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Lukács crítico de Weber em A destruição da razão

No documento Revista Sinais Sociais / Sesc (páginas 39-47)

Para Lukács, o desenvolvimento do capitalismo na Alemanha com o correspondente desenvolvimento das lutas de classe e o fortalecimento do movimento revisionista capitaneado por Bernstein, colocam para a sociologia uma nova forma de confrontação com o marxismo. Se antes este fora ignorado em bloco, agora buscavam dividi-lo em partes e inserir na sociologia aquilo que pudesse ser utilizado da perspectiva ideológica burguesa. Nosso autor reforça que, apesar deste movimento, a luta con- tra o materialismo permanecia. A sociologia continuava a lutar “contra a prioridade do ser social e contra o papel decisivo desempenhado pelo desenvolvimento das forças produtivas” (LUKÁCS, 1981, p. 147). Mas a sociologia acolhia agora “formas abstratas de interação entre base e su- perestrutura” (LUKÁCS, 1981, p. 147). E este seria exatamente o caso de Weber ao tratar

[...] da relação de dependência recíproca entre as formas econômicas e as religiões, recusando nitidamente a prioridade da economia:

“Uma ética econômica não é uma simples ‘função’ de formas de organi- zação econômica; nem tampouco, em troca, pode-se dizer que essa ética informe de modo unívoco a organização econômica [...] Por mais profun- dos que tenham sido os influxos sociais, condicionados econômica e po- liticamente, exercidos em casos singulares sobre uma ética religiosa, esta recebeu suas características, em primeiro lugar, de fontes religiosas.” Max Weber assume como ponto de partida inicial a relação de vinculação recíproca entre motivos materiais e ideologia; e combate o materialismo histórico porque este, de um modo que Weber supõe ser cientificamente inadmissível, afirma a prioridade do elemento econômico. [...] As consi- derações de Max Weber levam sempre a atribuir aos fenômenos ideoló- gicos (religiosos) um desenvolvimento “imanente” que teria sua origem neles mesmos; esta tendência, em seguida, converte-se no ponto de vista segundo o qual eles têm prioridade enquanto causas do processo global (LUKÁCS, 1981, p. 148).

A concepção de Weber sobre a relação de dependência recíproca entre as formas econômicas e as religiões vai cumprir um importante e influente papel na explicação sociológica da gênese e da essência do capitalismo, possibilitando uma concepção teórica alternativa à teoria da acumulação primitiva de capital de Marx. Assim assinala Lukács que

[...] Weber [...] parte da relação de dependência recíproca entre a ética eco- nômica das religiões e as formações econômicas, afirmando a prioridade

do fator religioso. Seu problema é o de explicar a razão pela qual somente na Europa nasceu um capitalismo. Em contraste com a concepção prece- dente, que via capitalismo em qualquer acumulação de dinheiro, Weber se esforça por entender a natureza específica do capitalismo moderno e por relacionar o seu nascimento na Europa com a diferença da evolução ético-religiosa no Oriente e Ocidente. Além do mais, e sobretudo, a essên- cia do capitalismo é deseconomizada e “espiritualizada”. Como essência do capitalismo aparece a racionalização da vida econômica-social, a pos- sibilidade de calcular racionalmente todos os fenômenos. Assim, Weber esboça uma história universal das religiões para demonstrar que apenas o protestantismo (e, nele, particularmente as seitas) teve uma ideologia que promove e favorece essa racionalização, enquanto todas as outras re- ligiões do Oriente e da Antiguidade produziram concepções de ética eco- nômica que funcionaram como obstáculos à racionalização da vida coti- diana. Weber recusa-se sempre a ver nas concepções de ética econômica uma consequência das estruturas econômicas (LUKÁCS, 1981, p. 149-150).

Lukács demonstra que ao tratar da China em Economia e sociedade, Weber identifica de forma simplista economia e técnica produtiva, de modo a aceitar como o capitalismo genuíno aquele capitalismo das máquinas. Deste ponto Weber é conduzido, em Gesammelte Aufsätze sur Religionsso- ziologie (Ensaios reunidos sobre sociologia da religião), “ao ‘argumento’ histórico ‘decisivo’, pelo qual a ética econômica do protestantismo – que apressou e favoreceu o desenvolvimento do capitalismo – ‘já existia antes’ dele. Com isso, acredita ter refutado o materialismo histórico” (LUKÁCS, 1981, p. 150).

