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5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.2 LIVRO ELETRÔNICO: FACILIDADES E DIFICULDADES QUANTO AO SEU USO

As facilidades e dificuldades relativas ao uso dos livros eletrônicos interferem no uso desse dispositivo. Neste estudo, as percepções apontadas pelos docentes e discentes foram diversas, entretanto, a mais recorrentemente citada, independente do público, é que a leitura na tela do computador, e-readers ou tablets é cansativa, sendo esse resultado apresentado por mais da metade dos discentes e docentes. Já uma parcela menor informou que na tela destes dispositivos não há uma visão geral da página como ocorre com o livro impresso. Por outro lado, 48 (27,6%) dos discentes apontaram que esta leitura realizada em tela é confortável. Como observado, apesar das percepções tenderem para o desconforto da leitura em tela esta é realizada com frequência pelo estudante universitário, pois eles necessitam dos textos acadêmicos para estudo e essa demanda nem sempre é suprida pela biblioteca universitária, pois conforme relato desses discentes há poucos exemplares dos títulos nos acervos das bibliotecas da UFBA e os existentes nem sempre estão atualizados.

internet, sendo nesse ambiente que eles se deparam com livros eletrônicos gratuitos, artigos científicos e também, textos de qualidade e confiabilidade duvidosas. Porém, é dessa forma que os estudantes experienciam a leitura de textos e livros eletrônicos, fundamentando a opinião que eles têm sobre as facilidades e dificuldades quanto ao uso deste dispositivo.

É necessário pontuar que a leitura de textos e livros eletrônicos é diferente, pois o hábito da leitura de textos acadêmicos em formato eletrônico pode facilitar a leitura dos livros eletrônicos, no entanto, a leitura que um estudante realiza de um artigo eletrônico não vai determinar que ele faça a leitura integral de um livro eletrônico, ele pode até estender esse hábito de leitura de 10 a 20 páginas de um artigo em tela, mas o livro eletrônico tem um texto mais denso, longo, que exigirá do estudante maior tempo e atenção para a realização dessa leitura. Inclusive, há um número de discentes (5 – 2,9%) que indicaram realizar a leitura de alguns capítulos de livros eletrônicos na tela do computador, e-reader ou tablet, confirmando assim, que o acesso ao livro eletrônico não significa que o discente realizará a leitura integral do texto, fato esse que também ocorre com o livro impresso.

Ao analisar as respostas dos discentes quanto às facilidades da utilização dos livros eletrônicos, observou-se que a facilidade de acesso e compartilhamento do conteúdo representa a maior indicação apontada (131 – 75,3%). Certamente, essa facilidade figura como a mais citada pelo fato dos dispositivos de informação e comunicação estarem voltados para facilitar cada vez mais as trocas de informação e conteúdo através dos diversos aplicativos criados para este fim, sem falar no uso dos dispositivos de comunicação da web que fomentam ainda mais essa cultura de compartilhamento de informações.

Procópio (2010) considera os livros eletrônicos um dispositivo importante para promover a disseminação do conhecimento, por possibilitar ao leitor acesso rápido através da web ao seu conteúdo informacional, rompendo assim, as barreiras geográficas que interferem no acesso a informação. Contudo, apesar das facilidades atribuídas ao livro eletrônico é importante considerar que o acesso a um dispositivo de leitura e a um arquivo de texto não garante, por si só, que as pessoas farão uso proficiente da informação, empregando-a nos mais diversos contextos, pois o acesso às mídias não assegura por si só o uso potencial das mesmas, dado que “a capacidade intelectual e profissional de cada usuário para usufruir ao máximo de cada uma das tecnologias de comunicação e informação é tão importante quanto o próprio acesso.” como afirma Sorj (2008, p. 62, tradução nossa).

A facilidade de deslocamento físico de um grande número de livros foi a segunda indicação, (107 – 61,5%), mais realizada pelos discentes quanto às facilidades do livro eletrônico. Anteriormente ao advento das tecnologias digitais o usuário só poderia carregar

consigo a quantidade de livros ou textos compatíveis com a sua capacidade física e, se tratando de livros pertencentes à biblioteca, só seria possível retirar por empréstimo a quantidade de livros permitida pelo regulamento da biblioteca. Contudo, o que é importante, na atualidade, não é a capacidade física do usuário, mas a capacidade de armazenamento dos e-readers, dos pendrives e discos rígidos, o que faz com que o usuário possa ter em mãos centenas e até milhares de livros salvos em seus dispositivos e carregá-los consigo para qualquer lugar.

Outra facilidade atribuída pelos discentes quanto ao uso dos livros eletrônicos foi a facilidade de busca de tópicos temáticos no interior dos textos por meio da busca por palavras-chave, além de ser possível o acesso a outros textos citados e hipertextos. Essa facilidade é, sem dúvida, o que torna possível um arquivo de texto ser transformado em um livro eletrônico. Apesar de ter ocorrido essa indicação por parte dos discentes dos Cursos de Medicina e Nutrição da UFBA, é necessário explicar que essa não é uma facilidade a ser atribuída aos livros eletrônicos do acervo da UFBA, talvez esses discentes estivessem se referindo aos livros e textos que eles acessam na internet, pois os livros eletrônicos da UFBA estão no formato PDF e nele o usuário pode realizar a pesquisa por palavras-chave, porém não terá agregado ao texto hiperlinks, imagens multidimensionais, vídeo, som ou até mesmo a interatividade através de exercícios e jogos.

