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Localização e identificação dos assentamentos precário removidos em Natal/RN (2001

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As remoções ocorreram por meio de projetos implementados via Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV). Em relação a uma delas, removida da Zona Sul em 2001, não foi identificado programa governamental ao qual a intervenção estava vinculada. As remoções via PAC aconteceram entre 2008 e 2010, sendo 05 localizadas na Zona Oeste, nos bairros Felipe Camarão, Cidade da Esperança e Guarapes; 03 na Zona Sul da cidade, nos bairros Candelária e Ponta Negra; e 01 na Zona Leste, no bairro Mãe Luiza. Aquelas realizadas via PMCMV aconteceram entre 2014 e 2016, sendo 3 na Zona Oeste, no bairro Guarapes, e uma na Zona Leste, no bairro da Ribeira.

Natal é uma cidade cujas características morfológicas a fazem ter, ao mesmo tempo, uma beleza natural e uma fragilidade ambiental. Cerca de 35% do seu território é formado por Zonas de Proteção Ambiental (ZPAs), com um vasto ecossistema de dunas, rios e mangues. Conforme visto anteriormente, há um número considerável de assentamentos precários nessas áreas de proteção ambiental, como também em áreas de risco (faixas de domínio da rede de alta tensão, faixa de domínio da via férrea, encostas, dentre outras).

A Diretora do Departamento de Desenvolvimento de Programas da SEHARPE informou, em entrevista ao autor13, que as remoções em Natal aconteceram em função de as famílias removidas estarem, anteriormente, ocupando essas áreas ambientalmente frágeis, como também áreas de risco ou leitos de vias públicas. Na sua fala, a entrevista chama atenção para esses pontos importantes para a compreensão da atuação do poder público na questão da moradia em Natal.

Não é só a questão da remoção em si [que deve ser observada]. Temos que ver a situação da localização desses assentamentos precários no município de Natal [...] Na hora que existe uma ocupação desses assentamentos, é óbvio que eles vão procurar locais onde haja a maior facilidade de instalação. Então sempre é próximo ao rio Potengi, seja nas margens da Zona Norte ou Oeste e Leste, e também próximo a dunas. Então muitas das situações de remoção foram nesse contexto que se caracteriza até como risco para o assentamento. Há, também, a ocupação de vias públicas (informação verbal).

A entrevistada também chamou atenção para as demandas judiciais do Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN), seja da Promotoria do Meio Ambiente, seja da Promotoria dos Direitos Sociais, que demandam a remoção de famílias que se encontram

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nessas condições de risco ou em áreas de proteção ambiental. A sistemática foi essa durante quase todo o processo de remoção de assentamentos precários anterior ao Programa Minha Casa, Minha Vida. Após o PMCMV, a sistemática da Prefeitura na seleção dos assentamentos precários, mesmo considerando aqueles em áreas de fragilidade ambiental ou de risco, passou a obedecer alguns critérios que serão explicados no tópico das remoções por meio do referido programa. Contudo, a entrevistada ponderou que todas as decisões referentes às remoções e reassentamentos (definição de percentual de unidades e seleção de assentamentos) via PMCMV, são deliberadas pelo Conselho Municipal de Habitação de Interesse Social (CONHABINS).

A seguir serão demonstradas as remoções que aconteceram no período em tela. Objetivando facilitar a compreensão do leitor, as remoções serão apresentadas de acordo com a ordem cronológica dos acontecimentos, começando pela remoção da favela Cidade do Sol, em 2001. Em seguida tem-se, via PAC, a remoção dos assentamentos precários Alagamar, Peão, Via Sul, 8 de Outubro, Fio, Alemão, Luiz Gonzaga e Wilma Maia; e, por meio do PMCMV, a remoção dos assentamentos Anatália, Monte Celeste, 8 de Outubro14 e da favela do Maruim.

2.1.1. Remoção da favela Cidade do Sol (2001).

Dentro do recorte temporal estabelecido pela pesquisa, a favela Cidade do Sol foi a primeira a ser removida e reassentada em Natal. Localizada próximo a uma das principais entradas da cidade, no bairro Pitimbu, os primeiros registros da favela surgiram ainda em 1991, quando poucas famílias ocuparam um trecho da rua Oiti, ao lado da empresa de transporte público Cidade do Sol (SEMURB, 2010).

