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5.3.1. A cadeia dos produtos eletroeletrônicos

Natume e Sant’Anna (2011, p. 2) sintetizam que a produção de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE) está entre as categorias de resíduos de mais alto crescimento no mundo e que em breve deverão atingir a marca dos 40 milhões de toneladas por ano, “o suficiente para encher uma fileira de caminhões de lixo que se estenderia por metade do planeta”.

De acordo com Demajorovik e Migliano (2013), a ONU apontou que a evolução da massa em toneladas de equipamentos eletroeletrônicos colocados anualmente no mercado mundial passou de 19,5 milhões em 1990, para 57,4 em 2010 e ainda estimou que fosse de 76,1 milhões no ano de 2015.

A fabricação dos produtos eletroeletrônicos depende da integração de outros segmentos industriais. Em sua composição podem ser encontrados metais, plásticos, vidro, madeira, cerâmica, borracha, entre outros. Ao fim de sua vida útil, produtos eletroeletrônicos inservíveis, seja por defeito ou por defasagem tecnológica, passam a ser considerados REEE, com composição diversificada e com potencial de reciclagem (TABELA 4).

TABELA 4 – ESTIMATIVA DE COMPOSIÇÃO DE 1 TONELADA DE SUCATA ELETRÔNICA MISTA

COMPONENTE PORCENTAGEM (%)

Resíduos não recicláveis Entre 3 e 5

Chumbo Entre 2 e 3

Ouro 0,0002 a 0,0003

Prata 0,0003 a 0,001

Platina 0,00003 a 0,00007

Fonte: Demajorovik e Migliano (2013, p. 3).

Nos equipamentos eletroeletrônicos são encontrados metais pesados e outros elementos com potencial grau de periculosidade, os quais podem causar danos

ao ambiente e à saúde humana nas diversas fases de produção, desde sua a extração enquanto matéria-prima para a fabricação dos produtos eletroeletrônicos, até sua destinação no fim da vida útil dos equipamentos. A Tabela 5 aponta os principais danos causados à saúde humana pelos metais presentes nos produtos eletroeletrônicos.

TABELA 5 – PERICULOSIDADE DOS ELEMENTOS PRESENTES NOS REEE ELEMENTO PRINCIPAIS DANOS CAUSADOS À SAÚDE HUMANA

Alumínio Alguns autores sugerem existir relação da contaminação crônica do alumínio como um dos fatores ambientais da ocorrência de mal de Alzheimer.

Bário Provoca efeitos no coração, constrição dos vasos sanguíneos, elevação da pressão arterial e efeitos no sistema nervoso central.

Cádmio Acumula-se nos rins, fígado, pulmões, pâncreas, testículos e coração; possui meia-vida de 30 anos nos rins; em intoxicação crônica pode gerar descalcificação óssea, lesão renal, enfisema pulmonar, além de efeitos teratogênicos (deformação fetal) e carcinogênicos (câncer).

Chumbo Acumula-se nos ossos, cabelos, unhas, cérebro, fígado e rins; em baixas concentrações causam dores de cabeça e anemia. Exerce ação tóxica na biossíntese do sangue, no sistema nervoso, no sistema renal e no fígado; constitui-se veneno cumulativo de intoxicações crônicas que provocam alterações gastrintestinais, neuromusculares e hematológicas, podendo levar à morte.

Cobre Intoxicações como lesões no fígado.

Cromo Armazena-se nos pulmões, pele, músculos e tecido adiposo, pode provocar anemia, alterações hepáticas e renais, além de câncer do pulmão.

Mercúrio Atravessa facilmente as membranas celulares, sendo prontamente absorvido pelos pulmões. É altamente tóxico ao homem, sendo que doses de 3 a 30g são fatais, apresentando efeito acumulativo e provocando lesões cerebrais, além de efeitos de envenenamento no sistema nervoso central e teratogênicos.

Níquel Carcinogênico (atua diretamente na mutação genética).

Prata 10 g na forma de nitrato de prata são letais ao homem.

Fonte: ABDI (2012, p. 18).

O ritmo acelerado de inovações nos equipamentos eletroeletrônicos traz em si uma tendência crescente de substituição dos equipamentos antes de seu desgaste completo. Em muitos casos, sobretudo naqueles produtos de menor valor de mercado, o consumidor acha mais vantajoso adquirir um novo do que seu envio ao conserto (SELPIS et al., 2012).

Uma preocupação decorrente da produção dos EEE é de que há grande consumo de recursos naturais em sua fabricação. Para se construir um único computador, por exemplo, são utilizadas cerca de 1,8 tonelada de material dos mais diversos tipos. Tomando-se como base um computador de mesa, estima-se que em combustíveis fósseis, o processo de fabricação de um computador consome mais de 10 vezes a sua própria massa, sendo utilizados cerca de 240 quilogramas de

combustíveis fósseis, 22 quilogramas de produtos químicos e 1.500 quilogramas de água (ROSA, 2007).

