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Conforme destacamos, o percurso metodológico para a análise dos dados empíricos desta pesquisa compreende a Análise de Conteúdo (AC). Para Bardin (2011), esse método é composto por um conjunto de técnicas que possibilitam a interpretação de qualquer variedade de documentos e/ou textos, e as interpretações podem ser realizadas através de inferências e descrições qualitativas das mensagens. Esse tipo de análise acaba por permitir a reinterpretação das mensagens, colaborando assim para o surgimento de significações para além do que seria possível a partir de uma leitura comum (MORAES, 1999).

Destacamos que, apesar de a análise de conteúdo, historicamente, ter sido bastante empregada para estudos quantitativos, na presente pesquisa a abordagem foi a qualitativa. E isso, para Moraes (1999), evidencia que os dados foram o ponto de partida e que orientaram a categorização e, mesmo, a fundamentação teórica deste estudo. Essas categorias foram “construídas ao longo do processo de análise”, e resultaram de um processo de sistematização progressivo e analógico (MORAES, 1999, p 25). Para isso ser feito em sua plenitude, foi necessária a leitura dos dados de forma aprofundada para podermos deliberar sobre os pontos mais relevantes no atendimento aos objetivos da pesquisa e, por conseguinte, obtermos a compreensão mais aprofundada e completa dos fenômenos analisados.

O analista, portanto, não pode ficar atrelado apenas ao que é dito na dimensão do visível (na fala materializada), mas precisa buscar o nível mais profundo dos significados - aqueles captados nas entrelinhas dos textos que, possivelmente, revelam significados importantes no entendimento dos materiais investigados (MORAES, 1999). Vale destacarmos ainda que, mesmo tendo como norte a abordagem indutiva, este estudo já parte de um quadro teórico previamente delineado. Entretanto, ao longo da análise, foram realizadas aproximações, aprofundamentos e inserções de referenciais teóricos que contribuíram com a leitura e a intepretação dos dados empíricos. A análise de conteúdo permitiu captar alguns elementos que nos auxiliaram na compreensão de qual/quais noção/noções de diversidades são endossadas pelo GED. Em relação a sua operacionalização, a AC, segundo Bardin (2011), é organizada em três fases: pré-análise, exploração do material e interpretação, como descrevemos a seguir.

4.2.1 Pré-análise

Esta fase tem por objetivo a organização do material de pesquisa, a fim de operacionalizar os dados e sistematizar as ideias iniciais para posteriores apreciações. Nesse momento, realiza-se uma “leitura flutuante” sobre textos e documentos que se pretende analisar, possibilitando, mesmo que informalmente, o registro das primeiras orientações e impressões sobre o material. Nessa etapa o pesquisador tem a oportunidade de compreender melhor o seu objeto de estudo sendo possível um processo de deliberação inicial sobre as informações que emergem enquanto a leitura é realizada (BARDIN, 2011). O conhecimento aprofundado do material a ser estudado é fundamental para que seja possível realizar as articulações necessárias com base no aporte teórico do trabalho, contribuindo para o atendimento dos objetivos determinados pela pesquisa realizada.

4.2.2 Exploração do Material

Realizada a organização e a leitura atenta dos dados, nesta etapa, são definidas as unidades de análise. A unidade de análise, segundo Moraes (1999, p. 15), “é o elemento unitário de conteúdo a ser submetido posteriormente a classificação”. Isto é, “corresponde ao segmento de conteúdo a considerar como unidade de base, visando à categorização [...]” (BARDIN, 2011, p. 104). A unidade pode ser constituída por palavras, frases, parágrafos, sequências de texto, temas ou documentos na íntegra. O processo de escolha de quais elementos utilizar está diretamente relacionado aos objetivos da pesquisa. (MORAES, 1999).

Muitas vezes, para que haja uma compreensão sobre determinado relato, é necessária a seleção de sequências de texto (STs), que possuam significado completo em si mesmo. Isso quer dizer que, segundo Moraes (1999, p. 16), elas poderão “ser interpretadas sem auxílio de nenhuma informação adicional, [...] já que estas unidades nas fases posteriores da análise serão tratadas fora do contexto da mensagem original”. A partir da identificação dessas sequências de texto, essas unidades passam por uma tentativa de codificação13 por meio de análise temática, que, segundo Bardin (2011, p. 105), “consiste em descobrir ‘núcleos de sentido’ que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição pode significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido”. Neste trabalho, portanto, as sequências são agrupadas de acordo com critérios semânticos, ou seja, a partir dos temas presentes em cada um dos espaços onde esses conteúdos estão identificados.

Realizada a etapa para desvelar alguns núcleos de sentido presentes em cada sequência, a etapa seguinte, conforme a AC, consistiu na categorização que, segundo Bardin (2011, p. 147) fundamenta-se em:

[...] uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registro no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres comuns destes elementos.

De acordo com a autora, essa classificação e, consequentemente, o agrupamento dos elementos ocorre por semelhança, isto é, pelo que há em comum entre eles. Isso exige que o pesquisador sintetize os temas de cada sequência, delineando e refinando continuamente as categorias e os significados de cada uma delas. Ainda segundo Bardin (2011), a construção de cada uma dessas categorias deve obedecer a critérios de exclusão mútua (cada elemento não deve existir em outra divisão); homogeneidade (um único princípio de classificação deve governar a organização); pertinência (deve estar alinhada a proposta e ao quadro teórico da pesquisa); objetividade e fidelidade (é necessário delinear os índices que determinam a entrada de um elemento numa categoria) e; produtividade (procura estabelecer categorias férteis em dados e hipóteses).

Por fim, a etapa da interpretação consiste na busca pela compreensão do objeto, com a

13 De acordo com Bardin (2011, p. 133) “a codificação corresponde a uma transformação – efetuada segundo regras precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação de conteúdo, ou da expressão, suscetível de esclarecer o analista acerca das características do texto, que podem servir de índices”.

utilização de técnicas de categorização que levam em conta os conteúdos da comunicação ou os próprios canais onde essas informações são visibilizadas. Para Bardin (2011) os dados complementares são fundamentais para que as interpretações sejam ainda mais eficientes. Essa relação pode se dar com o referencial teórico utilizado no trabalho. A autora ainda afirma que cada análise de conteúdo possui uma especificidade, sendo impossível compartilhar uma forma única de aplicação da técnica.