (15g) Mingaus e papas 241,84 1 ½ concha Papa (254,7g)

Ovos 57,01 1 unidade Ovo cozido (53,5g)

Pães 42,78 2 fatias Pão forma integral (43,4g)

Peixes 67,34 ½ posta Peixe frito (66g)

Queijos 14,93 ½ fatia fina Mussarela (12g)

Raízes 128,71 1 pedaço médio Macaxeira (116,2g)

Sopas 259,84 2 conchas média Sopa (279g)

Suplementos 55,53 7 colheres medidas Novasource GC® (55g) Tapioca 73,42 1 unidade média Tapioca com margarina (68g) Tubérculos 32,95 1 rodela pequena Batata doce (33,4g)

6 DISCUSSÃO

A caracterização da população pesquisada nas ILPI de Natal-RN não difere do que se observa nas demais ILPI do Brasil. Trata-se de residentes, em grande maioria, do sexo feminino, longevos (acima de 80 anos), com baixo nível de escolaridade e que vivem em ILPI sem fins lucrativos (IPEA, 2008).

A predominância do sexo feminino já era esperada diante do processo de feminização do envelhecimento (MOREIRA, 1998; ALMEIDA et al., 2015). O censo de 2010 apontou a razão de sexo para idosos de 80 homens para cada 100 mulheres no país (IBGE, 2014a), no entanto, a maior sobrevivência desse grupo esteve associada ao maior tempo de incapacidade funcional (CAMARGOS; PERPÉTUO; MACHADO, 2005), requerendo a dependência de arranjos institucionais (CAMARANO; KANSO, 2010b).

Admite-se que o avanço da idade acarreta o aumento de fragilidades e a perda de autonomia para o desempenho de atividades básicas da vida diária. Sendo assim, o crescimento desse segmento populacional implica em um aumento da demanda por cuidados de longa duração (IPEA, 2008).

Em levantamento realizado no Brasil, o IPEA constatou que a grande maioria das ILPI é filantrópica (65,2%), incluindo as religiosas e leigas, sendo a região Nordeste a que contém a maior proporção (81,4%) (IPEA, 2008, 2011). Via de regra, as ILPI sem fins lucrativos surgem a partir da necessidade de uma comunidade, portanto, predomina o caráter assistencial e, desse modo, podem apresentar problemas na qualidade dos serviços oferecidos, afetando as condições de vida dos que ali residem (BORN; BOECHAT, 2006).

O fato de “não ter cuidador” como a principal causa da sua institucionalização, tem explicação em razão das importantes mudanças ocorridas na estrutura da família brasileira, com diminuição da disponibilidade de cuidadores, especialmente entre as mulheres. Historicamente, o motivo basilar para esse tipo de amparo era a falta de moradia ou pobreza, no entanto, diante da transição demográfica e de suas consequências, a necessidade atual é a de um local que acolha o idoso com comprometimento da sua capacidade cognitiva, física ou mental (CAMARANO; MELLO, 2010; CAMARANO; KANSO, 2010b). Observa-se que as ILPI da pesquisa convergem para essa nova perspectiva, já que acolhem elevado número de idosos com restrição de mobilidade, apresentando alta prevalência de doenças, especialmente as

DCNT, com excessivo consumo de medicamentos, necessitando de ajuda para se alimentar e com estado nutricional prejudicado.

A frequência elevada dos idosos da pesquisa com restrição de mobilidade assemelha-se aos resultados do estudo de Silva et al. (2013) realizado em ILPI em Minas Gerais-MG, que identificaram 55,6% dos idosos com mobilidade física prejudicada. Parahyba e Veras (2008) ao avaliarem os dados de mobilidade de idosos na Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD) de 1998 e 2003, afirmaram que a maior prevalência de incapacidade funcional está entre as mulheres, os mais idosos, os de renda mais baixa e entre aqueles com menos educação.

A diminuição da capacidade funcional, seja por desgastes nos vários sistemas corporais ou ocasionados por sequelas das doenças crônicas (KARSCH, 2003) reduz a autonomia física do idoso, tornando-o cada vez mais dependente (SOUZA et al., 2013). Na ILPI essa condição poderá agravar-se devido à desobrigação da realização de várias tarefas do dia a dia no local, associados, ainda, à inatividade física (SILVA et al., 2013). Os dados sobre a prática de atividade física revelam que muitos idosos residentes em ILPI de Natal são fisicamente inativos. Resultados mais preocupantes foram encontrados em asilos de Pelotas-RS, onde 90,5% dos idosos relataram ser fisicamente inativos (DEL DUCA et al., 2012) e em todos os idosos (n=75) de uma instituição de Campos dos Goytacazes-RJ (PASSOS; FERREIRA, 2010).

