• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 – A HIDRELÉTRICA DE NOVA PONTE E OS DESLOCAMENTOS COMPULSÓRIOS

3.2 Localização e caracterização da área de estudo

Conforme dados do IBGE, na Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, encontra-se o município de Nova Ponte, que faz parte da Microrregião Araxá, composta por Araxá, Nova Ponte, Pratinha e Tapira. Ainda, com os municípios limítrofes de Romaria, Estrela do Sul, Indianópolis, Uberaba, Sacramento, Santa Juliana, Pedrinópolis e Irai de Minas e está distante 472 quilômetros da capital (IBGE, 2013), o que demonstra a figura 1.

Tem como características geográficas: área de unidade territorial de 1.111 km² altitude de 791 metros, clima tropical, fuso horário UTC-3 e ainda tem os indicadores: Índice de Desenvolvimento Humano-IDH 0,803, elevado, Produto Interno Bruto-PIB R$ 519.198,799 mil, PIB per capita R$ 42.442,48. (IBGE, 2013).

Figura 1 – Localização de Nova Ponte em Minas Gerais. Fonte: Nova Ponte. MG (2012).

O município é drenado pelo rio Araguari, afluente do rio Paranaíba, cortado por duas rodovias de responsabilidade estadual: a MG 154 e a MG 226, como mostra o mapa 1 a seguir. É composto por 12.812 habitantes-IBGE/2010, constituída, predominantemente, pelo bioma cerrado. (IBGE, 2013).

Mapa 1 – Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, a bacia do rio Araguari e a Represa de Nova Ponte.

Fonte: Minas Gerais (2014).

Entre 1987 e 1994, foi construída a UHE de Nova Ponte no município de mesmo nome, localizada em Minas Gerais, situada na bacia do rio Araguari-MG, mapas 2 e 3, com capacidade de geração de 510 MW.

Mapa 2 – Minas Gerais e a Bacia Hidrográfica do Rio Araguari. Fonte: SILVA (2013a).

Mapa 3 – Localização das UHE’s na Bacia Hidrográfica do Rio Araguari. Fonte: SILVA (2013b).

No estudo de viabilidade do projeto da empresa empreendedora CEMIG, parte integrante do Plano de Controle Ambiental, justificou-se a necessidade de relocação da sede municipal de Nova Ponte. A UHE Nova Ponte se insere no macro-contexto bioma do cerrado, constituído por chapadas, com relevo mais plano, extensas áreas de monoculturas, em especial soja e café, a pecuária e a agricultura de subsistência. Sua construção promoveu expressiva remoção da cobertura vegetal, causou alterações nos vales dos rios Araguari e Quebra-Anzol, levando a alterações ambientais expressivas. (CEMIG, 1995, p.88).

O Estado de Minas Gerais possui 12 mesorregiões estabelecidas pelo IBGE para Minas Gerais, como mostra o mapa 4: Noroeste de Minas, Norte de Minas, Jequitinhonha, Vale do Mucuri, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, Central Mineira, Metropolitana de Belo Horizonte, Vale do Rio Doce, Oeste de Minas, Sul e Sudoeste de Minas, Campos das Vertentes e Zona da Mata.

Mapa 4 – O Estado de Minas Gerais - Mesorregiões do IBGE. Fonte: Minas Gerais. Instituto de Geociências Aplicadas (2012a).

O município de Nova Ponte, no qual foi executado o empreendimento hidrelétrico com o mesmo nome, integra as regiões de saúde definidas no Plano Diretor de Regionalização de Saúde do Estado de Minas Gerais (PDRS/MG) que são divididas em 13 macrorregiões do Estado. O Triângulo Mineiro é dividido em duas macrorregiões de saúde: Triângulo do Norte e Triângulo do Sul como apresentado no mapa 5.

Mapa 5 – O Estado de Minas Gerais – Macrorregiões de Saúde. Fonte: SILVA; RAMIRES (2010).

O mapa 6 apresenta a Macrorregião Triângulo do Norte, sua divisão assistencial por microrregiões de saúde, baseada no PDRS/MG, com respectiva localização na Mesorregião Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, no Estado de Minas Gerais e no Brasil. A macrorregião Triângulo do Norte, é composta por três microrregiões: Ituiutaba, Uberlândia/Araguari e Patrocínio/Monte Carmelo, com um total de 27 municípios.(MINAS GERAIS, 2011a).

Mapa 6 – Localização da Macrorregião Triângulo do Norte: divisão assistencial por microrregião. Organizado por: Astolphi (2015).

O mapa 7 mostra a microrregião de saúde Uberlândia/Araguari que é composta por 09 municípios: Araguari, Araporã, Cascalho Rico, Indianópolis, Monte Alegre de Minas, Nova Ponte, Prata, Tupaciguara e Uberlândia, com sua localização na macrorregião Triângulo do Norte , na Mesorregião Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba , no Estado de Minas Gerais .(MINAS GERAIS, 2011b).