Apreensão da essência do capitalismo sem o compromisso de enfrentar os problemas econômicos reais (por exemplo, a explicação da origem do lucro do capitalista que para Marx radica no mais-valor e na explora- ção da mercadoria força de trabalho), esta é a metodologia dos sociólo- gos alemães para Lukács (1981, p. 150). Para nosso autor, a sociologia de Weber reconhece e atribui um papel importante para a separação entre trabalhadores e meios de produção, entretanto, para esta sociologia, as características essenciais do capitalismo são a racionalidade e a calcula- bilidade. Ficando claro que esta sociologia apreende de forma simplista a aparência e não a essência da formação sócio-metabólica do capital. Daí Weber, e os sociólogos alemães do período, atribuírem ao direito e à religião (que são formas particulares de ideologia) uma maior centralida- de na explicação da forma de sociabilidade específica do capital, maior

do que a atribuída à economia. Esta perspectiva, que apreende o mundo real de forma invertida, acaba recorrendo a analogias vazias na tentativa de substituir metodologicamente a busca de explicações causais para o funcionamento do ser social. Isto explica a analogia utilizada por Weber entre o Estado moderno e a empresa capitalista.7 Lukács arremata dizen-

do que:

Mas, dado que recusa [Weber], a partir de um ponto de vista agnóstico- -relativista, o problema da causalidade primária, permanece na simples descrição analógica. Sobre a base de semelhantes analogias, nasce a pos- sibilidade de empreender uma crítica da cultura, que jamais entra nas questões fundamentais do capitalismo; que dá livre espaço à insatisfação com a cultura capitalista, mas que concebe a racionalização capitalista como uma “fatalidade” (Ratheneau) e, portanto, apesar de todas as críti- cas, faz com que o capitalismo apareça como algo necessário e inevitável (LUKÁCS, 1981, p. 150).

Por isso, esses raciocínios sempre desembocam na justificação do capi- talismo, sendo este entendido como um sistema necessário e só passível de modificações menores, nada que altere sua essência. E findam com a descoberta e demonstração de supostas contradições, econômicas e sociais, práticas e teóricas, insolúveis do socialismo.

Lukács entende que os sociólogos alemães do período anterior à Primeira Guerra Mundial, e Weber em particular, são ideólogos burgueses do pe- ríodo imperialista. E esta sociologia tentava demonstrar a superioridade “da forma alemã de Estado e da estrutura social da Alemanha em com- paração com as democracias ocidentais” (LUKÁCS, 1981, p. 152). Nesta questão, a posição de Weber é diferenciada em relação aos demais soció- logos alemães. Ainda que ele critique a democracia moderna,

[...] considera a democracia como a forma mais apta à expansão imperia- lista de uma grande potência moderna. Vê a debilidade do imperialismo moderno precisamente nessa ausência de um desenvolvimento demo- crático na política interna: [...]

Aqui se reconhece, de modo evidente, a fonte social da tendência demo- crática de Max Weber: ele partilha com os outros imperialistas alemães a concepção da missão geopolítica (colonizadora) dos “povos de senhores”. Mas se distingue deles na medida em que não só não idealiza a condição da Alemanha, com seu parlamentarismo aparente, mas a critica de modo áspero e apaixonado. Ele pensa que os alemães só se poderão converter

num “povo de senhores” em regime democrático, como França e Inglaterra. Por isso, a fim de que se torne possível realizar os intentos imperialistas da Alemanha, há que ter lugar uma democratização interna que deve ser levada até o ponto indispensável à obtenção de tais finalidades. [...] esse democratismo de Weber, dado o seu fundamento imperialista tem matizes muito particulares. Numa conversa com Ludendorff,8 Weber – segundo os apontamentos de sua mulher – teria declarado:

“Na democracia, o povo escolhe o líder em quem confia. Então, quem foi escolhido diz: ‘Agora, cale e obedeça!’. Ao povo e aos partidos, não é permitido retrucar... Depois, o povo pode julgar: se o líder errou, que seja enviado à forca!”

