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Método, Aquisição e Utilidade da Filosofia em Hobbes

1.1 – A sensação como matéria prima da filosofia hobbesiana

Devemos considerar de entrada que uma devida compreensão do projeto mais

Elementar ou sistemático do pensamento filosófico de Thomas Hobbes deve

necessariamente levar em conta a importância que a sensação exerce dentro da moderna

teoria do conhecimento que o autor procura fundar sobre as bases do método geométrico19.

A sensação em Hobbes é entendida como a faculdade sobre a qual se ancora a imaginação e a memória, que são as fontes mais imediatas do conhecimento científico e humano em geral. Para Hobbes, não pode haver nada na mente e no espírito humano que não tenha passado antes direta ou indiretamente pela sensação ou pelos sentidos, de modo que o primeiro e mais fundamental conhecimento que os homens têm do mundo são as próprias

sensações e experiências20. Em outras palavras, para Hobbes, os pensamentos e concepções

que permeiam o espírito e a cognição dos homens não são mais do que efeitos ou aparecimentos imagéticos da matéria externa que afeta os homens através da visão, do

olfato, da audição, do paladar e do tato21. Não obstante, a própria sensação (tida como

19 A influência da geometria euclidiana na elaboração dos Elementa philosophiae de Hobbes é de fundamental

importância para uma devida compreensão do pensamento mais sistemático do autor. Não é sem razão que sua principal filosofia dos corpos se configura em termos de um sistema Elementar tríade: De Corpore, De

Homine e De Cive. A influência da geometria euclidiana é patente e parece mesmo remontar ao pensamento

mais fundamental de Hobbes, a exemplo daquele já expresso por ele em sua primeira obra filosófica mais sistemática, a saber, os Elementos da lei natural e civil, de 1640.

20

Ver: Elementos da Lei, I, 1, 1, Leviatã, I, 1 e De Corpore, IV, 25.

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Para Hobbes, os cinco sentidos humanos (visão, audição, paladar, olfato e tato) são as fontes ou canais por onde o fluxo da matéria em movimento é capaz de se perpetuar do mundo externo para a interioridade do corpo humano. Nesse último registro, no entanto, Hobbes considera um sexto sentido, que ele chama de

recordação (Elementos da Lei, I, 3, 6). A sensação, para Hobbes, diz respeito às coisas presentes, ao passo

que recordação diz respeito às coisas passadas. Porque para Hobbes a conjectura do futuro consiste sempre numa recordação dos eventos passados, a teoria dos sentidos que considera a recordação como um sexto sentido é de fundamental importância para a compreensão de um dos epicentros da filosofia de Hobbes, a saber, o conatus. A filosofia, enquanto um tipo de conjectura sobre os eventos futuros, encontra seu fundamento nesse princípio do “sexto sentido interno” do homem hobbesiano, a saber, a recordação [re+cordis= que pode significar o movimento circular do que passa pelo coração, a saber, a circulação sanguínea]. O conatus, não obstante, consiste num tipo de contrapressão ou resistência que, no caso do homem, perpetua no movimento de fora para dentro e de dentro para fora através do coração. A compreensão

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causa tanto das concepções da mente quanto das paixões humanas) é ela própria, em Hobbes, um tipo de efeito causado pela ação de agentes externos que atuam sobre o corpo e os sentidos humanos. Nesse registro, buscaremos no presente capítulo considerar de que modo a filosofia ou as ciências em Hobbes devem buscar conhecer as causas mais imediatas da geração dos efeitos ou fenômenos manifestos na e para a sensação, mas através de um método racional que considera a geração desses efeitos sob o prisma do movimento de uma simples partícula da matéria.

