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O litoral do Paraná se estende por aproximadamente 107 km, com limites ao norte no Canal do Varadouro (25o 12' S) e ao sul na foz do Rio Saí-Guaçu (25o 58'S). Essa faixa está incluída na região marítima sudeste do Brasil, situada entre Cabo Frio – RJ e o Cabo de Santa Marta – SC. Essa área é caracterizada pela grande extensão da plataforma continental, com largura variando entre 175 e 190 km, e quebra do talude a cerca de 150 metros de profundidade. Na plataforma continental paranaense elevam-se grupos de pequenas ilhas gnais-graníticas, como o Arquipélago de Currais, que são elevações do complexo cristalino que forma a base da plataforma continental (MAACK, 1981). A

cobertura sedimentar dessa área é composta, em sua maior parte, por areia, lama e argila, e com exceção dos poucos substratos rochosos que margeiam as ilhas paranaenses, a plataforma continental do Paraná é dominada por fundos arenosos (MATSUURA, 1986). As feições fisiográficas da plataforma continental, somadas às características oceanográficas e climáticas, determinam a qualidade e a potencialidade dos recursos pesqueiros. No caso da região sudeste-sul, a convergência subtropical favorece o desenvolvimento da ictiofauna, sendo o seu deslocamento norte/sul responsável pelas oscilações espaciais e sazonais na distribuição das populações de peixes na região (NETO e MESQUITA, 1988). Estas oscilações e o aumento da riqueza da ictiofauna devem-se ao fato de a plataforma no sul do Brasil estar localizada na região de transição entre as zonas tropical e temperada.

Os centros básicos que controlam as condições meteorológicas do Brasil Sudeste e Meridional são os anticiclones subtropicais do Atlântico e do Pacífico, o anticiclone Migratório Polar e o centro de baixa pressão situado a leste dos Andes, entre o Trópico de Capricórnio e a latitude de 300 S (BIGARELLA, 1978). A variação diurna da direção dos ventos é um aspecto normal. As brisas marinhas de leste e sudeste sopram geralmente durante o dia do mar para o interior, com velocidade média de 2,21 m/s. À noite ocorre uma situação diversa, com ventos soprando do sudoeste e do sul. Os ventos de leste e sudeste são dominantes, com frequência de 43,4%, seguidos do setor sul, com frequência de 33%. Menos frequentes são os do norte e nordeste, com 5,9% e 6,8%, respectivamente (BIGARELLA, 1978). De acordo com Maack (1981), a temperatura média anual para o litoral paranaense é de 21,10 C; o mês mais quente é janeiro com média de 24,90 C, e o mais frio é julho com 170 C. Fevereiro apresenta o maior índice de precipitação, em média 304 mm, em julho chove menos, média de 61 mm. Os doze meses são úmidos, com precipitação média anual de 1976,4 mm. Seguindo a classificação de Koepen, o clima da planície litorânea é do tipo Cfa, assim como apresentado por Bigarella (1978) e Prata-Jr (1997), ou seja, pluvial temperado, com chuvas em todos os meses do ano. Porém Maack (1981) recomenda alterar o símbolo Cfa por Aft, caracterizando o clima como sendo tropical de transição, sempre úmido com chuvas em todos os meses. Com base no comportamento das médias mensais de temperatura e precipitação, é possível distinguir dois períodos característicos durante o ano. Um semestre chuvoso e quente, abrangendo os meses de novembro a abril, com média de precipitação semestral de 1.319,79 mm e temperatura média mensal de 23,580 C. O outro semestre, de maio a outubro, é menos chuvoso e mais frio, com temperatura média mensal de 18,680 C e índice de precipitação média de 656,60 mm.

Na costa paranaense ocorrem dois estuários denominados de Baía de Paranaguá, que representa o maior estuário da costa sul do Brasil com 601 km2 de extensão (BIGARELLA, 1978) e a Baía de Guaratuba, consideravelmente menor, adentrando ao continente por aproximadamente 15 km. A Baía de Paranaguá possui dois eixos principais de orientação: um no sentido leste-oeste, com extensão aproximada de 50 km e largura máxima de 7 km, formado pelas Baías de Paranaguá e Antonina e outro orientado no sentido norte-sul, com cerca de 30 km de extensão e máxima de 13 km de largura, compreendendo as baías de Guaraqueçaba e Laranjeiras (KNOPPERS et al., 1987). A Baía dos Pinheiros se comunica de forma restrita com a Baía das Laranjeiras através de um estreito canal de aproximadamente 100 metros de largura e profundidade em torno de três metros. Essas características foram invocadas por Ângulo (1993) para considerar o sistema lagunar Baía dos Pinheiros como um sistema distinto e apenas associado à Baía de Paranaguá. Em direção oposta, há comunicação desta baía com o Mar de Ararapira através do canal do Varadouro, que teve uma porção do seu trajeto escavada durante o ano de 1950, o que definitivamente transformou Superagui em ilha (IPARDES, 2001). O Mar de Ararapira é um estreiro canal de aproximadamente 500 metros de largura e 16km de extensão, que separa a Ilha de Superagui da Ilha do Cardoso, em São Paulo. O mar de Ararapira se comunica com o mar através da Barra de Ararapira; com a região lagunar de Cananéia através do Canal de Ararapira e a Baía do Tapendre, que separa a Ilha do Cardoso do continente.

