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Matéria, Forma e Poder nas Bases da Filosofia de Hobbes

2.1 – Experiência e prudência na gênese do conhecimento científico

Para uma devida compreensão do estatuto epistemológico das ciências em

Hobbes devemos levar em conta que, para ele, o conhecimento é, antes de tudo, poder88.

Mas, o poder em Hobbes, considerado nele mesmo, isto é, como uma faculdade ou propriedade dos corpos (natural e civil) deve ser entendido sempre como um tipo excesso

resultante da oposição de um poder sobre outro poder89. Assim, a filosofia em Hobbes deve

ser capaz de aumentar o poder dos homens ou conduzi-los rumo a algum outro poder maior adiante, isto é, no futuro. Registrando atentamente com nomes e palavras o modo de geração das coisas tal como elas aparecem para a sensação, os homens podem aumentar seu poder de previsão e de provisão, antecipando assim o acontecimento dos eventos futuros de maneira análoga à geração desses mesmos eventos no passado. A partir da investigação das causas de suas próprias sensações e experiências, todo homem pode adquirir o poder ou capacidade de prever os acontecimentos futuros a partir de uma consideração de suas experiências passadas. E isso porque, para ele, os começos da filosofia se encontram nos próprios homens, filhos do mundo, que para conhecer seu pai, o próprio mundo, devem conhecer primeiramente a si mesmos, seus desejos e paixões (nosce te ipsum). Mas, para a

sistemático de Hobbes, sob o prisma do método resolutivo compositivo do autor, parece ser mesmo uma confirmação do sistema.

88 No De Corpore, I, 1, 6, Hobbes diz que “scientiae sive cognitionis potentiam est”, ou seja, que a ciência ou

o conhecimento é poder. Essa concepção de conhecimento em Hobbes é deveras reveladora. Em primeiro lugar, faz com que remontemos à formação mais preliminar do pensamento hobbesiano, do período em que Hobbes servira de amanuense a Bacon. (ver: TUCK, 1989, p. 25). Essa possível influência de Bacon sobre a formação do pensamento hobbesiano parece atribuir um outro peso ao caráter propriamente moderno do seu pensamento científico no início do renascimento. Em segundo lugar, faz com que pensemos a filosofia de Hobbes em termos de poder. Sob esse aspecto do poder ou da autoridade científica, a relação entre a filosofia natural e a política em Hobbes parece ganhar mais relevo. Em termos de poder, portanto, tanto nas ciências quanto na política o interesse do filósofo deve ser tanto a matéria do corpo analisado (seja uma pedra, um homem ou um Estado) quanto o poder (potencia/potestas) capaz gerar e conservar os respectivos corpos. É nesse sentido que entendemos o projeto hobbesiano como uma gigantesca “filosofia do poder”, sendo a figura do Leviatã é a mais clara e ilustrativa expressão disso.

89 Ver: Elementos da lei, I, 8, 4. No segundo capítulo trataremos dos diversos aspectos que envolvem essa

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aquisição da filosofia ou das ciências é necessário a convenção de um método que deve guiar o entendimento na imposição de nomes às coisas conforme o movimento que gera e conserva o aparecimento dessas coisas para os sentidos e para a imaginação dos próprios homens. No presente capítulo buscaremos mostrar de que modo Hobbes procura fundar as bases de sua filosofia mais sistemática ou elementar sobre princípios de uma racionalidade fundada na experiência, prudência ou costume dos homens, por isso ancorada sobre a matéria das paixões e das sensações humanas.

Para Hobbes, as conjecturas humanas acerca dos eventos futuros se fundam na repetição desses eventos. Repetição de eventos essa imitada pelos homens através de representações de um possível modo através do qual aqueles eventos podem ter sido gerados na sensação e na imaginação. É por isso que, para Hobbes, quando um homem viu muitas vezes um determinado efeito ser produzido sempre a partir dos mesmos antecedentes, toda vez que esse homem observa tais antecedentes naturalmente espera que se siga aquilo que anteriormente se seguiu, ou seja, o mesmo efeito. Essa capacidade de conjecturar o futuro a partir dos eventos passados todo homem possui por natureza, na medida em que é capaz de registrar na memória todas as suas experiências, ou seja, por recordação. Esse registro das próprias sensações e experiências, na medida em que servem

apenas para a memória e recordação de um único indivíduo, Hobbes chama de prudência90.