Não é de surpreender que, em tal conversa, Ludendorff tenha declarado: “Uma democracia assim poderia me agradar!” Deste modo, a democracia de Weber se transmuta num cesarismo bonapartista (LUKÁCS, 1981, p. 152-154).

Daqui apreendemos a concepção conservadora, bonapartista, autoritária da democracia que Weber possuía. O que leva Mészáros a lembrar que isto não impediu que Weber se tornasse,

[...] no decorrer dos desenvolvimentos político-ideológicos do século XX, o pensador reverenciado por todo o mundo atlântico como o represen- tante – com um rigor teórico que deve ser considerado exemplar até pelo mais “objetivo” de todos os cientistas sociais – dos valores máximos da “democracia liberal” e do “mundo livre” (MÉSZÁROS, 2004, p. 147).

Lukács (1981, p. 154) prossegue denunciando que a sociologia daquele período apresenta uma metodologia extremamente formal e uma gno- siologia extremamente agnóstica e relativista, que se converterá numa mística irracionalista. Assim a sociologia assume o papel de ciência par- ticular da história e, devido ao seu formalismo metodológico, fica im- possibilitada de realizar uma “verdadeira interpretação histórica”. Os problemas relativos ao conteúdo e à gênese das ciências singulares (que se tornam, também, cada vez mais formalistas) são transferidos para o campo da sociologia. Ela, por sua vez, e devido à sua metodologia for- malista, passa a trabalhar com “analogias puramente formais em vez de explicações causais” (LUKÁCS, 1981, p. 154). Ainda que Weber polemize explicitamente contra o excessivo formalismo presente, por exemplo, em Simmel, para Lukács a sociologia weberiana é eivada de analogias formalistas (LUKÁCS, 1981, p. 155).

Lukács prossegue assinalando a construção de esboços de tipos e tipolo- gias por parte da sociologia. Construção essa que em Weber será o pro- blema central de sua metodologia:

Ele [Weber] considera como tarefa principal da sociologia estabelecer pu- ros “tipos ideais”. Na opinião de Weber, só a partir deles é possível uma análise sociológica. Esta análise, porém, não fornece nenhuma linha de desenvolvimento, mas apenas uma justaposição de tipos ideais escolhi- dos e ordenados em forma casuística. O devir da sociedade, concebido em sua irrepetibilidade e na impossibilidade de ser subordinado a leis (ao modo de Rickert), apresenta um ineliminável caráter irracionalista, ainda que – para a casuística racional do tipo ideal – o irracional seja elemento perturbador, o “desvio” (LUKÁCS, 1981, p. 155).

O conceito de lei de Weber expressa o caráter subjetivista de sua socio- logia segundo Lukács. Ao tratar da sociologia compreensiva e das suas categorias ele argumenta, em Gesammelte Aufsätze zur Wissenshaftslehre [Textos escolhidos sobre ciência econômica], que: “O modo de formação dos conceitos sociológicos é predominantemente uma questão de fins. Não somos absolutamente obrigados a formar todas as categorias que serão estabelecidas em seguida” (WEBER apud LUKÁCS, 1981, p. 156). Registre-se o distanciamento da compreensão de Marx para quem as categorias são “formas de ser”, portanto, ontologicamente dadas. Voltare- mos a isto adiante. Prosseguindo com a argumentação de Lukács, temos que a gnosiologia pragmática de Weber o leva a defender, em Economia e sociedade, que:

As “leis”, como se costuma designar algumas proposições da sociologia compreensiva, [...] são probabilidades típicas, corroboradas pela observa- ção, de um decurso de ações sociais que devem ser esperadas na base da presença de certos dados efetivos, ações compreensíveis na base dos mo- tivos típicos e das intenções supostamente típicas daqueles que atuam (WEBER apud LUKÁCS, 1981, p. 156).

