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5 A ASSOCIAÇÃO DOS MANIPULADORES DE REMÉDIOS FITOTERÁPICOS

5.1 LOCALIZAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES

A Região Metropolitana do Recife (RMR) está localizada no Estado de Pernambuco, Região Nordeste do Brasil. A RMR é formada por 14 municípios que se estendem por uma área de 2.773,76 km², onde reside uma população de 3.690.547 habitantes (PNUD, 2015). A região teve sua formação econômica e territorial ligada à atividade agroexportadora canavieira, que se estabeleceu na primeira fase da colonização brasileira e que ainda persiste, porém, com menor participação. Durante quatro séculos (1535-1888), a atividade canavieira na região explorou mão de obra escrava, sobretudo de origem africana, deixando como legado profundas marcas no território e na cultura pernambucanas.

Segundo o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH, calculado a partir de informações do censo IBGE 2010, o IDH da RMR é de 0.734. Embora seja considerado alto, a RMR está na 15º posição no ranking das 20 regiões metropolitanas brasileiras. Quando analisado o IDH referente à longevidade, a RMR fica na 17º posição (IDH 0.813), à frente apenas das regiões metropolitanas de Manaus, São Luiz e Maceió (PNUD, 2015).

Apesar das colocações no ranking do IDH entre regiões metropolitanas, a RMR tem apresentado uma considerável melhoria nos seus indicadores socioeconômicos. Ainda segundo o PNUD (2015), entre 2000 e 2010, o IDH de educação da RMR passou de 0,490 para 0,662. Este crescimento foi reflexo da melhoria de indicadores, como a percentagem de jovens entre 18 e 20 anos com ensino médio completo - que passou de 23,1% em 2000 para 42,2% em 2010. Outra melhora significativa foi o IDH referente à longevidade. Segundo o IBGE (2010), a esperança de vida ao nascer passou de 69,26 anos em 2000 para 73,79 anos em 2010. A seguir, a figura 10 apresenta a evolução do IDH da RMR entre os anos 2000 e 2010.

Figura 10. Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano Recife (2000 - 2010)

Fonte: PNUD, 2015

Na figura 10, percebe-se que o IDH da RMR acompanhou a tendência de crescimento do IDH registrado no Brasil. Contudo, o crescimento apresentado pela RMR foi menor que o brasileiro, aproximando-se do índice nacional. Uma das explicações para a melhoria do IDH no Brasil e nas Regiões Metropolitanas entre os anos de 2000 a 2010 foi a ampliação de programas sociais ocorridos durante os anos de 2003 a 2010 e o crescimento real do salário mínimo. De acordo com os trabalhos de Soares (2006) e Hoffmann (2006), as políticas de transferências de renda, como o programa Bolsa Família, e os investimentos em educação ocorridos durante o governo do presidente Lula (2003-2010), geraram um impacto direto sobre a dinâmica economia brasileira, especialmente na Região Nordeste - onde está concentrada a maior parte da população cuja renda é de até um salário mínimo. Apesar desses avanços, verifica-se que a diferença entre o maior e o menor IDH das Regiões Metropolitanas continua, evidenciando as desigualdades regionais ainda existentes no Brasil.

É nesse contexto periférico, porém com melhoria de indicadores de desenvolvimento humano, que se situa a Associação dos Manipuladores de Remédios Fitoterápicos Tradicionais Semi-Artesanais de Pernambuco (AMARFITSA-PE). A associação é constituída pelo Centro de Saúde Alternaltiva da Muribeca (CESAM), localizado no município de Jaboatão dos Guararapes; o Centro de Formação e Educação em Medicina Popular (CEFOMP), no município de Paulista; o

Centro de Práticas Naturais de Saúde de Camaragibe (CEPRANSC), no município de Camaragibe e o Grupo de Saúde Condor e Cabo Gato (GSCCG), no município de Olinda (Figura 11).

Figura 11. Localização das quatro associações que constituem a Associação dos Manipuladores de Remédios Fitoterápicos Tradicionais Semi-Artesanais de Pernambuco (AMARFITSA-PE)

Fonte: Google Earth, adaptado pelo autor, 2016.

Um aspecto destacado no mapa é a posição periurbana de três das quatro associações que compõem a AMARFITSA. Com exceção da Associação de Cabo Gato em Olinda, todas se encontram na borda da mancha urbana da RMR. Apesar da associação de Cabo Gato estar geograficamente próxima ao centro do Recife e Olinda, a associação se encontra em uma zona de ocupação com baixa infraestrutura urbana, o que a coloca numa posição periférica em relação aos bairros com maior infraestrutura urbana na RMR.

As associações são formadas por um horto e uma oficina. No horto, são cultivadas espécies vegetais simpáticas à região de uso tradicional. Segundo o relato das associadas, a produção é realizada de forma orgânica, sem o uso de agrotóxicos, pesticidas ou conservantes sintéticos. Para evitar o aparecimento de fungos e pragas, as associadas adotam práticas agroecológicas, como o cultivo em consórcio e a produção de compostagem. Nas oficinas, são elaboradas as preparações medicinais sob a forma de pomadas, xaropes, tinturas, xampus, sabonetes etc. As unidades apresentam, ainda, um espaço para exposição e comercialização dos produtos. Além da

comercialização na própria associação, os produtos são vendidos em quermesses ou outros tipos de eventos, como encontros de economia solidária (Ver figuras 12, 13 e 14).

Figura 12. Horto de plantas medicinais do CESAM, Muribeca - Jaboatão dos Guararapes - PE

Fonte: CESAM, 2016.

Figura 13. Farmácia de Fitoterápicos Tradicionais. CEPRANSC, Camaragibe - PE

Fonte: Lisboa, 2016.

Figura 14. Laboratório de Fitoterápicos Tradicionais CESAM, Muribeca - Jaboatão dos Guararapes - PE Fonte: CESAM, 2016.

Os fitoterápicos produzidos pelas associações são comercializados nas comunidades onde elas estão inseridas. Ademais, pessoas adeptas ao uso de remédios fitoterápicos, se dirigem de diversos bairros da Região Metropolitana do Recife para as associações a fim de adquirir seus produtos. A associação CESAM também participa de duas feiras agroecológicas, nas quais comercializa seus produtos junto a outros produtores de produtos agroecológicos. As feiras localizam-se no bairro da cidade universitária no Recife e no bairro de Prazeres, na cidade de Jaboatão dos Guararapes -PE.

As sedes das associações também são utilizados para o exercício da cidadania nas comunidades em que encontra-se inseridos. Periodicamente, As associações abrem suas portas para discutir as condições de saúde da comunidade com membros de outros grupos sociais e pessoas interessadas.