Percepção Sobre as Categorias de Análise

A média do score das dez categorias analisadas foi de 144,4. A avaliação do impacto das ações da INCUBATECS demonstrou que as categorias de análise mais percebidas pelas ações da INCUBATECS foram aprendizagem (score 154) e valorização de saberes tradicionais (score 153). As principais ações que contribuíram para a percepção na aprendizagem foram: parcerias com

atores locais; envolvimento de estudantes de graduação e pós-graduação em atividades de pesquisa; produção de monografias de plantas medicinais; feira de saúde da Muribeca e o

desenvolvimento de tecnologias sociais. Juntas, essas atividades foram responsáveis por cerca de

30% das respostas de cada uma das duas categorias.

Quadro 12. Resultado da percepção sobre as categorias de análise da INCUBATECS

Sobre a percepção dos agentes acerca das atividades que se destacaram em relação a aprendizagem e valorização de saberes tradicionais, chama à atenção a elaboração de estudos

diagnósticos. Dentre os 60% dos participantes que avaliaram a atividade de estudos diagnósticos,

86% concordaram fortemente que os estudos diagnósticos geram impactos na aprendizagem e na valorização de saberes tradicionais. Essa percepção demonstra que a pesquisa é uma atividade relevante na INCUBATECS. Além disso, os estudos diagnósticos contribuem para geração de conhecimento sobre as associações e são úteis para a definição de suas estratégias particulares e para as estratégias da rede AMARFITSA.

Sobre o desenvolvimento de tecnologias sociais, merece destaque a Estação Multipropósito de Plantas Medicinais. A tecnologia foi uma das ganhadoras do Prêmio Miguel Arraes de Inovação Inclusiva. Segundo o parecer da comissão que analisou a tecnologia, a estação multipropósito destaca-se pelo “caráter inovador” e por ter “grande potencial de impacto e de envolvimento das comunidades. Mobiliza conhecimento de diferentes temas e agentes, organizando-os para difusão”. Ademais, a tecnologia foi caracterizada como uma “inovação de processo com potencial de replicação no sentido de subsidiar a elaboração de novos produtos e serviços, bem como o aproveitamento por diferentes grupos sociais para geração de trabalho e renda ou cuidados com a saúde”. O parecer chamou ainda atenção para a definição de um modelo de gestão e apontou que esse é um dos maiores problemas quando se trata de tecnologias semelhantes (Anexo 1).

Ficaram abaixo da média do score as seguintes categorias: laços com o território (score 135), inovação inclusiva (score 132) e reinvestimento coletivos de excedentes (score 121). Como apresentado na revisão da literatura, o território compreende as relações de poder mediadas pelo

espaço. Essa dimensão é essencial para o sucesso das ações da Incubadora e para consolidação de um sistema territorial de inovação. Os laços com o território significam que as ações são apropriadas pelos agentes locais, de forma simbólica ou funcional. A percepção baixa de que as ações da Incubadora fortalecem os laços com o território levanta as seguintes questões: em que medida as ações da Incubadora estão sendo apropriadas pelos agentes locais e em que medida essa apropriação têm influenciado a territorialidade desses agentes? A busca pelas respostas as questões deve orientar as futuras ações da incubadora.

Cumpre salientar que a resposta a essas questões é obtida a partir dos próprios agentes que constituem o território. Nesse sentido, atenção especial deve ser dada aos espaços de diálogo. Integrar os diversos agentes presentes no território e estimular o exercício do poder durante o desenvolvimento das ações da INCUBATECS deve fazer parte do planejamento e da gestão das

ações. Adicionalmente, é necessário lembrar que os fluxos que circulam sobre o território também

podem ser fontes de disputas. Um mesmo espaço pode apresentar várias funções e símbolos que implicam em territorialides diferentes. Particularmente em Muribeca, têm-se percebido que a Escola Edson Moury Fernandes possui várias funções. Dentre essas, no final de semana há a função recreativa. A escola mantém seus portões abertos para uso da quadra esportiva pela comunidade. Contudo, os estudantes se queixam que alguns usuários da quadra também utilizam a torneira pertencente ao horto. O mau uso da torneira tem danificado o sistema de irrigação produzido pelos alunos. Além disso, por conta do fluxo de pessoas nos finais de semana o portão é mantido aberto, permitindo a entrada de animais como cavalos que invadem a área do horto e se alimentam das plantas cultivadas. Incidentes como esses podem gerar conflitos que necessitam ser mediado entre os atores que constituem o território.

Nesse sentido, é necessários compreender como esses agentes se relacionam e como está organizado a Rede de Colaboração Solidária. Adicionalmente, o impacto sobre a aprendizagem e a valorização de saberes tradicionais é significativo na medida em que essas categorias contribuem para o fortalecimento de um sistema territorial de inovação. A troca de conhecimentos entre os agentes localizados no território contribui para o empoderamento dos agentes, o que reflete-se na capacidade desses agentes de identificarem quais os problemas por eles vivenciados e participarem do desenvolvimento da solução. Desta maneira, é essencial que os componentes da Rede de Colaboração Solidária sejam capazes de solucionarem possíveis conflitos decorrentes do processo de incubação e das interações com os agentes que constituem o sistema territorial de inovação. Como parte do trabalho de incubação, capacitações sobre a dimensão território, devem ser incluídas nas atividades relacionadas à assessoria, formação de recursos humanos e a incubação de

empreendimentos. O conhecimento sobre a dimensão do território deve estimular os participantes à se engajarem no fortalecimento dos laços com seu território, o que é essencial para o cumprimento dos objetivos da INCUBATECS.

Sobre a inovação inclusiva, cumpre salientar que é recente a adoção do conceito de inovação inclusiva pela INCUBATECS. O diálogo com a literatura sobre a inovação inclusiva tem sido feita com mais intensidade a partir do Prêmio Miguel Arraes de Inovação Inclusiva da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação de Pernambuco. Contudo, apesar de recente, o conceito de inovação inclusiva tem sido bem acolhido pelo comitê gestor da incubadora. Seminários com a temática da inovação inclusiva têm sido organizados pela INCUBATECS com o objetivo de difundir entre os participantes da Incubadora o conceito e suas aplicações. Apesar desse esforço, as associadas e os estudantes de ensino médio participantes da pesquisa ainda apresentam um certo desconhecimento acerca da inovação inclusiva. No momento de aplicação do questionários, muitas perguntas surgiram sobre qual a natureza da inovação inclusiva e suas aplicações. Essa avaliação demonstra a necessidade de formar cursos de capacitação para que os participantes da INCUBATECS possam se apropriar do conceito de inovação inclusiva.

Por último, é preciso considerar a baixa percepção acerca do reinvestimento coletivo de

excedentes. O reinvestimento de excedentes é fundamental para geração de trabalho e renda na

economia solidária. Essa categoria de análise está mais fortemente relacionadas as ações de incubação. No entanto, mesmo que não apresente correlação aparente, o reinvestimento de excedentes deve ser tratado como aspecto transversal nas ações da INCUBATECS. Conforme demonstrado na literatura o reinvestimento coletivo de excedentes é uma expressão das redes colaborativas solidárias. Essa categoria está relacionada a expansão do modo de produção da economia solidária. Nesse sentido, é preciso pensar em como o excedente obtido a partir da comercialização dos produtos pode contribuir para fortalecer a economia solidária. Também é necessário discutir coletivamente como esse excedente deverá ser repartido e como parte dele pode ser dedicado para o desenvolvimento de inovação no processos ou nos produtos que reforcem a rede. Mais uma vez, cumpre ressaltar que esse planejamento só será válido se incorporar a participação dos agentes do sistema territorial.