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1. ARTIGO

2.2. Método

2.2.1. Procedimento de coleta de dados

Foi realizado um estudo de corte transversal com 25 turmas do primeiro, terceiro e quinto semestres de nove cursos de progressão linear (CPL) das cinco áreas de conhecimento ofertadas pela UFBA, são eles: direito e pedagogia, engenharia mecânica e química, medicina e farmácia, letras, design e artes plásticas. No total, 926 alunos responderam um questionário aplicado em sala de aula.

Para mapear as relações de amizade, informação, lacuna e rejeição dos estudantes da UFBA, foi solicitado a cada estudante que escrevesse o nome dos colegas

da turma que ele(a): 1) considera seus amigos (“amigos” aqui significa dizer o aluno tem mais afinidade/proximidade); rede de amizade; 2) procura para ter informações sobre as tarefas do curso; rede de informação 3) não tem contato, mas gostaria de ter; rede de lacuna:; 4) não tem contato e não gostaria de ter; rede de rejeição. A quantidade de colegas da turma que poderiam ser citados era livre. Estas perguntas de rede integram um instrumento (Anexo 1) de pesquisa mais amplo que abarca variáveis de cunho sócio demográfico e de percepção de vivência acadêmica.

Ao todo foram mapeadas 93 redes assim distribuídas: 25 de amizade, 25 de informação, 23 de lacuna e 20 de rejeição. Tais redes são compostas por 1178 alunos da UFBA. Embora 926 alunos tenham respondido ao questionário, estes alunos poderiam citar qualquer aluno da turma, ainda que este não estivesse presente no dia da aplicação do questionário. Destes 1178, 58 ingressaram na UFBA por outras vias que não o sistema de cotas ou o sistema universal, como transferência interna, vagas residuais ou transferência externa.

2.2.2. Variáveis investigadas

O tipo de ingresso na universidade, sistema de cotas ou por livre concorrência foi a variável critério utilizada no estudo para classificar os estudantes em dois grandes grupos: cotistas e não cotistas (ingressos por livre concorrência). O dado foi disponibilizado pela Superintendência de Tecnologia da Informação (STI) à Superintendência de Avaliação e Desenvolvimento Institucional (SUPAD) da UFBA, órgão onde este projeto de pesquisa é desenvolvido.

Os cursos das turmas pesquisadas foram escolhidos no intuito de contemplar as cinco áreas de conhecimento e representar os polos de concorrência alta e baixa15 na referida área16.

A medida de homofilia eleita para análise dos dados foi a medida de E-I index. Este índice foi criado por Krackhardt e Stern (1988) para testar um modelo de gestão de

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Nos cursos de concorrência mais baixa, principalmente na área de exatas, as turmas a partir do terceiro semestre eram muito pequenas (menos de 10 alunos). Redes com tamanho muito reduzido poderiam dificultar análises comparativas de relações intergrupais entre as turmas pesquisadas. Assim, os cursos de concorrência mais baixa que não formavam turmas com mais de 10 alunos foram desconsiderados e substituídos por cursos da mesma área, mantendo o critério de baixa concorrência (embora não fosse a menor concorrência).

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Os valores de concorrência tem como referência o vestibular da UFBA de 2012.

redes intraorganizacionais em situações de crise. O índice foi usado para medir, em uma rede de amizade intraorganizacional, a proporção de laços externos (entre atores de diferentes subunidades17) e internos.

A medida base de comparação entre as variáveis consideradas foi a proporção de laços externos (heterofilia) e internos (homofilia) na configuração das relações dos alunos em cada tipo de rede. A tendência de laços nos dois grupos pesquisados (cotistas e não cotistas) foi avaliada por meio do algoritmo E-I Index (Krackhardt & Stern, 1988) que pode variar de -1 a +1, sendo que valores negativos indicam homofilia e valores positivos, heterofilia. Ele é gerado subtraindo o número de laços internos (IL) dos laços externos (EL) e dividindo este resultado pelo numero total de laços na rede:

E-I index = EL – IL/(El + IL)

O E-I index pode ser calculado em diferentes níveis da rede: na rede como um todo, de cada subgrupo estudado e de cada ator. Há ainda a medida de significância do E-I index geral indicando se há diferença entre ele e o E-I esperado. O E-I index esperado também é fornecido e é calculado com base na proporção de laços esperados considerando a quantidade de atores em cada subgrupo. Se o E-I index for significativo indica que ele é diferente do esperado, indicando presença de homofilia ou heterofilia. Isso permite que as redes sejam comparadas apesar de apresentarem diferentes tamanhos. Todas estas medidas foram utilizadas neste estudo, com exceção do E-I index por para cada ator.

2.2.3. Procedimentos de análise de dados

As medidas de E-I index geradas através do UCINET (Borgatti, Everett & Freeman, 2002)18 foram inseridas no banco de dados como variáveis, juntamente com a concorrência no vestibular. Os tipos de rede pesquisados, o semestre estudado e a área de conhecimento serviram de base para exploração de diferentes recortes dos grupos de cotistas e não cotistas, principalmente nas comparações descritivas (mediana, média, desvio padrão), correlações e análises de variância.

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Subunidades são unidades organizacionais variadas em natureza e tamanhos, podendo ser departamentos, grupos de trabalho, setores, etc. O que as define é o fato de serem formalmente reconhecidas.

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Um dos softwares mais utilizados para analisar dados de redes sociais informais, principalmente na área de humanas.

Os dados de E-I Index geral, de cotistas e não cotistas foram comparados por meio de estatísticas descritivas (média e desvio padrão), correlação e análise de variância. Após os testes de assimetria, curtose e de homogeneidade de variância de Levene (não foram significativos), verificou-se que os dados são não paramétricos. Portanto, nas medidas de correlação foi utilizado o coeficiente de spearman, e nas medidas de comparação de dois grupos foram utilizados dois testes: Mann-Whitney, para as redes de amizade e informação e Kolmogorov-Smirnov, para as redes de lacuna e rejeição. O segundo é uma opção para o Mann-Whitney quando a amostra possui menos do que 25 casos. Já nas medidas de análise de variância, no caso de mais de dois grupos de comparação, como na comparação entre semestres e tipos de laço, foi ulitilizado o Kruskal Wallis, uma alternativa não paramétrica à ANOVA (Field, 2009).