Para Hobbes, as ações humanas que se originam na experiência dos próprios indivíduos são todas prudenciais e, por isso, servem como princípios práticos para a conduta individuais,

porém não comum ou coletiva. 91 É por isso que, para além da prudência dos homens

virtuosos, o consenso em Hobbes sobre as causas disso e daquilo deve passar por um

90 Leviatã, I, 3, p. 18. “Às vezes o homem deseja conhecer o acontecimento de uma ação, e então pensa em

alguma ação semelhante no passado, e os acontecimentos dela, uns após o outro, supondo que acontecimentos semelhantes se devem seguir a ações semelhantes (...) A este tipo de conhecimento se chama previsão, e

prudência, ou provisão”.

91 Vale notar que também para Descartes a prudência é fundamental para a aquisição das ciências. Não é sem

razão que logo no início de suas Meditações metafísicas (I, 2, p. 23) Descartes rejeita as sensações apelando para um princípio prudencial: não se deve confiar naquilo que alguma vez nos engana, tal como seria o caso das sensações: ac prudentia est nunquam illis plane confidere qui vos vel semel est deceperunt”. Acontece que no medievo a prudência era considerada uma das quatro virtudes cardeais e recebia o nome de sapientia. Parece ser mesmo essa concepção de prudência como sapiência que Hobbes, no Leviatã, I, 5, afirma que “assim como a muita experiência é prudência, também a muita ciência é sapiência.

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acordo tácito que convenciona princípios de uma linguagem comum entre os homens, o que pressupõe uma autoridade.

Registrando para si o modo de geração de um efeito através dos signos que achar mais conveniente por e para si mesmo, todo homem é capaz de conjecturar a respeito daquilo que pode ou não vir a acontecer no futuro. Quando, por exemplo, um homem observou que a tempestade se seguiu sempre a partir de nuvens escuras no céu, toda vez que ele observa o céu carregado de nuvens escuras naturalmente espera cair uma tempestade. Nessa repetição dos eventos gerados pela natureza a partir de certas causas que os anunciam é que se funda o rigor metodológico da analogia em Hobbes, o que funda os princípios do conhecimento humano sobre as bases do costume. Em outras palavras, se um evento sucedeu-se repetidas vezes a partir das mesmas causas eficientes, em condições semelhantes o mesmo evento poderá também ocorrer no futuro tantas vezes quantas forem manifestas essas causas eficientes. E isso, para Hobbes, nada mais é do que calcular por

analogia, ou seja, por semelhança ou comparação (similitudo)92, tal como os geômetras

faziam ao tratar, por exemplo, os triângulos a partir de suas diferenças e semelhança. E, notemos que não se trata de conhecer a natureza das coisas investigadas, mas de conhecer convencionalmente a partir da perspectiva própria dos homens acerca das coisas e não do próprio mundo ou da natureza.

Uma vez que, para Hobbes, os homens podem calcular de modo correto e comum quando são postos para eles princípios de uma linguagem rigorosa, analisando a si mesmos através desse método, diz Hobbes, os homens podem perceber o que acontece com

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O termo latino mais utilizado por Hobbes para se referir às semelhanças entre as coisas, tanto no De Cive quanto no Leviatã e no De Corpore, é similitudo, onis. Segundo o dicionário latino Saraiva, similitudo significa semelhança, analogia, paridade, e afins. O termo analogia, ae é de origem grega e Hobbes o utiliza apenas algumas vezes quando vai tratar de coisas específicas da geometria Euclidiana, como no De Corpore, II, 13, por exemplo. Similitudo, por sua vez, é um substantivo latino derivado do particípio passado do verbo

similis, e. Verbo esse que, por sua vez, encontra sua raiz etimológica mais remota nos verbos imitor e imago,

que significam ambos imitação, aparência, semelhança e afins. Entendemos, assim que quando Hobbes procura estabelecer sua filosofia a partir do método da imitação e da consideração das semelhanças (similitudo) ele está claramente operando com analogias, porém mediante um termo latino que resgata o caráter aparente e imitativo do conhecimento adquirido através dessas imagens ou espetros fenomênicos da imaginação. Semelhança e analogia, nesse sentido, parecem convergir em Hobbes para uma consideração dos fenômenos como imagens suscetíveis ao modo de operação do método geométrico.

