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5.1 - Uma descrição física

O Livro de Tombo foi confeccionado em papel de trapo, apresentando grande parte das folhas com a marca d’água abaixo reproduzida:

Figura nº 2 - Marca d'água encontrada nas folhas do Livro de Tombo

Uma pesquisa realizada em livros especializados a respeito desta marca d'água e, visando a situar a fábrica e o país de origem do papel usado, revelou

que na obra A new introduction to bibliography, de GASKELL (1972), existe o desenho reproduzido abaixo, muito semelhante à marca anterior e com a seguinte indicação: Foolscap (Heawood 2020, Amsterdam, 1688).

Figura nº 3 - Marca d'água holandesa (Amsterdam, 1688)

Na legenda da obra de GASKELL há uma ressalva que diz: "os símbolos pertencentes ao colar podem tomar outras formas ou serem omitidos; a cabeça pode ter o rosto em outra direção." (p.68) Deve-se levar em conta que existe uma diferença entre a data desta marca d'água (1688) e a data do termo de abertura do Livro de Tombo (1649). Infelizmente, as pesquisas não foram suficientes para se afirmar que a origem do papel é a mesma.

O Livro de Tombo do Convento do Carmo é um manuscrito, fonte primária de grande valor histórico. Contém cópia de documentos, datados em sua maioria dos séculos XVI e XVII, cujos originais (documentos anteriores a 1625), lavrados em cartório, foram queimados quando da Invasão Holandesa na Bahia (1624-1625).

COSTA (1994), ressalta a importância do documento manuscrito, alegando que, além de fornecer inúmeras possibilidades de pesquisa, é testemunho do passado e fonte básica de informação para o estudo da história.

A interpretação do fato histórico relatado em documentos antigos demanda um conhecimento paleográfico por parte do leitor. A Paleografia é a ciência que estuda a escrita antiga. Extrai sua designação do grego, significando antiga (paláios) escrita (graphen). Basicamente, visa ao estudo da escrita realizada em tábuas enceradas, papiro, pergaminho e papel (COSTA, 1994).

A leitura exige, então, conhecimentos das letras em todas as suas modalidades (assentada, cursiva, cortesã, processada), e também abreviaturas, sinais gráficos, acentuação, numerais e sinais criptográficos (escrita cifrada).

Realizando a transcrição do documento, deve o leitor prestar atenção à grafia original, pois de tal cuidado dependerá o sucesso da pesquisa. Cabe-lhe também indicar os possíveis erros dos copistas, a fim de proporcionar aos leitores maior compreensão do texto.

Os documentos brasileiros possuem uma forte influência portuguesa, já que a escrita latina foi introduzida por eles, e a formação caligráfica dos colonos era a mesma. Geralmente, era usada a escrita cursiva para a redação. No Livro de Tombo, a escrita pode ser considerada bastante eclética, sem a predominância de qualquer modalidade. Alguns documentos possuem formas gráficas admiráveis e outros são de difícil entendimento.

É incomum, em documentos avulsos, a ocorrência de opistografia, isto é a escrita dos dois lados da folha, mas ela se apresenta na quase totalidade do Livro de Tombo. Sendo o costume neste período usar a tinta ferrogálica, de fácil corrosão, a leitura de alguns documentos ficou prejudicada.

O translado de documentos pelos tabeliães em livros oficiais costumava ser complementada por marcas ou sinais, específicos de cada tabelião, que por meio deste expediente, acrescido da sua assinatura, definiam-lhes a autenticidade. Os autógrafos estão, por vezes, acompanhados de traços aparentemente supérfluos, que são chamados de cetras. No Livro de Tombo, alguns documentos possuem essas marcas.

Figura nº 9 - Reprodução de cetra do Tabelião Mathias Cardozo no Livro de Tombo ladeada das iniciais M C.

Para ilustrar a apresentação do Livro de Tombo, optou-se por fotografá- lo mediante o uso de uma câmera digital, visando garantir sua integridade física.

O Livro mede 32 cm x 20,2 cm e a sua capa não é a original, a qual provavelmente deveria ser em pergaminho, como era o costume da época. A restauração e a encadernação foram providenciadas em 1915, pelo então Provincial do Convento da Bahia, Frei Manoel Baranera Serra, conforme comprova o texto na 3ª página do livro:

"Este 1º Livro de Tombo achando-se muito estragado foi concertado e encadernado por minha ordem, ficando com tôdas as folhas declaradas nos seus termos de abertura e encerramento. Convento do Carmo da Bahia, 26 de agosto de 1915. (Ass) Frei Manuel Baranera Serra. Prov."

