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3.5 A importância da mãe no desenvolvimento da saúde bucal da criança

3.5.1 A mãe como transmissora da susceptibilidade aos problemas bucais nas

É consenso que a saúde bucal dos filhos reflete as características de saúde bucal das mães. Desde a década de 40, discutia-se essa semelhança. Klein (1946) já relacionou o índice de dentes cariados-perdidos-obturados (CPOD) entre mães e filhos e alertou para a estreita correlação entre a saúde bucal da mãe e a dos filhos.

Houve época em que se acreditou que as características de saúde bucal eram transmitidas geneticamente. Esse pensamento representaria um forte obstáculo às

campanhas de prevenção, pois se conclui que essas seriam ineficazes. Já em 1976, Garn comparou o estado de saúde bucal em 16.000 pares de filhos de famílias americanas, tanto negros quanto brancos. O autor encontrou uma semelhança na condição de saúde bucal entre os irmãos, mas concluiu que os dados não indicam um determinante genético para tal situação. Este achado representou um forte argumento para o padrão intrafamiliar de comportamentos em saúde bucal; sendo assim a prevenção da cárie torna-se possível e deve iniciar-se na gestação.

Köhler et al. (1984) demonstraram que a aplicação de medidas preventivas de cárie, em mães portadoras de altos índices de Streptococos mutans (S. mutans) e lactobacilos, implicou a redução dos níveis salivares destes microorganismos e evitou o estabelecimento inicial nos filhos; encontrou-se uma menor incidência de cárie nestas crianças.

Davey & Rogers (1984), através de testes bioquímicos com amostras de saliva não estimulada, verificaram a associação dos níveis de S. mutans entre mães e filhos de 10 famílias na Grã-Bretanha. Não houve relação estatística com as características da saliva dos pais. Segundo os autores, foi confirmado ser a mãe a principal fonte de infecção de S. mutans para as crianças.

Köhler et al. (1984) estudaram o efeito preventivo da redução do nível de S. mutans e lactobacilos em 25 mães suecas, na primeira gravidez, até os 3 primeiros anos de vida de seus filhos. Verificaram que os índices destes agentes cariogênicos nas crianças, após completarem 7 anos de idade, eram bastante reduzidos com relação ao grupo controle. Concluíram que a manutenção da saúde bucal das mães, com baixos índices de patógenos cariogênicos, contribui efetivamente para a redução da experiência de cárie por suas crianças.

Brambilla et al. (1988) avaliaram a redução dos níveis de S. mutans em 65 gestantes que consultavam no Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do hospital de San Paolo em Milão, Itália. Tais gestantes foram examinadas e exibiram um alto índice de S. mutans, principal patógeno da cárie dentária. Essas mulheres foram submetidas a um programa de reeducação alimentar, profilaxia e instruções sobre saúde bucal, num período de 30 meses. Com relação a um grupo controle, o regime preventivo durante a gravidez influenciou na transmissão do patógeno de mãe para filho, diminuindo

significativamente o contágio pelo S. mutans.

Alaluusua et al. (1989) relacionaram os níveis de S. mutans e lactobacilos em pais e filhos. A população do estudo consistiu em 82 mães e filhos e 73 pais e filhos. O CPOD foi 8 vezes maior nos adultos. Entretanto os níveis de S. mutans salivares e lactobacilos foram aproximadamente os mesmos em ambos os grupos. Houve uma correlação significativa entre os índices CPOD dos pares mãe e filhos. O mesmo não foi encontrado nos pares pais e filhos. Os níveis de S. mutans foram maiores nas crianças cujas mães apresentavam um maior índice CPOD comparado às crianças com mães com menor índice CPOD.

Inúmeros trabalhos têm mostrado relação semelhante a propósito de cárie em mães e filhos. Este fato pode estar relacionado a reflexos hereditários ou fatores sociais, segundo Aaltonen (1991). O autor ressaltou que pode estar relacionado com a transferência materna de S. mutans da mãe para a boca do bebê, pois a criança sem dentes não tem colonização desta bactéria.

