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Mão de obra livre

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CAPÍTULO 2 DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA NO BRASIL E SEUS

2.1 Processo Histórico

2.1.3 Mão de obra livre

A extinção do uso de mão de obra escrava no Brasil ocorreu gradualmente, pois os fazendeiros permaneciam agarrados àquilo que tinha sido a fonte de sua riqueza. O período de transição do trabalho escravo para o livre foi iniciado. A vinda de imigrantes para o Brasil desponta como solução possível para garantir oferta de mão de obra na lavoura de café, iniciada nos anos de 1850. Cativados por promessa de terras em solo fértil e em abundância, alimentavam a esperança de se tornarem proprietários.

Para garantia de que os imigrantes oferecessem seu trabalho aos fazendeiros no cultivo dos cafezais, foi instituída a Lei de Terras de 1850 que proibia a ocupação de terra devoluta, se não fosse por meio de compra.

A terra passou a substituir o escravo como principal capital do fazendeiro e a assegurar a relação de trabalho no regime de parceria, em que o produto líquido era dividido entre ambos. O fazendeiro, que controla a terra, entra com ela, e o parceiro imigrante, que a lavra, com seu trabalho.

O regime de parceria fracassou devido às dividas contraídas pelos colonos em favor dos fazendeiros. Estes passaram a considerá-los como sua propriedade, em forma camuflada de escravidão.

As relações de vida e trabalho praticadas na época culminaram na proibição de emigração para o Brasil, oriunda de países europeus. Só foi retomada em 1870, em outras condições, entre elas a intervenção estatal no sentido de subvencionar a

vinda de imigrantes e a mudança no regime de trabalho, que passou ser o colonato, consistente na substituição da parceira por regime de trabalho livre.

De acordo com argumentos expendidos por José Martins de Souza, sociólogo e estudioso do assunto, “a subvenção à migração pelo próprio governo foi o primeiro

fato significativo para concretizar o trabalho livre nas fazendas de café”. Com o novo

regime o colonato consagrou a ideia de que primeiro o colono devia trabalhar em fazenda alheia para depois tornar-se proprietário. Esse regime constituía modificação do de parceria combinado com o de locação de serviços. Nessa modalidade o colono desempenha suas atividades juntamente com a família e não como trabalhador avulso.

Ele recebia o cafezal já formado e seu trabalho consistia em tratá-lo, fazer a roçagem, capina e colher o café. Recebia pagamento anual ínfimo, complementado com gêneros de subsistência. Podia plantar feijão, milho e arroz nas ruas do cafezal, cuja colheita era consumida em parte e em parte vendida, como explica Álvaro Vita.

O colono – e sua família – era obrigado a cuidar e a colher o café de um certo número de cafeeiros já formados. Ele recebia uma quantia em dinheiro, anualmente, por cada 100 pés de café de que cuidasse e uma quantia em dinheiro também por cada 50 litros de café que colhesse. O colono (e cada membro de sua família que trabalhasse) recebia salário para produzir mercadorias, no caso o café, para a exportação. Porém, era um ganho monetário pequeno, se comparado com os salários de trabalhadores urbanos nesse período, e insuficiente para garantir sua sobrevivência (e de sua família).

A outra relação de trabalho que se constituiu no colonato, em combinação com o assalariamento, foi a produção direta dos meios de vida pelo colono e sua família. Como ocorria com o empreiteiro encarregado de formar o cafezal, o colono mantinha sua própria roça de milho, feijão, batata etc., nas ruas entre os cafeeiros pelo menos nas regiões de solo fértil. (VITA. 1989.p. 38,39).

Ainda de acordo com Vita, o que garantia a sobrevivência do trabalhador e sua família era a comercialização do excedente da produção de alimentos e não o seu ganho com o salário. O regime de colonato, em que o trabalhador podia produzir seu sustendo pelo cultivo de alimentos com direito à venda do excedente e percepção de salário, atraiu muitos imigrantes para o Brasil.

Estes, na esperança de se tornarem independentes, submetiam-se ao trabalho nas fazendas de café. O trabalhador oferece sua força de trabalho e recebe salário. A mão de obra é livre porquanto o trabalhador pode escolher a quem prestar

seu serviço. É dono de sua vontade, enquanto o capitalista compra a força de trabalho e não a pessoa do trabalhador como ocorria na escravidão.

José de Souza Martins sustenta que a origem do capital cafeeiro e seu desenvolvimento não resultaram apenas de relação de trabalho tipicamente capitalista porque o aparecimento da classe de assalariados só ocorreu a partir da década de 1950.

De acordo com Maria Isaura de Queiroz há cultores de orientação diversa quanto às transformações socioeconômicas e as relações de trabalho na agricultura brasileira. Vejamos:

Os cultores da primeira orientação parecem considerar de maneira bastante ingênua que a tradição e modernismo formam contrários irredutíveis e profundamente heterogêneos; na segunda orientação encontra-se a crença não menos ingênua na preponderância da parte sobre o todo: modificando- se as técnicas agrárias, seguir-se-ia uma transformação socioeconômica geral (QUEIROZ,1978.p.22,23).

O tema de desenvolvimento das transformações socioeconômicas e das relações de trabalho na agricultura brasileira verificou-se em dois momentos. O primeiro nasceu a partir da segunda Guerra Mundial na década de 1950, sob o impacto do crescimento econômico que revolucionou modos de vida no desenvolvimento rural. O segundo ocorreu com as inovações introduzidas pela agricultura moderna, intitulada Revolução Verde nos anos de 1970. Materializada no propósito de aumentar a produtividade agrícola nos países em desenvolvimento, acabou por romper radicalmente com o passado, modificando o mundo rural e novas formas de produtividade incrementadas pela tecnologia.

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