O litoral paranaense abriga um mosaico altamente diverso e complexo de fitofisionomias: Floresta Atlântica de Baixada, Dunas, Praias Arenosas e Lodosas, Manguezais, bem como Campos Naturais, Brejos, Banhados e Sistemas Lagunares Litorâneos (BIGARELLA, 1978; MAACK, 1981; IPARDES, 2001), com destaque para a grande diversidade de flora, de fauna e pelo considerável número de espécies endêmicas e ameaçadas (IPARDES, 2001). Muitos destes ambientes se encontram pouco degradados, por exemplo, importantes remanescentes de Floresta Atlântica, assim como os ecossistemas marinhos associados às baías, que estão entre os menos impactados do sudeste/sul brasileiro (LANA et al., 2001). Essas características são reflexos do padrão de ocupação do território paranaense, que teve estabelecimento de grandes contingentes populacionais e atividade industrial além da Serra do Mar, o que manteve a região costeira à margem dos modelos de desenvolvimento adotados nas últimas décadas (ANDRIGETTO FILHO, 2002). As condições de conservação dos ambientes costeiros do Paraná associado à extrema relevância biológica da região e resultaram no reconhecimento de cinco áreas prioritárias para a conservação no sistema da Zona

Costeira e Marinha do Brasil: Complexo Estuarino Baía de Paranaguá; Ilhas costeiras do Paraná; Planície de Praia de Leste; Baía de Guaratuba e Planície costeira sul de Guaratuba (BIO-RIO, 2002). No entanto, este litoral também se caracteriza pelos seus paradoxos, pois abriga grandes riquezas ambientais e culturais, mas ainda apresenta graves problemas sociais; apresenta valiosos remanescentes naturais, mas com crescentes níveis de degradação; e permanece subdesenvolvido, apesar de seu potencial econômico (ANDRIGUETTO FILHO, 2002; PIERRI, 2003).

Unidades de Conservação

A presença de importantes remanescentes florestais, grande diversidade biológica e também fisionomias geográficas foram determinantes para a implantação de muitas Unidades de Conservação (UCs) no ambiente costeiro paranaense. Atualmente estão presentes pelo menos 24 UCs distribuídas nos sete municípios costeiros (Tabela 2), as quais abrangem desde ecossistemas marinhos até formações montanhosas que chegam ao primeiro planalto paranaense. Entre as UCs é expressivo o número daquelas de UCs de uso sustentável, indicando certa preocupação em conciliar a proteção dos ecossistemas locais com a demanda pelo uso desses espaços, tanto por comunidades rurais, tradicionais ou não, quanto por centros urbanos.

Outra característica regional é a constante presença de núcleos de habitação humana, dentro das UCs ou no seu entorno imediato. Esse tema é assunto recorrente na gestão das unidades e provoca intensa discussão acadêmica (DIEGUES, 1993; DIEGUES e NOGARA, 1994; DIEGUES, 2000; NEVES, 2003). Nesse sentido, a demarcação da área do PARNA do Superagui suscitou e ainda suscita discussões importantes sobre o uso da paisagem e a demarcação de unidades de conservação. Este é o caso do PARNA do Superagui, que incluiu núcleos de pescadores artesanais na área demarcada desta UC (VIVEKANANDA, 2000).

Tabela 2: Localização e características das Unidades de Conservação (UCs) do litoral paranaense.

Tipo Nome Jurisdição Área (ha) Ato de criação Município

P ro te çã o In te g

r PF do Rio da Onça Estadual 118,51 Dec. 3.825 de 04.06.1981 Matinhos

Mel

PE do Boguaçu Estadual 6.660,64 Dec. 4.056 de 26.02.1998 -

alterado Lei 13979 de 26.12.2002

Guaratuba

PE da Graciosa Estadual 1.189,58 Dec. 7.302 de 24.10.1990 Morretes

PE Pico do Marumbi Estadual 2.342,41 Dec. 7.300 de 24.10.1990 Morretes

EE do Guaraguaçu Estadual 1.150,00 Dec. 1.230 de 27.03.1992 Paranaguá

PE do Pau Oco Estadual 905,58 Dec. 4.266 de 21.11.1994 Morretes

PE Roberto Ribas Lange

Estadual 2.698,69 Dec. 4.267 de 21.11.1994 Antonina, Morretes

U C s d e U s o S u st e n v e l APA Estadual de Guaraqueçaba Estado 191.595,50 Decreto 1.228 de 27.03.1992 Guaraqueçaba APA Federal de Guaraqueçaba

