5 METODOLOGIA, PILOTO E ANÁLISE DE DADOS
5.3 OS LOCUTORES
Oito falantes da língua espanhola como L1 serviram como locutores (doravante LOC) desse estudo. Escolhemos oito locutores (também uma característica do método de alta variabilidade) porque necessitávamos de quatro, de preferência da mesma nacionalidade, para o Pré-Teste, Pós-Teste e Teste de Retenção de Percepção e para as duas sessões de treinamento perceptual. Além disso, necessitávamos de novos locutores para o Teste de Generalização de Percepção, por isso decidimos selecionar outros quatro novos locutores de outras nacionalidades que falam espanhol como língua materna. Os oito locutores gravaram todos os estímulos presentes em todos os Testes de Percepção e sessões de treinamento perceptual. Os locutores têm a variedade do espanhol mexicano, centro-americano e caribenho, isto porque foram os falantes de espanhol como L1 que encontramos em Curitiba, na época da gravação do
corpus, entre junho e julho de 2016, e que estavam dispostos a ajudar. Conseguimos dividi-los
da seguinte maneira:
x 4 mexicanos: três deles da Cidade do México (capital) e um da cidade de Chiapas, sendo dois homens e duas mulheres.
x 2 cubanos: ambos de Havana (capital), um homem e uma mulher.
x 2 hondurenhos: ele da cidade de La Ceiba e ela da capital de Honduras, Tegucigalpa.
Os locutores gravaram em dias separados e responderam um questionário para controlarmos as possíveis influências do PB na sua língua materna e também para sabermos se tinham conhecimentos de outras línguas estrangeiras. Os Quadros 09 e 10 resumem o perfil de cada um deles, conforme ficha preenchida por eles mesmos.
QUADRO 09 – PERFIL DOS LOCUTORES MEXICANOS FONTE: A autora (2019).
Os locutores mexicanos, conforme Quadro 09, são em sua maioria da capital, com exceção de um deles, o LOC 1, que é do Sul do México, de Chiapas. A idade deles variava entre 29 e 33 anos, três deles estavam no máximo há quatro meses no Brasil (LOC 1, 2 e 3) e um (LOC 4) estava há um ano e meio. Todos reportaram falar outra língua estrangeira (além do PB): três deles falavam inglês e um deles falava alemão. Dois deles falavam PB há um ano e meio e dois deles falavam PB há três e quatro meses. Os pais de todos eles são de origem mexicana e três deles eram estudantes, sendo apenas um deles (LOC 3) editor de uma revista. Eles serão identificados no estudo como Locutor 1 (LOC 1), Locutor 2 (LOC 2), Locutor 3 (LOC 3), Locutor 4 (LOC 4), conforme apontado no Quadro 06.
Como conseguimos mais mexicanos do que cubanos e hondurenhos para esta pesquisa, optamos por usar as gravações dos mexicanos em todos os testes perceptuais e a gravação dos cubanos e hondurenhos apenas no Teste de Generalização de Percepção para novos locutores (ler mais a esse respeito na Subseção 5.7.7). Por isso, o Pré-Teste, Pós-Teste e as duas sessões de treinamento de percepção (leia mais a esse respeito na Seção 5.7) foram feitos com os estímulos gravados pelos quatro mexicanos (LOC 1, 2 , 3 e 4), ou seja, da variedade do espanhol da América do Norte. No Quadro 10 apresentamos os cubanos e hondurenhos.
MEXICANOS
De onde é? Chiapas, México Cidade do
México
Cidade do México
Cidade do México
Gênero: Masculino Feminino Masculino Feminino
Idade: 29 anos 30 anos 33 anos 31 anos
Quanto tempo está no Brasil? 4 meses 4 meses 2 semanas 1 ano e meio Viveu em outro país onde não era
falado espanhol? Qual (quais)? Sim, Estados Unidos Não Não Não Localidade de nascimento dos pais: Pai: México
Mãe: México Pai: México Mãe: México Pai: México Mãe: México Pai: México Mãe: México Fala outras línguas? Qual (quais)? Sim, inglês. Sim, alemão Sim, inglês Sim, inglês Fala português? Há quanto tempo? Sim, 4 meses. Sim, 3 meses Sim, 1 ano e
meio Sim, 1 ano e meio Qual é a variedade de seu espanhol? Sul do México Espanhol da
Cidade do México
Mexicana Chiapaneco/ chilango O que faz? Com que trabalha? Estudante de
doutorado Estudante de mestrado Editor Estudante de doutorado Já gravou alguma vez para
pesquisas ou livros didáticos? Não Sim Sim Sim
QUADRO 10 – PERFIL DOS LOCUTORES CUBANOS E HONDURENHOS FONTE: A autora (2019).