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os demais homens quando esses sentem e pensam alguma coisa, isto é, por semelhança ou analogia. É por isso que, para Hobbes, todo aquele que observa em si mesmo o que ocorre quando pensa e deseja, isto é, analisando suas próprias paixões e entendimento, deve concluir que, se destituídos os liames do Estado Soberano, os homens tendem mais à guerra e à competição que à paz e à Amizade. Para Hobbes, porque lendo a si mesmos sobre o prisma de uma autoconservação individual os homens tendem a se tornarem inimigos, na ausência de um poder capaz de impor a todos uma obediência comum, mesmo a amizade e a fraternidade entre os homens se tornam ferramentas do interesse dos homens. A partir de uma leitura orientada pelo método das faculdades e paixões humanas Hobbes defende a tese de que lendo a si mesmo como cidadão e como homem todo indivíduo poderia saber o que pensa e o que sente qualquer outro individuo numa dada condição humana. A teoria mecanicista das paixões humanas em Hobbes, portanto, se funda sobre princípios de uma compatibilidade epistemológica e política entre os princípios fundamentais das ditas ciências modernas como a expressão de uma leitura de si mesmos desses homens e

filósofos modernos.93

“Há um outro ditado que ultimamente não tem sido bem compreendido, graças ao qual os homens poderiam realmente aprender a ler-se uns aos outros, e se dessem ao trabalho de fazê-lo: isto é, Nosce te ipsum, Lê-te a ti mesmo. O que não pretendia ter sentido, atualmente habitual, de pôr cobro à bárbara conduta dos detentores do poder para com seus inferiores [potentiorum erga vulgus fastui

barbarico], ou de levar homens de baixa estirpe a um comportamento insolente

para com seus superiores [humilium erga potentiores procacitati incivili

indulgeret] Pretendia ensinar-nos que, partir das semelhanças [símiles] entre os

pensamentos e paixões dos diferentes homens, quem quer que olhe para dentro de si mesmo e examine [in seipsum inspexerit] o que acontece quando pensa, opina,

raciocina, espera, receia, etc., e por que motivos o faz, poderá por esse meio ler e

conhecer quais são os pensamentos e paixões de todos os homens, em

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Vale lembrar que Descartes também se serve de princípios prudenciais da experiência ou da autopercepção de si (circunspecção) para fundar os princípios epistemológicos de sua filosofia. A rejeição cartesiana dos sentidos como gênese do conhecimento científico ou racional se funda sobre um juízo circunspecto que afirma o quanto é prudente “não se fiar naquilo que alguma vez enganou”, a saber, nos sentidos. Na terceira parte do Discurso sobre o método Descartes estabelece como primeiro princípio prudencial de sua “moral provisória” a obediência às leis civis de seu país e da religião cristã em que foi educado como condição para sua filosofia. Assim, por mais que a filosofia moderna seja um projeto de racionalização do mundo e da natureza, a prudência advinda das próprias experiências (sapientia) parece servir sempre de fundamento da filosofia tanto para Hobbes quanto para Descartes. Em linhas gerais, podemos dizer que o conhecimento científico e filosófico moderno passa em primeira instância pelo autoconhecimento dos próprios sujeitos cognoscentes como homens de seu tempo. Vade mecum vade secum, eis o que parece ser o princípio extraído de uma consideração do nosce te ipsum pelo método desses filósofos.

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circunstâncias idênticas [a similibus causis orientes]”. (Leviatã, Introdução). [grifos do autor].