Federal 291.498,00 Decreto nº 90.883/85 Guaraqueçaba,

Antonina, Campina G. do Sul e Paranaguá. APA Estadual de

Guaratuba

Estadual 199596,51 Dec. 1.234 de 27.03.1992 Guaratuba; São José

dos Pinhais, Tijucas do Sul, Morretes,

Paranaguá e Matinhos

FloE do Palmito Estadual 530,00 Dec. 4.493 de 17.06.1998 Paranaguá

RPPN Salto do Morato Federal 819,18 Portaria 132/94-N Guaraqueçaba

PE Ilha do Mel Estadual 337,84 Dec. 5506 de 21.03.2002 Paranaguá

PARNA do Superagui Federal 34.254,00 Decreto 97.688/1989; lei

9513/1997

Guaraqueçaba

AEIT do Marumbi Estadual 66732,99 Lei 7.919 de 22.10.1984 Antonina; Morretes, São

José dos Pinhais Piraquara, Quatro Barras, Campina Grande do Sul

RPPN Sebuí Federal 400,78 Portaria 99/99-N Guaraqueçaba

PE Pico Paraná Estadual 4.333,83 Dec. 5769 de 05.06.2002 Campina Grande do

Sul, Antonina

EE de Guaraqueçaba Federal 13.638,90 Decreto nº 87.222/1982 Guaraqueçaba

ARIE de Pinheiro e Pinheirinho

Federal 109 Decreto nº 91.888/1985 Guaraqueçaba

PARNA Saint-Hilaire/ Lange

Federal 25.161 Lei nº 10.227/2001 Matinhos, Paranaguá,

Morretes, Guaratuba PNat. Municipal do

Manguezal do Rio Perequê

Municipal 3.307 Dec. 706 de 10.09.2001 Pontal do Paraná

PNat. Municipal da Restinga

Municipal 3.945 Dec. 1120/02 Pontal do Paraná

RPPN Sítio do Bananal Federal 28,84 Portaria 49/02 Morretes

AEIT= Área de Especial Interesse Turístico; APA = Área de Proteção Ambiental; ARIE = Área de Relevante Interesse Ecológico; EE = Estação Ecológica; FloE = Floresta Estadual; PARNA = Parque Nacional; PE = Parque Estadual; PF = Parque Florestal; PNat = Parque Natural; RPPN = Reserva Particular do Patrimônio Natural.

O Parna do Superagui possui uma área total de 34.254,00 ha, que compreende toda a bacia de drenagem do Rio dos Patos e do Rio do Varadouro, sendo limitado pelo Oceano Atlântico, Canal de Superagui, Baía dos Pinheiros e Canal do Varadouro (VIVEKANANDA, 2001). O Parna Superagui está inserido na planície costeira e sua área

é constituida predominantemente por depósitos sedimentares do Holoceno e Pleistoceno, com antigos cordões litorâneos como aspecto morfológico marcante. Uma das grandes feições geomorfológicas da região litorânea do Paraná são as planícies, que se caracterizam pelo relevo plano e formado por sedimentos de origem marinha e continental. A vegetação da Ilha do Superagui é classificada em 11 tipologias vegetais distintas, com predominância de Formações Pioneiras, presentes em 49,9% da ilha seguida por Formações de Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas em Solos Hidromórficos, presente em 46,40% da área da ilha (SCHMIDLIN, 2004) (Tabela 3).

Tabela 3: Tipologia vegetal na Ilha do Superagui, com base em Schmidlin (2004).

Tipologia Vegetal Percentual de cobertura vegetal

F.O.D. das Terras Baixas em Solos Hidromórficos 46,40

F.O.D. Submontana 0,20

F.P.I. Marinha – Arbórea 12,20

F.P.I. Marinha – Arbustivo-Arbórea 16,30

F.P.I. Marinha – Herbáceo-Arbustiva 3,50

F.P.I. Flúvio-Lacustre – Arbóreo 3,90

F.P.I. Flúvio-Lacustre – Herbáceo-Arbustivo 5,10

F.P.I. Fluviomarinha – Baixa 3,90

F.P.I. Fluviomarinha – Alta 5,00

Veg. Secundária – Estágio Inicial de Desenvolvimento 1,20

Veg. Secundária – Estágio Intermediário de Desenvolvimento 0,80

Áreas Antrópicas e Praias 1,50

Total 100,00

5 DESENVOLVIMENTO DO MODELO CONCEITUAL DE