• Nenhum resultado encontrado

5. PERCURSO METODOLÓGICO

5.1 Local da pesquisa

Esta pesquisa foi realizada no denominado Centro Médico Psicopedagógico infantil – CEMPI, que se caracteriza pela assistência à população infantil em sofrimento psíquico ou que apresentam sinais de risco à saúde mental, do período neonatal até os 12 anos incompletos. Ligado à Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco, esse serviço foi inaugurado em 1991 e até o ano de 2007 funcionava como hospital-dia nas dependências do Hospital Otávio de Freitas, no bairro de Tejipió, em Recife-PE. Em 2007, o serviço foi municipalizado, recadastrado como CAPSi-CEMPI e sua sede transferida para o bairro de Jardim São Paulo. Antes do processo de municipalização, o CEMPI se destinava ao atendimento de crianças e familiares provenientes de todo o estado de Pernambuco, e até mesmo, de outros estados do Nordeste. Regulamentou-se, então, o atendimento prioritário às crianças residentes nas áreas geográficas de abrangência dos Distritos Sanitários IV, V e VI

da cidade do Recife. Importante esclarecer que Recife está dividida em 94 bairros aglutinados em 6 Regiões Político-Administrativas (RPA). Para o setor de saúde, cada RPA corresponde a um Distrito Sanitário – DS, conforme ilustra a Figura 1.

Fonte: Lei nº 16.293 de 22/01/1997 Diário Oficial. Recife, 1997. Disponível em: http://www2.recife.pe.gov.br/a- cidade/perfil-dos-bairros/#!prettyPhoto

RPA Bairros

1 Boa Vista, Cabanga, Coelhos, Ilha do Leite, Ilha Joana Bezerra, Paissandu, Recife, Santo Amaro, Santo Antônio, Soledade

2

Água Fria, Alto Santa Teresinha, Arruda, Beberibe, Bomba do Hermetério, Cajueiro, Campina do Barreto, Campo Grande, Dois Unidos, Encruzilhada, Fundão, Hipódromo, Linha do Tiro Peixinhos, Ponto de Parada, Porto da Madeira, Rosarinho, Torreão

3

Aflitos, Alto José Bonifácio, Alto José do Pinho, Alto do Mandu, Apipucos, Brejo da Guabiraba, Brejo do Beberibe, Casa Amarela, Casa Forte, Córrego do Jenipapo, Derby, Dois Irmãos, Espinheiro, Graças, Guabiraba, Jaqueira, Macaxeira, Mangabeira, Monteiro, Morro da Conceição, Nova Descoberta, Parnamirim, Passarinho, Pau Ferro, Poço, Santana, Sítio dos Pintos, Tamarineira, Vasco da Gama

4 Caxangá, Cidade Universitária, Cordeiro, Engenho do Meio, Ilha do Retiro, Iputinga, Madalena, Prado, Torre, Torrões, Várzea, Zumbi

5 Afogados, Areias, Bongi, Barro, Caçote, Coqueiral, Curado, Estância, Jardim São Paulo, Jiquiá, Mangueira, Mustardinha, San Martin, Sancho, Tejipió, Totó

6 Boa Viagem, Brasília Teimosa, Cohab, Ibura, Imbiribeira, Ipsep, Jordão, Pina

Em Recife, a rede de serviços substitutivos de saúde mental para o atendimento de crianças e adolescentes é composta por três CAPSi: o CAPSi Zaldo Rocha, que atende a crianças e adolescentes nos distritos I, II e III; o CAPSi Cléa Lacet e o CAPSi-CEMPI, que atende a clientela de adolescentes e crianças, respectivamente, residentes nos distritos IV, V e VI. Embora a Portaria GM nº 336/02 (BRASIL, 2002) estabeleça o atendimento ao público infantojuvenil, os CAPSi Cléa Lacet e CEMPI conseguiram manter algumas de suas especificidades quanto à clientela, mesmo após a municipalização dos serviços.

Devido ao seu período de fundação, o CEMPI atravessou momentos diversos da Reforma Psiquiátrica brasileira, desde o modelo hospitalocêntrico, passando ao modelo hospital-dia até o atual, psicossocial. Com a conformação do serviço ao modelo CAPS, algumas características foram adequadas, enquanto outras foram mantidas, considerando a experiência teórica e prática decorrente da trajetória história do serviço na atenção às crianças em sofrimento psíquico. Nesse sentido, preservando a identidade desse serviço, foram cultivadas as seguintes especificidades: a clientela infantil em absoluto; o embasamento da teoria psicanalítica; e a referência no tratamento do autismo e da psicose, apesar de absorverem outras demandas, incluindo o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e neuroses graves, por exemplo.

A equipe é composta por profissionais das áreas de Psiquiatria, Psicologia, Psicanálise, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Assistência Social, Enfermagem, Educação física e estagiários (as) de diversas áreas, assim como por profissionais de apoio operacional, tais como gerente e agentes administrativos, auxiliar de serviços gerais, auxiliar de cozinha e vigilantes. Dentro de sua formação acadêmica, cada profissional encontra-se apto a exercer sua modalidade de clínica de forma interdisciplinar, atuando não apenas sobre o tratamento da doença, mas na prevenção diante do risco de adoecimento psíquico e (re) construção da subjetividade.