Observando em si mesmos e por si mesmos os modos através dos quais uma coisa apareceu ou se manifestou para a sensação no passado, os homens podem conjecturar possíveis modos de geração dessas coisas no futuro (sejam elas benéficas ou prejudiciais à autoconservação). Esse poder ou capacidade de previsão possibilita aos homens conjecturarem acerca daquilo que poderá ou não ocorrer no futuro, de modo a se precaverem e agirem de modo mais prudente na busca pela autoconservação. Pois, observando atentamente o modo como a natureza gera e conserva todas as coisas no mundo, os homens podem conjecturar acerca dos benefícios e malefícios que certos eventos e ações no futuro podem trazer para a segurança e para a comodidade de suas vidas. Observando por si mesmos e em si mesmos o modo como são geradas as concepções ou imagens mentais a partir das afecções do mundo externo, os homens podem, segundo Hobbes, conhecer as causas de suas paixões, medos e esperanças. De maneira análoga, observando o comportamento de seus semelhantes a partir desse conhecimento de si mesmo, qualquer homem pode também concluir que, por exemplo, na ausência de um poder soberano, todo homem deve prudencialmente desconfiar e temer qualquer outro

homem94. E essa máxima acerca do comportamento humano natural não deve ser entendida

como um “ditame moral da razão” (ratio), mas sim como um cálculo ou raciocínio (ratiocinatio) que todo homem pode alcançar se considerar atentamente o modo como as paixões são geradas nele em comparação com o modo como essas paixões são também geradas nos seus semelhantes, isto é, por analogia ou comparação.

A filosofia, diferentemente da prudência, ainda que também encontre sua fonte mais remota na sensação e nas experiências dos homens, resulta sempre de um uso ordenado e comum da linguagem. Linguagem essa convencionada pelos homens para denominar e definir aquilo que se lhes manifesta à mente a partir do movimento da matéria

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De Cive, prefácio ao Leitor. “[E]m primeiro lugar coloco um princípio que por experiência é conhecido de

todos os homens, e por nenhum é negado, a saber, que as disposições dos homens naturalmente são tais que, a menos que sejam restringidos pelo temor a algum poder coercitivo, todo homem sentirá desconfiança e temor de qualquer outro”.

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externa que os afeta, a saber, as sensações ou experiências particulares dos objetos. No campo da prudência, os homens representam individualmente suas descobertas segundo os sinais e marcas que cada um achar mais conveniente para si próprio. Na aquisição da filosofia, diferentemente, os homens devem registrar suas descobertas através de nomes convencionalmente constituídos para significar as relações de causa e consequência entre as partes daquilo que investiga, bem como definições que expliquem esses nomes de acordo com a geração daquilo que eles denominam. Do contrário, diz Hobbes, seria como tentar fazer um cálculo sem conhecer os numerais 0, 1, 2 ou demonstrar as propriedades de uma figura sem saber o que significa um ponto, uma linha, um plano, um ângulo, etc..

A prudência, na medida em que possibilita um uso individual e privado das descobertas de um homem, é, por essa razão, um conhecimento individual e privado. A filosofia ou as ciências, porque, diferentemente da prudência, pressupõe princípios de uma linguagem comum e compartilhada, deve, por isso, ser um conhecimento coletivo ou público. Por fim, a prudência, na medida em que se restringe à experiência daquilo que já aconteceu, é, por isso, um tipo de conhecimento absoluto. A filosofia ou ciência, por sua vez, na medida em que se propõe como o conhecimento daquilo que pode ou não acontecer

no futuro, é, por isso, um conhecimento convencional e condicional95. Para a prudência,

portanto, nada mais é exigido dos homens senão ter essas e aquelas sensações e experiências. Para a filosofia, por outro lado, além das experiências e sensações, é necessário também o consenso dos homens acerca dos princípios a serem utilizados na aquisição desse conhecimento, o que passa necessariamente por alguma convenção da linguagem.

