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Capítulo 2 – O Setor Público e o Desenvolvimento do Turismo

2.4. Diferentes Níveis de Intervenção

2.4.3 Local

Se os governos nacionais e regionais são imprescindíveis ao sucesso das políticas públicas de turismo, será igualmente inegável o contributo dos governos locais no planeamento e gestão da indústria, na medida em que são estes que se encontram mais próximos dos locais, representando-os e lidando com as problemáticas que os irão afetar diretamente. Para além disto, são os responsáveis pela implementação mais eficiente

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dos planos e das decisões tomadas a um nível central (Elliott, 2002, p. 138). Neste aspeto, Timothy (1998) considera que isto ocorre pois os governos locais normalmente possuem um melhor conhecimento local, ao contrário dos governos centrais que se encontram menos familiarizados com as culturas e condições locais (apud Ruhanen, 2013, p. 82). Já os antecedentes históricos possuem um papel importante, pois irão refletir o modo como os governos locais lidam com questões relacionadas com o turismo, pois os valores e ideias que as instituições possuem irão nortear as suas perspetivas acerca dos papéis, funções e responsabilidades que lhes competem (Dredge, 2001, p. 357). As autoridades locais possuem, segundo vários autores, um papel facilitador na implementação das políticas públicas de turismo, sendo que a sua ação inclui normalmente a regulação e apoio, no qual se incluem, respetivamente, as atividades de gestão do uso da terra e o estabelecimento de parcerias público-privadas e financiamento (Zahra, 2010, p. 84). As atividades desempenhadas a nível local são maioritariamente levadas a cabo pelo governo local, não obstante, incluem “representantes da administração dos departamentos governamentais nacionais ou estaduais, agências públicas como os conselhos de turismo e agências de transporte”, sendo necessária, portanto a cooperação entre todos os organismos, inclusivamente com o setor privado, indo de encontro às considerações de Zahra (2010) sobre a importância das parcerias entre setor público e privado (Elliott, 2002, p. 136). O Estado local é, desta forma, um elemento essencial nas políticas públicas de turismo, ainda que seja frequentemente negligenciado pelas mesmas, na ótica de Hall (1994), levando a que as Organizações Regionais de Turismo, marketing e gestão do destino possam progredir ou regredir no contexto da estrutura local (apud, Zahra, 2010, p. 83).

Embora o papel do governo local na gestão pública tradicionalmente se focasse sobretudo no fornecimento de serviços básicos como a provisão de estradas, drenagem e esgotos, as mudanças sociais, económicas e tecnológicas, ocorridas ao longo do século XX alteraram este paradigma (Dredge, 2001, p. 367). Cada vez mais os governos locais procuram expandir as suas funções e estimular o desenvolvimento turístico, a nível local através de funções de capacitação, informação, promoção e coordenação, assim como através do investimento em infraestruturas e serviços públicos (Pearce, 2011, p. 60),

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investindo assim no desenvolvimento económico e social das suas regiões, como constata Bush (1995) (apud Shone, 2011, p. 153). Por sua vez, estas infraestruturas e serviços possuem, de acordo com Dredge (2001), repercussões na imagem e na atratividade de um destino, influenciando diretamente o modo como os turistas aproveitam a experiência (apud Ruhanen, 2013, p. 84).

Do mesmo modo, os governos locais são peças-chaves no aumento dos índices gerais de confiança política no que diz respeito ao desenvolvimento do turismo (Nunkoo, 2015, p. 625). Nem sempre ocorre uma distribuição igualitária dos benefícios do turismo, podendo surgir grupos que se sintam prejudicados, competindo, portanto aos governos locais uma distribuição igualitária de tais benefícios, independentemente do seu espetro social (Nunkoo, 2015, p. 630). Sem embargo, Reed (1997) advoga que tal situação nem sempre ocorre e que os governos locais nem sempre são neutros na gestão dos interesses das partes interessadas, usando o seu poder para favorecer os seus próprios objetivos e os das elites sociais (apud Nunkoo, 2015, p. 631). Esta perspetiva colide com a premissa de Elliott (1987) de que os governos locais têm como dever “proteger os direitos da comunidade local contra os interesses do governo central e dos interesses privados” (apud Zahra, 2010, p. 84), assim como de assegurar que o planeamento do turismo proíba a exploração da comunidade e de possibilitar que todos possam participar no desenvolvimento do turismo, encurtando desta forma a distância entre autoridades locais e comunidade e aumentando, consequentemente, a confiança política (Nunkoo, 2015, p. 631). Neste aspeto, é pertinente mencionar a importância da colaboração e da criação de parcerias no planeamento do turismo que servirá para atenuar a natureza fragmentada da indústria e para ultrapassar quezílias que possam surgir devido à falta de entendimento e de objetivos comuns entre as partes interessadas (Ladkin & Bertramini, 2002, p. 71). Para tal é necessário que as comunidades se sintam capacitadas e que possuam conhecimento adequado do turismo e do funcionamento dos governos locais (Nunkoo, 2015, p. 632).

