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Localização dos terminais de integração no município de João Pessoa-PB

1.5 O sistema de bilhetagem eletrônica

O sistema de bilhetagem eletrônica na cidade de João Pessoa funciona desde o ano de 2008. A bilhetagem eletrônica faz com que o usuário do transporte coletivo deposite suas passagens de ônibus em um cartão eletrônico que faz a contagem em dinheiro. Cada vez que o passageiro de ônibus utiliza o cartão eletrônico, a quantidade de dinheiro diminui correspondente ao preço da passagem. Este sistema foi implantado sob o discurso das empresas de ônibus e da Prefeitura Municipal de João Pessoa, que sugeriam tratar-se de um modelo “prático e eficiente” de se pagar passagem nos ônibus. Veja citação a esse respeito no site oficial do sistema:

A ideia de trazer o serviço para a capital paraibana surgiu como a oportunidade de substituir os convencionais Vale Transporte e Passe Estudantil tradicionais, impressos em papel, por um cartão eletrônico, no qual seria possível guardar todas as informações de seu usuário. A consequência disso? Uma verdadeira mudança e melhoria na vida de nossos usuários. Além da facilidade e segurança, em casos de perda, roubo ou extravio do cartão, com o novo sistema, é possível tanto bloquear o cartão quanto resgatar os créditos remanescentes, algo impossível de fazer com as antigas senhas de papel (PASSE LEGAL, 2014).

Atualmente, existem diversos cartões eletrônicos, cada um com modalidades diferenciadas de pagamento no sistema de ônibus. Os cartões eletrônicos são denominados “Passe Legal” e existem na modalidade Estudante (Figura 8) que tem o benefício da meia- passagem, Vale Transporte (Figura 9) que tem o benefício do Vale Transporte garantido em lei14 para o trabalhador e a modalidade Cartão Cidadão (Figura 10) que são para os usuários que não estão encaixados em nenhum dos modelos anteriores, ou seja, sem nenhum dos benefícios citados anteriormente (página 48).

14 Lei nº 7619/87, o salário do trabalhador é descontado em 6% e este recebe passagens de ônibus para o seu

Figura 8 - Cartão Estudante

Fonte: Passe Legal, 2014

Figura 9 - Vale Transporte

Fonte: Passe Legal, 2014

Figura 10 - Cartão Cidadão

1.5.1 Mas afinal, quais foram os reais motivos para a adoção do sistema eletrônico?

Antes mesmo do cartão eletrônico, o sistema de meia-passagem e vale transporte funcionava com o bilhete de papel (Figura 11). Neste sistema, o bilhete de papel, que garantia o benefício, podia ser facilmente transferível. O controle da utilização da meia-passagem e do vale transporte era difícil para os empresários, já que o cobrador se preocupava apenas em checar o número de pagantes da catraca com o número de passagens de papel recebidas.

Figura 11 – Imagem do passe estudantil utilizado de Maio até Junho 2001

Digitalização: Kristofer Oliveira Fonte: Ônibus Paraibanos, 2014

O passe de papel funcionava até como uma moeda de troca nas ruas de João Pessoa. Os ambulantes vendiam esses passes de papel cobrando cerca de 10 a 20 centavos mais caro do que o preço da passagem, o que facilitava ainda mais o uso da meia passagem por quem não era estudante. Também existiam pessoas que ficavam nos postos de recarga querendo comprar talões para a revenda15

Os aumentos das passagens ao longo dos anos incentivava cada vez mais o uso da meia passagem por quem não era estudante. O ano de 2006 teve como média anual 41% de estudantes no total de passageiros transportados. Esta enorme quantidade de estudantes ocorreu, porque os usuários do transporte coletivo, para economizar na passagem, utilizavam o passe estudantil de papel. A cada ano que se passava a quantidade de usuários com meia- passagem só aumentava e o de inteira diminuía (Gráfico 7 e 8, página 50).

Para contornar essa situação, os empresários do transporte, seguindo o exemplo de várias outras capitais do país, implementaram o cartão de bilhetagem eletrônica. Desta maneira, barraram a utilização da meia passagem para os usuários não estudantes.

Atualmente, a quantidade de pessoa que utilizam a meia-entrada se encontra na faixa dos 23%, bem abaixo dos 41% do ano de 2006 (SEMOB, 2014c).

Gráfico 7 – Total anual de passageiros pagantes de meia-passagem em João Pessoa de 2004 a 2006

Fonte: DCE-UFPB (2009)

Gráfico 8 - Total de Passageiros que pagaram passagem inteira em João Pessoa – 2004 a 2006

Fonte: DCE UFPB (2009)

Em uma publicação da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano – NTU apud DCE-UFPB (2009), declara a importância da implementação do cartão eletrônico:

o controle do acesso ao estudante é uma das principais vantagens da bilhetagem. Os resultados alcançados em termos de controle do acesso de estudantes foram muito bons (...) (p.07)

No Quadro 1 a seguir demonstra como houve redução na quantidade de estudantes, a partir da implementação do sistema de bilhetagem eletrônica em várias cidades brasileiras. Observe que João Pessoa teve a maior redução dos exemplos apresentados.