Nesse sentido, torna-se imprescindível a realização de programas de atividades e exercícios físicos apropriados em ILPI em busca da manutenção e/ou recuperação do processo de envelhecimento mais ativo (GONÇALVES et al., 2010), objetivando reduzir os níveis de ansiedade e depressão, melhorar o humor, o bem-estar físico e psicológico, além de favorecer uma adaptação e/ou reintegração do idoso ao ambiente asilar (MOURÃO; SILVA, 2010).

No tocante às principais comorbidades, a hipertensão arterial sistêmica é identificada como a doença de maior prevalência entre os idosos da pesquisa. Resultados similares foram apresentados por Ferreira et al. (2014) que apontaram uma prevalência de 46% entre idosos institucionalizados em uma cidade de São Paulo, por Borges et al. (2015) que identificaram 45,5% de hipertensos em uma ILPI de Fortaleza- CE e por Vilarroel et al. (2012) com idosos de asilos espanhóis (40,2%). Lima-Costa et al. (2011) ao avaliarem as tendências dos indicadores das condições de saúde dos idosos brasileiros, a partir da utilização das três PNAD (1998, 2003 e 2008), identificaram uma elevação da prevalência de HAS que passou de 43,9% para 53,3% em 10 anos.

Associado à elevada prevalência de hipertensão, bem como de outras doenças crônico-degenerativas nos idosos, está o uso contínuo de medicamentos. Observa-se que acima de 40% do grupo pesquisado consome mais de cinco medicamentos por dia e apenas 3% não usam medicamentos diariamente (dados não apresentados). Esse elevado consumo, sem dúvidas, afeta tanto o estado nutricional dos idosos quanto à biodisponibilidade dos fármacos e dos nutrientes. Além disso, o estado nutricional é um importante aliado na resposta do fármaco, já que o uso contínuo por idosos pode ter seu efeito modificado pelos distúrbios nutricionais (FARIA; FRANCESCHINI; RIBEIRO, 2010).

O estado nutricional observado, utilizando a triagem nutricional (MAN) ou o IMC, aponta elevada prevalência de risco de desnutrição, desnutrição e baixo peso. Os dados encontrados na população pesquisada são menores quando comparados aos idosos institucionalizados de Uberlândia-MG (risco de desnutrição: 41,6%; desnutrição: 26,2%) (SOUZA et al., 2014) e de uma coorte de idosos residentes em asilos no Reino Unido (30% e 56%, respectivamente) (GORDON et al., 2014), ambos utilizando a MAN. Para o IMC, a prevalência de baixo peso também é menor quando confrontados com estudos realizados em instituições geriátricas de Florianópolis-SC (45,5%) (RAUEN et al., 2008) e de Fortaleza-CE (53,1%) (MENEZES; MARUCCI, 2010), no entanto, é maior quando comparada com idosos de lares geriátricos na Espanha que apresentaram prevalência de 24,4% para baixo peso (VILARROEL et al., 2012).

É importante ressaltar que nenhum dado antropométrico da pesquisa com idosos residentes nas ILPI de Natal-RN foi estimado, diferente do que revelam Rauen et al. (2008) que utilizaram equações de estimativa em alguns casos. Em estudo recente com idosos institucionalizados, Lima et al. (2016) apontaram que algumas equações de estimativas podem subestimar ou superestimar o peso em até 5Kg. Sendo assim, essa menor prevalência de desnutrição não significa necessariamente que os idosos residentes em Natal estejam com melhor estado nutricional comparado a outros. Além disso, os dados de Natal condizem com a média de 20% de desnutrição encontrada em revisão sistemática recente (BELL; LEE; TAMURA, 2015).

Souza e Guariento (2009) afirmaram que a desnutrição em idosos é comum, pois com o envelhecimento o consumo alimentar diário tende a diminuir. Sobre este fato, isso poderá ser ainda mais grave quando direcionamos o olhar para as ILPI. Estevez et al. (2013) comparando idosos que residem ou não em instituições na Espanha, afirmaram que os idosos que vivem em ILPI tiveram 4 vezes mais chance de ficarem

desnutridos. Törmä et al. (2013) em estudo de um seguimento de idosos institucionalizados na Suécia por um ano, perceberam que a desnutrição se associa com a cognição deteriorada, função e aumento da mortalidade. Portanto, é um grupo que necessita de atenção especial quanto ao seu estado nutricional.

Nesse sentido, destaca-se que todo o funcionamento das ILPI devem seguir as normativas estabelecidas pela ANVISA (RDC nº 283 de 26 de Setembro de 2005) que determina entre os padrões mínimos de funcionamento para as instituições asilares, a notificação mensal da prevalência de desnutrição dos idosos residentes (BRASIL, 2005).