O método resolutivo-compositivo ou geométrico adotado por Hobbes como fundamento de sua filosofia natural e política deve operar sempre de modo genético ou genealógico, isto é, remontando à geração dos efeitos investigados em conformidade aos

nomes e termos que os descrevem22. Dai que, para Hobbes, um filósofo deve iniciar suas

considerações partindo sempre dos próprios efeitos manifestos na sensação e prosseguir com eles rumo ao conhecimento das causas eficientes da geração dos fenômenos

manifestos nessa sensação23. Para Hobbes, a filosofia natural tem for finalidade a aquisição

de um conhecimento capaz de reproduzir o efeito ou o fenômeno a partir de causas eficientes e não da essência ou da causa final teleológica, tal como seria para a tradição escolástica e metafísica do medievo. É sobre esse prisma, inclusive, que, como veremos mais adiante, a filosofia hobbesiana mais sistemática parece colocar o homem como princípio e fim do conhecimento científico moderno, de modo a poder justificar o autoconhecimento e o autoexame dos homens (nosce te ipsum) como fundamento do

do “homem máquina” descrito por Hobbes deve passar necessariamente por uma consideração sobre o processo de refinamento do combustível dessa máquina, a saber, das paixões humanas, cujos aditivos mais potentes são o medo e a esperança.

22 No De Corpore, I, 6, 1 Hobbes argumenta que o método para a aquisição da filosofia é ou resolutivo ou

compositivo ou então resolutivo-compositivo, pois a própria razão consiste apenas em cálculo ou soma e subtração. Desses pormenores trataremos mais adiante.

23 No artigo “Um método para el hombre-máquina?” (in: Física y política del autómata: los avatares del

hombre-máquina), Balzi observa como, para Hobbes, a filosofia moderna deve explorar a capacidade criativa

ou criadora do homem, cuja ferramenta mais eficiente é a linguagem. Sob esse prisma, Balzi pondera sobre como Hobbes encerra os princípios e os fins do conhecimento científico sobre as bases um materialismo que coloca o homem automata no epicentro de um universo mecânico. Todavia, essa concepção mecanicista do homem e da natureza, segundo Balzi, não é exclusiva de Hobbes, mas parece ter sido compartilhada também por alguns dos “avatares” da modernidade que mais influênciaram a posteridade científica, a exemplo de Descartes.

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conhecimento científico moderno. Em poucas palavras, podemos dizer que, para Hobbes, a modernidade científica pode ser entendida como um “novo” modo de aplicação do “velho”

método geométrico na consideração dos fenômenos naturais e políticos daquele período24.

Vista sobre esse prisma, a tentativa hobbesiana de se considerar os fenômenos sociais ou políticos a partir de uma “nova” aplicação do velho método geométrico não deve nos parecer assim tão descabido quanto a de qualquer outro projeto cientifico moderno. Para Hobbes, não basta conhecer isso e aquilo para que tal conhecimento seja considerado científico. Para a aquisição do conhecimento científico é preciso também demonstrar os princípios desse conhecimento numa linguagem capaz de representar ou reproduzir o objeto ou o efeito em questão. Nesse quesito, para Hobbes, a geometria é a linguagem mais adequada para a demonstração dos princípios de uma ciência rigorosa, seja ela natural ou política.

Nesse registro, vale ressaltar que, para o pensamento moderno de Hobbes, assim como filosofia (philosophia) e ciência (scientiae) são praticamente a mesma coisa com diferentes nomes, filosofia natural (physica) e geometria são praticamente a mesma

coisa com nomes diferentes25. Não é sem razão que, logo na epistola dedicatória do De

Cive, ao exaltar os avanços obtidos mediante a observação e o registro rigoroso dos céus,

da terra, do tempo, do movimento e dos avanços tecnológicos da época, Hobbes atribui

24 Paolo Rossi (O nascimento da ciência moderna na Europa) revela ligações estritas entre os princípios ou

fundamentos das filosofias em disputa na Inglaterra (Bacon, Hobbes e Boyle) e na França (Mersenne, Descartes e La Mettrie) em contraste com o pensamento italiano inaugurado por Copérnico, Maquiavel e Galileu. No capítulo 9 (“A filosofia mecânica”), Rossi pondera sobre como a metáfora das Máquinas, tanto quanto a metáfora dos Animais, permearam o imaginário filosófico europeu, de modo a tornar as contendas filosóficas em torno do Homem meras disputas de interpretações sobre os usos dessas “figuras” de linguagem. Nesse contexto é que o tema do método geométrico ganha relevo filosófico em Hobbes, tanto quanto em Descartes, visto como um recurso adequado para se tratar de “figuras de linguagem”. Ver, também de Paolo Rossi, Os filósofos e as Máquinas.