Para que os governos locais resolvam os problemas que possam emergir do turismo urge que os seus interesses se elevem aos interesses comerciais, desafio que até ao momento tem sido difícil de alcançar, já que os governos tendem a focar-se nos

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benefícios económicos da indústria (Ruhanen, 2013, p. 90). De facto, os governos locais têm tomado decisões que se focam em melhorar a economia nacional e gerar receita governamental (Elliott, 2002, p. 137), encontrando-se numa posição privilegiada que lhes permite cobrar impostos ou taxas baseadas nos valores das propriedades (idem, p. 149). Assim sendo, entre os benefícios do turismo para as comunidades encontra-se o aumento do rendimento pessoal, melhorias na qualidade de vida da população (Haralambopoulos & Pizam, 1996), fornecimento de benefícios ao nível do entretenimento, nível histórico e cultural (Liu, Sheldon, & Var, 1987) e o empoderamento das comunidades locais (Hamilton & Alexander, 2013) (apud Nunkoo, 2015, p. 625). Pelo lado contrário, nem sempre os governos locais estão preparados para medir e gerir os impactos do turismo, sobretudo pelo facto de não possuírem os mesmos recursos financeiros do que, por exemplo, os governos centrais e se estes forem insuficientes para uma correta monitorização da indústria, conforme constatam Page e Hall (1999) (apud Connell, Page & Bentley, 2009, p. 870). Tal situação pode revelar-se ainda mais problemática aquando da existência de falta de planeamento do turismo a nível central ou de uma política nacional de turismo, recaindo sob as autoridades locais a responsabilidade de planeamento e gestão dos impactos da indústria (Connell et al., 2009, p. 868). Os efeitos negativos do turismo são mais sentidos e notórios a nível local, pelo que as ações ou inações do governo local são fundamentais para contornar os impactos adversos nas suas diversas vertentes - económica, sociocultural e ambiental (Ruhanen, 2013, p. 82). Para além da falta de recursos já mencionada, Dredge (2001) identifica outros entraves ao desenvolvimento do turismo e planeamento de políticas a nível local, nomeadamente a “falta de pesquisa e informação apropriada”, a “falta de compromisso com a implementação”, a “falta de coordenação e comunicação”, a “falta de conhecimento técnico” ou a “falta de envolvimento da comunidade” (p. 377).

No que diz respeito à relevância da ideologia partidária nas políticas e papéis desempenhados pelos governos locais, as opiniões não são unânimes. Por um lado, autores como Elliott (2002), consideram a ideologia política um assunto importante, já que esta pode determinar até que ponto os governos locais intervêm no turismo e que tipo de organizações privadas ou de atividades turísticas serão apoiadas (p. 140). Por

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outro lado, autores como Bowman (1983) ou Painter (1993) não vêem os partidos políticos ou ideologia como diretamente relevantes para a gestão local, na medida em que os assuntos locais normalmente precedem as linhas partidárias (apud Dredge, 2001, p. 375).

Para contornar as dificuldades por parte do governo local na intervenção no turismo a nível local, é importante que sejam aplicados os princípios de sustentabilidade no desenvolvimento do turismo num determinado local, incidindo sobre os governos nacionais e particularmente sobre os governos locais a responsabilidade pela sua implementação (Dymond, 1997, p. 280). Os acordos internacionais alçados sobre a questão da sustentabilidade, nomeadamente a “Agenda Local 21”, realçam a responsabilidade dos governos locais de adotar princípios sustentáveis nas suas atividades, políticas e planos (Connell et al., 2009, p. 867). As considerações de Hunter (1997) reiteram a importância do governo local na aplicação de princípios de sustentabilidade, considerando que é muito difícil a formulação ou implementação sustentável na ausência de um forte autoridade local no planeamento e desenvolvimento (apud Ruhanen, 2013, p. 82).

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