Quadro 1 - Impactos da implementação da bilhetagem eletrônica em algumas cidades do Brasil. Município Incidência de estudantes

antes da bilhetagem*(%) Incidência de estudantes depois da bilhetagem*(%) Santos 20 12 Guarulhos 18 11 Maceió 30 25 Recife 30 17 João Pessoa 41 23

* Relação entre estudantes com direito a desconto e passageiros pagantes da passagem integral

Fonte: DCE-UFPB (2009) e SEMOB (2014c) Elaboração: Enver José, 2014

Uma das reivindicações que os movimentos sociais fizeram na época foi a redução imediata do preço da passagem, pois com a redução na quantidade de estudantes, também deveria ocorrer uma redução no preço da tarifa de ônibus (DCE-UFPB, 2009).

Para esta argumentação da redução da passagem de ônibus, o DCE-UFPB gestão “Levante e lute” embasava-se nos próprios argumentos dos empresários do sistema de transporte coletivo.

Ao criticar as mobilizações que reivindicavam o Passe Livre, os empresários questionavam sobre os abatimentos:

Os estudantes e a sociedade precisam saber também que o ônus do abatimento de 50% recai sobre os passageiros pagantes que arcam com esse custo, porque não há subsídio governamental que banque. Portanto, para resumir, quanto mais passe livre e abatimentos, mais cara ficará a tarifa para a grande maioria da população (PASSE LEGAL apud DCE-UFPB, 2009).

Se os empresários argumentam que “quanto mais passe livre e abatimentos, mais cara ficará a tarifa para a grande maioria da população”, a lógica inversa seria “quanto menos abatimentos, mais barata fica a tarifa”, porém a passagem de ônibus não foi reduzida na época.

1.6 Integração Temporal

O integração temporal é um sistema eletrônico que propicia ao usuário, através do “Passe Legal”, utilizar outro ônibus gratuitamente. Ele funciona desde 2011 em João Pessoa e foi possível com o advento do cartão eletrônico de bilhetagem.

Para ocorrer integração entre as duas linhas de ônibus, elas não podem partir do mesmo terminal e não podem ser circulares. O tempo para realizar a integração temporal é o tempo de uma volta completa da primeira linha de ônibus utilizada mais 30 minutos. (MOBILIDADEJP, 2014). Ou seja, se a primeira linha que o usuário utilizou tem 1h no seu percurso completo, o intervalo entre o primeiro e segundo ônibus que o usuário entrar, terá que ser abaixo de 1h e 30 minutos.

Entretanto, o sistema de integração temporal possui problemas. Alguns usuários reclamam que o serviço não funciona em algumas linhas de ônibus. Como relatada pela usuária Carla Pereira sobre a linha I009 Nova Mangabeira:

Tudo mentira, isso é um descaso com o consumidor. Esta linha está um problema! O ônibus atrasa uma hora e, quando a gente vai pegar outro, a integração não funciona. Isso é uma bagunça! Tem mais: quando a gente entra em contato com os órgãos competentes, eles não sabem informar e deixam a gente com mais dúvida (ÔNIBUS PARAÍBA, 2013).

A usuária do transporte coletivo também discorre sobre a falta de informação do sistema de integração temporal quando questiona os órgãos competentes. Um dado deflagra essa questão é que, no próprio site da Prefeitura Municipal de João Pessoa, por exemplo, foi constatado que não há nenhuma página dedicada a explicar o sistema de integração temporal.

1.7 AETC-JP e os Postos de Recarga

A Associação das Empresas de Transporte Coletivo de João Pessoa (AETC-JP) é a Associação empresarial responsável pelo atendimento dos usuários do transporte coletivo de João Pessoa. A AETC funciona por meio de diversos postos de recarga no município para realizar a recarga dos cartões de bilhetagem eletrônica.

A política de instalação de diversos postos de recarga na cidade faz parte da estratégia dos empresários de ônibus para reduzir a quantidade de dinheiro circulando nos ônibus, por conta dos muitos assaltos no transporte coletivo.

A partir do momento em que se aumenta a quantidade de usuários com cartão de bilhetagem eletrônica, reduz-se a quantidade de pessoas utilizando com dinheiro nos ônibus.

Outra medida utilizada pelas empresas de ônibus foi obrigar a utilização de um cartão eletrônico para os usuários terem acesso ao Terminal de Integração do Varadouro. Atualmente, com dinheiro, o usuário só entra se antes mesmo comprar um cartão de uso único no guichê ou utilizar o cartão eletrônico. Esta medida incentiva, por parte da obrigatoriedade, o usuário a adquirir um cartão eletrônico. Em março de 2014, no início de sua implementação, este cartão de uso único não existia. O usuário de ônibus tinha acesso ao terminal apenas com o bilhete eletrônico Passe Legal. Por conta disso, vários trabalhadores contratados pela AETC ficaram realizando cadastros na entrada do Terminal do Varadouro16.

Os 18 (dezoito) postos de recarga (Mapa 7, página 54), assim como a implementação do sistema de recarga online e a obrigatoriedade de uso do cartão eletrônico, caracterizam-se como estratégias utilizadas pelas empresas de ônibus para incentivar o uso do sistema eletrônico, diminuindo o prejuízo ocasionado com os assaltos em João Pessoa. Só no ano de 2013 fora realizados 206 assaltos aos ônibus (PORTALCORREIO, 2014).

Mapa 7 – Postos de recarga do sistema de bilhetagem eletrônica no transporte coletivo de João Pessoa