Lopez-Contreras (2012) ressaltou que a avaliação nutricional nessa fração da população é necessária devido à alta prevalência de desnutrição existente, independente do método utilizado. O autor sugeriu a utilização da combinação de métodos para o fornecimento de um melhor diagnóstico, uma vez que as medidas antropométricas podem ser afetadas por desidratação ou edema, os parâmetros bioquímicos sofrem alterações na presença de doenças e o baixo consumo dietético pode associar-se ao aumento de demandas metabólicas.

No que diz respeito aos dados sobre necessidade de ajuda para se alimentar, constata-se que uma parcela importante dos idosos apresenta esta característica. Resultados similares foram publicados por Westergren e Hedin (2010) em ampla pesquisa realizada em asilos de seis municípios da Suécia (49%). No entanto, os dados encontrados em pesquisas com idosos institucionalizados no Sudeste do Brasil, seja de Ribeirão Preto-SP (13,8%) (PELEGRIN et al., 2008) ou de Montes Claros-MG (13,6%) (MARINHO et al., 2013), foram bem menores. Em revisão sistemática, Bell et al. (2013) verificaram que os dados sobre dependência para alimentação variaram muito (8-87%).

A adequação da dieta e a garantia da sua ingestão são condições primordiais para que idosos institucionalizados alcancem seu bom estado nutricional (SILVA et al., 2015). Idosos dependentes de ajuda para se alimentar e com ingestão oral deficiente aumentam suas chances de perder peso e desenvolver desnutrição, sendo esta um fator de risco para mortalidade nesse grupo (BELL et al., 2013).

Adicionalmente, a avaliação do consumo energético dos idosos pesquisados revela que mais da metade tem consumo insatisfatório, frequência bastante elevada em relação a outras pesquisas em asilos, como a de Lopes (2014) em Salvador-BA (19,4%) e a de Vilarroel et al. (2012) na Espanha (44%).

Muitos são os fatores que podem estar envolvidos na elevada prevalência da inadequação de energia, que também resulta na grande proporção de idosos desnutridos ou com baixo peso. Entre esses fatores destacam-se: mudança no comportamento alimentar que pode estar vinculada à ansiedade decorrente do desamparo da família (BURLÁ; PY; SCHARFSTEIN, 2010); submissão às normas rígidas dentro da instituição, com imposição de práticas alimentares, horários e quantidades de alimentos delimitados (OLIVEIRA; VERAS; PRADO, 2010b); monotonia alimentar (SANTELLE; LEFÈVRE; CERVATO, 2007) relacionadas à situação econômica da ILPI (CARVALHO et al., 2003), restrições dietéticas decorrentes da presença de enfermidades (LABOSSIERE; BERNARD, 2008), além das alterações fisiológicas inerentes ao envelhecimento (CAMPOS; MONTEIRO; ORNELAS, 2000).

Passos e Ferreira (2010) em pesquisa com lares geriátricos do Rio de Janeiro e Sánchez-Campillo et al. (2010) com os da Espanha, verificaram que os cardápios oferecidos aos idosos possuíam valor energético acima do adequado, podendo conduzir ao ganho de peso e ocasionar a obesidade. De fato, a necessidade de adequação dos cardápios oferecidos se faz necessária, preferencialmente com alimentos variados, de forma contínua e respeitando os princípios de uma alimentação saudável. No entanto, as ILPI precisam garantir a redução do rejeito alimentar, estimulando o consumo dos alimentos ofertados.

Em relação ao perfil alimentar, a dieta básica dos idosos institucionalizados da capital potiguar é caracterizada especialmente pelo consumo de laticínios, arroz, frutas e oleaginosas, feijão e sucos. Considerando o consumo desses alimentos a partir do nível de processamento, como recomenda o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014), trata-se de alimentos in natura ou minimamente processados, exceto para as “bebidas à base de soja” (subgrupo de “sucos”), classificadas como alimento processado. Esses alimentos são denominados dessa forma, pois são fabricadas pela indústria e contêm ingredientes que os tornam duráveis. No entanto, no caso específico dos idosos da pesquisa, eles foram consumidos por apenas 1,3% (dados não apresentados) e estão dentro de um contexto de restrição dietética para aqueles com intolerância à lactose.

