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4 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA

4.1 O método da pesquisa

Este trabalho segue os pressupostos da pesquisa qualitativa, de cunho colaborativo intervencionista, acerca do ensino dos gêneros orais formais públicos na escola, mais especificamente, nos anos finais do ensino fundamental, em uma escola pública da rede estudual de São Paulo, localizada na cidade de Ribeirão Pires, na região do Grande ABC paulista. A pesquisa foi desenvolvida nesse contexto, tendo como participantes uma professora de língua portuguesa (professora colaboradora) e uma turma de 32 alunos de 7º. ano. A pesquisa investiga possíveis contribuições do dispositivo Sequência Didática, construída colaborativamente pela pesquisadora e professora colaboradora, para o aprimoramento da linguagem oral formal dos alunos.

Em se tratando de pesquisa intervencionista, a palavra intervenção, segundo Damiani (2012), possui uma conotação negativa, autoritária. Mas, na verdade, ela tem o sentido de denominar investigações que visam a planejar, implementar e avaliar práticas pedagógicas inovadoras. Ou seja, trata-se de interferências planejadas (inovações, mudanças), intencionalmente realizadas pelo professor e pesquisador em suas práticas pedagógicas, com a finalidade de promover avanços.

Tais práticas são desenvolvidas com o intuito de maximizar as aprendizagens dos estudantes nelas envolvidos, principalmente em situações pedagógicas nas quais essas aprendizagens se encontravam, sistematicamente, aquém do esperado (DAMIANI, 2012, p.2).

Dessa forma, parte-se do pressuposto que as intervenções em Educação, em especial as relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem, apresentam potencial para provocar transformações no objeto de estudo. A proposta de intervenção discutida nesta pesquisa insere-se no campo das pesquisas aplicadas. Segundo Tripp (2005, p. 463), pode-se dizer que "esse é um tipo de pesquisa feita pelo prático, adaptada às exigências (formais) de trabalhos acadêmicos”. Robson (1995) corrobora com essa ideia e entende as intervenções como "pesquisas no mundo real, ou seja,

pesquisas sobre e com pessoas, fora do ambiente protegido de um laboratório, que sejam capazes de produzir algum benefício ao objeto de estudo."

Com relação à abordagem, a pesquisa qualitativa, segundo Creswell (2007), tem métodos próprios de coleta de dados, os quais são fundamentados em entrevistas, documentos, gravações de sons, observações, álbum de recortes, dados em imagem, fotos e documentos em textos.

A pesquisa qualitativa usa métodos múltiplos que são interativos e humanísticos. [...] envolvem participação ativa dos participantes e sensibilidade aos participantes do estudo. Os pesquisadores qualitativos buscam o envolvimento dos participantes na coleta de dados e tentam estabelecer harmonia e credibilidade com as pessoas no estudo. Eles não perturbam o local mais do que o necessário (CRESWELL, 2007, p. 186).

Este trabalho também segue os pressupostos da pesquisa colaborativa, a qual vem apresentando resultados expressivos em relação ao ensino-aprendizagem e à formação continuada de professores. A pesquisa colaborativa vem sendo amplamente utilizada com o intuito de colaborar com a participação do pesquisador no ambiente escolar. Ela visa à união entre academia e escola, a fim de diminuir as desigualdades entre o que é gerado na academia e o que se realiza na escola, além de promover a autoavaliação, conhecimento e construção de novas práticas por meio da ação e reflexão (BORTONI - RICARDO, 2011). O pesquisador ingressa no ambiente escolar com o propósito de discutir junto ao docente a realidade de seu trabalho, as dificuldades encontradas, além de oferecer subsídios teóricos-metodológicos para a execução de novas práticas que ressignifiquem seu trabalho. Dessa forma, de acordo com Gasparotto e Menegassi (2016), todo o processo de pesquisa é elaborado em coparticipação entre pesquisador e docente, objetivando à reestruturação do trabalho com a linguagem em situação de ensino. Não apenas Bortoni-Ricardo (2011), mas também Horikawa (2008), Magalhães (1998,2002), Magalhães e Fidalgo (2010), Ibiapina (2008) defendem que as principais características da pesquisa colaborativa são a construção coletiva do conhecimento e a intervenção a respeito da realidade observada.

Inicialmente, o trabalho colaborativo era considerado sinônimo de cooperação, hoje essa colaboração é vista como um trabalho compartilhado, focado em atividades conjuntas e interação com o propósito de gerar uma Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) mútua, em que, de acordo com Gasparotto e Menegassi (2016), a transformação das ações docentes é resultado de colaboração, construção e

responsabilidades partilhadas, que fazem com que professor e pesquisador se reestruturem em práticas discursivas.

Magalhães (2002, p.28) defende a ideia de que, na pesquisa colaborativa, em todo momento é possível "questionar, expandir e recolocar o que foi posto em negociação". Isso gera conhecimento e desenvolvimento profissional às partes envolvidas.

Algumas características são essenciais a fim de legitimarem a pesquisa colaborativa: participação voluntária, responsabilidade e autonomia dos participantes. Sem a participação voluntária o trabalho perde seu aspecto colaborativo. Outro ponto importante a destacar é o fato de o docente ter de estar totalmente engajado no processo, ou seja, deve haver a real necessidade de identificar-se com o objeto de estudo e querer aprofundar seus conhecimentos sobre ele. A autonomia do professor e do pesquisador também se faz importante, pois o processo necessita de contínua avaliação das práticas e construção do conhecimento. Tal fato pode gerar reavaliação de conduta e reformulação de atividades a qualquer momento.

Assim, fica evidenciado na pesquisa colaborativa que é fundamental haver negociação entre professor e pesquisador, a fim de que ambos conheçam a ajam de forma eficaz em seu campo de trabalho, cada um desempenhando suas respectivas funções.

De acordo com Gasparotto e Menegassi (2016, p.953), uma característica relevante nessa pesquisa "é que o pesquisador promova momentos de reflexão por meio de perguntas sobre a prática docente ou visando à assimilação teórica, sempre no sentido de ampliação e compartilhamento do conhecimento e também de aprimoramento das práticas de ensino." Esses momentos de reflexão geram diversos e importantes recursos que serão significativos ao processo, entre eles, observação, diários de campo, relatórios, gravações, entre outros.