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Q 1 LIVROS DE CHAMADA DO CURSO PRIMÁRIO EN “CARLOS GOMES” CALENDÁRIO LETIVO (ESTADO NOVO)

1º DIA DO ANO LETIVO ÚLTIMO DIA DO 1º SEMESTRE - 1º DIA 2º SEMESTRE ÚLTIMO DIA DO ANO LETIVO Nº DE DIAS LETIVOS NA SEMANA DIAS LETIVOS NO ANO 1937 11/2 10/6 – 1/7 30/11 6 215 1938 1/2 10/6 – 1/7 30/11 6 220 1939 1/2 10/6 – 1/7 30/11 6 225

31 Os Livros de Chamada reservados ao Curso Primário possuíam “páginas duplas”, cada uma correspondendo a um

mês letivo. Além dessas, havia as reservadas ao Termo de Abertura e ao Termo de Encerramento. Em geral, esses livros eram sempre incompletos: podiam dar continuidade a um anterior e ter continuidade em outro, posterior. Porém, em alternativas menos usuais, não utilizavam as páginas finais do livro, caso não fossem suficientes para o registro de um ano letivo todo; simplesmente arrancavam as páginas restantes e usavam cola para o reparo da encadernação.

32 Estas duas notas, separadas por um traço diagonal, eram colocadas num mesmo quadradinho. Observe-se que o

livro impresso “nomeia” um espaço específico para o registro destas notas apenas no mês e não na semana, embora isso estivesse previsto no quadro “Orientações”.

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50 1940 12/2 8/6 – 1/7 30/11 6 223 1941 1/2 10/6 – 1/7 29/11 6 224 1942 6/2 10/6 – 1/7 30/11 6 219 1943 8/2 10/6 – 1/7 30/11 6 223 1944 24/2 12/6 – 1/7 30/11 6 212 1945 15/2 9/6– 2/7 26/11 6 210

A imagem criada pelo quadro acima é de regularidade no Calendário Letivo, sugerindo uma estabilidade no funcionamento da escola, no trabalho de seu corpo docente e nas atividades dos alunos. Mais do que estabilidade, os seis dias letivos na semana, as avaliações semanais e o número de dias letivos no ano – que, em média, no período, era de cerca de 220 - sugerem, sobretudo aos olhares de hoje, um esforço persistente na promoção da educação e no desenvolvimento dos alunos. Tudo isso, a princípio, parece adequar-se perfeitamente não apenas aos mais altos ideais de educação propalados por quaisquer de seus porta-vozes oficiais, no período, mas também à imagem de uma instituição modelar como um Curso Primário Anexo a uma Escola Normal.

É possível sugerir que, às anotações relativas às faltas dos alunos ou às notas de aplicação e comportamento a eles atribuídas pelos professores, caberia uma análise mais acurada. Primeiro, para averiguar a presença de padrões diferenciados no aproveitamento dos alunos em função de variáveis tais como gênero, idade, etc. Em segundo lugar, para avaliar a presença de padrões diferenciados na atribuição de notas pelos professores34. Isso demandaria um estudo específico buscando identificar nas notas dos alunos padrões de avaliação dos professores, como, por exemplo, a atribuição de notas menores no início do ano e cada vez maiores ao longo do período letivo, etc. Nesse caso o que se coloca é a possibilidade de investigar a presença de práticas metodológicas de avaliação que se faziam presentes, a despeito de sua legitimação pela produção pedagógica do período. Para tanto, talvez fosse possível o trabalho de garimpagem de documentos e de bibliografia, discutindo as formas possíveis de atribuir notas aos alunos. Porém, tal pesquisa escapa das possibilidades do presente trabalho.