Os dois cubanos que gravaram os estímulos, um homem e uma mulher, são da capital de Cuba, Havana. Ela tinha 20 anos e ele 28 anos na época da gravação e ambos estavam há menos de um ano no Brasil. Os cubanos se reconheceram como falantes da variedade do espanhol de Havana, chamada de havanero e ambos têm pais cubanos. Ele reportou falar outras duas línguas estrangeiras, inglês e francês, além do PB. Ela disse que, além do espanhol, falava PB como L2 há dois meses no momento da gravação. A cubana era estudante e o cubano engenheiro computacional. Neste estudo, a cubana será identificada como Locutor 5 (LOC 5) e o cubano como Locutor 6 (LOC 6).
Os dois hondurenhos (um homem e uma mulher) tinham 19 anos na época da gravação. Ela é da capital de Honduras, Tegucigalpa, e ele da cidade de La Ceiba, costa Norte de Honduras. Os dois aprenderam a falar PB quando chegaram ao país, há quatro meses no momento da coleta de dados. Ambos também são estudantes e os pais são de Honduras, com exceção da mãe da hondurenha que é equatoriana. Ela e ele serão identificados nesse estudo, respectivamente, como Locutor 7 (LOC 7) e Locutor 8 (LOC 8). No Quadro 11 apresentamos um resumo dos oito locutores falantes de espanhol como L1 e em quais testes/sessões de treinamento a gravação de cada um deles foi utilizada.
CUBANOS HONDURENHOS
De onde é? Havana Havana Tegucigalpa La Ceiba
Gênero: Feminino Masculino Feminino Masculino
Idade: 20 anos 28 anos 19 anos 19 anos
Quanto tempo está no Brasil? 4 meses 9 meses 4 meses 4 meses Viveu em outro país onde não era
falado espanhol? Qual (quais)? Não Não Não Não
Localidade de nascimento dos pais: Pai: Cuba
Mãe: Cuba Pai: Cuba Mãe: Cuba Pai: Honduras Mãe: Equador Pai: Honduras Mãe: Honduras Fala outras línguas? Qual (quais)? Não Sim, inglês e
francês Sim, inglês Sim, inglês Fala português? Há quanto tempo? Sim, 2 meses Sim, 8 meses Sim, 4 meses Sim, 4 meses Qual é a variedade de seu espanhol? havanero havanero hondurenha Litoral norte de
Honduras O que faz? Com que trabalha? Estudante Engenheiro
computacional Estudante Estudante Já gravou alguma vez para
pesquisas ou livros didáticos? Sim Não Sim Sim
LOCUTORES ORIGEM GÊNERO TESTES
LOC 1 México (Chiapas) masculino Pré, Pós e Retenção, Treinamento LOC 2 México (capital) feminino Pré, Pós e Retenção, Treinamento LOC 3 México (capital) masculino Pré, Pós e Retenção, Treinamento LOC 4 México (capital) feminino Pré, Pós e Retenção, Treinamento LOC 5 Cuba (capital) feminino Teste de Generalização LOC 6 Cuba (capital) masculino Teste de Generalização
LOC 7 Honduras
(capital) feminino Teste de Generalização
LOC 8 Honduras (La
Ceiba) masculino Teste de Generalização QUADRO 11 – RESUMO DO PERFIL DOS LOCUTORES
FONTE: A autora (2019).
