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CAPÍTULO 6 CASO DE ESTUDO

6.2 Localização de estações de tratamento primário de OGR em Fortaleza

6.2.1 Introdução

Este item trata do problema da localização otimizada de estações de tratamento primário (ETPO) de OGR enquanto insumo à produção de biodiesel, tendo como caso de estudo a cidade de Fortaleza. Os dados sobre os volumes de OGR gerados na cidade são provenientes de estudo produzido para a Companhia de Água e Esgoto do Ceará - CAGECE pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Infraestruturas de Transporte e

Logística da Energia – GLEN, da Universidade Federal do Ceará - UFC, onde foram levantados os volumes gerados naquela cidade, dentre outras da Região Metropolitana de Fortaleza.

A análise para indicar a localização ótima para tais ETPO’s levou em consideração o volume gerado de OGR em cada bairro de Fortaleza, a localização de associações de catadores de materiais reciclados, uma capacidade pré-fixada da ETPO (90 mil litros por mês), bem como foram considerados iguais para todas as associações a capacidade e o custo do momento de transporte (em R$/l-km) para o transporte de OGR.

Foram considerados três cenários de oferta, em função do percentual de descarte do óleo de cozinha, depois de utilizado; pesquisa na literatura mostra vários percentuais de descarte, tendo-se utilizado os percentuais mínimo (15% - cenário pessimista), médio (33% - cenário médio) e máximo (58% - cenário otimista).

A idéia de indicar a localização ótima de ETPO’s para alimentar a cadeia produtiva do biodiesel surgiu em função de projeto envolvendo o Governo do Estado do Ceará, através da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social – STDS, e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS, que objetiva instalar quatro ETPO’s de OGR na cidade de Fortaleza. Também, a Petrobras Biocombustível, proprietária da Usina de Biodiesel de Quixadá, manifestou intenção de instalar uma ETPO de OGR no local que hoje abriga a Rede de Catadores de Resíduos da RMF.

O Projeto MDS/STDS pretende contribuir para a inclusão social e produtiva de catadores de resíduos cadastrados no CadÚnico em Fortaleza, possibilitando o aumento da renda das pessoas ligadas às associações de catadores de material reciclável da cidade, migrando para condições que os induza a dispensar o auxílio do Bolsa-Família, redirecionando-o para pessoas hoje ainda fora do esquema daquele benefício social.

Os métodos para localização otimizada das ETPO’s de OGR utilizados neste trabalho foram o do Centro de Gravidade, considerando os bairros com maior oferta de

OGR, e o Problema de Localização de Facilidades Capacitado - PLFC, levando em consideração, principalmente, as capacidades das ETPO’s e as distâncias entre as associações de catadores de materiais recicláveis da cidade de Fortaleza.

Ao final deste Capítulo, são feitas análises relacionadas à localização de ETPO’s, ao impacto delas na geração de renda pelas associações de catadores e aos impactos positivos no meio ambiente decorrentes da estruturação da cadeia reversa do OGR.

6.2.2 A Oferta de OGR em Fortaleza

Conforme reportado no item anterior, o potencial de geração de OGR em Fortaleza foi estimado a partir de cenários baseados em percentuais de descarte de óleos vegetais consumidos em processos de cocção de alimentos. Os cenários foram idealizados levando-se em consideração os volumes de descarte descritos na bibliografia, como pode ser visto no Quadro 6.3.

Quadro 6.3 - Índices de descarte de óleos utilizados na cocção de alimentos. Fonte: Elaborado pelo autor.

REFERÊNCIAS INDICE DE DESCARTE (% POR LITRO) Almeida Neto (2003) 15 Cristhoff (2006) 37 Castelanelli (2008) 21 Pinto (2009) 58 Média 33 Máximo 58 Mínimo 15

O Quadro 6.4 apresenta os volumes totais e as médias (em litros) por bairro, para cada cenário. Estratificaram-se os valores gerados de OGR por bairro e percentual de geração com relação ao total gerado na cidade. Assim, no Quadro 6.4 são apresentados os estratos (volume e média mensal de litros gerados) de bairros com os percentuais de geração abaixo de 1%, entre 1 e 2% e com mais de 2%,. Na última linha encontram-se os volumes totais mensais gerados na cidade para cada cenário de percentual de descarte.

Cenário (percentual de descarte) Classificação dos

Bairros por Volume Relativo

de OGR Gerado

15% (Pessimista) 33% (Médio) 58% (Otimista) Volume Gerado (10³ litros) 10³ litros/ Bairro Volume Gerado (10³ litros) 10³ litros/ Bairro Volume Gerado (10³ litros) 10³litros/ Bairro Bairros com Geração de OGR abaixo de 1 % do Volume Total Gerado 669,2 (85 bairros) 7,8 1.461,0 (85 bairros) 17,2 2.530,7 (84 bairros) 30,1 Bairros com Geração de OGR entre 1 e 2% do Volume Total Gerado 465,6 (27 bairros) 17,2 1.016,6 (27 bairros) 37,7 1.896,3 (28 bairros) 67,7 Bairros com Geração de OGR acima de 2 % do Volume Total Gerado 145,5 (4 bairros) 36,3 316,7 (4 bairros) 79,2 560,9 (4 bairros) 140,2 Total 1.279,8 2.794,3 4.987,8 Quadro 6.4 - Volume Total Mensal e Média Mensal de OGR por Bairro na Cidade de Fortaleza.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Comparando-se os estratos no Quadro 6.4, observa-se que há uma grande variação entre os volumes totais de OGR produzidos por cenário. O cenário médio apresenta 2,2 vezes mais volume que no cenário pessimista; o volume gerado no cenário otimista é 4 vezes maior que aquele do cenário pessimista. Esta discrepância reflete a grande dificuldade de se estimar o real volume de descarte do óleo de cozinha, que parece depender de fatores relacionados à cultura, ao grau de instrução e hábitos alimentares dos residentes urbanos no país.

No cenário pessimista, verifica-se que 85 bairros possuem capacidade de gerar 669,2 mil litros mensais de OGR. Esses bairros, individualmente, geram volumes de

OGR inferiores a 1%, do volume total gerado em Fortaleza e respondem por uma média de 7,8 mil litros mensais por bairro, o que caracteriza pequena escala e grande dispersão espacial na geração, necessitando de maior ênfase no trato logístico.

Entre os bairros com geração de OGR maior que 1% e menor 2% do volume total, no cenário pessimista, 27 bairros geram 465,6 mil litros, com media mensal de 17,2 mil litros por bairro. Aqui, já se verifica um maior concentração espacial com escala maior por bairro, facilitando a estruturação da cadeia logística reversa.

Por fim, ainda no cenário pessimista, quatro bairros compõem o estrato de geração maior que 2% do volume total de Fortaleza, gerando 145,0 mil litros de OGR, com média mensal por bairro de 36,3 mil litros. Neste caso, o trato logístico da cadeia fica facilitado pela maior escala de geração e concentração espacial dos geradores.

Análise semelhante pode ser feita para os demais cenários, cuja magnitude de volumes gerados é expressivamente maior que para o cenário pessimista analisado.

6.3 LOCALIZAÇÃO DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO PRIMÁRIO DE