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3. ÁREA DE ESTUDO

3.1. Localização e Caracterização da Área de Estudo

A Lagoa da Conceição localiza-se na porção centro-leste da Ilha de Santa Catarina, entre as coordenadas 27º10’ e 27º 50’ de latitude Sul e 48º27’ e 48º 39’ de longitude Oeste. Constitui uma laguna 44 com área aproximada de 20 Km², que se estende por 13,5 km em sentido norte-sul, apresenta largura variável entre 0,15 e 2,5 km e volume d’água de aproximadamente 49.106 m³ (MUEHE; CARUSO JR., 1989), (Figura 2).

Mapas do Estado SC e de Florianópolis, fornecidos pelo Laboratório de Análise Ambiental – CFH-UFSC, Florianópolis, SC.

FIGURA 2 – Localização da área de estudo.

44 Phleger (1969 apud PEREIRA, 2004) define laguna como “um corpo de água marinha interior, geralmente orientado na direção paralela à costa, separado do oceano por uma barreira, mas interligando-se ao mesmo com um ou mais canais restritos”. Já, para Kjerfve (1986); Isla (1995) ,são corpos aquosos aprisionados por algum tipo de barreira paralela à linha da costa, sendo um local onde ocorre a interação de águas provenientes da drenagem continental e do oceano adjacente, estas últimas penetrando através de um ou mais canais de ligação que podem ser perenes ou intermitentes.

Estado do Paraná Estado do Rio Grand e do

Estado de Santa Catarina Arg e nti na Oce ano Atl ântic o Ilha de Santa Catarina S ul 29o 26o o S S 48 W 54O 150 km 50 100 0 W 3 6 9 km O 27 30`SO 27 46`SO 48º 30’ W

Santa Catarina

A origem da Lagoa da Conceição está relacionada às variações relativas do nível do mar durante o Quaternário. Esta laguna constitui o corpo d’ água de maior extensão da Ilha de Santa Catarina, sendo importante ecossistema para a reprodução de peixes e crustáceos.

Apresenta profundidade média de 1,74 m e máxima de 8,70 m na parte Norte, próximo à margem oeste. A temperatura média das águas é de 18,89º C e a salinidade média de 30,04% (MUEHE; CARUSO JR., 1990). A hidrografia se caracteriza por uma série de pequenos córregos e rios tendo como principal tributário o Rio João Gualberto.

A comunicação da Lagoa da Conceição com o mar se faz através de um canal meândrico de cerca de 2 km de extensão, 20 m de largura e 2 m de profundidade aproximadamente. Odebrecht; Caruso (1987) explicam que a comunicação com o mar se dava de maneira esporádica até 1982, quando a construção de um molhe levou a fixação da desembocadura do Canal da Barra. Esta obra permitiu uma livre e constante troca entre as águas mixohalinas interiores e as águas marinhas adjacentes, a entrada de organismos marinhos de interesse comercial e o tráfego de embarcações.

O Canal da Barra atua como principal redutor dos efeitos das marés, reduzindo em cerca de 95% as marés astronômicas, e em cerca de 55% as marés meteorológicas, entre a desembocadura deste canal no oceano e seu início na Lagoa da Conceição (ANDRADE; ROSMAN, 2004).

Andrade; Rosman (2004) estudaram a circulação das águas na Lagoa da Conceição, segundo Modelo de Transporte Lagrangeano, e constataram que os ventos são os principais responsáveis pelo escoamento das águas e que, na ausência de ventos, não ocorrem expressivas trocas de água no interior deste corpo lagunar.

Parte das correntes existentes em uma laguna são induzidas pela onda de maré que entra pelo canal, onde suas velocidades são controladas pela pressão hidrostática, profundidade e pelo comprimento da feição. O padrão de circulação, mistura e sedimentação de estuários é determinado por processos físicos, de fluxos de água fluvial, marés astronômicas, ondas, ventos e outras variáveis meteorológicas, conforme Phleger (1969 apud PEREIRA, 2004).

Dessa forma, os riscos tornam-se maiores quando o ecossistema não possui uma renovação constante de suas águas, proporcionando o acúmulo de substâncias tóxicas nos compartimentos bióticos e abióticos do ecossistema inteiro. Assim, conhecer as condições físicas da bacia de drenagem (uso do solo, litologia, geomorfologia) e as condições climáticas (tipo de clima, sazonalidade na precipitação) se torna importante por serem estas responsáveis pelo comportamento do fornecimento de água doce para este sistema.