Na realidade, o formato de arquivo PDF reproduz o texto impresso, garante a fixação do formato do layout do livro, mas sem agregar a inclusão de elementos multimídia como o permitido pelo formato ePUB. Infelizmente, o formato PDF é o mais adotado por 81,8% das bibliotecas universitárias brasileiras, conforme apontou pesquisa realizada por Magalhães (2013).

Como visto, as facilidades atribuídas aos livros eletrônicos são muitas e a biblioteca universitária não pode perder de vista a oportunidade para explorá-las em benefício dos usuários e da melhoria dos serviços e produtos por ela oferecidos, pois a biblioteca está voltada a um tipo de usuário que mais frequentemente interage com as tecnologias digitais. Segundo Kelsey, Knapp e Richards (2012 apud SERRA, 2014), os livros eletrônicos e os dispositivos de leitura alteram a forma como as pessoas acessam a informação e os bibliotecários devem aprender mais sobre esses dispositivos, como eles funcionam, como os livros eletrônicos podem ser acessados através da plataforma dos fornecedores e entender como estes tendem a impactar o futuro das bibliotecas, sob a perspectiva da gestão de conteúdos eletrônicos, da política da formação e desenvolvimento de coleções, dos modelos de negócios existentes, dos direitos autorais, das ações mediadoras e outros aspectos

relacionados.

Ao explorar as facilidades do livro eletrônico também é necessário se deter um pouco nas dificuldades de uso desse dispositivo. A maior dificuldade apontada pelos discentes e docentes da UFBA quanto à leitura de livros eletrônicos foi o cansaço visual provocado por essa leitura em tela, seguida pela perda da sensação física do livro, a necessidade de equipamentos para efetuar a leitura dos livros e o consumo de energia elétrica. Esses resultados também foram encontrados por Bottentuit Junior e Coutinho (2007), em estudo realizado na Universidade do Porto, Dziekaniak e colaboradores (2010) e Alonso-Arévalo, Cordón-García e Gómez Díaz (2011).

Muitos discentes e docentes reportaram o desconforto ao realizar a leitura em tela, preferindo a utilização de livros impressos, mas infelizmente essa é uma questão que não pode ser solucionada pela biblioteca. Entretanto, nos últimos anos ocorreu uma melhoria das tecnologias digitais voltadas a facilitar a leitura de textos em tela e a qualidade dos dispositivos voltados a esse fim aumentou de forma significativa. Logo, o inconveniente relacionado ao cansaço visual deverá ser superado, até porque cada vez mais os dispositivos de leitura estão sendo fabricados com recursos como controle de luminosidade, adaptação para tinta eletrônica, que é uma tinta que faz com que o usuário tenha a impressão de está realizando a leitura no suporte papel, devido à ausência de iluminação própria. Também têm sido desenvolvidas telas que permitem a realização da leitura sob a luz do sol, com ângulos de visão de 180º graus, ou seja, uma série de melhorias que tendem a tornar a leitura, sob o aspecto físico, mais confortável.

É evidente que, a sensação física proporcionada pela leitura do livro impresso nunca será a mesma proporcionada na leitura por meio do livro eletrônico, pois não se trata apenas de aspectos físicos como o folhear das páginas ou sentir o cheiro do livro, mas envolve questões culturais que conforme Borges (1999 apud ALVES, 2010) faz com que o livro não seja somente um instrumento como o microscópio, que é a extensão da visão ou do telefone que é a extensão da voz, mas esse livro é a extensão da memória e da imaginação, que talvez, o livro eletrônico não consiga superar.

Por outro lado, entre os resultados deste estudo se identificou mais uma dificuldade relacionada ao uso dos livros eletrônicos, que é a ausência de livros eletrônicos que apresentem conteúdos relacionados ao conhecimento científico, dificuldade apontada pelos docentes, a exemplo dos depoimentos desses 2 docentes do Curso de Medicina e Nutrição:

[impresso] ou texto especialmente. (Docente de Medicina 1)

Tem textos acadêmicos que ainda não há em formato eletrônico [...]. (Docente de Nutrição 2)

Essa dificuldade apontada pelos docentes faz com que os livros impressos permaneçam ainda como preferência não somente por se tratar de um canal formal de comunicação da ciência, mas porque as teorias científicas estão documentadas nesse tipo de suporte. Os docentes informam que os conteúdos das áreas que poderiam está nas bibliografias básicas não estão ainda publicados no formato de livros eletrônicos e, além disso, há um outro fator que dificulta a introdução desses títulos à bibliografia das disciplinas dos cursos de graduação da área de saúde, é que daqueles que existem, a maior parte está escrita em língua estrangeira. No entanto, isso que foi apontado como dificuldade pelos docentes não é pertinente ao caso UFBA, já que os livros eletrônicos adquiridos para a área de saúde estão todos na língua portuguesa.

Uma vez identificadas essas facilidades e dificuldades relativas ao uso do livro eletrônico por discentes e docentes, cabe ao SIBI e aos profissionais bibliotecários da UFBA trabalharem em cima dessas facilidades e dificuldades para encontrar ações de mediação que eliminem cada vez mais as dificuldades e ressaltem as facilidades, fazendo com que a maioria dos discentes e docentes veja essas facilidades, colaborando assim, para o cumprimento do papel do bibliotecário para tornar o uso do livro eletrônico mais efetivo. Nesse sentido, é necessário discutir esse papel desempenhado pelos bibliotecários para promover o acesso e uso do livro eletrônico do acervo da área de saúde da UFBA.

5.3 O BIBLIOTECÁRIO E O SEU PAPEL NO USO DOS DISPOSITIVOS DE