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Figura 6 - Localização da Favela Cidade do Sol, removida em 2001.

Fonte: elaborado pelo autor. Imagem: Google Earth.

Segundo publicação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo15, a favela teve origem com moradores que migraram do interior do Rio Grande do Norte e de cidades da região metropolitana para Natal em busca de oportunidades de trabalho e renda, além de famílias que moravam de aluguel na capital, mas não puderam mais arcar com as despesas.

O padrão habitacional da favela era de barracos feitos com materiais improvisados e não resistentes (palha, tábuas de madeira, papelão, taipa, entre outros). Dentre os barracos, havia apenas duas casas de alvenaria. O abastecimento de água e energia elétrica eram de forma clandestina. Ainda segundo a publicação da SEMURB, a maioria dos moradores da favela estava desempregada, desempenhando atividades informais e, em alguns casos, vivendo de doações.

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Figura 7 - Padrão habitacional na favela Cidade do Sol, removida em 2001.

Fonte: SEMURB, 2010.

A remoção da favela ocorreu em setembro de 2001. Uma ação integrada pelo Governo do Estado e Prefeitura do Natal removeu e reassentou as 65 famílias no Conjunto Habitacional Bela Vista16, no bairro Planalto. De acordo com SEMURB (2010), a justificativa dos responsáveis pela remoção das famílias foi a situação de precariedade na qual elas estavam inseridas; porém, ainda de acordo com a publicação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, fatores como pressões dos moradores do bairro Pitimbu, especificamente do Conjunto Habitacional Cidade Satélite, e o fato de a favela estar localizada na principal entrada da cidade, influenciaram no tipo de intervenção escolhida.

As famílias, antes moradoras de barracos construídos com materiais improvisados, receberam os imóveis no conjunto habitacional e algumas promessas do governo da época, entre elas de que a posse definitiva dos imóveis só seria possível após 05 anos de permanência no empreendimento. No entanto, essas “garantias” dadas pelo governo não foram suficientes para que as famílias permanecessem no empreendimento. Em 2004, foi realizada uma pesquisa no conjunto no qual foi reassentada a favela e os dados indicaram que apenas 34% das famílias da favela Cidade do Sol ainda residiam no local (SEMURB, 2010).

Em visita ao local de origem da favela, no bairro Pitimbu, foi identificado o crescimento urbano em comparação ao período da época. No entorno da área desocupada pelo poder público foram construídos empreendimentos habitacionais de médio e alto padrão, grandes lojas de departamentos e concessionárias de carro. Há, também, alguns terrenos vazios.

16Mais detalhes acerca dos empreendimentos que receberam as famílias podem ser encontradas no capítulo 03

2.1.2. As remoções via PAC (2008 – 2010).

Das 09 remoções vinculadas ao projeto do PAC, realizadas entre 2008 e 2010, 08 foram executadas pela Prefeitura do Natal e 01 pelo Governo do Estado do RN. As justificativas apresentadas pelos governos para as remoções indicam ações judiciais (seja de reintegração de posse, seja para a desobstrução de vias públicas); demandas sociais de movimentos por moradia; ou a garantia da “moradia digna” para as famílias que residiam na precariedade. Os projetos executados no âmbito do PAC destinavam recursos para a construção de equipamentos de educação, como creches e escolas de ensino infantil.

Na pesquisa realizada em matérias jornalísticas, identificou-se que, em alguns casos, novas ocupações surgiram nas áreas que foram desocupadas. Essas ocupações eram formadas por famílias que já haviam sido removidas e reassentadas nos empreendimentos construídos na Zona Oeste, mas que por dificuldades de acesso a meios de geração de renda (em muitos dos casos os chefes de famílias eram catadores de materiais recicláveis), resolveram retornar ao local de origem, melhor inserido na cidade. Além dessas, outras famílias não contempladas nos projetos habitacionais reocuparam áreas.