34 Em trabalho anterior, este autor já havia apontado, para o mesmo período, a presença de padrões recorrentes nas

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Ao longo da pesquisa, no entanto, foi encontrado um texto que trata especificamente deste tema de uma forma bastante prática, mas questionável do ponto de vista pedagógico. Trata-se de um curto artigo de Jonathas Serrano35, publicado com o título de “Um Systema de dar Notas”, em um exemplar da revista “A Escola”. Nesse artigo, o autor expõe um modo que lhe parecia exemplar de atribuição de notas:

Quem contestará a difficuldade que ha em dar notas com justiça? Trata-se de apreciar numericamente um facto psychologico, e dos mais complexos: o aproveitamento do alumno. Tudo são difficuldades, quer da parte do proprio discente, que do lado do professor-juiz (...)

Um professor muito meu amigo applica, ha bastantes anos, e com exito crescente o seguinte processo. Nunca, da primeira vez, dá nota optima ao estudante (...) Chegada a segunda vez, e verificado o aproveitamento do alumno, terá este grau “nove”, ficando candidato ao “dez”(...)

Nunca, porém, deve o estudante imaginar que tombou num poço fundo de que é impossivel sahir: mostre-se-lhe sempre a escada da salvação, cujos degraus são os productivos esforços quotidianos, ‘recompensados logo na lenta, mas constante ascensão: grau ‘quatro’, ‘sete’, ‘nove’... até, quem sabe?, o ‘dez’, difficil, raro, não porém inaccessível. (SERRANO, 1923).

Embora de data bastante anterior ao período pesquisado, o autor descreve uma das formas possíveis de atribuição de notas encontradas em meio aos livros de registro consultados. Se é verdade que aplicação e aproveitamento não são critérios que possam ser considerados como “neutros” ou isentos de visões subjetivas, pensar na possibilidade de que os professores possam ter se utilizado de metodologias “pessoais” para atribuir notas aos alunos implica assumir que, para além do que se possa tomar como normas pedagógicas, um universo de normas práticas orientava o dia a dia dos professores.

2.2. OS LIVROS DE PONTO DOS DOCENTES

Um segundo tipo de livros de registro presente no Arquivo Histórico da EN “Carlos Gomes” é o Livro de Ponto dos Docentes do Curso Primário Anexo à EN, dos quais, para o período pesquisado, foram encontrados seis exemplares. Trata-se de uma série completa - para o período estudado - e de uma massa documental menos volumosa que a composta pelos Livros de Chamada, embora igualmente densa.

35 Jonathas Serrano participou da Associação Brasileira de Educação, integrando o Conselho Diretor, empossado em

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Em alguns aspectos os Livros de Ponto dos Docentes do Curso Primário se assemelham aos Livros de Chamada, como também aos demais livros de registro da escola: possuem um formato padrão, capa dura, páginas numeradas, campos impressos (em menor número), orientações sobre o correto preenchimento, etc. Na contracapa, no alto, o logotipo da tipografia36 onde foi impresso, o Brasão de Armas do Brasil, a expressão “Almoxarifado” ou “Diretoria do Material”, seguido por Secretaria do Estado da Educação e da Saúde Pública de São Paulo, e, por fim, das “Instruções”. Na primeira e na última páginas, respectivamente, os Termos de Abertura e Encerramento, já pré- impressos, com lacunas a serem preenchidas pela direção da escola.

Assim como nos Livros de Chamada, nos Livros de Ponto dos Docentes do Curso Primário, as datas manuscritas nos Termos de Abertura e Encerramento são as mesmas, indicando que provavelmente a direção as preencheu um mesmo dia, que, para todos os livros do período, coincide com o início de seu uso pelos professores. Observe-se, ainda, que cada um desses livros teve seu uso por um período mais extenso que um ano.

Com relação às “Instruções”, permaneceram idênticas nos seis livros do período, o que também indica algum tipo de estabilidade quanto aos tipos de demandas que colocavam, sobretudo aos diretores. Por fim, a forma como esses livros eram utilizados também revela alguma estabilidade da escola nas suas práticas, embora com algumas nuances.

Cabe destacar que o modelo de Livro de Ponto utilizado no Curso Primário Anexo à EN “Carlos Gomes”, ao longo do período estudado, foi produzido especificamente para os grupos escolares, o que motivou a presença da expressão “Grupo Escolar” em seu Termo de Abertura; essa expressão foi riscada em cinco – do total de seis - livros usado no período, sendo acrescentada, ao lado, a expressão “Curso Primário Anexo”.

