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Para compreensão do que seja política cultural, parte-se inicialmente do entendimento do termo cultura, o qual vem ao longo dos anos passando por transformações de acordo com a evolução e desenvolvimento da própria sociedade. Nesse sentido, baseado na concepção de Ullmann (1991), cultura é a forma de viver que os homens desenvolvem em determinado grupo ou sociedade, ou seja, não é prudente falar sobre cultura no singular, tendo em vista a pluralidade e diversidade que é a sociedade.

Assim, as políticas voltadas para a área cultural devem ter por finalidade elaborar e implantar ações que possibilitem aos indivíduos ter acesso aos bens (materiais e imateriais) produzidos ao longo da história, assim como o que está sendo produzido na atualidade, possibilitando-lhes desenvolver, a partir desse acesso e consumo, novos bens, propiciando a preservação e difusão para que outros indivíduos possam usufruir futuramente.

Barbalho (2013, p. 8) diz que a finalidade de uma política cultural é

[...] desenvolver o setor cultural, ou seja: fortalecer a produção, a difusão e o consumo cultural, corrigir distorções, resolver os problemas detectados no diagnóstico (afinal um diagnóstico deveria sempre anteceder à definição de objetivos, uma vez que somente conhecendo os problemas e as necessidades existentes é possível definir metas). A cultura é, portanto, a finalidade última das políticas culturais.

Sendo os objetivos das políticas culturais desenvolver o setor cultural, faz-se necessário que as ações a serem definidas para tal desenvolvimento sejam previamente detectadas através de estudos e pesquisas junto à sociedade para identificar quais os principais problemas e os recursos necessários (materiais, físicos, financeiros e humanos) para resolvê-los.

O desenvolvimento do setor cultural, através de políticas públicas será efetivado se o planejamento for direcionado para todas as etapas da produção cultural, pois, de acordo com Coelho (1997, p. 180),

[..] as políticas culturais só atingem plenamente seus objetivos (configurando uma política cultural plena ou integrada) quando dirigidas ao mesmo tempo para todas as fases do sistema de produção cultural: a produção, a distribuição, a troca e o consumo.

[...] conjunto de intervenções realizadas pelo Estado, as instituições civis e os grupos comunitários organizados com a finalidade de orientar o desenvolvimento simbólico, satisfazer as necessidades culturais da população e obter consenso para um tipo de ordem ou de transformação social.10

Outra importante observação que o autor apresenta é em relação à expansão e difusão cultural que a globalização e a tecnologia propiciaram, ou seja, ao pensar em política cultural, deve-se analisá-la de forma globalizada, mesmo que as ações sejam voltadas para a cultura de uma determinada região geográfica ou grupo social.

Não pode haver políticas somente nacionais em um tempo onde os maiores investimentos em cultura e os fluxos de comunicações mais influentes, isto é, as indústrias culturais, atravessam fronteiras, nos agrupam e conectam de forma globalizada, ou pelo menos em regiões geoculturais ou linguísticas. Esta transnacionalização também cresce ano a ano, com as migrações internacionais que representam desafios inéditos para a gestão da interculturalidade além das fronteiras de cada país. (CANCLINI, 2001, p. 65, tradução nossa)11.

A partir do exposto, é possível inferir que as políticas culturais, ao serem elaboradas, devem buscar solucionar os problemas locais de uma determinada região ou grupo social. No entanto, as ações devem ser pensadas e planejadas no sentido de propiciar aos indivíduos o acesso e consumo de bens culturais, para que estes possam usufruí-los de acordo com as peculiaridades que cada grupo e até mesmo cada indivíduo possui, ou seja, a função principal das políticas culturais não é necessariamente voltada para estabelecer uma identidade nacional, regional, local, étnica ou racial, mas, principalmente, oferecer os elementos necessários para que esses indivíduos possam usufruir e aproveitar a diversidade de bens culturais disponíveis e aprender a conviver com pessoas que partilham ou não dos mesmos bens e valores culturais.

A percepção real de que se vive em um mundo multicultural faz com que o planejamento e implantação de políticas culturais sejam ainda mais complexos,

10 [...] conjunto de intervenciones realizadas por el estado, las instituciones civiles y los grupos

comunitarios organizados a fin de orientar el desarrollo simbólico, satisfacer las necesidades culturales de la población y obtener consenso para un tipo de orden o de transformación social. (CANCLINI, 2001, p. 65).

11 No puede haber políticas sólo nacionales en un tiempo donde las mayores inversiones en cultura y

los flujos comunicacionales más influyentes, o sea las industrias culturales, atraviesan fronteras, nos agrupan y conectan en forma globalizada, o al menos por regiones geoculturales o lingüísticas. Esta transnacionalización crece también, año tras año, con las migraciones internacionales que plantean desafíos inéditos a la gestión de la interculturalidad más allá de las fronteras de cada país. (CANCLINI, 2001, p. 65).

especialmente se analisarmos a situação do Brasil, que é um país com uma diversidade regional, étnica e, consequentemente, cultural imensa.

Elaborar uma política cultural pensada em um contexto nacional é complicado, e certamente não terão os mesmos resultados de forma igualitária, especialmente se estas políticas tiverem como foco principal o incentivo à leitura, o acesso e uso de livros e bibliotecas.

Tal afirmação pode ser facilmente observada através de pesquisas e relatórios que discorrem sobre essa temática, os quais apresentam diferenças enormes entre as regiões geográficas (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste, Centro-Oeste) e até dentro da mesma região, quando comparadas as zonas urbana e rural, zonas nobre e periférica, etc.

Outra área essencial para compreensão desta temática refere-se ao entendimento acerca das políticas públicas e como estas podem contribuir para o desenvolvimento sociocultural de uma nação.

De forma simplificada, Rodrigues (2011, p. 13) nos apresenta a seguinte definição: “Política pública é o processo pelo qual os diversos grupos que compõem a sociedade – cujos interesses, valores e objetivos são divergentes – tomam decisões coletivas, que direcionam o conjunto dessa sociedade”.

Já Caldas (2008, p. 5, grifo nosso), em sua obra Políticas públicas: conceitos e práticas, propõe uma definição de política pública de forma mais completa:

As políticas públicas são a totalidade de ações, metas e planos

que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público. É certo

que as ações que os dirigentes públicos (os governantes ou tomadores de decisão) selecionam (suas prioridades) são aquelas que eles entendem serem as demandas ou expectativas da sociedade. Ou seja, o bem-estar da sociedade é definido pelo governo e não pela sociedade.

Outra importante definição do termo políticas públicas é apresentada por Parada (2006), segundo o qual, para atingir esse estado de bem-estar social, além de planejar as ações a serem executadas, também é necessário alocar recursos para que tais ações possam ser implantadas de forma satisfatória. Segundo ele, políticas públicas

[...] é um sistema de decisões públicas que visa a ações ou omissões, preventivas ou corretivas, destinadas a manter ou modificar a realidade de um ou vários setores da vida social, por meio da definição de objetivos e estratégias de atuação e da alocação dos

recursos necessários para atingir os objetivos estabelecidos (PARADA, 2006, p. 29).

Nesse sentido, é possível inferir que as políticas públicas têm por finalidade buscar meios para planejar, elaborar e implantar ações que visem ao interesse público e ao bem-estar da sociedade, que é determinado conforme os interesses do governo e não necessariamente da sociedade.