Um caso assim aconteceu no lugar onde existia a favela Via Sul, removida em 2009. A favela, na qual residiam cerca de 55 famílias, localizava-se no final da rua Francisco Luciano de Oliveira, no bairro Candelária, atrás da empresa de transporte urbano Via Sul, que deu nome à favela. Nesse caso, a justificativa apresentada pela Prefeitura do Natal na época foi de que existiam ações judiciais do Ministério Público solicitando a remoção das famílias e a urbanização da área, uma via pública, então ocupada pelas famílias. Segundo reportagem do jornal Tribuna do Norte (2007a), a Promotoria de Justiça do Meio Ambiente entrou, em 2007, com uma ação civil pública contra a Prefeitura do Natal, objetivando a retirada das famílias, a demolição dos barracos e a drenagem e a pavimentação da via. Ainda segundo a reportagem, moradores de um conjunto habitacional próximo à favela reclamavam dos vizinhos: “os moradores do [Conjunto Habitacional] Parque das Colinas são quem mais reclamam das favelas. Eles se queixam do acúmulo de lixo, da proliferação de insetos e roedores e os riscos à saúde que o ambiente oferece” (TRIBUNA DO NORTE, 2007a). A Prefeitura, então, contemplou as famílias da favela Via Sul com unidades habitacionais na Zona Oeste da cidade. Os moradores foram removidos da favela em 2009 (Figura 08).

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Figura 8 - Funcionários da SEMURB removendo famílias da favela Via Sul, em 2009.

Fonte: Tribuna do Norte (2009a).

Passados quase 09 anos desde a remoção, o terreno no qual se localizava a favela permanece uma via pública sem infraestrutura urbana. A imagem abaixo ilustra a situação rua Francisco Luciano de Oliveira, onde ficava a favela Via Sul.

Figura 9 - Área da favela Via Sul, no bairro Candelária, removida em 2009.

Fonte: Acervo do autor, 2017.

Após a remoção da favela Via Sul, houve nova ocupação no bairro, em 2010, em terreno próximo ao da antiga favela. A imprensa local novamente fez matérias a respeito da ocupação da área. O jornal Tribuna do Norte trouxe relatos dos novos ocupantes e do então secretário municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, Olegário Passos. Segundo a matéria, algumas das famílias que ocuparam terreno eram oriundas da antiga favela Via Sul. Uma das antigas moradoras da favela, e que reocupou a área no bairro, afirmou que vendeu a casa que

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ganhou do município “para não passar fome com as crianças”, uma vez que era na região da antiga favela que as famílias conseguiam retirar o sustento das famílias (TRIBUNA DO NORTE, 2010a).

Em julho de 2010, nova remoção. A Prefeitura do Natal impetrou uma Ação Civil Pública e a ordem para a desocupação da área foi concedida pela justiça. O jorna Tribuna do Norte (2010b), então, publicou:

Móveis na rua, barracos destruídos por picaretas e tratores, revolta e desolação. O cenário se repete, assim como a insistência dos catadores de lixo em retornarem à antiga favela Via Sul. Em menos de dez meses, a Prefeitura faz a segunda remoção dos moradores instalados entre as ruas Eletricista Elias e Bruno Pereira, em Candelária. Dessa vez, a destruição de 15 barracos na manhã de ontem, 20, se deu em cumprimento a uma sentença do juiz Luiz Alberto Dantas Filho, da 5ª Vara da Fazenda Pública de Natal, que julgou a Ação Civil Pública (processo número 001.07.205155-9). A decisão acolhe o pedido do Município de Natal. “Esta é uma via pública e área de dunas e não podemos tolerar um lixão e a degradação do meio ambiente”, arrematou o secretário municipal de Urbanismo Olegário Passos.

Ainda segundo a matéria, o destino de algumas famílias, após a nova remoção, foi a favela do Fio (favela removida parcialmente e reocupada), no bairro de Felipe Camarão, zona oeste da cidade.

Um fato a ser observado é que no período da nova ocupação estava sendo construído, no terreno ao lado da ocupação, o Natture Condomínio Clube, com 06 torres de 21 pavimentos, com apartamentos avaliados entre R$ 280 mil e R$ 340 mil reais17. As imagens abaixo mostram como está o terreno antes ocupado pela “nova favela Via Sul” e, ao lado, o condomínio. Passados sete anos após a segunda remoção, a via pública continua sem uso e o condomínio clube e os moradores do conjunto habitacional Parque das Colinas sem vizinhos favelados.