A identificação dessa dieta básica condiz com os dados sobre alimentação dos idosos brasileiros não institucionalizados, apontados pela POF 2008-2009 (IBGE, 2011), a qual constatou que o consumo de laticínios, frutas e oleaginosas ocorreu em maior quantidade entre os idosos. A pesquisa brasileira também destacou o consumo de

verduras/legumes e queijos maior nesse grupo quando comparada às outras faixas etárias. Para os idosos desta pesquisa, verduras e legumes encontram-se entre os dez alimentos mais consumidos (8ª posição), no entanto, os queijos são consumidos por uma pequena parcela dos idosos (19ª posição), especialmente nas ILPI com fins lucrativos e por mulheres.

Em pesquisa realizada em lares geriátricos em quatro cidades na Espanha, Mila et al. (2012) perceberam que entre os alimentos mais consumidos estavam sucos de frutas (100%), leite e produtos lácteos (98,9%) e frutas (94%), sendo os seus consumos insuficientes. Essa frequência do consumo foi semelhante nos idosos de Natal, diferindo em relação ao tamanho da porção média de laticínios e frutas, que foram maiores na Espanha (311g e 131g, respectivamente).

Já bastante discutido, o consumo alimentar de idosos que residem em ILPI sofre influência de múltiplos fatores, desde fisiológicos (CAMPOS; MONTEIRO; ORNELAS, 2000), patológicos (LABOSSIERE; BERNARD, 2008) e comportamentais do idoso (BURLÁ; PY; SCHARFSTEIN, 2010) até fatores institucionais, incluindo a condição socioeconômica e o número de cuidadores para auxiliar nas tarefas básicas, como a alimentação (CARVALHO et al., 2003). Por ser um grupo notadamente fragilizado (VAN KAN et al., 2010) e composto frequentemente por idosos longevos, a ingestão inadequada de alimentos é comum quando comparada a idosos que residem em comunidades (DONINI et al., 2013).

Também merece destaque o consumo frequente de arroz e feijão entre idosos institucionalizados de Natal. Em pesquisa realizada por Camargos et al. (2015) sobre os aspectos da alimentação de três ILPI de Minas Gerais-MG, identificou-se que os asilos serviam diariamente arroz, feijão, carne e legumes no almoço dos idosos e pouco mais de 40% acrescentaram outros alimentos além destes.

A combinação de feijão com outro cereal é relatado desde o Brasil colonial, onde brasileiros, ricos e pobres, sempre comeram feijão com farinha diariamente, diferenciando entre o tipo do feijão e o seu modo de preparo (ELIAS, 2007). Atualmente, o arroz substituiu a farinha (BARBOSA, 2007) e compõe a dieta básica dos brasileiros com uma combinação de excelente qualidade nutricional juntamente com o feijão. Dados recentes têm constatado uma tendência temporal de declínio do seu consumo (IBGE, 2011).

A POF (2008-2009) destacou que feijão e milho, bem como suas preparações, são itens alimentares mais consumidos nas faixas de menor renda (IBGE, 2011). Para os

idosos institucionalizados de Natal e utilizando o tipo de ILPI como proxy para a condição socioeconômica, apenas o milho apresenta essa desigualdade no consumo, sendo maior entre as ILPI sem fins lucrativos.

O baixo consumo de alimentos considerados marcadores não saudáveis (BRASIL, 2015b), como refrigerantes, carnes processadas, salgados e pizzas, também foi identificado entre os idosos brasileiros não institucionalizados. Contudo, ressalta-se que os idosos das ILPI com fins lucrativos possuem consumo elevado de doces (50% a mais) quando comparados aos das ILPI sem fins lucrativos, sendo maior na faixa etária de 60 a 69 anos. Vale lembrar que nas categorias de agrupamentos para análise, marcadores não saudáveis como biscoitos recheados, doces e guloseimas, foram classificados como “doces”. Em relação ao consumo médio de doces, observa-se uma menor ingestão entre os idosos de Natal quando comparado ao consumo desse mesmo grupo de alimentos por idosos espanhóis (MILA et al., 2012), os quais apresentaram o dobro do consumo (61,8g). No entanto, ressalta-se que os dados sobre o consumo de doces do grupo pesquisado em Natal não inclui açúcar de adição, o que poderia aumentar a média consumida.

O elevado consumo de açúcares merece uma atenção especial, sobretudo em uma população onde a prevalência de problemas de saúde como o diabetes é alta (MILA et al., 2012). O guia alimentar recomenda evitar o consumo de alimentos não saudáveis, pois são nutricionalmente desbalanceados, contendo elevadas quantidades de sal, açúcar, óleos e gorduras e aditivos alimentares, cuja função é estender a duração dos alimentos e dotá-los de aspectos que os tornem atraentes (BRASIL, 2014).

Ao caracterizar a frequência do consumo por faixa etária, além do consumo maior de doces nos idosos “mais jovens”, ressalta-se o de carnes salgadas nos idosos

Documentos relacionados