A conclusão de Lukács é que tal postura de Weber resulta na dissolução subjetiva de toda realidade social objetiva, além de as situações sociais assumirem “uma complexidade aparentemente exata, porém na realidade, extremamente confusa” (LUKÁCS, 1981, p. 156). Registramos, também, a distância da compreensão do que sejam leis sociais entre Weber e Marx. Retornaremos a isto adiante. Em seguida, Lukács exemplifica tal confusão com outra citação de Weber de Gesammelte Aufsätze zur Wissenshaftslehre

[Textos escolhidos sobre ciência econômica], em que este descreve os pro- ventos do trabalho após ter enumerado as obrigações do trabalhador:

Em seguida, ele [o trabalhador], se realiza tudo isso, tem a probabilidade de receber certos pedaços de metal ou de papel feitos de modo especial, os quais, entregues a outras pessoas, fazem com que ele possa adquirir pão, carvão, calças, etc., e isso com o resultado de que se alguém quisesse retomar dele tais objetos, surgiriam a seu pedido, com uma certa pro- babilidade, determinados personagens com capacete que o ajudariam a reavê-los, etc. etc. (WEBER apud LUKÁCS, 1981, p. 156).

Lukács passa a comentar a citação acima e nos diz que:

Vê-se claramente, neste trecho, que as categorias sociológicas de Weber – que designa como probabilidade as mais diversas objetivações sociais, como o poder, o direito, o Estado, etc. – não expressam mais do que a psicologia abstratamente formulada do indivíduo que age e calcula segundo os princípios do capitalismo. Também aqui, no erudito alemão que, em suas intenções subjetivas, era o que mais honesta e coerentemente se esforçava no sentido de exercer sua ciência de modo puramente objetivo, no sentido de fundar e pôr em prática uma meto- dologia da pura objetividade, as tendências imperialistas da pseudo- -objetividade revelam-se como as mais fortes. A concepção de Max Weber sobre a probabilidade deriva, por um lado, do exemplo da interpretação dada por Mach [Ernst Waldfried Josef Wenzel Mach] dos fenômenos da natureza, e, por outro, é determinada pelo subjetivismo psicologista da teoria da “utilidade marginal”; ela converte as formas objetivas, as transformações, os eventos, etc., da vida social num emaranhado de “expectativas” satisfeitas ou insatisfeitas, enquanto suas leis são con- vertidas nas probabilidades mais ou menos prováveis com que essas expectativas se realizam. É evidente que uma sociologia que trabalha nessa direção pode alcançar, em suas generalizações, tão-somente ana- logias abstratas (LUKÁCS, 1981, p. 156-157).

Em resumo, Lukács reafirma que, apesar de todo o posicionamento de Weber em busca de racionalidade, neutralidade de valores, objetivida- de, Weber permanece preso “aos limites ‘irremediavelmente irracionais’ das analogias formalistas” (MÉSZÁROS, 2002, p. 417; grifos do autor).

Paradoxalmente, registra Lukács (1981, p. 157), a luta de Weber contra o irracionalismo o leva a um estágio superior deste mesmo irracio- nalismo. Weber acredita que seu método agnóstico-formalista seja o único científico, pois através dele só se introduz na sociologia o que é

demonstrável. De tal forma que a sociologia forneça “apenas uma críti- ca técnica”, e investigue

[...] “quais meios são apropriados em vista de determinado fim”, e, por ou- tro lado, [possa] “estabelecer as consequências que a aplicação dos meios requeridos poderia ter além... da eventual obtenção do fim desejado”. Tudo o mais, segundo Weber, encontra-se fora do campo da ciência, é objeto de fé e, portanto, algo irracional (LUKÁCS, 1981, p. 157-158; grifos do autor).