Os oito locutores deste estudo que, conforme o perfil descrito nessa seção, são falantes de espanhol como L1, foram contatados primeiramente por e-mail após indicação do núcleo Tandem-Celin71 da Universidade Federal do Paraná (UFPR), porque eles eram estudantes de
PB como língua estrangeira nessa instituição. Conforme eles se dispuseram a gravar, foi agendada uma data para que eles pudessem ir até uma cabine de tratamento acústico para as gravações. A mesma se encontra no prédio da reitoria da UFPR. Na cabine, foi apresentado aos locutores do que se tratava o estudo, eles preencheram uma ficha cadastral com informações pessoais (APÊNDICE A) e concordaram em ceder os áudios gravados para esta pesquisa sem contrapartida financeira. Vejamos como os estímulos da pesquisa foram gravados na próxima subseção.
5.3.1 Gravação dos estímulos pelos locutores
As gravações foram feitas no programa Audacity 2.1.3, baixado em junho de 2016 do site www.audacityteam.org/download/, com taxa de amostragem de 40.000 Hz e microfone direcional headset. Os locutores olhavam para a tela do computador, no programa Power Point, com frases-veículo como “Yo dije atmósfera” e deveriam ler as frases em voz alta para que pudéssemos gravar os heterotônicos e os distratores a serem utilizados nos testes e sessões de treinamento. Optamos por colocar as palavras que precisávamos para a montagem dos testes perceptuais na frase-veículo “Yo dije ______” para facilitar a edição das palavras e evitar que elas pudessem ser ditas muito rapidamente ou ficassem cortadas por serem faladas isoladamente. A tela que os locutores viam eram igual à Figura 04.
71 Núcleo que organiza, no Centro de Línguas e Interculturalidade da UFPR (Celin), atividades culturais com
intercambistas que estão no Brasil, incluindo aulas de PB como Língua Estrangeira. Organiza também encontros semanais entre esses intercambistas e os alunos da UFPR que tenham interesse em conversar com eles tanto em PB como na língua materna deles.
FIGURA 04 – SLIDE COM A FRASE-VEÍCULO QUE OS LOCUTORES LERAM
FONTE: A autora (2019).
Cada uma das frases foi lida três vezes, duas de maneira normal para garantir que ao menos uma das palavras faladas ficasse com uma boa qualidade, caso em uma das gravações ocorresse algum problema de áudio, tosse, pausa ou gaguejo inesperado. Também gravamos uma terceira vez solicitando aos locutores que falassem a palavra de maneira destacada, ou seja, enfatizando a sílaba tônica dos heterotônicos e distratores. Esse slide tinha a palavra destacada em vermelho, conforme Figura 05.
FIGURA 05 – SLIDE COM UMA DAS FRASES ENFÁTICAS
FONTE: A autora (2019).
Gravamos as frases enfáticas porque pretendíamos usar nas sessões de treinamento uma opção que, se os informantes errassem a sílaba tônica, poderiam escutar a palavra uma segunda vez, porém de maneira que a sílaba tônica estivesse enfatizada, seguindo o que fez Brawerman- Albini (2012) em seu estudo. Porém, como o programa usado para o treinamento, o software
TP (versão 3.1), não permite esse tipo de recurso, descartamos as palavras enfáticas que foram
gravadas. Mesmo assim, em caso de dúvida sobre a tonicidade das palavras faladas pelos locutores, a gravação das enfáticas serviu para confirmarmos se o locutor fazia a ênfase na sílaba tônica adequada, conforme descrito em gramáticas da língua espanhola, portanto, validando nosso corpus.
A gravação com cada locutor durou cerca de 45 minutos e foi feita em dias distintos. Na primeira rodada, eles leram 290 frases que estavam em slides do Power Point. Cada heterotônico e distrator foi repetido duas vezes nessa etapa. Depois os locutores leram mais 164
slides em um segundo momento, enfatizando a tônica das palavras. O número de slides é
superior ao número de palavras heterotônicas e distratores que usamos nesse estudo porque, conforme descrito na Seção 5.1.1, tivemos de descartar parte dos heterotônicos e também porque gravamos um número maior de distratores para termos uma reserva em caso de necessidade.