25 Vale lembrar que, para Hobbes, filosofia (philosophia) e ciência (scientiae) são praticamente a mesma

coisa, apenas com nomes diferentes: o primeiro é de origem grega e o segundo de origem latina. Não é sem razão, portanto, que Hobbes insiste em afirmar no capítulo 9 do Leviatã que “os registros da ciência [vocaturque scientiae] são aqueles livros que encerram as demonstrações e consequências de uma afirmação para outra, e são vulgarmente chamados livros de filosofia [conscriptio autem ejus appelari solet

philosophia]”. Assim, torna-se praticamente impossível uma separação entre filosofia e ciência dentro do

pensamento mais sistemático de Hobbes, uma vez que o método geométrico é, para ele, não apenas especulativo, mas também prático, isto é, resolutivo-compositivo.

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todo o mérito das ciências modernas aos geômetras e à própria geometria26. E é por essa

razão que, ao discorrer sobre a distribuição das ciências, Hobbes afirma que os filósofos

políticos “adicionam em conjunto pactos para convencionarem os deveres dos homens” 27,

de maneira análoga à dos geômetras que calculam linhas, figuras, proporções, forças

[virium] e poderes [potentiae] dos corpos gerados e conservados pelo movimento28. Nesse

registro, o método geométrico parece operar de modo fundamental na edificação dos pilares da filosofia hobbesiana natural e política, sendo a própria figura do Leviatã (enquanto representação imagética de um gigantesco automata) a mais clara ilustração do poder do

conhecimento científico moderno aclamado por Hobbes29. E é por essa razão que no De

Corpore Hobbes procura reduzir as manifestações do movimento que causa a sensação a

meras representações geometricamente demonstráveis (particularmente, sob o prisma de uma ótica mecanicista) e no De Homine ele considere a geração do gênero humano a partir de um delineamento visual da percepção e do próprio movimento da matéria em termos de “ponto” e “linhas”. Porque, para Hobbes, os fenômenos em geral são objetos da imaginação e do engenho dos homens, então a geometria deve ser a linguagem mais adequada para estabelecer os pilares fundamentais de uma filosofia das imagens produzidas no homem pelo mundo tanto quanto reproduzida no mundo pelo homem, isto é, natural e política.

A sensação, nesse registro, fundamenta todo o edifício da política hobbesiana, de modo que retirá-la das bases do pensamento de Hobbes resulta em uma completa

26 De Cive, Epistola dedicatória. “Et geômetrae quidem provinciam suam egregie administraverunt (...) totum

fere beneficium est geometriae”.

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Leviatã, I, 5. “Etiam scriptores politici addunt simul plura pacta ad inveniendum hominis officium; et

jurisconsulti addunt simul leges et facta ad inveniendum quid sit in actionibus hominis privatorum jus et injuria”

28 Leviatã, I, 5. “Ita geometrae facere idem [sicut enim arithmetici] docent in lineis, figures, angulis,

proportionibus, temporibus, gradibus velocitatis, virium, potentiae, et caeteris”

29 Vale notar que ao considerar no Leviatã a força (virium) e o poder (potentiae) como princípios tratados

primeiramente pela geometria Hobbes revela como o poder soberano do Estado civil que ele pretende edificar deve estar mesmo fundado sobre o rigor dos princípios construtivos da geometria. A força da linguagem geométrica, nesse registro, certamente se funda sobre as contribuições dessa ciência não apenas no que diz respeito aos avanços das navegações modernas rumo ao “novo mundo”, mas também aos avanços cartográficos e geográficos que possibilitaram o mapeamento do mundo e a constituição da propriedade nos “novos continentes” colonizados pela cultura europeia da época. Todavia, apesar dos “novos” usos do método geométrico sua origem é tão antiga quanto a própria linguagem e seus casos, diz Hobbes.

