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2.4 Leitura, livros e biblioteca no Brasil: algumas considerações

2.4.3 Livros e bibliotecas: acesso e uso

A informação e o conhecimento, independentemente do suporte nos quais estão registrados, desde o começo da história da escrita possui como finalidade principal registrar o modus vivendi (hábitos, práticas, crenças, etc.) de um pequeno grupo ou de até mesmo de uma nação. Tais registros serviam e servem até os dias atuais para a preservação e difusão da produção intelectual elaborada e registrada por um indivíduo ou grupo de indivíduos.

O acesso à informação faz com que outros indivíduos tenham conhecimento do que já foi produzido, bem como propicia, a partir do contato e leitura, a elaboração de novos conhecimentos que poderão ser registrados e disponibilizados para que outras pessoas também possam acessá-los. Dito isto, é possível dizer que a produção de informações e conhecimentos é um processo cíclico e infinito, pois a

cada nova leitura ou releitura de uma mesma obra poderão ser gerados novos conhecimentos.

Dentre os principais suportes utilizados para o registro de informações, desde a invenção da escrita, o papel, em seus vários formatos, tem sido o mais utilizado, especialmente quando esse conhecimento está registrado em formato de livro, independentemente do conteúdo que este aborde.

Apesar de ser um dos principais produtos utilizados para o registro do conhecimento, o livro, desde tempos remotos, foi objeto de uso para poucos, especialmente aqueles abastados que podem arcar com as despesas para aquisição de um bem tão importante para o desenvolvimento intelectual e cultural dos sujeitos, seja individualmente ou no coletivo.

No Brasil, assim como na maior parte dos demais países, a população com maior poder aquisitivo é a que possui maior acesso aos livros, especialmente os literários e de temas variados. À grande massa social, especialmente a que está em idade escolar, são disponibilizados os livros didáticos e paradidáticos que são escolhidos a cada três anos pelos professores.

Segundo Lindoso (2004), os livros didáticos eram vendidos pelas editoras aos pais dos alunos, mas a partir de 1964 a realidade dos livros didáticos começou a mudar, especialmente após a criação do Programa Nacional do Livro Didático

(PNLD). No primeiro ano de efetivação do programa, as ações de escolha dos livros “[...] envolviam uma consulta aos professores dos livros disponíveis, seguida de uma

seleção por especialistas e da aquisição das quantidades definidas de exemplares diretamente das editoras para distribuição nas escolas”. (LINDOSO, 2004, p. 93).

Sobre bibliotecas públicas (BP) no Brasil, tem-se uma citação de Sales (1977) quando na época dirigia o Instituto Nacional do Livro (INL), que retrata de forma bastante incisiva esse importante setor para preservação, difusão e acesso aos bens e produtos informacionais.

A carência de bibliotecas públicas municipais é um fato reconhecido, apesar dos esforços que o Instituto Nacional do Livro vem envidando, desde sua fundação, no sentido de apoiar e acelerar a implantação de bibliotecas em todo o País. Muitos fatores têm dificultado corrigir-se tal situação, e um dos mais sérios é a falta de pessoal que tenha condições de assumir o encargo de manter em funcionamento a biblioteca pública em lugares afastados dos grandes centros e de parcos recursos econômicos. (SALES,1977, p. 6).

Se não fosse citada a data em que o texto em tela foi escrito, a probabilidade de imaginar que é uma obra editada em 2017 é muito grande. Quarenta anos se passaram desde a publicação desse livro e pouco mudou em relação à realidade das BPs em todo o país.

No tocante às bibliotecas públicas, Lindoso (2004), em sua obra O Brasil pode ser um pais de leitores: política para cultura, política para o livro, diz que

A biblioteca é um local essencial para a formação cidadã, para o acesso ao conhecimento, à informação e ao lazer. [...]. No entanto, essa visão de biblioteca, infelizmente, não foi assimilada, na

integra e na prática nem pelas autoridades, nem pelo conjunto da sociedade brasileira [...]. (LINDOSO, 2004, p. 132-133, grifo

nosso).

A análise da citação do autor nos leva à constatação de que a falta de investimento e interesse do poder público pelas bibliotecas tem contribuído para a precarização dos serviços e dos acervos ofertados à população, que não veem as BPs como opções viáveis para acesso aos livros e demais itens informacionais, seja pelas condições precárias que as bibliotecas apresentam ou até mesmo pela pouca prática de leitura dos brasileiros.

Na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (FAILLA, 2016), revelou-se que 66% dos entrevistados responderam que não frequentam bibliotecas. Dos 5.012 entrevistados, apenas 5% informaram que sempre utilizam a biblioteca, 14% às vezes e 15 % raramente.

Desse total de frequentadores, assíduos ou não, a maioria absoluta é de estudantes que buscam nas bibliotecas públicas o que inexiste na escola em que estudam: uma biblioteca escolar.

Dados como estes mostram ainda, de forma simplificada, a pouca importância dada pela população e pelas autoridades tanto ao espaço da biblioteca quanto aos serviços e produtos (itens informacionais) que esta pode e deve oferecer à sociedade.

Como forma de buscar amenizar esse grande problema social brasileiro, criou-se o SNBP que é responsável por gerir o Sistema de Bibliotecas em nível de Brasil e tem como meta zerar o número de municípios sem bibliotecas. O Sistema faz-se relevante para a área, no entanto, a efetividade da implantação de suas ações é motivo de indagações e questionamentos de vários estudiosos, como por exemplo Machado (2015), que traz a seguinte informação e reflexão:

O Ministério da Cultura, no período de 2004 a 2010, investiu R$ 88.909.331,22 na implantação de 1.859 novas bibliotecas públicas, com o intuito de zerar o número de municípios sem bibliotecas públicas, mas vale perguntar: com qual concepção essas bibliotecas foram e vem sendo criadas pelos gestores locais? (MACHADO, 2015, p. 111).

Ao analisar o montante do investimento financeiro, é um valor considerável, no entanto a forma como estes recursos são geridos, na maioria das vezes, não atinge o objetivo esperado. Simples entraves que impedem a eficácia do investimento dos recursos poderiam ser evitados se os profissionais que são responsáveis pela gestão das bibliotecas e demais unidades informacionais e culturais possuíssem a formação e qualificação adequada.

Administrar uma biblioteca pública requer formação e capacitação que lhes permita ter uma dimensão global da importância deste espaço para a sociedade, mas no Brasil é algo raro ver profissionais bibliotecários ou com formação compatível para gerir tal espaço.

As bibliotecas são organismos vivos e de potencial latentes para o desenvolvimento social. Órgãos estratégicos de inclusão e promoção da sociedade local no uso da informação e do conhecimento para lazer, estudo, aprendizagem, autodesenvolvimento e liberdade de expressão. As bibliotecas públicas são parte e ponte para o acesso à cidadania, em todo significado que o termo possa representar. (SILVA, 2015, p. 47-48).

Geralmente, os gestores destas bibliotecas são profissionais com indicação política e sem a devida compreensão do quão necessário e fundamental é uma BP. Tal realidade corrobora para que haja o desperdício de recursos materiais e a inexistência de atividades essenciais para o tratamento adequado do acervo e desenvolvimento de atividades educacionais e culturais.

2.5 Políticas públicas culturais de fomento à leitura, ao livro e à biblioteca no