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Figura 10 - Remoção de reocupação de moradores da favela Via Sul.

Fonte: TRIBUNA DO NORTE, 2010c.

Figura 11 - Área de ocupação da favela Via Sul, removida, novamente, em 2010.

Fonte: Acervo do autor, 2017.

Situação semelhante aconteceu com a favela do Peão, no bairro Ponta Negra, área de grande especulação imobiliária e interesse turístico internacional. Espremida em uma rua sem saída entre a ZPA 06 18 , um terreno particular e o condomínio residencial Ponta Negra Boulevard, a favela foi mais um alvo da política de remoção. As famílias foram reassentadas para um conjunto habitacional construído na Zona Oeste por meio do PAC.

O PMRR estabeleceu índice de risco para a favela do Peão e recomendou a realização de obras de microdrenagem, pavimentação com calçamento de ruas, proteção superficial vegetal ou biomanta em solo exposto para a prevenção de deslizamentos de dunas; pavimentação de acessos locais para pedestres (calçadas, escadaria e lajes de concreto),

18 A ZPA 06, definida pelo Plano Diretor de 2007, é composta pelo Morro do Careca e dunas associadas. É uma

remoção parcial e reassentamento involuntário de moradias que se encontram nas encostas de maior declividade.

Em 2007, a cidade do Natal recebeu a equipe da Relatoria Nacional do Direito Humano à Moradia e Terra Urbana que, ao visitar as favelas e demais assentamentos precários, relatou sobre a situação da moradia da população mais pobre, que vivia sem as adequadas condições de habitabilidade. Uma das favelas visitadas foi a do Peão. Segundo a relatoria, havia cerca de 100 famílias residindo em condições precárias, sem serviços básicos de coleta de lixo, água, energia, saneamento básico e sem iluminação pública. No entanto, ainda segundo o relatório, as famílias não desejavam sair do local devido à proximidade com a orla, na qual desenvolviam atividades de subsistência e obtinham renda.

Uma pesquisa realizada por Tavares (2009) demonstrou a insatisfação dos moradores com a ausência de serviços básicos e infraestrutura, além dos problemas causados pelo muro do condomínio Ponta Negra Boulevard, que impedia a ventilação nos barracos.

A imprensa local, como nos demais casos, também noticiou a existência, os conflitos e a remoção da favela do Peão. Em matéria publicada em 2008, o jornal Tribuna do Norte considerou a favela como "o símbolo do crescimento imobiliário de Ponta Negra", demonstrando a existência de um conflito entre “o luxo e a miséria” (TRIBUNA DO NORTE, 2008), conflito esse que, em 2007, demandou do poder público a remoção das famílias que residiam no assentamento.

Tavares (2009) traz imagens do contraste existente entre esses dois universos tão diferentes de renda e de oportunidades.

Figura 12 - Barracos da Favela do Peão e ao fundo o condomínio Ponta Negra Boulevard / Muro do Ponta Negra Boulevard e barracos da favela do Peão.

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Figura 13 - Localização da favela do Peão, removida em 2009.

Fonte: Elaborado pelo autor. Imagem área do Google Earth.

Como a favela Via Sul, a Favela do Peão também foi removida em 2009. Nesse caso o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) desempenhou papel importante na mobilização das famílias para demandar do poder público uma resposta aos problemas habitacionais enfrentados pelos moradores do assentamento. De acordo com a fala de um dos coordenadores do MLB, o próprio movimento reconhecia a área de ocupação como imprópria para os moradores residirem, tendo em vista que era próximo a uma Zona de Proteção Ambiental (ZPA).