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descaracterização do pensamento mais sistemático do autor. Os princípios do conhecimento humano em Hobbes encontram seu início na sensação, na imaginação e na memória, que são faculdades que operam a partir dos sentidos e da experiência. Assim, para Hobbes, a sensação, na medida em que é entendida como o conjunto de efeitos adquiridos mediante alguma afecção da matéria externa sobre os sentidos, é a causa e a origem de tudo aquilo

que um homem é capaz de conceber e imaginar, a saber, dos próprios pensamentos30. Pois,

para Hobbes, aquilo tudo que os homens julgamos estar fora de nós, no mundo, na verdade se encontra apenas em nós, os homens, que concebemos essas coisas em nós mesmos tal como se elas estivessem fora de nós, a saber, no mundo. Nesse registro, Hobbes reforça sua filosofia como uma investigação das causas eficientes na geração dos fenômenos ou efeitos da sensação e rejeita a descoberta de essências e da causa final como método para a aquisição das ciências modernas. E isso por exigência do método resolutivo-compositivo, cuja aplicação, segundo Hobbes, resulta não na descrição de um objeto estático, mas na prescrição de um possível modo através do qual aquele objeto ou efeito em questão pode ser produzido, reproduzido ou representado por meio de algum movimento de um simples ponto material.

Sob o prisma do método resolutivo-compositivo de Hobbes, a sensação pode ser entendida tanto como causa [das concepções mentais dos homens] quanto como efeito

[dos corpos externos que atuam sobre esses mesmos homens]31. Em linhas gerais, podemos

dizer que para Hobbes a sensação é um tipo de causa que é ‘causa de si mesma’ (causa sine

qua non sive plenae), ou seja, uma causa que encontra na geração do efeito todos os

elementos necessários para a reprodução do mesmo32. A única coisa capaz de ser concebida

30 Leviatã, I, 2, p. 9. “Não há nenhuma concepção no espírito humano do homem, que primeiro não tenha sido

originada, total ou parcialmente, nos órgãos dos sentidos”.

31

Ver: Leviatã, I, 2, p. 9.

32 No capítulo 9 do De Corpore, Hobbes explica de que modo uma coisa pode ser entendida como causa de si

mesma, isto é, simultaneamente como causa e como efeito. A fundamentação, no entanto, parece se encontrar no capítulo X, onde Hobbes explica como a geração de um corpo deve levar em conta a relação entre o poder agente (potentia agentis) e o poder paciente (potentia passiva) dos corpos. Mais adiante trataremos de alguns pormenores desse conceito de poder (potentia) em Hobbes. Por enquanto, consideremos apenas que essa ‘causa que é causa de si mesma’ consiste naquilo a que ele chama causa eficiente, causa material ou ainda causa integral. Causa essa entendida por Hobbes como a soma das potencialidades agente e paciente de um corpo em ininterrupto movimento.

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pela mente humana como sendo ‘causa de si mesma’, segundo Hobbes, não pode ser nada diferente de algum tipo movimento, manifesto à mente humana a partir de alguma afecção da matéria externa. Pois, na medida em que, para Hobbes, movimento gera movimento, então o movimento pode ser considerado causa de si mesmo, isto é, causa eficiente ou

integral33. E é nesse registro que o movimento pode ser considerado tanto como a causa (das concepções mentais) quanto como o efeito (produzido pela pressão dos objetos externos que atuam sobre os sentidos humanos). Sob esse prisma, a causa eficiente, a causa

material e a causa integral são consideradas por Hobbes apenas como manifestações do

movimento que é capaz de gerar seus respectivos efeitos, porém nunca uma causa final.

Na aquisição dos princípios científicos, portanto, a sensação em Hobbes (bem como os pensamentos e concepções mentais que dela resultam) deve ser entendida fundamentalmente como um tipo de efeito. Efeito esse, que, analiticamente falando, deve ser entendido como a causa eficiente do conhecimento mais elementar ou fundamental que os homens têm ou fazem do mundo, isto é, das próprias concepções mentais. Entendida a sensação como uma espécie de efeito gerador das concepções e imagens mentais, Hobbes edifica sobre a experiência humana o fato inquestionável da existência do mundo externo e

da matéria que funda sua philosophia34. Ao contrário da tradição escolástica e metafísica,

para Hobbes a existência do mundo material não é um problema tanto quanto era, por

exemplo, para Descartes35. Pois se a sensação é a causa de todas as concepções mentais ao

mesmo tempo em que é um efeito causado pela ação da matéria externa que atua sobre os sentidos, a própria concepção mental das coisas em Hobbes revela com inquestionável certeza a existência do mundo externo. Todavia, afirmar a existência do mundo externo não significa afirmar a capacidade humana de conhecer o mundo tal como ele é por natureza.

