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Problemática Ambiental Associada a Ecossistemas Costeiros

2. ASPECTOS TEÓRICOS

2.1. Economia Ecológica e Valoração Ambiental

2.1.2. Problemática Ambiental Associada a Ecossistemas Costeiros

Durante toda a história, o homem tem preferido a zona costeira35 como espaços desejáveis para viver, trabalhar e de oportunidade de recreação. Em um primeiro momento, estuários e enseadas serviam de refúgios, coleta de alimentos, e acesso para o interior dos continentes via sistemas de rios, com a Revolução Industrial, essas áreas passaram a ser locais também de extração e escoamento de água. Na atualidade, com a ascendência da sociedade material os aspectos recreacionais têm sido incrementados (WILSON et al., 2002).

Num cenário geral, aproximadamente 44% da população mundial, em 1994, vivia em 150 km de linha de costa conforme Cohen et al. (1997 apud WILSON et al., 2002), sendo mais de 50% da população nos EUA e 94% na China. Esse cenário apresenta perspectiva de incremento para as décadas futuras. Atualmente, poucas regiões não foram afetadas pela intervenção humana, considerando número e tipo de pressão sobre bens e serviços desejáveis. E o homem apresenta-se como o agente de influência sobre a morfologia e ecologia dessas zonas, seja de forma direta ou indireta explica Townend (2002 apud WILSON, et al., 2002).

As comunidades, muitas vezes, escolhem entre uso competitivo dos ambientes e, para escolher, é importante saber não apenas que bens e serviços do ecossistema podem ser afetados, mas que eles atualmente apresentam valores para diferentes membros da sociedade. Deste modo, quando nos deparamos entre ter que decidir sobre serviços de diferentes ecossistemas, nossas deliberações não escapam a escolhas sociais baseadas

35 Zona costeira com sistemas costeiros, tais como, estuários, rios, manguezais e praias provêm diferentes bens e serviços para a sociedade humana.

em valores. Nenhuma alternativa escolhe muitas outras. Escolhas indicam que a alternativa selecionada apresenta maior valor que as demais.

A zona costeira brasileira possui mais de 8.500 km lineares, abrangendo 17 estados, 405 municípios e 16 regiões metropolitanas, e concentra mais de 87% da população brasileira, com densidade média de 87 hab/km²– índice cinco vezes superior à média nacional, que é de 17 hab/km². Essas cidades reúnem mais de 87% de toda a população urbana brasileira.

De acordo com o IBAMA (2007),

A costa brasileira abriga um mosaico de ecossistemas de alta relevância ambiental. Ao longo do litoral brasileiro podem ser encontrados manguezais [...] ambientes importantes do ponto de vista ecológico [...] isto se deve basicamente às diferenças climáticas e geológicas [...] os espaços litorâneos possuem riquezas significativas de recursos naturais e ambientais, mas a intensidade de um processo de ocupação desordenado vem colocando em risco todos os ecossistemas presentes na costa litorânea do Brasil.

Muitas das atividades sócio-econômicas, desenvolvidas ao longo da zona costeira, têm contribuído para a descaracterização de habitats vitais para o ecossistema marinho costeiro, a partir da introdução de agentes que possam degradar esses ambientes (GARRETA-HARKOT; CARDOSO, 2004).

A diversidade de habitats marinhos que ocorrem na região Sul (RJ, SP, PR, SC e RS) estão sujeitos à grande variabilidade sazonal das condições climáticas e da hidrografia da plataforma. Recebe influência da confluência da Corrente do Brasil com a Corrente das Malvinas e pela drenagem continental do Rio da Prata, da Lagoa dos Patos e do Complexo Estuário Paranaguá-Cananéia

(http://unisantos.br/~metropms/meioamb/ecocos/ecocos.htm)

De acordo com Villvock (1994), a costa sul brasileira, sobretudo Santa Catarina e Rio Grande do Sul, se caracteriza por uma ampla planície costeira onde um sistema múltiplo e complexo de barreiras arenosas se desenvolveu em função das oscilações do nível do mar durante o Quaternário, aprisionando conseqüentemente, sistemas lagunares de proporções consideráveis.