Figura nº 4 - Cópia do termo do Provincial (1915) referente ao conserto e reencadernação do Livro de Tombo

A capa atual é em linho engomado, na tonalidade verde-escura, com etiquetas na cor vinho, a simular couro de animal, e traz as seguintes inscrições gravadas a ouro:

• na lombada : “LIVRO DE TOMBO I “ • na capa: “Convento do Carmo da Bahia _____________

LIVRO Iº DE TOMBO

A parte inferior da lombada apresenta uma etiqueta de identificação do livro no Arquivo do Carmo, onde se encontra, em manuscrito, o número de registro e o local de sua origem:

15171

Bahia

Pode-se apreciar na página inicial a "folha de rosto" com capitalar artisticamente desenhada.

A folha seguinte, a primeira da numeração oficial do Livro apresenta o termo de Abertura:

“O Pe Prior e mais Religiosos deste ComVto de NSenhora doCarmo que Pobem de sua justa he da do dito ComVto lhes he necessario passare doLivro velho que apresentão aete novo, alguas esCrituras hedoações he titullos de propriedades que lhesforé necessarios, pretécentes a ete Comvento, heobriguaçoes delle peloque

P. AVM lhes comceda poderem trespaçar As ditas escripturas do acoes etitolos eo mais que niecessario lhesfor pelo hu official p.lo quefaça fee como as dasnotas detacidade, he numerado por hú dos juizes ordinarios della, noque RM

(Despacho) Como requerem n (sinal) em queestá o original Bª 21 e3 Agto de 649

(assinado) ... (Rúbrica ilegível)

(Termo) Este livro tem sento Etrintaenove meas folhas que Eu oJuiz ordinª Fdo Prª doLago numerey erubrhiquey da mynha rubrhiqua na Bª 24 de Setenbro 649 declaro q são sento enoventa etres meyas folhas dito dia

(assinado) Fdo prª doLago10

Pode-se ainda destacar que a restauração de algumas partes em seu interior, realizada no início do século XX, trouxe perda dos nervos e da pele.

Alguns problemas com a conservação do livro foram detectados, a saber:

• perdas por ataques de insetos, em todo o livro;

• oxidação da tinta ferrogálica, causando prejuízo da leitura de algumas partes (ver figura 7)

10 Alguns sinais gráficos desta transcrição foram abolidos, por motivo de dificuldade em copiá-

Figura nº 7: Página do Livro de Tombo, com a leitura bastante prejudicada, em que se pode notar a oxidação da tinta ferrogálica e uma tentativa de restauro fracassada.

• sujidades nas bordas, causadas por manuseio; • amarelecimento do suporte, em algumas partes; • manchas d’água;

• migração da tinta da folha de rosto para a falsa folha de rosto; • esmaecimento da tinta em alguns documentos;

Figura nº 8 - Foto digital de página do Livro de Tombo, onde se pode notar uma bela caligrafia, prejudicada pelo esmaecimento da tinta.

• presença de fungos nos remendos, causada por uso de cola inadequada.

As intervenções para o restauro constam de remendos próximos à lombada e nas bordas, que causaram o escurecimento da cola empregada e as manchas naquelas partes.

O Livro possui ainda várias notas e escritos a lápis, realizados posteriormente, esclarecendo para os frades o destino ou origem de um ou de outro documento.

5.2- Diretrizes que orientaram o trabalho de transcrição desta pesquisa

Algumas diretrizes foram assumidas na transcrição e cópia dos documentos neste trabalho:

a) foram mantidas as grafias originais do livro, mesmo na ocorrência de erros de grafia. Estes casos contam com nota esclarecedora no rodapé, quando existir dificuldade de identificação do erro;

b) foi respeitada a ausência de sinais diacríticos (ortográficos de acentuação); c) foi conservada a pontuação original, não obstante a reduzida dificuldade de

compreensão da frase ou parágrafo;

d) algumas transcrições oficiais conservam as formas originais do documento, exibindo as mudanças de linha. O presente estudo evita esta apresentação, para que o texto siga sem interrupção;

e) os numerais foram transcritos em sua forma original;

f) as omissões causadas por ilegibilidade do texto ou pela mutilação dos documentos, quando dedutíveis, foram interpretadas, deixando-se de grafar os sinais substitutos comumente usados em transcrições deste tipo. (pontos, reticências ou a letra ausente destacada);

g) apenas um dos documentos transcritos : “Cópia de uma carta de sesmaria”, é apresentado em grafia atual, devido à sua extensão, visando à facilidade de compreensão;

h) o índice onomástico, nos anexos, apresenta a escrita atual, em sua maior

parte, pois há muita divergência entre os escrivães, principalmente no que concerne à grafia do Y e i; do i com o j; e do z com o s. Às vezes tornou- se difícil diferenciar qual das letras foi empregada, pois a semelhança no traço dos escrivães impôs dificuldades ao rigor de interpretação.

5.3. - OS DOCUMENTOS TRANSCRITOS

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