A partir da análise de fotografias aéreas na escala de 1:8.00045, da Bacia hidrográfica da Lagoa da Conceição, de maio de 1994, Hauff (1996) caracterizou- a segundo a ocupação do solo, em:

• 15,21% como floresta primária com desmatamento seletivo e vegetação secundária em estágios sucessionais de mata secundária e capoeirão; • 16,10% com vegetação secundária em estágio sucessional de capoeira; • 22,17% com vegetação secundária em estágios sucessionais de capoeirinha,

pioneiro e pastagens;

• 7,48% vegetação pioneira arbórea e arbustiva com influência marinha; • 13,13% vegetação pioneira herbácea com influência marinha;

• 1,64% vegetação pioneira herbácea com influência fluvial;

• 4,30% com dunas móveis; 2,09% de áreas de praias; 9,48% de áreas de reflorestamento; 0,34% de áreas de agriculturas; 7,59% de áreas urbanizadas; e 0,17% de áreas degradadas.

Aspectos históricos

De 1748 a 1756, 1310 imigrantes, vindos do Arquipélago dos Açores, ocuparam as localidades da Costa da Lagoa, Praia e Parque da Galheta, Praia da Joaquina, Lagoa da Conceição, Canto da Lagoa, Praia Mole e Porto da Lagoa. Assim, a Barra da Lagoa se caracterizou pela ocupação de núcleos de pescadores.

A laguna existente nesta região recebeu o mesmo nome do distrito, e fornece pescado, destacando-se a anchova, tainha, cação, corvina, camarão e siri. A preservação do folclore e artesanato, como a confecção de renda de

bilro, estão entre as atividades desenvolvidas pela comunidade, destacando-se como um dos principais pontos turísticos de Florianópolis.

Em tempos recentes, o município de Florianópolis como um todo teve um aumento populacional motivado, em grande parte, pelo Estado ao concentrar, na capital, concessionárias estatais como a ELETROSUL46, CASAN47, e TELESC48, além da criação da Universidade Federal de Santa Catarina e a Universidade Estadual – UDESC, impulsionando o aumento do fluxo de moradores e turistas para a região. Esse adensamento urbano, no entanto, se efetivou sem um planejamento que contemplasse uma preocupação com a infra-estrutura.

Relações sócio-econômicas

Sierra De Ledo et al., (1985); Hermann et al. (1987), Sierra De Ledo (1990) e Bittencourt (2005) expõem sobre a interferência ambiental ocasionada pela ocupação humana na Lagoa, evidenciando que, na faixa junto à orla do sistema lagunar, têm sido observados problemas decorrentes da falta de ordenamento, infra-estrutura e critérios que orientem uma utilização adequada, levando em conta a fragilidade do ecossistema existente e a necessidade de se proteger e conservar as condições ambientais

.

O último censo disponível revela que o número de habitantes da Lagoa da Conceição soma 25.316 (incluso as localidades delimitadas para esta pesquisa) (IBGE, 2000). E a atividade mais desenvolvida na área é a exploração turística da beleza cênica do local, no entanto, esta exploração se caracteriza pela ocupação sem infra-estrutura, de acordo com o número de pessoas, trazendo como conseqüência a possibilidade de contaminação por fontes difusas das águas da Lagoa da Conceição. Dados da Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Esportes (2006)49 revelam um fluxo turístico estimado para a Ilha de Santa Catarina, em 2005, de 574.098 turistas, sendo 453.316 brasileiros e 45 E classificação da imagem orbital Landsat TMS da bacia hidrográfica da Lagoa da

Conceição, Ilha de SC, em escala aproximada de 1:115000.

46 Eletrosul Centrais Elétricas S.A, criada em 1968. Subsidiária das Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - Eletrobrás e vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

47 Companhia Catarinense de Águas e Saneamento. 48Telecomunicações de Santa Catarina S/A.

120.582 estrangeiros; para 2006 uma previsão de 588.759, sendo 487.960 brasileiros e 100.799 estrangeiros, muitos dos quais visitam ou se estabelecem na região da Lagoa.

Entre as conseqüências do subdimensionamento da rede sanitária, encontra-se o aumento da poluição das águas do corpo lagunar, de acordo com dados apresentados pela FATMA (2005). Nos relatórios de balneabilidade emitidos por esse órgão tem sido registrado maior incidência de pontos amostrados com balneabilidade imprópria.

A estação de tratamento de esgotos (ETE), existente para a Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição, atende aproximadamente 17% dos residentes. Sendo assim, 83% da população total utilizam fossas sépticas ou lança seus esgotos domésticos de forma não adequada na Lagoa da Conceição. Estima-se que a Lagoa da Conceição receba uma contribuição de esgotos da ordem de 157.338 m³/mês, correspondendo a um lançamento de 300 kg/DBO5/dia nas suas águas (ABES, 2000). Outras estações estão sendo implantadas na Costa da Lagoa e na Barra da Lagoa. Elas já têm suas redes coletoras implantadas parcialmente (composto por rede coletora, coletores- tronco e interceptadores), mas não estão operando ainda devido a falta de implantação de usina elevatória, e ou emissários de recalque.