Segundo Selpis et al. (2012), para se produzir um único chip de 32 megabytes de memória e massa aproximada de 2 gramas, são consumidos 700 gramas de gases (principalmente nitrogênio), 32 litros de água, 1,6 quilogramas de combustíveis fósseis, 72 gramas de produtos químicos diversos, entre eles o arsênio, além de aproximadamente 285 quilowatts de energia, quantidade equivalente ao consumo de 380 banhos de 15 minutos cada em chuveiro elétrico.

A Figura 10, indica que a fabricação de produtos de 01 computador com 01 monitor (CRT) de 17” consome cerca de 1800 kg de recursos naturais (UNU, 2007).

FIGURA 10 – CONSUMO DE RECURSOS NATURAIS NA PRODUÇÃO DE UM COMPUTADOR Fonte: Elaborado pela autora, adaptado da Universidade das Nações Unidas (2007).

Nos países desenvolvidos, desde os anos de 1990, a destinação adequada dos resíduos pós-consumo de bens como os produtos eletroeletrônicos e, em particular de computadores pessoais, tem sido pauta recorrente. As legislações rígidas desses países obrigaram as empresas a se responsabilizarem pela destinação final adequada desse material. Tal rigor ainda não se verifica no Brasil, mesmo com a publicação da PNRS, visto que a transformação da preocupação com os resíduos

pós-22 kg de produtos químicos

240 kg de combustíveis fósseis

1500 l de água

consumo em ações são recente e ainda não se concretizaram até então (DEMAJOROVIC; MIGLIANO, 2013).

Na concepção de Thierry, Salomon e Wassenhove (1995) apud Demajorovic e Migliano (2013, p. 66), “os fabricantes, em geral, acreditam que os custos envolvidos com a reciclagem são maiores que os benefícios econômicos obtidos com esse processo”24. Se os números da produção de EEE fossem colocados em uma balança, a contabilidade ambiental do setor se apresentaria deficitária com relação ao uso de recursos naturais.

Estudo da CNI (2014, p. 53) apontou que atualmente a maior parte dos REEE não é recolhida nos canais apropriados e que o modelo atual é incipiente:

As cooperativas desmontam os equipamentos recebidos e vendem as peças para o CAMR25. Elas encaminham parte do material recolhido, aquele que não tem valor de venda, à limpeza pública. O CAMR também desmonta o REEE recebido e vende as peças aproveitáveis para as empresas recicladoras. O material que as recicladoras não aproveitam é encaminhado para a disposição ambientalmente adequada. Nesses casos, no entanto, o desmonte, normalmente, é feito sem obediência às devidas regras de segurança que regem a recuperação de REEE, por exemplo, a norma ABNT NBR 16.156/2013.

As cooperativas normalmente atuam nas etapas iniciais do processo de triagem, com escala e qualidade insuficientes para viabilizar a venda dos resíduos triados para a indústria recicladora. Elas se utilizam do comércio atacadista de material reciclável que, possui empresas de diversos portes e ramos de atividade e adquirem resíduos de catadores independentes, das associações/cooperativas de catadores ou coletam diretamente e revendem os produtos para outros recicladores de maior porte (CNI, 2014).

24 THIERRY, M.; SALOMON, M. N.; van WASSENHOVE, L. Strategic issues in product recovery management. California Management Review, v. 37, n. 2, p. 114 - 135, 1995.

25 Comércio Atacadista de Material Reciclável (CAMR).

5.3.2 Etapas da logística reversa de REEE

A logística reversa de REEE compreende seu recebimento e transporte desde o consumidor até as empresas de reciclagem e/ou sua disposição final e, de fato, ela só inicia quando o consumidor descarta o equipamento em condições de uso ou não. (ABDI, 2012).

A Figura 11 apresenta dois fluxos de logística de REEE, um gerenciado pelo fabricante/importador, tendo como foco os REEE do consumidor doméstico, e o outro, gerenciado de forma independente por entidades autônomas. O modelo gerenciado pelo setor produtivo foi apresentado para embasar a assinatura de termo de compromisso com o governo federal, para implantação de sistema de logística reversa dos REEEs.

FIGURA 11 – ETAPAS DO CICLO DE VIDA DOS REEE

Fonte: Saraiva (2012) e ABINEE (2012), adaptado do Relatório GIA Global Intelligence Alliance (2011)

26.

Os sistemas de logística reversa de REEE podem funcionar de forma coletiva, administrado por uma gestora, ou individual, administrado pela própria empresa, e funcionariam em um modelo competitivo. Os custos do sistema seriam

26Disponível em:< http://pt.slideshare.net/PRACBRASIL/abinee-reees-masterandreluissaraivaprac2012>. Acesso em: 06/09/2015.

divididos entre todos os agentes do ciclo de vida do produto (consumidor, comércio, distribuidores, fabricantes e importadores) (CNI, 2014).

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