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Ribeiro (1999), em achados de experimentos que tentavam testar a força do princípio Late Closure (FRAZIER, 1979: p.76) no PB, e consequentemente a sua suposta universalidade, constatou que existe uma preferência à aposição de ORs ao elemento mais distante (N1) em PB. De acordo com o autor, portanto, o princípio caro à TGP não se aplicaria ao PB.

Ribeiro inicia o seu trabalho fazendo algumas ponderações sobre as predições de Late Closure, no processamento de frases do PB, utilizando sentenças semelhantes às que foram utilizadas por Frazier (1995), conforme os exemplos do próprio autor.

(20) Enquanto Maria costurava a meia caiu do colo dela. (21) Enquanto Maria costurava a meia ela caiu do colo dela.

Ao ler a sentença (20), o leitor, consoante o princípio Late Closure, tenderia a apor o constituinte “meia” ao verbo “costurava”, devido à regra geral proposta na TGP, que prediz que o material processado deve ser concatenado ao material de input em processamento. No entanto, ao fazê-lo em concordância com o princípio Late

Closure, o falante teria em seguida uma surpresa com o verbo “caiu”, que o obrigaria

a combiná-lo ao termo “a meia”, tornando-se, assim, o seu sujeito, e não mais o objeto do verbo “costurava”.

Por outro lado, ao ler a segunda frase, o leitor não teria problemas no processamento, já que “a meia” é, nesse caso, complemento do verbo “costurava”. Nesse sentido, o processador mental deveria ter menos trabalho ao processar a sentença (21) do que a (20).

Ribeiro (1999) também realizou verificações experimentais fazendo uso de sentenças tais como as que foram usadas por Cuetos & Mitchell (1988), conforme o exemplo (22) ilustra, como primeira contraposição ao princípio Late Closure.

(22) Alguien disparó contra el criado de la actriz que estaba en el balcón. (23) Alguém disparou contra o empregado da atriz que estava na varanda.

Na tentativa de testar o padrão de escolha de ORs em orações ambíguas no PB, o autor contou com dezoito falantes nativos, todos universitários, homens e mulheres, que nunca haviam morado em outro país antes da puberdade, nem utilizado outra língua que não a portuguesa. Foi utilizado um questionário com dezesseis frases-teste, intercaladas com frases distratoras, semelhantemente ao utilizado por Cuetos & Mitchell (1988) com falantes de espanhol. Os sujeitos deveriam escrever em um papel a sua resposta à pergunta, no caso do exemplo (23), “Quem estava na varanda?”.

Os resultados indicaram uma forte predileção à aposição alta dos sujeitos: em onze das dezesseis frases, houve a escolha de apor a OR ao termo mais alto, enquanto apenas três sujeitos optaram pela aposição baixa, diante das dezesseis frases experimentais. Esse dado foi considerado como uma evidência de que no PB, especificamente na leitura de sentenças estruturalmente ambíguas com ORs, como as utilizadas no experimento, o princípio Late Closure não se aplica.

Em seguida, Ribeiro (1999) realizou um experimento on-line, para confrontar os dados obtidos dos estudos de questionário, cuja metodologia off-line permite observar somente o momento seguinte ao processamento da frase. Para isso, o autor contou com vinte e três sujeitos falantes de PB, com o mesmo perfil do experimento anterior. Na tarefa on-line, às sentenças, tal como ocorreu nos trabalhos de Cuetos & Mitchell (1988), foi acrescido mais um segmento que forçava pragmaticamente a ligação da OR ao N2, em conformidade com o princípio Late

Closure.

Dezesseis frases-teste ambíguas foram arranjadas, juntamente com frases- controle, que não apresentavam ambiguidade estrutural, já que havia nelas apenas um candidato a apor-se à OR, conforme ilustrado em exemplos do próprio autor.

(24) Alguém atirou contra o empregado da atriz / que estava na varanda / com seu marido.

(25) Alguém atirou contra a atriz / que estava na varanda / com seu marido.

As sentenças eram expostas em segmentos (conforme indicado nas barras), ao controle dos sujeitos, através de uma caixa de botões tradicionalmente usada na experimentação científica, a button box, em uma tela de computador, de maneira não cumulativa. Cada sujeito leu dezesseis frases, sendo oito frases-teste e oito frases- controle e respondeu com “sim” ou “não” às perguntas sobre o conteúdo das frases.

O intento do autor era aferir os tempos de leitura dos segmentos em milissegundos e registrar as respostas. Segundo o princípio Late Closure, os sujeitos não deveriam ter dificuldade na leitura da frase (24), que obriga o leitor a ligar a OR ao elemento mais próximo, assim como não será custosa a leitura que o mesmo leitor faria da sentença (25), já que não é ambígua.

Desse modo, os tempos de leitura dos segmentos críticos, em negrito, tanto da frase (24), quanto da frase (25), não deveriam apresentar discrepâncias significativas. Entretanto, em uma eventual interpretação de que a OR deve se apor a “o empregado”, o tempo de leitura deveria ser maior, devido ao efeito garden-path, nesse momento do processamento, em que o leitor defrontar-se-á com a OR que o obriga a reanalisar a frase e a ligá-la ao N2. Assim, a leitura da frase (24) deveria apresentar maior complexidade e, consequentemente, maior tempo despendido, do que a leitura da frase (25) que, como dissemos, não apresenta ambiguidade.

Os dados confirmaram as expectativas do autor em relação aos tempos de leitura do último segmento das frases. A maioria dos sujeitos despendeu tempos de leitura maiores diante do último segmento das frases-teste, do que na leitura do último segmento das frases-controle. Esses dados, segundo Ribeiro, reforçariam o princípio

Early Closure como norteador do processamento de ORs com aposição ambígua no

PB. O princípio Late Closure, portanto, não se aplicou ao processamento da OR nem mesmo com medidas on-line.

O autor conclui que as ORs, no que refere à sua possibilidade de ligação a dois candidatos em um SN complexo de uma frase ambígua, no PB, apresentam-se como uma exceção, ao fato de que o princípio Late Closure tem força no processamento de orações, como as que foram analisadas em seus experimentos, com

estruturas diversas9. O autor ainda salienta que a pesquisa sobre esse assunto ainda está por responder à questão sobre qual é o princípio que determina o parser no PB (Early Closure ou Late Closure), ou mesmo se outro modelo, como o Construal (FRAZIER & CLIFTON Jr., 1996), conduziria o processador mental, apesar de o princípio Early Closure ter sido predominante em seus experimentos.

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