A entrada nesse serviço se dá tanto por via da demanda espontânea, como resultante de um trabalho em rede, através do encaminhamento de outros serviços, pelos profissionais da atenção básica e especializada, e educadores/professores, por exemplo. Num primeiro momento, o familiar e a criança são acolhidos, com o intuito de averiguar se a queixa apresentada é condizente com a especificidade do serviço. Em caso negativo, é realizado o encaminhamento para o serviço apropriado. Em caso positivo, os envolvidos passam pela triagem, caracterizada pela anamnese completa, envolvendo a história e os sintomas da criança, somada ao período de observação da criança num grupo terapêutico. Após esse período de avaliação, toda a equipe discute e elabora o projeto terapêutico singular, no qual

são definidos, em função das necessidades da criança, os profissionais responsáveis pela atenção (psicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, etc.), as modalidades (individual ou em grupo), e a frequência dos atendimentos.

Essas informações descritas foram concedidas por uma profissional de Psicologia do serviço (ver APÊNDICE A – Roteiro de entrevista), a qual também foi solicitada a concordância com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ver APÊNDICE B).

5.2 Participantes

Participaram desta pesquisa 19 cuidadores de crianças usuárias do CAPSi-CEMPI. O grupo de participantes foi composto a partir dos seguintes critérios: 1) indivíduos que acompanhavam as crianças ao serviço; 2) indivíduos responsáveis pelos cuidados cotidianos da criança; 3) indivíduos que aceitaram conceder a entrevista. No intuito de colher informações pertinentes a respeito das características individuais e sociais dos participantes, solicitou-se o preenchimento de um questionário (ver APÊNDICE C) após apresentação e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ver APÊNDICE D). As informações coletas foram sistematizadas no Quadro 1.

De modo geral, destaca-se que a maioria das pessoas entrevistadas eram mulheres e mães. Também participaram da pesquisa 3 (três) avós e apenas um pai. A faixa etária predominante variou entre 20 - 30 anos e 30 - 40 anos. A maioria se encontrava em união estável/ matrimônio. Em relação à idade das crianças em tratamento no serviço, registrou-se a mínima de 2 anos e 2 meses e a máxima de 10 anos. O grau de escolaridade dos participantes oscilou, principalmente, entre ensino médio completo e incompleto e ensino fundamental incompleto. Entre as mulheres entrevistadas, a maior parte autodenominava sua ocupação atual como “dona de casa” ou “desempregada”, e algumas relataram exercer trabalhos informais no interior da própria casa, como, por exemplo, o de costureira e manicure. Dos 19 entrevistados, apenas 4 (quatro) se identificaram como formalmente empregados (três mães e o único pai entrevistado). A renda familiar variou entre “até 1 (um) salário mínimo” e “de 1 (um) a 3 (três) salários mínimos”16.

16 Valores calculados com base no salário mínimo de R$ 678,00, regulamentado através do Decreto nº 7.872, de

Variável Categorias Participantes

Sexo Feminino 18

Masculino 1

Vínculo com a criança

Mãe 15 Pai 1 Avó 3 Faixa etária 20-30 anos 6 30- 40 anos 7 40-50 anos 3 50-60 anos 3 Estado civil Solteiro (a) 3 União estável 7 Casado (a) 7

Separado (a)/ Divorciado (a) 2

Escolaridade

Ensino fundamental incompleto 5 Ensino fundamental completo 0

Ensino médio incompleto 4

Ensino médio completo 8

Ensino superior incompleto 1

Ensino superior completo 1

Profissão

Dona de casa/ sem emprego 12

Trabalho informal em casa 4

Emprego formal 4

Renda familiar

Até 1 salário mínimo 11

Entre 1 e 3 salários mínimos 7 Entre 3 e 5 salários mínimos 0 Entre 5 e 7 salários mínimos 1

Benefício Sim 9 Não 10 Local de residência RPA 1 1 RPA 2 0 RPA 3 0 RPA 4 4 RPA 5 3 RPA 6 6

Jaboatão dos Guararapes (Região Metropolitana) 2 Outros municípios (interior do Estado) 3

Religião Católica 8 Evangélica 6 Espiritualista cristã 1 Nenhuma 4 Histórico familiar de transtornos mentais Sim 4 Não 13 Não sabe 2 Tempo de tratamento da criança no CAPSi 0-6 meses 4 6 meses – 1 ano 5 2 – 4 anos 8 Mais de 4 anos 2

Nesse quesito, praticamente metade dos participantes afirmou receber algum tipo de benefício do Governo, como benefício do INSS para a criança17 e/ou bolsa família18. Os

bairros de residência, categorizados segundo as Regiões Político-administrativas (RPA) (ver Figura 1), evidenciam que, de fato, a maioria dos participantes é proveniente da área de cobertura prevista para esse serviço (DS IV, V e VI), embora visualize-se o acesso de indivíduos residentes de outros municípios e RPA’s. Todas as informações coletadas foram organizadas no Quadro 1, e quando pertinente, serão melhor exploradas no decorrer da análise dos resultados.