King (1995) expõe que no recurso ambiental marinho, por ser geralmente sem preço ou bens públicos, há uma carência de transações de mercado observáveis que possa estimar valor, contudo usos afetados incorrem na redução de bem-estar em três caminhos: 1) visitantes evitando uma linha de costa poluída; 2) visitante desfrutando de um sítio menos afetado; 3) acontecendo adicional despesas resultante do uso de sítio substituto. Por exemplo, é estimado que um número X de visitantes evitou as praias da Inglaterra durante o ano de 1978, na estação turística, como conseqüência do acidente do Amoco Cadiz. A magnitude desses depende algumas vezes da freqüência de uso, da estação, da viabilidade de sítios substitutos e em quanto o sítio foi contaminado. Para valor de uso comercial existem duas novas categorias de valor:

1- assume que indivíduos que, embora não usem a linha de costa, querem preservar a opção de poder utilizar em algum tempo, no futuro

2- representa a perda em benefício, sofrida por indivíduos que não têm planos para usar a praia em qualquer tempo, mas o conhecimento de prejuízo é suficiente para reduzir sua utilidade. Tais valores são considerados valor de não-uso ou existência e surge da noção de que indivíduos que não fazem uso de uma praia em particular, costa ou qualquer recurso natural, podem ganhar utilidade da mera existência do recurso.

O IBGE, recentemente, destacou a importância do estudo sobre a preservação ambiental, defendendo ser possível aliar preservação ambiental e desenvolvimento econômico. Em 2002, os municípios brasileiros apresentaram o seguinte perfil:

• 47% das cidades já registram quedas no volume pescado, em razão de problemas ambientais;

• 33% dos municípios apresentavam índice de poluição no solo;

• 33% dos rios e enseadas apresentavam, também, índice de contaminação.

Este perfil representa um cenário de degradação do ambiente costeiro e, conseqüentemente, deterioração das condições de vida das populações que nele habitam.

Morgan; Owens (2001) apontam que, mesmo que a correlação entre análise de custo e benefício seja menor que a exata, estimativas de valoração demonstram alguns indicativos que podem ser positivos no sentido de política voltada à melhora da qualidade da água.

Avaliação de conseqüências econômicas no uso da praia, resultantes de poluição marinha e escombros arrastados é difícil devido a alguns fatores, como:

● tipos de efeitos no uso da praia: aqueles que são basicamente de natureza de longo termo e que resulta em degradação de qualidade da água, por exemplo: bactéria, turbidez, odor etc; e aqueles que são de natureza de curto termo, tais como resíduos arrastados.

● características físicas da praia, proximidade de facilidade e acesso, distância relativa e custo de viagem para o local, composição de usuários da praia, proximidade com áreas metropolitanas, condições do tempo, temperatura da água e outras variáveis socioeconômicas (OFIARA; BROWM, 1999).

Ofiara; Browm (1999), referem-se à estimativa de impactos na saúde pública, provenientes de ingestão de alimentos do mar, expondo que poluição marinha pode indiretamente, causar efeitos na saúde devido ao consumo de alimentos contaminados (com doenças36 e toxinas) ou contato com atividades aquáticas. Danos econômicos que resultam de doenças (ex. doenças gastrointestinais) e incremento de risco na saúde (ex. risco de aumento de câncer), embora ambos, efeitos na saúde também têm efeitos econômicos na demanda, suprimento e preço de alimentos. Como resultado, órgãos oficiais estabelecem diretrizes e regulamentos para testes de níveis de bactérias em águas costeiras, resultando em proibição de coleta quando os níveis são excessivos. O enfoque de DAP está baseado na premissa que, quando um indivíduo está disposto a pagar para reduzir a probabilidade de um evento, como doença ou morte, esse indivíduo valoriza a saúde ou evita a morte

36 Doenças provenientes de consumo de alimentos contaminados por bactérias são normalmente associados com ostras, podendo causar hepatite e gastroenterites, Hughes, et al. (1977); Brown; Folson (1983) (apud OFIARA; BROWM, 1999).

segundo Freeman (1979), Freeman (1993); Hodgson, Meiners (1982); Jones- Lee (1976) (apud OFIARA; BROWM, 1999).