De acordo com o Relatório Anual de Gestão- RAG (2013), a rede de atenção à saúde de Nova Ponte possui uma unidade hospitalar que atende urgência e emergência, cirurgias, internações de média complexidade e conta com um ambulatório de especialidades, um laboratório e um aparelho de Rx, três unidades básicas de saúde, um posto de saúde, um núcleo de reabilitação e em construção uma nova unidade básica de saúde. (NOVA PONTE, 2013).

As ações de Vigilância em Saúde, Atenção Básica e Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) constituem argumentos de boas práticas de saúde conforme RAG (2013). Na análise e considerações sobre mortalidade afirma que:

A atenção básica, a vigilância em saúde e o NASF atuam fortemente nas ações de promoção de saúde como, por exemplo, vacinação dos idosos e crianças e gestantes contra influenza, saúde do trabalhador, ginástica na praça, reuniões com hipertensos, diabéticos e gestantes para diminuirmos os índices de mortalidade. (NOVA PONTE, 2013, p.4).

Mapa 7 – Localização da Microrregião Uberlândia/Araguari e respectivos municípios. Organizado por: Astolphi (2015).

Retomando a discussão da introdução do empreendimento hidrelétrico no território novapontense é pertinente conhecer os estudos que antecedem a execução do empreendimento hidrelétrico, que consubstanciou o projeto executivo, para vislumbrar a dimensão e a abrangência do uso do território destinado à implantação da UHE Nova Ponte.

O Projeto Executivo, Relatório de Integração e Estudos Ambientais, no que concerne ao item meio socioeconômico cultural, afirma:

Dos efeitos ambientais [...] de maior magnitude são os relacionados ao meio socioeconômico. [...] da inundação da Sede Municipal de Nova Ponte, além de áreas rurais dos outros municípios, em função da formação do reservatório (443 km²) [...] (CEMIG, 1995).

No estudo supracitado, no item meio socioeconômico cultural, aparece o campo da saúde cuja análise, feita a partir de estudos epidemiológicos realizados pela Fundação Nacional de Saúde, aponta que o município foi classificado em padrão médio, em relação à região do Alto Paranaíba. Foi identificada a doença de Chagas, como doença mais comum da região e apesar do município pertencer à área não malárica, foi encontrado, no curso do rio Araguari o mosquito anofelino. (CEMIG, 1995, p. 66).

Em termos de prognóstico para o setor saúde, com o deslocamento da população para a cidade nova, que passa de uma cidade construída com traçados típicos do crescimento espontâneo local para uma cidade planejada e estruturada para atender à mudança de sua sede, resultante da implantação do empreendimento hidrelétrico, demonstra certa cautela quanto ao futuro relacionado ao processo de adoecimento da população.

O relatório “Projeto Executivo Análise dos Impactos sobre a Saúde” contém alguns elementos e argumenta sobre aspectos da situação de saúde local a partir da mudança da sede:

A perspectiva de melhoria nas condições de habitação e saneamento, dada a mudança para a nova cidade, por sua vez, aponta para a minimização do atual impacto na população das doenças diarreicas ligadas à veiculação hídrica, às verminoses e até mesmo à doença de Chagas. A melhoria da qualidade de vida, tomando como referência a oferta de serviços públicos, seguramente beneficiaria a população de Nova Ponte com a nova realidade a ser criada pela construção da usina. Entretanto, não se pode precisar, as possíveis patologias crônico-degenerativas advindas do novo ritmo de vida introduzido a partir da transformação do ambiente e das relações humanas devido à construção da barragem. (CEMIG, 1990, p. 47-48).

A CEMIG, no documento “Relatório Final de Estudos Ambientais” (1992), realizado em função da implantação da UHE de Nova Ponte, faz referência a estudos sobre a infraestrutura social, que compreendem o diagnóstico da situação do setor educacional (anos de estudo da população e dos contingentes municipais com curso completo e a oferta de vagas escolares na área); o diagnóstico do setor saúde na área de influência direta do empreendimento, através da análise dos recursos de saúde (capacidade instalada ambulatorial e hospitalar), dos recursos humanos (médicos e outros profissionais da saúde) e do nível de saúde (taxa de mortalidade infantil para a década de 70/80, mortalidade em geral, mortalidade e morbidade pelas doenças endêmicas e outras) e o diagnóstico do setor de saneamento, com avaliação das condições de saneamento básico existente, associado aos aspectos da infraestrutura sanitária disponível (água, esgoto, lixo e drenagem).

Especificamente, o diagnóstico de saúde parece sustentado pelo conceito adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1948 que define que “saúde é o estado de

completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”, distante de ser uma realidade, representa um compromisso, apesar da ideia de “saúde perfeita”, representar algo utópico, unilateral, uma vez que a mudança e não a estabilidade prevalece na vida cotidiana.