O método de Weber, portanto, exige a exclusão de todos elementos irracionalistas e dos juízos de valor da sociologia. Entretanto, tal proce- dimento acaba por potencializar “a irracionalização do devir histórico- -social” (LUKÁCS, 1981, p. 157-158). Lukács prossegue sinalizando que contraditoriamente, e sem perceber que isto anula toda a pretensa racio- nalidade de sua metodologia científica, Weber reconhece que

[...] as “avaliações” estão profundamente enraizadas na própria realidade social. Ele [Weber] diz:

“A impossibilidade de apoiar ‘cientificamente’ tomadas de posição prá- ticas [...] deriva de razões muito mais profundas. Essa tentativa é funda- mentalmente absurda, já que as diversas ordens de valores estão entre si em luta insolúvel” (LUKÁCS, 1981, p. 158).

Weber, entretanto, realiza uma enérgica polêmica contra o irracionalismo vulgar alemão do seu período. O que, para Lukács, não afasta “o núcleo irracional do método e da concepção do mundo de Max Weber” (LUKÁCS, 1981, p. 159). Ao mirar na cientificidade da sociologia e excluir os juízos de valor, Weber simplesmente transfere a irracionalidade para estes juízos de valor e para as tomadas de decisão. Neste ponto Lukács nos convida a recordar as afirmações histórico-sociológicas de Weber sobre “a racio- nalidade da economia e a irracionalidade da religião”. Um exemplo claro da perspectiva subjetivista e relativista da metodologia de Weber é dado por Lukács com uma citação do próprio Weber retirada de Gesammelte Aufsätze zur Wissenschaftslehre [Textos escolhidos sobre ciência econômica]: “Defender ‘cientificamente’ tomadas de posição práticas [...] é fundamen- talmente absurdo, já que as diversas ordens de valores do mundo estão entre si em luta insolúvel [...]” (WEBER apud LUKÁCS, 1981, p. 159).

Passaremos agora a apontar, com Mészáros, como Weber violava seus preceitos metodológicos garantidores da neutralidade científica, e como sua teoria é, desde sempre, uma clara ideologia defensora da lógica do capital.

No ensaio “Objectivity” integrante do livro In the Methodology of the Social Sciences, Weber trata da natureza e da validade de seus tipos ideais:

A tarefa elementar do autocontrole científico e a única forma de se evi- tar asneiras graves e tolas requer uma distinção nítida e precisa entre a

análise comparativa da realidade através de tipos ideais, no sentido lógico, e o julgamento de valor da realidade baseado em ideais. Em nosso sentido, um

tipo ideal [...] não tem absolutamente nenhuma conexão com juízos de valor, e não tem nada a ver com nenhum tipo de perfeição, a não ser aquela puramente lógica (WEBER apud MÉSZÁROS, 1993, p. 26).

De início, Mészáros (1993), assinala que sequer vai discutir se a proposta de Weber de tomar o autocontrole científico como tarefa elementar é ou não um juízo de valor. Tampouco vai avaliar a adequação de se tratar o campo das Ciências Sociais no âmbito de uma perfeição puramente lógica. Isto porque seu foco é descobrir se Weber conseguiu ou não se manter nos “padrões que ele mesmo estabeleceu para a avaliação da ci- ência social em geral” (MÉSZÁROS, 1993, p. 26). Ele de imediato já revela que Weber não conseguiu, ainda que ele próprio e seus seguidores não desistam das ilusões a este respeito.

Tomando inicialmente um tipo ideal “neutro” que é a definição do capi- talismo dada por Weber, apresentada no mesmo ensaio (“Objectivity”) da citação acima, na qual Weber diz que o capitalismo é uma “cultura” cujo princípio norteador “é o investimento de capital privado” (MÉSZÁROS, 1993, p. 27; grifos nossos), Mészáros defende que tal definição não é axiologi- camente neutra, ainda que aparentemente expresse uma verdade óbvia que diz que “o capitalismo e o investimento de capital privado estão di- retamente ligados” (MÉSZAROS, 1993, p. 27). Mas só na aparência isto é uma verdade, pois, de fato, trata-se de uma mera tautologia. E “na defi- nição de Weber o que está para além da pura tautologia é, ou ostensiva- mente ideológico e com viés valorativo, ou falso – ou até mesmo ambos, ideologicamente tendencioso e falso” (MÉSZÁROS, 1993, p. 27).

No documento Revista Sinais Sociais / Sesc (páginas 39-47)