É interessante observar que os Livros de Ponto parecem ter sofrido uma mudança semelhante à observada em relação aos Livros de Chamada: até 1935, uma “Nota” impressa na contracapa do livro orientava, de forma simplificada, sua utilização; junto ao “Termo de Encerramento”, ao final do livro não constava qualquer orientação adicional. Já os Livros de Ponto utilizados a partir de 1935 possuíam “Orientações” detalhadas na contracapa, às quais se somavam outras, junto ao “Termo de Encerramento”. De fato, as últimas páginas dos Livros de Ponto utilizados a partir de 1935, possuem o mesmo formato e o mesmo texto encontrados nos

36 Para este tipo de livro, aparecem apenas duas empresas: Tipografia Brasil – Rothschild & Cia – Fábrica de Livros

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Livros de Chamada a partir de 1934. Ou seja, ambos estavam formatados nos termos do Código de Educação de 1933.

Conforme já assinalado, as orientações no Livro de Ponto detalhavam os procedimentos dos diretores para o adequado registro da presença da direção, da vice-direção, do auxiliar, do corpo docente e dos integrantes do quadro administrativo. Mas, no cotidiano administrativo da escola, os Livros de Ponto se prestavam ao registro das presenças e ausências dos docentes e, também, da direção do Curso Primário.

(I. 6 - Livro de Ponto do Curso Primário 1937-38 - Curso Primário – EN “Carlos Gomes” Arquivo Histórico da EN “Carlos Gomes”)

Para dar mais fé aos registros e, possivelmente, também lembrar as diferentes posições hierárquicas enlaçadas à divisão de trabalho na instituição, todas as páginas pares recebiam, no alto, o visto da direção37 – da Escola Normal ou do Curso Primário Anexo à Escola Normal -, a qual se desincumbia dessa atribuição com o carimbo de sua assinatura. Ao final de cada página, a direção do Curso Primário38 anotava a data de seu “Encerramento” e assinava embaixo. E isto depois de já ter sido registrado, no alto dessas páginas, o dia da semana, do mês, o mês e o ano.

37 Dos seis Livros de Pontos do período, três receberam carimbo de Geraldo Alves Corrêa, diretor da Escola Normal, e

três de Sylvia Simões Magro, diretora do Curso Primário Anexo à Escola Normal.

38 Ao longo do Estado Novo, a direção do Curso Primário esteve a cargo de Sylvia Simões Magro, que foi substituída

de 11/3/1937 a 20/3/1937 pelo prof. Celestino de Campos, de 22/9/1937 a 29/10/1937 pela Profª Maria Ari Fonseca, de 11/7/1938 a 24/8/1938 pelo Profº Celestino de Campos e de 16/5/1945 a 9/6/1945 pela Profª Violeta Dória Lins.

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Se considerarmos que o cumprimento do conjunto das atribuições previstas para os diretores de escola e para os professores demandava um esforço contínuo no sentido de “melhor” aproveitamento do tempo, então é possível supor que, assim como os professores, também os diretores buscavam formas práticas e rápidas para se desincumbirem das exigências burocráticas e, da mesma forma que preenchiam e assinavam os Termos de Abertura e Encerramento num mesmo dia, talvez fizessem o mesmo para “vistar” tais livros.

Além das diferenças relativas às “Instruções”, os Livros de Ponto guardavam outras especificidades: os quatro primeiros Livros de Ponto possuem 150 páginas e os demais, duzentas; enquanto o Livro de Chamada tinha cada duas páginas impressas para um único quadro mensal, os Livros de Ponto reservavam uma única página para cada dia letivo.

Uma primeira informação fornecida pelos Livros de Ponto Docente do Curso Primário diz respeito ao número de turmas da escola que, ao longo do período pesquisado, apresentou a seguinte distribuição:

Q. 2 - LIVROS DE PONTO DOS DOCENTES DO CURSO PRIMÁRIO - EN “CARLOS GOMES”