33 Ver De Corpore I, 6, 5.

34 Em relação à sensação como princípio fundamental das ciências, surgiram grandes divergências entre

Hobbes e Descartes sobre as causas do conhecimento humano. Ver, por exemplo, as Objeções de Hobbes a Descartes, cap. XV. “sobre a existência das coisas materiais”.

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Ao separar o sujeito dos objetos do mundo material, Descartes precisa recorrer a Deus a fim de garantir a relação entre o mundo e as concepções que o sujeito faz ou tem dele. Para Hobbes não, a sensação, enquanto fonte elementar do conhecimento humano, estabelece com absoluta certeza a existência do mundo material, uma vez que ela própria não é outra coisa senão o conjunto de efeitos causados pelo mundo material existente.

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Trata-se, antes, como veremos, de conhecer o mundo tal como ele aparece ou se manifesta para os sentidos humanos, isto é, como imagens, aparecimentos e fenômenos.

Assim, por mais que a sensação possa confirmar aos homens a existência do mundo externo, por que ou como esse mundo externo lhes afeta os homens só podem saber observando atentamente a geração desses efeitos sobre eles próprios e daí em comparação

com os outros homens36. Isso significa dizer que, para Hobbes, os homens podem adquirir

naturalmente o conhecimento do todo que gera as concepções mentais, a saber, os próprios efeitos da sensação. Todavia, as partes ou causas constitutivas dessas coisas os homens não podem conhecer naturalmente, mas apenas por convenção. Pois, a sensação ou o todo das concepções é sempre a manifestação de um movimento presente, ao passo que as causas ou

partes constitutivas desse todo remetem sempre ao passado, presentes na recordação e na

memória. Em outras palavras, os homens podem conhecer naturalmente os efeitos que o mundo externo causa sobre seus corpos, porém não as causas ou verdadeiros modos de geração desses efeitos. Esses últimos, diz Hobbes, só podem ser conhecimentos pelos homens mediante o uso de uma reta razão convencionada para marcar, registrar e representar de modo comum os possíveis modos de se gerar os efeitos a partir de suas causas eficientes. Eis a tarefa do filósofo ou cientista, a saber, considerar a geração dos objetos investigados a partir de suas causas mais imediatas, a fim não de conhecer pura e simplesmente sua essência ou causa final, mas sim de reproduzir os efeitos que certas causas eficientes podem produzir.

Para Hobbes, a filosofia (ou as ciências) é adquirida mediante a aplicação da reta razão ou do método sobre as concepções que o mundo externo imprime nos homens através dos sentidos, a saber, da sensação ou da experiência. Raciocinando, portanto, os homens podem atribuir nomes às coisas somando e subtraindo as partes que constituem um objeto conforme o movimento capaz de gerar integralmente ou eficientemente o objeto figurado ou fenômeno manifesto em conformidade à sensação. Assim, por mais que, para

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Na introdução ao Leviatã, Hobbes declara que a sabedoria se adquire não a partir da leitura de livros, mas sim do próprio homem (nosce te ipsum). Lendo-se a si mesmos os homens podem comparar entre si aquilo que fazem quando pensam e sentem e, mediante essa comparação, encontrar similaridades e diferenças entre si de modo a estabelecer algum consenso sobre as causas da geração disto ou daquilo.

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Hobbes, a filosofia encontre seu rigor na razão e na linguagem, sua fonte mais remota conduz sempre à sensação como causa eficiente da geração desses espectros (spectrum/phantasmata) do pensamento e da imaginação, que a filosofia procura conhecer. Para Hobbes, portanto, não basta aos homens ter sensação e razão natural para se adquirir filosofia ou ciência. Para a aquisição da filosofia é indispensável a utilização de um método ou de uma linguagem comum capaz de representar e demonstrar aos homens em geral as razões e os modos de reprodução do objeto ou efeito em questão. Sob esse aspecto, aquilo que Hobbes denomina as “causas mais universais ou fundamentais da filosofia” não são mais do que efeitos do movimento no homem, a saber, a sensação. Por isso, podemos dizer que filosofia hobbesiana se assenta sobre um conhecimento racional das causas constitutivas dos efeitos que se manifestam naturalmente à mente humana a partir dos

sentidos ou da sensação37.

Sob esse prisma, o método resolutivo-compositivo adotado por Hobbes parece fornecer ao autor elementos para se considerar a operação da linguagem (geométrica, no

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