Se tratava de uma área de interesse social e também uma ZPA, então havia necessidade daquelas famílias serem removidas de lá. Então, como havia essa necessidade, a gente [o MLB] também foi pra lá, conversou com eles, organizou, e começou a mobilizar eles para a frente da Prefeitura para cobrar que o município desse uma resposta e conseguiram se encaixar [no projeto de remoção de favelas] (informação verbal)19

A partir da fala do entrevistado, conclui-se que o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas também teve participação na transferência das famílias que residiam em Ponta Negra para o bairro Guarapes, a 10 quilômetros de distância do local de origem e de onde parte das famílias retirava seu sustento. A área rua desocupada permanece sem saída atualmente e sem infraestrutura de via pública.

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A favela do Peão não foi a única removida do bairro Ponta Negra, na Zona Sul de Natal. Situação semelhante aconteceu com a favela do Alagamar, cujo início da ocupação se deu em 1991. A existência da favela foi cercada de polêmica desde o seu início, quando as famílias construíram barracos no leito de uma rua localizada a 550 metros da orla da praia de Ponta Negra, uma área conhecida pelo interesse de grandes grupos imobiliários.

Figura 14 - Área da favela do Alagamar, removida em 2009.

Fonte: Elaborado pelo autor. Imagem área do Google Earth.

O fato de a favela estar ocupando uma rua, que é de uso de todos, por si justificaria a sua remoção. E assim aconteceu. Em 2005, a Prefeitura do Natal transferiu as famílias para casas alugadas na Vila de Ponta Negra e posteriormente demoliu os barracos. Antes disso, no entanto, a permanência da favela no bairro era uma questão judicializada. Informações disponíveis no site do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN)20 indicam que moradores do entorno da favela formaram, em 1994, uma comissão e compraram um terreno no bairro Planalto, na Zona Oeste da cidade, para que o poder público construísse as casas para o reassentamento das famílias. No entanto, poucas pessoas aceitaram a proposta, inviabilizando a iniciativa.

Ainda de acordo com a notícia veiculada no portal oficial do TJRN, em 1996, proprietários de terrenos localizados na rua entraram com ação de reintegração de posse, alegando omissão da Prefeitura do Natal em relação à existência da favela (PORTAL DO

20 http://www.tjrn.jus.br/index.php/comunicacao/noticias/7353-inercia-da-prefeitura-em-desocupar-terreno-gera-

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JUDICIÁRIO, 2014). Após todo o imbróglio, só em 2005 foi efetivada a remoção da favela (com o aluguel social), mas ainda assim a incerteza da moradia para as famílias permanecia. A entrevista com um dos coordenadores do MLB revelou que a solução final para o destino das famílias da favela do Alagamar se deu com a construção de três conjuntos habitacionais na Zona Oeste e, conforme o entrevistado, o movimento social atuou junto às famílias. Em 2009, 83 famílias da favela do Alagamar foram reassentadas, definitivamente, no Conjunto Habitacional Santa Clara, no bairro Guarapes.

As remoções executadas pela Prefeitura não se limitaram às favelas localizadas em bairros de classe média da Zona Sul. Algumas favelas e ocupações localizadas em bairros pobres da Zona Oeste também foram removidas (total ou parcialmente) com a justificativa de estarem ocupando áreas de risco e de proteção ambiental, consideradas impróprias para o uso habitacional. Em entrevista concedida ao autor, o secretário adjunto de habitação de Natal, Alberto Josuá Neto, justificou a remoção das favelas do Fio e Alemão por estas estarem localizadas em um terreno na faixa de domínio das linhas de transmissão de energia da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), colocando em risco as famílias que ali residiam.

A figura abaixo ilustra a localização das favelas que foram removidas e o trajeto da rede de alta tensão.

Figura 15 - Localização das favelas do Fio e Alemão, removidas parcialmente em 2008.

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O Plano Municipal de Redução de Riscos, de 2007, estabelecia índice de risco máximo (nível 5) para esses dois assentamentos e previa uma série de ações a serem realizadas, dentre elas remoção de parte das unidades habitacionais, limpeza e recuperação das áreas degradadas e ações contínuas de fiscalização.

As favelas do Fio e Alemão tinham o mesmo padrão habitacional das demais encontradas na Zona Sul da cidade, ou seja, barracos construídos com materiais improvisados e algumas casas de alvenaria, sendo que na comunidade do Alemão há uma porção de