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Neste trabalho, a autora analisou a força do comprimento de ORs sobre a escolha de aposição dos falantes de PB, sob a luz da HPI, semelhantemente aos feitos de Finger & Zimmer (2002). Para essa empreitada, a autora contou com um estudo de questionário, um estudo off-line controlado e um experimento de produção oral.

O estudo de questionários foi composto por oito experimentos que testavam a escolha dos participantes pela aposição da OR a dois candidatos, em uma frase com a estrutura N1-P-N2-OR, sob duas condições que alteravam o tamanho da relativa, conforme os exemplos abaixo.

(30) a. (OR longa)

Alguém chamou o amigo do rapaz que dormia profundamente na sala.

N1 N2 OR longa

b. (OR curta)

O porteiro encontrou a empregada da mulher que caiu. N1 N2 OR curta

Os participantes eram orientados a ler silenciosamente as sentenças em uma folha e em seguida a responderem a uma pergunta interpretativa que apontava para a aposição escolhida. As predições adotadas em todos os experimentos tinham como base a hipótese de que havia uma relação entre a variação dos padrões prosódicos e a interpretação desse tipo de sentença. Uma ruptura prosódica era esperada após N2, caso a OR fosse longa, gerando assim a aposição ao primeiro candidato da OR ao N1. No caso de haver uma OR curta, essa pausa não ocorreria e a relativa seria lida em sequência, juntamente com o candidato mais próximo a ela. Tal continuidade, segundo a hipótese adotada, estimularia a concatenação da OR ao N2.

A autora pretendia também fornecer evidências em favor da HPI, que prediz que uma prosódia correspondente àquela que seria a prosódia “explícita” é projetada na leitura silenciosa, já que todos os experimentos eram realizados com leitura em

silêncio. Desse modo, Lourenço-Gomes (2003) esperava por índices mais altos de aposição alta, em sentenças com ORs longas, do que em sentenças com ORs curtas.

Reconhecendo algumas inconsistências nos questionários que seriam contornadas seguidamente, no estudo off-line controlado, a autora observou que as escolhas por aposição alta da OR eram bem mais frequentes quando ela era longa, do que quando era curta, confirmando as suas predições em relação à preferência por aposição no PB e à HPI. Nesse sentido, Lourenço-Gomes (2003) conclui a partir dos dados obtidos do estudo de questionários que o tamanho da relativa pode ter relação com a sua aposição ao SN complexo.

No estudo off-line controlado, como antecipado, algumas interferências ocorridas no experimento anterior foram controladas de modo a garantir maior validade aos dados que seriam gerados. Além de local mais apropriado, o experimento contava com a utilização do programa de computador Psyscope, que projetava as sentenças por tempo limitado e contado em milissegundos. Assim, os participantes não tinham a possibilidade de voltarem às sentenças, obrigando-os a realizar a tarefa de modo mais reflexo.

O experimento era apresentado em duas versões: não-segmentado e segmentado. No primeiro, as frases eram expostas integralmente na tela do computador para que não houvesse artificialização da prosódia natural do participante. Com isso, pretendia-se observar a partir de metodologia mais confiável se os achados do experimento anterior seriam confirmados. Os índices de aposição foram aferidos. No segundo experimento, a versão segmentada, as sentenças apareciam em quatro blocos, com tempo previamente determinado. Isso foi feito a fim de manipular a prosódia natural dos participantes e verificar se, desse modo, o padrão de escolha dos sujeitos também seria diverso daquele encontrado em situação de leitura espontânea. Vejamos os exemplos que ilustram as sentenças usadas em ambas as versões do experimento.

(31) a. Versão não-segmentada

/Um homem reconheceu o cúmplice do ladrão que fugiu depois do assalto ao banco./

b. Versão segmentada

/Um homem reconheceu / o cúmplice / do ladrão / que fugiu depois do assalto ao banco./

A segmentação foi estabelecida de acordo com as predições da autora, que previa dados com padrões de aposição diferentes dos que ocorrem quando as frases não são segmentadas artificialmente, haja vista que seria no fluxo natural da leitura que as limitações da memória de curto-prazo promoveriam as marcas prosódicas geradoras da aposição alta da OR. O experimento foi realizado sob o design between-

subjects (KENEDY, 2015), em que todos os sujeitos eram submetidos a todas as

condições. Após a leitura da sentença, nos dois casos, aparecia uma pergunta binária (sim/não) relacionada ao conteúdo das frases e à escolha de aposição.

Os resultados confirmaram os achados do experimento anterior, ao constatarem que havia relação significativa entre a extensão da relativa e a escolha de aposição dos participantes. Mais ORs longas eram apostas não-localmente do que curtas, ao passo que mais ORs curtas eram ligadas localmente, ao N2. Observou-se, ainda, que mais participantes julgavam como corretas as relativas longas com aposição alta, do que as relativas curtas com aposição alta. No experimento com segmentação, embora discretas, as diferenças entre os índices de aposição alta de relativas curtas mantinham-se conforme a versão não-segmentada: as ORs curtas com aposição baixa eram mais frequentemente julgadas como adequadas, do que as ORs curtas com aposição alta. Esses dados sugerem que o efeito do comprimento da relativa revela-se menos evidente quando a prosódia é artificializada, indicando que diferenças quanto à escolha de aposição em sentenças ambíguas podem ser causadas pela prosódia

Os dados confirmaram que existe uma influência significativa da extensão da OR em relação à aposição escolhida, confirmada pelos padrões prosódicos do PB, de acordo com os resultados de Ribeiro (1999), Maia & Maia (1999/2001) e Finger & Zimmer (2002). A autora, ainda, considerou os achados do estudo de questionários e do experimento off-line controlado como evidências empíricas da HPI (Fodor, 2002), na medida em que foram gerados indicadores semelhantes aos obtidos em experimentos com leitura em voz alta.

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