É assim que, para Hobbes, a aquisição da filosofia requer que os homens tenham, assim como na prudência, adquirido primeiramente essas e aquelas experiências. Depois, através de um rigoroso uso da linguagem, eles devem registrar suas concepções na ordem exata em que elas se lhes manifestam à mente através dos sentidos. Desse modo, os

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Leviatã, I, 9, p. 51. “Há duas espécies de conhecimento: um dos quais é o conhecimento dos fatos, e outro o conhecimento das consequências de uma afirmação para outra. O primeiro está limitado aos sentidos e à memória e é um conhecimento absoluto (...). Ao segundo chama-se ciência, e é condicional”. [itálicos do autor].

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homens representam o discurso mental (ou série causal dos antecedentes cujos consequentes são as próprias concepções) por meio do discurso verbal. Registrando rigorosamente com nomes e palavras comuns a ordem do discurso mental na forma de discurso verbal, os homens são capazes de demonstrar as causas de uma coisa reproduzindo os efeitos que a partir delas foram e podem ser gerados, ainda que por representação. Por essa via, os homens podem não apenas reproduzir um mesmo efeito, mas também e sobretudo conjecturar outros possíveis modos e efeitos a serem gerados a partir daquelas mesmas causas- e, com isso, confeccionar uma diversidade de objetos úteis à comodidade de suas vidas. É assim que, para Hobbes, a superioridade da filosofia em relação ao conhecimento naturalmente adquirido reside no poder e na utilidade desse conhecimento para a comodidade da vida humana.

Todavia, por mais que a filosofia possa contribuir para o aumento do poder ou domínio dos homens, ela, em si mesma considerada, é um pequeno poder. Pequeno não porque não seja de grande utilidade ou porque não possa produzir grandes efeitos. A filosofia é considerada por Hobbes um pequeno poder somente porque ela (assim como a própria racionalidade) não é imanente ou inata, ou ainda, porque ela não é conhecida ou reconhecida por todos ou pela maioria dos homens. A aquisição da filosofia em Hobbes, ao contrário da prudência, depende da instrução e do doutrinamento dos homens, não apenas da experiência. Como, para Hobbes, todo conhecimento é poder, a prudência, na medida em que resulta da sensação ou da experiência, é um poder natural (potentia), assim como também são poderes naturais o vigor do corpo e a agilidade do espírito, por exemplo. A filosofia, por sua vez, na medida em que resulta de uma intervenção da razão humana sobre as sensações ou experiências, encontra-se junto daqueles poderes que podem ser adquiridos ou convencionados pelos homens, assim como também são as figuras geométricas e as próprias leis civis (potestas). Uma vez entendido como instrumental, o poder adquirido pelos homens é capaz de auxiliá-los na busca por aquilo que, segundo Hobbes, cada um e todos os homens juntos desejam mais do que qualquer outra coisa: a segurança de uma vida cômoda e duradoura.

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É por isso que, para Hobbes, dos poderes adquiridos pelos homens, o maior de todos é aquele formado pela união do poder natural de todos os homens reunidos numa só pessoa artificial, a saber, o poder soberano do Estado civil [qui summam potestatem

habet]96. O poder do Estado civil em Hobbes (potestas), portanto, é um poder artificial, ou seja, constituído segundo a vontade e o engenho dos próprios homens e não por natureza. Vale ressaltar que, ao contrário das formigas, abelhas e outros animais gregários, os homens não constituem a sociedade de modo natural, mas sim artificial ou convencionalmente. E isso porque, para Hobbes, os animais naturalmente gregários não

usam e abusam da linguagem para enganar seus semelhantes, tal como fazem os homens97.

Por conta disso, os animais, para Hobbes, não veem diferença entre o benefício individual e o coletivo, tal como fazem os homens ao significarem o bem e o mal cada qual segundo suas próprias paixões e interesses individuais. O Estado civil e todas aquelas coisas que decorrem da vida humana em sociedade tal como, por exemplo, a arte, a ciência, a justiça, etc., diz Hobbes, não são frutos da natureza, mas invenções dos próprios homens. A diferença entre os homens e os outros animais, nesse registro, reside nos usos que se faz da linguagem e não na natureza mesma dos seres animados ou dos próprios homens.

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