O autor realizou um estudo em Lohja, área rural da Finlândia, entre 1983 e 1985. Quatrocentos e setenta e seis mães de bebês com idade de 7 meses foram entrevistadas e tiveram avaliada a condição de saúde bucal. Também foi feita uma avaliação clínica da saúde bucal dos bebês em oito centros de saúde da região. Quando as crianças estavam com 5 anos de idade, mães e filhos foram convidados a retornarem para um novo exame: 248 mães e filhos compareceram. Os resultados apontaram uma relação significativa entre maior índice de cárie naquelas crianças cujas mães tinham uma incidência baixa de cárie, porém um contato mais freqüente com os filhos durante o dia, e nas crianças cujas mães tinham um maior índice de cárie, mesmo sem um contato tão prolongado durante o dia com seus filhos.

De acordo com o autor, este resultado suporta a teoria de que a incidência de cárie materna e o contato salivar da mãe com a criança estão relacionados com a infecção pela cárie dentária e/ou a imunidade.

Corrêa (1993) já postulara que “o caminho para a melhoria do quadro epidemiológico da cárie e doença periodontal é prevenir”, investindo na saúde bucal da mãe em potencial e assistindo a criança no berço, quando ainda nem dente possui. A transmissão das características da microflora bucal da mãe para os filhos é bastante

relatada na literatura.

Caulfield et al. (1993) monitoraram os níveis de bactérias bucais de 46 mães e seus filhos, desde o nascimento até os 5 anos de idade. Este estudo reportou, pela 1a vez, que os S. mutans são adquiridos pelas crianças, durante um discreto período que ocorre em torno dos 26 meses de idade, designado de “janela de infectividade”.

Duarte et al. (1995) realizaram revisão de literatura com o objetivo de avaliar a transmissibilidade da microbiota bucal em humanos e as conseqüências sobre o dente e o periodonto. Concluíram que o fato de os microorganismos estarem presentes não desencadeará cárie ou doença periodontal necessariamente; entretanto os pais deveriam receber um aconselhamento em relação à transmissibilidade desta microbiota a seus filhos, estimulando um controle clínico daqueles microorganismos.

Fonseca (1998) ressaltou o paradoxo materno onde a mãe pode expor seu filho a doenças infecciosas através do contato íntimo, embora também transmita a ele diversos anticorpos, os quais conferem imunidade contra muitos dos microorganismos que a infectam durante a gravidez. A saúde bucal materna pode ser um determinante ou um fator de risco na saúde do feto ou do recém-nascido. A autora nos informa que é de interesse atual a prevenção na transmissão materna de doenças da cavidade oral aos seus filhos, na assim chamada “janela de infectividade”.

A mãe é considerada a principal fonte de microorganismos relacionados tanto à cárie como à doença periodontal. A diminuição deste grau de risco na mãe constitui-se em importante conduta preventiva para a criança, que se iniciaria ainda no período gestacional (Rossell et al. 1999).

Discutindo esta comprovada transmissibilidade das características de saúde bucal da mãe para o filho, Pimenta (1994) demonstrou que as vias de contaminação da cavidade bucal do bebê são através dos beijos da mãe e da contaminação, por ela, dos talheres que serão usados pelo filho.

A prática destas demonstrações de carinho e dos hábitos de se compartilhar objetos é própria de nossa cultura. Mudar esses hábitos arraigados é tarefa mais complicada. Por isso, Pimenta (1994) afirmou que cuidar da saúde bucal materna é a forma mais simples e primeira medida a ser adotada na prevenção da cárie das crianças.

comportamento em saúde bucal onde a mãe foi a principal formadora de crenças e atitudes.

Assim sendo, o caminho mais seguro para a manutenção da saúde bucal seria a incorporação de um guia de saúde bucal junto ao serviço de exame médico pré-natal, como no Japão, onde esta experiência deu certo, de acordo com os relatos de Morinushi et al. citados por Walter et al. (1996).